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quinta-feira, abril 18, 2024

AFLATOXICOSE EM SUÍNOS

Introdução

A suinocultura, assim como as demais atividades do agronegócio brasileiro, têm a cada ano menores índices de retorno do capital investido, o que gera a necessidade de não se ter perdas em nenhuma das etapas do processo de produção, para obter um alto índice de produtividade. Os aspectos a serem considerados para evitar a perda na produção, dizem respeito à sanidade, nutrição, reprodução e manejo.

Dentro do que diz respeito à parte de sanidade, queremos destacar no decorrer deste trabalho uma micotoxicose causada pela aflatoxina produzida pelo fungo Aspergillus flavus e/ou Aspergillus parasiticus. Destacamos, que ela também se encaixa (dentro do contexto de produção) na cadeia de produção de carne suína, no aspecto de manejo nutricional, visto que a mesma é propagada através de grãos de cereais contaminados.

Esta doença foi descoberta nos anos 1960-1962 na Inglaterra, Hungria e Áustria, causando a morte de perus, o que deu o nome de “doença X dos perus”. Na Hungria houve a perda de quase a totalidade dos patos criados intensivamente. Somente em 1965 foram registradas as primeiras aflatoxicoses diagnosticadas com segurança em perus. Na Inglaterra também houve a contaminação de bovinos e suínos nesta época. (Beer, 1999)

Segundo Bellaver (2006), o milho é o insumo mais utilizado na fabricação de rações para suínos, chegando a representar 40% dos custos totais da produção suína, o que nos revela que ele é o cereal mais utilizado na alimentação destes animais. Considerando que aflatoxicose ocorre principalmente em grãos de milho, devido ao manejo de colheita e armazenagem, estaremos discutindo neste trabalho sobre vários aspectos relacionados a esta importante doença dentro da suinocultura.

Intoxicação por Aflatoxinas

As aflatoxinas são metabólicos tóxicos produzidos pelos fungos Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus, que contaminam grãos de cereais armazenados, e podem ser encontradas na ração de animais em que são utilizados estes cereais contaminados. (Beer, 1999 e Sobestuansky, 1999)

1. Etiologia:

Segundo Beer (1999), são conhecidas oito aflatoxinas, sendo designadas com as letras “B” e “G” conforme suas propriedades fluorescentes, azul ou verde sob a influência da luz ultravioleta. Os fungos A. flavus e A. parasiticus produzem quatro aflatoxinas de maior importância, as toxinas B1 e B2, que sob luz ultravioleta emitem intensa luz azul e as G1 e G2, que emitem luz verde sob as mesmas condições. Ainda existem as aflatoxinas M1 e M2, que são segregadas do organismo animal, sobretudo pelas vacas de leite, como subprodutos metabólicos gerados durante o desdobramento da aflatoxina, sendo chamada de lactoxina. (Mallmann, 1994 e Beer, 1999)

A estrutura fundamental da molécula da aflatoxina é um núcleo de cumarin-difurano. Beer (1999) relata a semelhança entre as toxinas B1 e M1, sendo que a toxicidade delas frente a toxina B2 esta na proporção de 5:1, e quando comparada a G1 é de 2:1, já com a G2 esta proporção é de 10:1, conforme a DL50 para patinhos de um dia (ver tabela 1).

Tabela 1. D L50 para patinhos com um dia de idade (com base em 50g de peso vivo).

(Adaptado de Beer, 1999)

Quando a umidade do milho estiver com índices em torno de 17%, esse fica mais sujeito à contaminação por aflatoxinas, que pode ocorrer tanto na lavoura, quanto durante o processo de colheita e armazenagem. As aflatoxinas são incolores, inodoras e não altera o sabor dos alimentos, o que torna o controle e diagnóstico de cereais contaminados mais trabalhoso, conforme veremos mais adiante. (Sobestuanky, 1999)

2. Epidemiologia:

A aflatoxicose é distribuída mundialmente, e quase à totalidade das rações permite o isolamento laboratorial desses fungos, o que equivale dizer que quase todas estão sujeitas ao crescimento descontrolado desses microorganismos, caso ofereçam condições adequadas de umidade. (Mallman, 1994)

Todas as espécies animais são sensíveis, especialmente os animais lactantes, sendo que a aflatoxina é excretada pelo leite. Suínos lactantes, e em fase de crescimento com até 50 kg de peso vivo são mais propensos a sofrerem com a aflatoxicose do que animais em fase de terminação e matrizes (Beer, 1999). Na suinocultura, a grande importância desta doença, se dá pelo fato de que o uso de milho em forma de grão na ração pode chegar a representar 85% desta, sendo que milhos provenientes de pequenas propriedades, sem instalações e equipamentos necessários para uma correta colheita e armazenamento do milho, acabam aumentando a incidência desta doença em rebanhos onde este milho é utilizado.(Bellaver, 2006 e Mallmann, 1994)

As condições básicas para desenvolvimento dos fungos nos grãos de cereais são:

Umidade do Grão: acima de 14%;
Umidade relativa do ar: entre 75 a 80%;
Temperatura ambiental: entre 25 a 32ºC (ideal é 28ºC);
A contaminação destes fungos também pode ocorrer em substratos como farinhas e rações. No Brasil os cereais freqüentemente contaminados são o milho, o caroço de algodão e o amendoim. A presença de insetos, a umidade da mistura de rações, as condições de armazenagem dos grãos e a integridade dos grãos são fatores que também influenciam na contaminação por aflatoxinas. A presença ou não do mofo no alimento não servem como indicativo de grau de contaminação por aflatoxina que este apresenta. (Sobestuansky, 1999)

Surtos de aflatoxicose ocorrem com maior freqüência nos meses que seguem à colheita do milho, devido aos níveis mais elevados de umidade no grão logo após a colheita. A toxina pode ser produzida no campo, antes da colheita, mas é produzida com maior intensidade durante a armazenagem do milho (Mallman, 1994). Beer (1999) descreve que a capacidade de formar toxinas não deve ser atribuída somente às propriedades específicas das estirpes (variantes), mas que também o substrato nutritivo pode influenciar neste aspecto. Além disso, ele relata que estirpes de A. flavus dos países tropicais produzem quantidades bem maiores de toxinas que as procedentes de zonas climáticas temperadas.

3. Patogenia

As aflatoxinas são potentes agentes carcinogênicos, teratogênicos, mutagênicos e capazes de causar lesões hepáticas em varias espécies animais(Sobestuansky, 1999, Mallman, 1994 e Beer, 1999). Segundo Mallmann (1994), após a absorção a toxina se concentra no fígado, onde a aflatoxina B1 é metabolizada pelas enzimas microssomais em diferentes metabólicos através de hidroxilação, hidratação, dimetilação e epóxidação. É de consenso que o fígado é o órgão mais afetado pelos efeitos tóxicos da aflatoxina B1 resultando numa série de danos ao metabolismo das proteínas, carboidratos e lipídeos neste órgão. As aflatoxinas penetram até o núcleo celular, reagem com o DNA e inibem a RNA-polimerase, atenuando a síntese de RNA, e como conseqüência, inibindo a síntese de RNA-mensageiro, sendo suspensa a formação de triptofano pirrolase normalmente provocada pela cortisona. A deficiência na transição desta e de outras enzimas, traz serias conseqüências ao organismo, já que elas são necessárias ao metabolismo energético, produção de anticorpos e mobilização de gordura, sendo o fígado o órgão mais afetado. (Beer, 1999) Na mitocôndria aumenta a permeabilidade, interrompendo o transporte de elétrons inibindo com isso a respiração celular, levando a um aumento da permeabilidade dos lisossomas, e a liberação de hidrolases ácidas no interior da célula. A ativação das enzimas lisossômicas e seus efeitos sobre as estruturas celulares pode ser um efeito das aflatoxinas. No retículo endoplasmático, ocorre a degranulação com ruptura dos polissomas, inibindo muitas funções metabólicas como a síntese de proteínas, indução de enzimas e a síntese dos fatores 11 e VII do mecanismo de coagulação sangüínea.(Mallmann, 1994)

A toxicidade das aflatoxinas depende da dose ingerida e da espécie. Animais jovens são mais susceptíveis, assim como animais que recebem dietas desbalanceadas.

Tabela 2. Resposta dos suínos de acordo com a concentração de aflatoxinas na ração

– = sem efeito; ± = efeito variável; + = animais afetados; ++ = animais seriamente afetados

(Adaptado de Sobestuansky, 1999)

4. Sintomas Clínicos

Os sintomas da aflatoxicose podem variar em função da idade dos animais, tipo de aflatoxina, composição da dieta, tempo de exposição e quantidade de aflatoxina presente na ração. Como principais sintomas clínicos podemos destacar a icterícia, apatia e diminuição da taxa de crescimento. (Beer, 1999, Sobestuansky, 1999 e Radostists, 2000)

No quadro clínico agudo, causado pela ingestão de aflatoxinas em concentrações iguais ou superiores a 400 ppb, os sintomas aparecem em torno de 48 horas após o inicio do consumo da dieta contaminada.A campo, muitas vezes, a primeira constatação é a morte súbita de animais adultos ou de terminação. (Sobestuansky, 1999)

Nos casos em que se observarem sintomas, esses incluem: vômitos, prostração, diarréia, emagrecimento progressivo, palidez das mucosas, icterícia e hemorragias subcutâneas que podem ser observadas nas partes inferiores dos membros. As hemorragias que podem ocorrer nos músculos do pernil causam incoordenação motora durante a lactação, observa-se involução da glândula mamária, hipogalaxia e a leitegada em mau estado nutricional. Naqueles animais cujo quadro de intoxicação não leva à morte rápida, após 6 a 12 horas há o aparecimento de inapetência, tremores musculares e incoordenação motora com temperatura corporal podendo chegar até 40,0 – 41,1 °C, decrescendo após. (Mallmann, 1994 e Sobestuansky, 1999)

As aflatoxinas têm efeito imunossupressor, predispondo ao aparecimento de outras enfermidades secundárias. Leitões amamentados por porcas que ingeriram aflatoxinas, podem apresentar sintomas devido à capacidade de esta toxina atingir o leite quando a porca é alimentada com ação contaminada. Outra observação freqüente é a recusa em ingerir a ração contaminada. Isso ocorre em casos de contaminação com mais de um tipo de toxina, com presença de toxinas que causem uma redução na ingestão do alimento (p.ex. vomitoxinas). (Sobestuansky, 1999) A fotossensibilização pode ocorrer se os animais estiverem expostos ao sol (principalmente em sistemas de criação ao ar livre: SISCAL), devido à lesão hepática provocada pela aflatoxina (Zlotowski et. al., 2004).

A importância das aflatoxinas na criação de suínos não se deve apenas aos prejuízos causados nos quadros de intoxicação aguda em conseqüência da ingestão destas substâncias. A preocupação maior no meio criatório deve-se, na maioria das vezes, ao nível de aflatoxinas encontrado na ração ser insuficiente para desencadear um quadro clinicamente perceptível. Nestes casos, costuma-se observar apenas a diminuição de ganho de peso após decorrido algum tempo do início do consumo da ração contaminada. Pela demora na percepção destas conseqüências e das naturais dificuldades de diagnóstico clínico, os prejuízos econômicos podem ser particularmente severos. (Mallmann, 1994) Exemplificando isto, Mallmann (2006) afirma que se a nutrição dos leitões na fase pré-inicial estiver contaminada, este leitão nunca mais terá a mesma capacidade de ganho de peso, vai ter em média uma perda de 7% de peso, comprometendo o crescimento definitivamente, ao passo que na terminação, com animais que já atingiram a maturidade o impacto é insignificante.

5. Anatomia Patológica

Assim como os sintomas, as lesões dependem da dose de aflatoxina ingerida. Os animais necropsiados apresentam quadro icterohemorrágico generalizado, com fígado amarelado e friável, rins hipertrofiados, hemorragias em forma de sufusões nos músculos, serosas abdominais e torácicas, edema na parede da vesícula biliar e no mesentério, líquido sero-hemorrágico na cavidade abdominal e enterite hemorrágica. Os rins podem estar pálidos e edemaciados ou ainda hipertrofiados. (Sobestuansky, 1999 e Radostits, 2000)

Seis horas após a intoxicação aguda, o fígado encontra-se alterado apresentando uma coloração pálido-bronzeada com aparência de “cozido”. Após 12h a superfície do fígado apresenta focos vermelhos com diâmetro aproximado de 1mm. No jejuno e íleo poderão ser encontradas hemorragias disseminadas, com sangue livre no lúmen. (Mallmann, 1994)

As áreas retais apresentam-se hiperêmicas com sangue livre no lúmen do íleo, ceco e cólon. Da mesma forma existe a possibilidade de surgimento de hemorragias no coração, nas áreas subpericárdica e endocárdica. (Mallmann, 1994)

Nas intoxicações mais brandas, o fígado apresenta um aspecto pálido-amarelado com indicações de edema intralobular, fibrose e presença de focos hemorrágicos na superfície parietal. A vesícula biliar poderá estar aumentada e com edema, tendo o conteúdo biliar consistência mais espessa. Poderão também, serem encontradas coleções líquidas de coloração amarelada (transudato) nas cavidades abdominal, torácica e no saco pericárdico. Poderá igualmente ser observada icterícia generalizada acompanhada e coloração amarelada dos fluídos corporais e edema de localização variada, atingindo principalmente as espirais do cólon. (Malmann, 1994 e Sobestuansky, 1999)

O exame histológico do fígado revela: degeneração gordurosa, necrose centrolobular, hemorragias, mega-hepatócitos, fibrose interlobular e proliferação dos canais biliares. Os rins apresentam degeneração hidrópica e vacuolização do epitélio dos túbulos. (Beer, 1999, Mallmann, 1994 Sobestuansky, 1999)

6. Diagnóstico

O diagnóstico pode ter caráter presuntivo ou definitivo. Ambos requerem estudos detalhados da ocorrência da doença. O diagnóstico presuntivo pode ser feito a nível de campo, pela observação do quadro clínico patológico, associado às características epidemiológicas da doença. (Sobestuansky, 1999 e Radostits, 2000) As observações mais indicativas estão relacionadas com:

rações: na maioria dos casos, mofadas, alertam para os problemas relacionados com micotoxinas. Deve-se porém, levar em consideração que reações aparentemente normais podem conter níveis elevados de aflatoxinas;
transmissibilidade da doença: ela só ocorre nos animais que recebem alimento contaminado, não se difunde aos demais;
conservação da ração e ingredientes: falhas na conservação (p.ex., a constatação de umidade nos depósitos de milho ou ração); e
lesões encontradas na necropsia e resultado do exame histopatológico, em que deve ser enviado um fragmento do fígado acondicionado em formol a 10%.
O diagnostico diferencial deve incluir a intoxicação pelo cobre, hepatose dietética, e intoxicação pelo gossipol (principalmente quando relacionado ao uso de caroço de algodão). (Sobestuansky, 1999)

Para o diagnóstico definitivo, a análise da ração que os animais estão recebendo é imprescindível e, via de regra, suficientemente conclusiva. Para análise, deve-se proceder à colheita do alimento em vários pontos, distribuídos aleatoriamente no volume estocado, assim como, nos comedouros. As amostras devem ser colocadas em recipiente limpo e estão homogeneizadas, retirando-se uma sub-amostra para envio ao laboratório. (Sobestuansky, 1999) Essa deve ser acondicionada em saco de papel resistente ou plástico. A amostra não deve ser inferior a 1kg. A analise deve ser direcionada para a detecção da aflatoxina, e não cultura fúngica, visto que pode ocorrer de não haver fungos na ração e esta estar contaminada por aflatoxina devido ao crescimento anterior de fungos.(Mallmann, 1994)

6.1 Métodos de diagnóstico

Os métodos de diagnóstico para as aflatoxinas podem ser divididos em três categorias principais: bioavaliação, quimioavaliação e imunodiagnóstico.(Mallmann, 1994 e Sobestuansky, 1999)

Na bioavaliação tem sido usados preferencialmente ovos embrionados, larvas de camarão e alevinos de truta devido a grande sensibilidade que apresentam às aflatoxinas. E uma técnica que não se presta ao exame rotineiro e seus níveis de detecção não são suficientemente baixos.

As técnicas de quimioavaliação constituem-se da identificação e quantificação por cromatografia em camada delgada (CCD) e cromatografia líquida de alta resolução (HPLC). Estes métodos apresentam alta eficiência e segurança diagnóstica, sendo, portanto, os mais recomendados.

O imunodiagnóstico para aflatoxinas é uma técnica recente, apresentando como principal vantagem a rapidez com que é realizada sendo montados em “kits”de diagnóstico. Para o imunodiagnóstico utilizam-se anticorpos monoclonais ou polielonais produzidos por linfócitos previamente sensibilizados e hibridados com células provenientes de linfomas em animais previamente sensibilizados com conjugados proteína (haptenos-Aflatoxinas). Existem testes do tipo fluorométrico (anticorpo específico) e testes usando métodos colorimétricos.

(Mallman, 1994)

7. Relato de Caso: Surto de Aflatoxicose no Rio Grande do Sul

Zlotowski et. al. (2004) relatam um caso de intoxicação por aflatoxicose ocorrido em outubro do ano de 2004, no estado do Rio Grande do Sul, em uma propriedade onde a criação de suínos era feita em sistema ao ar livre (SISCAL), e no momento do desmame, os animais eram confinados num galpão de madeira, em baias coletivas de cama sobreposta em casca de arroz. No total, morreram 7 porcas e 8 leitões e foram relatados casos de aborto em duas fêmeas. O milho usado no arraçoamento dos animais era produzido na propriedade e, segundo o proprietário, foi moído ainda úmido.

Na avaliação das lesões durante a necropsia os autores encontraram como achados mais significativos as seguintes lesões: icterícia generalizada, coleção moderada a acentuada de líquido amarelado nas cavidades abdominal e pericárdica, edema das serosas intestinais, fígado amarelo-alaranjado, com áreas multifocais de coloração vermelho escura e edema de vesícula biliar. Nos achados microscópicos seguintes achados histológicos no fígado: tumefação e degeneração moderada difusa de hepatócitos, desorganização dos cordões celulares, congestão moderada, necrose individual de hepatócitos, corpos apoptóticos, discreta proliferação de ductos biliares e colestase. O diagnóstico dos autores foi baseado no histórico, na epidemiologia, nos sinais clínicos, achados de necropsia e histopatológicos e nos níveis elevados de aflatoxina B1 encontrados no milho moído e na ração consumidos pelos animais (conforme a tabela abaixo). A contaminação do milho por aflatoxinas foi relacionada com a umidade elevada na colheita, no armazenamento e na moagem do milho e o período de seca registrado naquela região durante o verão, o que favoreceu a proliferação do fungo e produção de toxinas nesse surto.

Tabela 3. Resultados da analise de aflatoxinas em Milho e Ração de suínos com aflatoxicose no Rio Grande do Sul.

(Adaptado de Zlotowski et. al.,2004)

8. Tratamento

Não existem tratamentos específicos para micotoxicoses. O tratamento quimioterápico é pouco eficaz, porém pode-se administrar metionina e um outro antibiótico para evitar infecções secundárias. Terapia de apoio, baseada na administração de vitamina “E” e selênio, tem sido utilizada com sucesso variável. (Sobestuansky, 1999)

Quando ocorrem os sintomas, suspender a administração da ração contaminada, substituindo-a por outra de boa qualidade. O controle dos níveis de aflatoxinas na ração e grãos de cereais é a melhor alternativa para evitar as perdas com esta doença. (Mallmann, 1994)

9. Medidas de Prevenção

O controle de qualidade da matéria-prima para fabricação de rações é uma medida eficaz de controle da aflatoxicose. A limpeza do milho no pós-colheita e a manutenção periódica de procedimentos de limpeza nos silos de armazenagem de grão é um fator importante na prevenção da contaminação da matéria-prima das rações. Alguns agricultores usam da colheita tardia com objetivo de reduzir a umidade do grão, porém isto pode trazer como conseqüência o aumento do ataque de insetos nos grãos e também a possibilidade de maior contaminação com micotoxinas. (Bellaver, 2006)

Na produção de rações, a presença de micotoxinas em grãos e cereais é um problema que pode ser resolvido de forma parcial pela diluição da concentração ou pela adição de adsorventes de micotoxinas nas rações, entre eles as bentonitas e silicatos de alumínio, impedindo-as de terem ação patogênica nos animais, isto é que haja o desencadeamento de uma micotoxicose. Porém vale ressaltar que estas substâncias não eliminam totalmente as aflatoxinas. Uma outra forma de eliminar as aflatoxinas da ração é fazer um tratamento com gás de amônia, porém este processo possui um custo elevado o que limita seu uso. O uso de antifúngicos (ácidos orgânicos) na ração e/ou nos cereais pode fazer o controle do crescimento de fungos, evitando a contaminação dos alimentos por micotoxinas, porém é importante ressaltar que esse tratamento não elimina as aflatoxinas, por isso o momento da aplicação dos antifúngicos é decisivo para seu sucesso já que se ele for aplicado após a contaminação não trará nenhum efeito. .(Back, 2004)

Bellaver et. al. (2005) indica a peletização e posterior incineração do pó de milho em fabrica de rações, trazendo como benefícios a co-geração de energia a partir de material biológico não reciclável, a diminuição do pó no ambiente da fabrica de rações e a diminuição da contaminação das lavouras caso este pó fosse utilizado como adubo. Os autores não recomendam a utilização do pó na alimentação de qualquer espécie animal, pois as partículas mais finas do milho são os inóculos mais apropriados à contaminação por fungos.

O uso dos métodos tradicionais para detecção de micotoxinas, alguns dos quais utilizam cromatografia, outros já com fita reativa, deve ser rotineiro na chegada de cargas de milho nas fabrica de rações, e assim pode-se fazer o direcionamento das cargas conforme sua qualidade.(Bellaver, 2006)

Conclusão

A aflatoxicose é uma doença que pode trazer prejuízos imensos para o produtor de suínos e deixa-lo de mãos atadas frente ao problema, visto que depois de instalado o curso da doença, e diagnosticado, não há o que ser feito para reverter o quadro, sem contar que a morbidade pode ser grande, visto que ela é disseminada pela alimentação. Portanto cabe aos suinocultores e técnicos o dever de praticar os métodos de prevenção para esta doença destacados neste trabalho.

Um importante alerta fica aqui destacado aqueles pequenos produtores que produzem o próprio milho, e por não possuírem maquinário necessário, não fazem uma correta colheita, limpeza, secagem e armazenagem dos grãos. Outro ponto importante é o milho produzido durante o chamado período de “safrinha”, já que este milho acaba sendo colhido com um teor de umidade mais elevado e, numa época do ano onde a umidade relativa do ar é mais úmida. Também ressaltamos que deve ser muito bem observado o custo-benefício que pode-se ter ao comprar milho a um preço abaixo do praticado pelo mercado, sendo que o mesmo pode ter uma qualidade inferior e uma contaminação por micotoxinas que pode gerar um prejuízo muito maior do que o valor economizado com a compra do milho mais barato.

Uma questão relevante é colocada por Bellaver (2006), onde o autor discuti sobre sistemas de pagamento do milho, que é o principal insumo utilizado nas rações para suínos, por qualidade, mas não apenas a qualidade nutricional, mas sobre os fatores que dependem de uma correta colheita, secagem e armazenagem dos grãos, o que penalizaria maus produtores. O mesmo autor afirma que a melhoria da qualidade do milho para alimentação animal pode ser alcançada através do controle dos pontos críticos na fase de pré-processamento. Nós concordamos com o autor, e deixamos aqui o alerta para que seja dada a devida atenção aos aspectos aqui discutidos sobre a aflatoxicose, lembrando sempre que a prevenção é a melhor ferramenta que temos disponível para evitar as perdas com a aflatoxicose.

Referências Bibliográficas

BACK, A. Manual de Doenças de Aves. Coluna Saber, Cascavel, 2004. pg. 152.

BEER, O. et. al. Doenças Infecciosas dos Animais Domésticos Roca, 2ª ed., São Paulo, 1999. 380 p.

BELLAVER, C. et. al. Redução do Risco de Micotoxicoses pela Limpeza do Milho na Fabrica de Rações. Comunicado Técnico nº 392, CNPSA/EMBRAPA, Concórdia, junho/2005.

BELLAVER, C. Utilização de grãos na produção de carne suína de qualidade. Porkworld.la, Publicado em: 07 jul 2006. Disponível em: Acessado em: 28 ago 2006.

MALLMAN, C. A. Aflatoxinas – Aspectos Clínicos e Toxicológicos em Suínos. Ciência Rural, Santa Maria, v. 24, n. 3, 1994. Disponível em: Acessado em: 29 ago 2006.

MALLMAN, C. A. Aflatoxinas interferem não só síntese protéica e contaminam cerca de 50% do milho testado. Porkword.la, Puclicado em: 25 ago 2006. Disponível em: Acessado em: 28 ago 2006.

RADOSTITS, O. M. et. al. Clínica Veterinária. Guanabara Kogan, 9ª ed., São Paulo, 2000. 1763 p.

SOBESTUANSKY, J. et. al.Clínica e Patologia Suína. Art. 3, 2ª ed., Goiânia, 1999. 464 p.

ZLOTOWSKI, Priscila et al . Surto de aflatoxicose em suínos no Estado do Rio Grande do Sul. Pesq. Vet. Bras., Rio de Janeiro, v. 24, n. 4, 2004. Disponível em: . Acesso em: 28 ago 2006. doi: 10.1590/S0100-736X2004000400007

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