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sexta-feira, abril 19, 2024

A INFLUÊNCIA DOS HÁBITOS ALIMENTARES

Autor: Érika Texeira Barbosa

SAÚDE VOCAL EM PROFISSIONAIS DA VOZ: A INFLUÊNCIA DOS HÁBITOS ALIMENTARES

SEMINÁRIOS DE PESQUISA EM FONOAUDIOLOGIA

INTRODUÇÃO

A idéia deste trabalho surgiu da necessidade de conhecermos quais são os hábitos alimentares, e de que forma os alimentos interferem na voz daqueles que a utilizam profissionalmente.

Foi a partir da revisão bibliográfica que percebemos a escassez de pesquisas que relacionam os alimentos com a voz, o que nos estimulou a realizar esse trabalho, que pode vir a ser muito importante para a clínica fonoaudiológica, tanto para prevenção quanto para tratamento.

A partir do levantamento bibliográfico, constatou-se que há diversos alimentos que interferem na produção da voz, como: alimentos condimentados e muito “fortes” (alho, cebola, mostarda, pimenta, molhos, derivados do leite, entre outros) que acabam gerando uma dificuldade na digestão, prejudicando conseqüentemente a respiração.

A maçã possui propriedades adstringentes e de relaxamento da musculatura, podendo limpar a boca e a faringe. BEHLAU & PONTES (1990) indicam comer uma maçã antes da atividade profissional.

GUIMARÃES (1994) apud VIOLA et al. (1997) “…indica para melhorar a voz: suco de alho misturado com mel, advertindo que doses elevadas podem produzir dor de cabeça, vômito, tontura e diarréia…”

SATALOFF (1981) apud VIOLA et al. (1997) cita o suco de limão e o chá de ervas pela ação demulcente.

De acordo com a história das terapias de voz, STEMPLE (1984) cita alguns “remédios folclóricos” para alterações na garganta usados na antigüidade: “suco de caranguejo, cérebro de coruja, cinzas de corujas queimadas, linimento de centopéia. Entre as plantas medicinais, relaciona-se a couve, o alho e a urtiga… O povo hindu (700 a..C. ) usava gargarejos com vinagre, mel, óleos, suco de frutas e urina de vaca sagrada”.

Esperamos com esta pesquisa, avaliar a percepção desses profissionais quanto à influência da alimentação na voz, e verificar, com uma nutricionista, se a composição desses alimentos realmente interfere na produção vocal.

1 – Saúde Vocal

Atualmente, o termo saúde vocal é utilizado para designar cuidados que devem ser tomados com a voz. Desde a antigüidade existiam preocupações quanto à saúde vocal. Estas apareciam na forma de crenças populares que buscavam a cura e/ou o alívio daquilo que incomodava o povo da época (VIOLA, 1997).

Segundo ANDRADA E SILVA (1998), “A reflexão sobre os aspectos relacionados à saúde vocal devem acontecer na relação paciente/terapeuta através do diálogo no sentido de preservar e valorizar a adequada produção da voz, evitando prejuízos no trato vocal”. O termo saúde vocal não está desvinculado do estado de saúde geral do sujeito, ou seja, os cuidados com a voz não devem restringir-se aos órgãos fonoarticulatórios.

Faremos a seguir uma relação de questões ligadas a hábitos que alteram a voz de um sujeito, conforme apresentado por FERREIRA (2000):

– Cigarro: possui um componente, o alcatrão, extremamente agressor à laringe, podendo acarretar em câncer de laringe (BRASIL, in video FERREIRA & SILVA, 1996). A nicotina, outro elemento presente no cigarro, lesiona a mucosa do trato vocal causando um edema que agrava a voz.

– Álcool: as bebidas alcoólicas, por terem efeito anestésico, podem fazer com que haja abuso vocal, sem que este seja percebido. As bebidas destiladas são mais prejudiciais que as fermentadas, pois irritam e agridem mais intensamente os tecidos, e há grande associação entre o consumo intensivo das bebidas destiladas e câncer de laringe e pulmão.

– Drogas: a maconha aumenta a temperatura do trato vocal, pois é fumada sem filtro, e causa uma vasodilatação provocando um inchaço nas pregas vocais. Já a cocaína é um vasoconstritor, podendo corroer a mucosa do trato. Sobre outras drogas, não há estudos mais aprofundados.

– Tosse e Pigarro: quando acontecem, as pregas vocais encontram-se bruscamente uma contra a outra, irritando-as e descamando os seus tecidos, podendo causar edemas.

Competição Sonora: em ambientes ruidosos, tende-se a aumentar a intensidade da voz inadequadamente, o que pode acarretar numa alteração vocal.

– Gritar: assim como na tosse e no pigarro, as pregas vocais batem violentamente e em maior velocidade.

– Posturas Corporais: o corpo deve ser mantido sempre ereto e livre, sem áreas tensas para uma boa produção vocal.

– Poluição: irrita o sistema respiratório e o trato vocal, podendo causar alterações vocais.

– Alergias: podem obstruir a fossa nasal, causando irritações e inchaço da mucosa, e isso faz com que as pregas vocais não vibrem livremente.

– Ar Condicionado: resseca a mucosa do trato vocal, havendo maior necessidade de hidratação.

– Choques Térmicos: quando ocorre uma mudança brusca de temperatura (ambiental ou por alimentos ingeridos), há uma diminuição das defesas naturais do organismo, podendo causar problemas inflamatórios e inchaço da mucosa.

– Cafeína e Refrigerante: interferem na produção vocal, pois dificultam a digestão podendo desencadear o refluxo gastro-esofágico e irritar a mucosa.

– Pastilhas, Sprays e “Drops”: possuem um efeito anestésico podendo mascarar a dor do esforço vocal, prejudicando ainda mais a produção da voz, podendo ser também irritativo.

– Sono: pode ocorrer uma fadiga vocal após uso excessivo da voz. Um sono tranqüilo pode fazer com que essa fadiga desapareça.

Esportes: a prática de exercícios físicos associados à produção vocal é uma sobrecarga ao aparelho fonador, já que se respira mais intensamente aumentando a força do fechamento glótico, porém sabemos que nem sempre isso é possível, como por exemplo, no caso de professores de ginástica, entre outros. Por outro lado, há esportes que favorecem a produção da voz, pois ativam todo o corpo e melhoram a respiração, como: natação, caminhada, ioga e alongamento.

– Vestuário: “roupas apertadas na região do pescoço e do abdômen devem ser evitadas, porque dificultam a movimentação da musculatura… Cuidados com saltos altos porque podem provocar uma postura tensa dificultando uma boa emissão vocal”.

– Hidratação: deve-se beber bastante líquido, em pequenos goles, para que ocorra uma boa hidratação da laringe, e assim, uma vibração livre e com pouco atrito das pregas vocais, pois há maior movimentação laríngea, aumentando assim a amplitude.

– Alteração Hormonal: distúrbios vocais podem ocorrer durante o período pré-menstrual, menstrual, gestacional, e em meninos (mais notável do que em meninas) durante a muda vocal. Essa mudança ocorre em função do crescimento das estruturas da laringe e das novas condições hormonais presentes na adolescência.

2 – Alterações vocais e mecanismo de produção da voz

É difícil definir limites entre a voz normal e aquela que apresenta algum tipo de alteração, pois além de cada sujeito ter a sua própria voz, não é possível saber quando uma patologia realmente se inicia. Segundo BOONE & MC FARLANE (1994) a fonação depende de três fatores individuais e interdependentes, que interagindo entre si constituem a voz normal. Esses fatores são a vocalização, a respiração e a ressonância.

A voz é o principal meio de comunicação e é produzida pelo ar que sai dos pulmões e chega até a laringe, encontrando as pregas vocais, que ficam atrás de uma cartilagem chamada tireóide – nos homens essa cartilagem é muito mais visível e é chamada de “pomo de adão”.

Na respiração, existem dois mecanismos fundamentais, o da inspiração e o da expiração. Quando inspiramos, há um aumento da cavidade torácica e o ar dentro dos pulmões torna-se menos denso do que o ar atmosférico, fazendo o ar entrar. De acordo com FONTES, MADUREIRA & CAMARGO (2000) a contração muscular do tórax, abdômen, pescoço e principalmente do músculo diafragma, auxiliam nesse mecanismo. Já a expiração, em grande parte, ocorre de maneira passiva e é a fonte inicial de energia da fala. O ar expelido pelos pulmões, passa pela traquéia, alcança a laringe, na qual pode sofrer modificações impostas pelo fechamento das pregas vocais. Em seguida, sobe pela orofaringe, na qual encontra o palato mole, cuja ação permitirá o direcionamento do fluxo de ar para a cavidade oral e/ou nasal. A vocalização normal envolve massa e tamanho das pregas vocais e também requer a qualidade de aproximação/afastamento total entre elas (na respiração as pregas vocais estão afastadas e na fonação estão vibrando).

Com relação à respiração, pôde-se perceber que o tipo respiratório mais indicado para os profissionais da voz é o costodiafragmático-abdominal, denominado também de inferior ou abdominal. A coordenação pneumofonoarticulatória (coordenação entre fala e respiração) é fundamental para quem se utiliza muito da voz, assim como o apoio respiratório.

A epiglote funciona como uma “tampa”. Quando engolimos algo, ela protege o sistema de respiração, não deixando nada entrar nos pulmões. Se algum alimento entrar, através da tosse ou do pigarro, é expelido.

O terceiro elemento que constitui a voz normal é a ressonância que “significa o aumento das vibrações aéreas (sons)” (FERREIRA & BARROS,

1998). As pregas vocais produzem a freqüência fundamental e esta, por sua vez, ao se expandir pelas cavidades supraglóticas (ressonadores) pode ter algumas de suas freqüências reforçadas ou atenuadas, dando características individuais a cada voz. Segundo FONTES, MADUREIRA & CAMARGO (1999), “a ressonância decorre do ajuste da extensão e do formato das cavidades pelas quais o ar passa para reforçar certas freqüências da energia sonora. Acusticamente, as modificações decorrentes das variadas configurações do trato vocal são conhecidas como ação de filtro (ou transformação), ocorrendo a filtragem de alguns componentes de energia, cujas freqüências coincidem com as freqüências naturais de vibração do trato vocal”.

O tipo de voz é definido pelo padrão básico de emissão de um indivíduo. Deve ser analisado um rol de fatores relativos ao falante como: fatores hereditários, constitucionais, saúde geral, fatores psicológicos, dependentes principalmente do ambiente e do nível sócio-econômico-cultural do falante.

A voz pode ser classificada em vários tipos (BEHLAU & PONTES 1995):

Voz rouca: é a disfonia mais comum, é do tipo ruidosa na qual a altura e a intensidade estão freqüentemente diminuídas. Está relacionada com lesões orgânicas da laringe.

Áspera: característica rude, desagradável. Nota-se esforço muscular e ataques vocais bruscos. É típica das situações de rigidez de mucosa das pregas vocais e das alterações congênitas na arquitetura histológica das pregas vocais.

Soprosa:é tipicamente de intensidade baixa e altura grave; porém por um esforço de compensação para tentar reduzir o escape de ar, podemos encontrar essa qualidade vocal com intensidade forte. Está relacionada às disfonias hipercinéticas no período de fadiga vocal, às disfonias hipofuncionais, casos de paralisia de prega vocal, entre outros.

Infantilizada: caracterizada por um tom agudo não correspondente ao sexo, à idade ou à maturidade do falante. Está associada com elevação da laringe e anteriorização da língua.

Hipernasal: “uso excessivo da cavidade nasal e contaminação dos sons orais por essa ressonância. A produção glótica é normal e a modificação situa-se ao nível das cavidades de ressonância…”.

Um aspecto que deve ser levado em conta ao se referir aos tipos de voz é a qualidade vocal, que é a nossa avaliação perceptiva principal e relaciona-se à impressão total criada por uma voz e, embora a qualidade vocal varie de acordo com o contexto de fala e as condições físicas e psicológicas do indivíduo, há sempre um padrão básico de emissão que o identifica” (BEHLAU & PONTES, 1995). Deve-se considerar também, como características da qualidade vocal, o pitch (altura) e loudness (intensidade). Segundo FERREIRA & BARROS (1998), “quando ouvimos uma voz, podemos avaliá-la quanto à impressão que ela nos causa enquanto sua altura/pitch e intensidade/loudness. Assim, naquele momento, para aquela situação dialógica, esta voz pode parecer agravada, agudizada, ou adequada, considerando-se o pitch; e o nível de intensidade maior ou menor, considerando-se o loudness”.

3 – Influência dos alimentos na respiração (respiração x digestão):

Desde o século passado, existem algumas orientações relacionadas à alimentação dos profissionais da voz que não se modificaram. Com o avanço do conhecimento anatômico-fisiológico do aparelho fonador e com o surgimento da ciência da nutrição, outras dessas orientações sofreram mudanças.

Em 1939, EISENLOHR estudou a alimentação dos profissionais da voz, dizendo que além da obesidade ser prejudicial esteticamente, em alguns casos a voz também sofreria conseqüências, pois a amplitude da respiração ficaria diminuída. Sendo assim, cita os alimentos que devem e não devem ser ingeridos.

Entre os que devem ser ingeridos estão: carnes frescas, peixes, aves, caldos ou sopas adicionadas de gemas (considera os ovos bastante nutritivos), leite tomado em pequenos goles e em períodos distantes das refeições (hoje em dia essa visão mudou), açúcar e frutas. Cita também: trigo, arroz, milho, sagu, tapioca e batata como alimentos que ajudam na respiração. Já os legumes frescos, são considerados fáceis de digerir, porém têm baixo valor nutritivo.

Entre os que não devem ser ingeridos estão: coco, nozes e amêndoas, pois em sua composição há um óleo que irrita a faringe, provocando tosse.

O autor ainda refere a grande importância da mastigação para facilitar a digestão. O alimento, quando não bem preparado na primeira fase da deglutição, faz o estômago dilatar oferecendo assim resistência ao “trabalho” do músculo do diafragma, e este, comprimido, acarreta alterações no processo digestivo. Assim, grande parte da energia do nosso corpo, passa a ser utilizada na digestão, deixando a função vocal prejudicada.

BEHLAU, HERSEN E PINHO, em 1986 consideram que os alimentos pesados e muito condimentados dificultam a digestão e a livre movimentação do diafragma. Alimentos leves, como frutas e verduras, quando bem mastigados, relaxam a mandíbula fazendo com que a dicção fique mais precisa. Salsão e maçã devem ser ingeridos, pois têm ação adstringente e auxiliam na limpeza bucal. Leite e chocolate devem ser evitados, pois aumentam a secreção de muco no trato vocal; bebidas gasosas também, pois favorecem a flatulência (dissensão gástrica ou intestinal por gases); balas e sprays anestesiam o trato mascarando a dor do esforço vocal, podendo piorar o estado das mucosas.

BEHLAU E PONTES, 1988 inferem que nos momentos em que a voz é muito utilizada alimentação deve ser rica em fibras para que a mastigação ajude no alongamento dos músculos faciais. Aconselham também, a ingestão de sucos de frutas cítricas como de laranja e limão, pois auxiliam na retenção de líquidos e limpeza do trato vocal. Beber água fresca em temperatura ambiente quando sentir a garganta seca, também é indicado, pois a lubrificação é essencial para uma boa voz.

Em 1995, QUINTEIRO relata que a parafina que compõe o chocolate derrete e gruda na mucosa do trato, evitando a ressonância natural da fala. Alimentos protéicos fornecem força e vigor ao tônus muscular; alimentos pesados, ácidos e acres devem ser evitados, pois podem causar azia e refluxo gastroesofágico que interferem na qualidade vocal.

Segundo SOUZA E FERREIRA, alimentar-se demais pode ser prejudicial à respiração no sentido de que a digestão fica alterada, ou seja, o estômago fica dilatado impedindo a livre movimentação do diafragma, dificultando a fonação.

Alguns alimentos podem favorecer o refluxo gastroesofágico, que acaba prejudicando a respiração, a voz e a fonação, ou seja, a qualidade vocal. Alguns desses alimentos são: cafeína, leite, achocolatados, refrigerantes, bebidas gasosas, álcool, frituras, produtos dietéticos, cítricos, condimentados e gordurosos. Além disso, deve-se evitar uma refeição pesada caso o indivíduo venha a alimentar-se muito tarde. Sugere-se então, a ingestão de alimentação leve, de fácil digestão.

Segundo BEHLAU E REHDER, o refluxo gastroesofágico é a passagem do suco gástrico para o esôfago, que sobe em direção à boca, podendo ser desviado à laringe, irritando-a e podendo levar à superfície das pregas vocais.

Os principais sintomas do refluxo gastroesofágico são: queimação no esôfago, azia, regurgitação de alimentos, pigarros, saliva, viscosa, mau hálito e problemas digestivos.

Se o refluxo atinge a laringe, é chamado de refluxo laringo-faríngeo, apresentando como principais sinais uma laringe avermelhada e lesões como, por exemplo, granulomas; e sintomas como rouquidão após as refeições e ao acordar. Desta forma, indivíduos com refluxo devem seguir uma dieta de controle alimentar.

Material e Método:

Para a realização deste estudo, foram entrevistados os seguintes profissionais da voz: professores, cantores e atores. Estes foram selecionados por estarem mais acessíveis.

Foram entrevistados 26 profissionais, em seus locais de trabalho, não importando sexo e idade. Questionamos sobre as mudanças vocais a fim de averiguar se houve melhora ou piora na voz e quais foram essas mudanças; e sobre a percepção da influência da alimentação e de outros hábitos na voz (anexo 1 e 2).

Entramos em contato com algumas nutricionistas, porém não foi possível marcar entrevista, pois consideraram o assunto desconhecido e muito específico.

A partir da análise dos dados obtidos nas entrevistas realizadas com os profissionais da voz, selecionamos os alimentos mais citados e conversamos com uma nutricionista, a fim de sabermos se esses alimentos realmente têm alguma característica em sua composição que influencia na voz. A entrevista foi realizada em seu consultório e foi gravada para posterior análise.

Resultados e Discussão

Foram entrevistados 26 profissionais da voz: 16 professores (dentre estes quatro professores de ginástica) e 10 atores (dois deles sendo também cantores); de ambos os sexos.

Do total dos entrevistados, 77% observaram piora na voz desde o início da carreira, enquanto que 11,5% observaram melhora e outros 11,5% não observaram mudança na voz.
Dentre todos os entrevistados que observaram piora na voz, 80% citaram rouquidão; 25% relataram que a voz ficou mais grave; 10% citaram irritações freqüentes na garganta, dor ao falar e afonias periódicas; e 5% referiram que a voz ficou “mais alta” e que têm dificuldade em atingir agudos. Dentre os que observaram melhora na voz, todos citaram melhor impostação e voz mais clara.
Dentre os profissionais entrevistados, 80,76% citaram outros hábitos que melhoram a voz, e 88,46% citaram outros hábitos que pioram a voz. Dentre os hábitos que melhoraram a voz, 23,8% citaram exercícios vocais e aquecimento vocal; 19,05% citaram falar menos e mais baixo; 14,3% citaram gargarejo com água oxigenada, dormir e descansar; 9,5% citaram gargarejo com água morna e 4,8% citaram: alongamento vocal, encher bexiga, pastilha, cantar e uso de livro didático (quando lecionando).

Dentre os outros hábitos citados que pioram a voz, 34,8% referiram falar muito; 30,43% referiram falar alto; 26,08% referiram gritar; 13,33% citaram: mudança de tempo, pó de giz, cigarro, não dormir direito, poeira e cansaço; 4,35% referiram: sair à noite, tensão, esforço repetitivo nas aulas, cantar alto e ao acordar.

Segundo a nutricionista entrevistada, a casca da romã ajuda no tratamento de infecções do trato respiratório, sendo usada como gargarejo porque hidrata aumentando a troca de líquidos. Alimentos gordurosos como o chocolate e a feijoada são alimentos que prejudicam a digestão, essa gordura vai sendo depositada ao longo do tubo digestivo, mas apesar disso, ela não relaciona a ingestão desses alimentos com a melhora ou piora da voz. Já a maçã, é um pouco ácida o que pode causar “secura” do trato vocal, o que prejudica a voz devido à menor hidratação da mucosa. Por outro lado, em sua polpa, a maçã possui uma fibra chamada pectina que tem propriedade adstringente.

Outros fatores que a nutricionista considerou relevantes para a voz foram, temperatura que deve estar perto da temperatura ambiente e a densidade que deve ser o mais próximo do líquido possível, para uma melhor hidratação.

Conclusão:

– A maioria dos profissionais da voz não tem uma preocupação em alimentar-se adequadamente antes de uma apresentação ou de uma aula.

– Os alimentos mais citados pelos profissionais entrevistados, como aqueles que melhoram a voz foram: água, gengibre, maçã, suco de laranja, chá de romã, suco de limão e limão com mel.

– Os alimentos mais citados pelos profissionais entrevistados, como aqueles que pioram a voz foram: alimentos de difícil digestão como, por exemplo, macarrão e feijoada, bebidas geladas, chocolates, bebidas alcoólicas, alimentos quentes, sorvete e leite.

– Outros hábitos, além dos alimentares, são citados pelos profissionais da voz, como influentes na melhora da qualidade vocal, dentre eles estão: aquecimento vocal, gargarejo, técnica de respiração, alongamento da região cervical, encher bexiga, descansar, cantar, falar pouco e baixo.

– Outros hábitos, além dos alimentares, são citados pelos profissionais da voz, como influentes na piora da qualidade vocal, dentre eles estão: sair à noite, gritar, não dormir, friagem, cigarro, tensão, cansaço, pó de giz, poeira, cantar alto e mudança de tempo.

Pôde-se perceber que tanto os cantores, quanto os atores e professores, citaram muito mais os líquidos do que os sólidos. Além disso, citaram líquidos quentes e gelados como algo que prejudica a produção vocal. Segundo FERREIRA & SILVA, 1996, a hidratação é algo de suma importância e, assim sendo, aconselham a ingestão de bastante líquido, para que ocorra uma boa hidratação e, em pequenos goles, para que haja um relaxamento dos músculos da laringe, permitindo então, uma vibração livre e com pouco atrito das pregas vocais. BEHLAU, HERSEN E PINHO, em 1996, por sua vez, sugerem que as bebidas gasosas sejam evitadas pois favorecem a flatulência (dissensão gástrica ou intestinal por gases). Já em 1998, BEHLAU E PONTES aconselham beber água fresca em temperatura ambiente quando sentir a garganta seca, afinal, a lubrificação é essencial para uma boa voz.

Foram poucos os entrevistados que citaram o gengibre como um alimento que melhora a voz. É importante ressaltar que, muitas vezes, o gengibre é ingerido como uma pastilha para a garganta, o que pode anestesiar a região da laringe, prejudicando a voz. Segundo FERREIRA & SILVA, 1996, as pastilhas, sprays e drops, possuem um efeito anestésico, podendo ser também, irritativo.Em 1986, BEHLAU, HERSEN E PINHO, alertam que balas e sprays anestesiam o trato, mascarando a dor do esforço vocal, podendo piorar o estado das mucosas.

Dentre a população investigada, a maçã foi o segundo alimento mais citado, no que diz respeito à melhora da voz. BEHLAU & PONTES, 1990, colocam que a maçã tem propriedades adstringentes e que, sua ingestão, proporciona um relaxamento da musculatura, podendo limpara boca e a faringe, sendo assim, indicam comer uma maçã antes da atividade profissional. BEHLAU, PONTES E PINHO, 1986, acreditam que alimentos leves, como frutas e verduras, quando bem mastigados, relaxam a mandíbula fazendo com que a dicção fique mais precisa. A maçã também é considerada um alimento que deve ser ingerido, pois têm ação adstringente e auxilia na limpeza bucal.

O suco de laranja e o suco de limão foram os líquidos menos citados dentre aqueles que melhoram a voz, de acordo com as respostas dos profissionais da voz. BEHLAU & PONTES, 1988, aconselham a ingestão de sucos de frutas cítricas como de laranja e limão, pois auxiliam na retenção de líquidos e na limpeza do trato vocal. SATALOFF (1981) apud VIOLA et al. (1997), cita o suco de limão e o chá de ervas pela ação demulcente. Assim como os dois sucos citados anteriormente, o chá de romã, também foi um dos líquidos menos citados, no entanto, a nutricionista entrevistada, explicou que a casca da romã ajuda no tratamento do trato respiratório, sendo usada como gargarejo porque hidrata, aumentando a troca de líquidos.

O mel, por sua vez, também foi pouco citado, mas vem sendo pesquisado há muito tempo. STEMPLE (1984), conta que o povo hindu (700 a.C.), usava gargarejos com vinagre, mel, óleos, suco de frutas e urina de vaca sagrada. Por outro lado, GUIMARÃES (1994) apud VIOLA et al. (1997), “…. indica para melhorar a voz; suco de alho misturado com mel…”.

Os alimentos pesados, como a feijoada e o macarrão, foram muito pouco citados como alimentos que pioram a voz. Segundo SOUZA E FERREIRA, alimentar-se demais pode ser prejudicial à respiração, no sentido em que a digestão altera-se, ou seja, o estômago fica dilatado impedindo a livre movimentação do diafragma. Sugerimos então, que os profissionais da voz, evitem uma refeição pesada caso venham a alimentar-se muito tarde ou, até mesmo, próximo do horário de trabalho. Seria muito melhor que esse ingerissem uma alimentação leve, de fácil digestão, para que sua produção vocal possa ser mais eficiente. De acordo com informações da nutricionista, alimentos gordurosos com a feijoada, prejudicam a digestão. Além disso, ela coloca que a gordura do alimento vai sendo depositada ao longo do tubo digestivo, no entanto, não faz relação disso coma melhora ou piora da voz. Em 1995, QUINTEIRO relata que alimentos protéicos como, por exemplo, o macarrão, fornecem força e vigor ao tônus muscular, enquanto que, alimentos pesados, devem ser evitados pois podem causar azia e refluxo gastroesofágico que interferem na qualidade vocal.

Os terceiros alimentos mais citados relacionados à piora da voz dentre os profissionais entrevistados foram: as bebidas alcoólicas, os alimentos quentes e o sorvete. Segundo ANDRADA E SILVA (1998), as bebidas alcoólicas, por terem um efeito anestésico, podem fazer com que haja abuso vocal, em que este seja percebido. Isso ocorre, pois as bebidas alcoólicas irritam e agridem mais intensamente os tecidos e, além disso, há uma grande associação entre o consumo intensivo de bebidas alcoólicas, com o câncer de laringe e pulmão.

O chocolate e o leite foram o segundo alimento mais citado dentre aqueles que prejudicam a voz. BEHLAU, HERSEN E PINHO, em 1986, consideraram que alimentos como esses, deveriam ser evitados, pois aumentam a secreção do muco no trato vocal. Já QUINTEIRO, em 1995, relata que a parafina que compõe o chocolate derrete e gruda na mucosa do trato vocal, evitando a ressonância natural da fala.

Quanto à análise dos dados obtidos através da entrevista com a nutricionista, pudemos notar que a maioria dos alimentos citados pelos entrevistados não têm base científica para comprovar sua relação com a voz; o que pode, então, vir a despertar aos interessados nesta área, um maior aprofundamento nessas questões. Acreditamos que a maior relação feita pelos entrevistados, seja com base em particularidades e mitos.

Acreditamos que o nosso trabalho tenha sido válido na medida em que abriu um novo espaço dentro da Fonoaudiologia, já que a relação dos alimentos com a voz tem sido pouco explorada. Vale ressaltar que o contato com as nutricionistas foi muito difícil e que a relação entre essas duas áreas Fonoaudiologia e Nutrição, está muito longe de alcançar respostas às perguntas feitas até então.

Anexo 1:

Roteiro de entrevista com profissionais da voz.

– nome:

– profissão:

– observa mudanças na voz, do início da carreira até hoje?

– quais?

– relaciona a melhora de sua voz com algum alimento?

– e a piora?

– quais são os outros hábitos que melhoram a sua voz?

– quais são os outros hábitos que pioram a sua voz?

Anexo 2:

Termo de Autorização para Utilização dos Dados:

Eu__________________ autorizo a utilização dos dados obtidos nesta entrevista para fins de pesquisa, omitindo-se a minha identificação.

RG. Nº. _______________

Bibliografia

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Videografia

FERREIRA, L.P. & SILVA, M.A.A. – A Saúde Vocal. São Paulo, Apropuc, 1996.

Outros Autores: BIANCA DEMASI, CAMYLA TAMBURI, FERNANDA LOBO, JULIANA CALDEIRA, LUANA CREMONESI e MARIANA BUSNARDO

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