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sábado, abril 20, 2024

ALTERAÇÕES ESTOMATOGNÁTICAS EM PACIENTES COM AIDS

Autor: Gercélia dos Santos Ramos

ALTERAÇÕES ESTOMATOGNÁTICAS ENCONTRADAS EM PACIENTES COM AIDS: UM LEVANTAMENTO REALIZADO NO C.H.C.F., NA CIDADE DE JOÃO PESSOA

1. INTRODUÇÃO

Fonoaudiologia é uma ciência cujo objetivo está voltado para os problemas da comunicação humana, fator importante no desenvolvimento do ser humano. Problemas nessa área são conseqüências de muitas doenças, podendo resultar de anormalidades em diferentes níveis.

Uma dessas doenças é a infecção por HIV, que atinge milhares de indivíduos e para qual não há cura, até o momento. Representa, atualmente, um dos maiores problemas de Saúde Pública e tem causado a morte de milhares de pessoas em todo mundo, na sua maioria jovens, em seus anos de maior produtividade.

O número de pessoas infectadas pelo HIV, no Brasil, aumentou consideravelmente nos últimos vinte anos. Segundo Ministério da Saúde, 210452 pessoas são portadoras de AIDS atualmente em todo Brasil.

A AIDS é causada pelo HIV, vírus da Imunodeficiência Adquirida que provoca uma destruição das defesas naturais do corpo de forma que o organismo vai se enfraquecendo aos poucos, levando ao indivíduo a possibilidade de adquirir uma série de doenças oportunistas, como pneumonia, herpes simples, infecções por fungos do tipo Cândida (sapinho), doenças intestinais, tumores e outras, influenciando de forma prejudicial, todo o sistema estomatognático do individuo (deglutição, respiração, mastigação e sucção).

Os problemas causados pela Síndrome da Imunodeficiência Adquirida são tantos que, por mais que tenham sido estudados, ainda há muito a ser elaborado e descoberto. No campo da Fonoaudiologia, poucas foram as conclusões apresentadas, motivo pelo qual a serem elaborados trabalhos sérios de experimentação em tão empolgante assunto.

Diante do exposto, e levando em consideração a escassez de literatura específica, sentiu-se a necessidade de diagnosticar as possíveis alterações estomatognáticas encontradas nos pacientes com AIDS. Além disso, este trabalho pretende, ser um veículo de informação, abrangendo um assunto do interesse das pessoas que, de uma forma ou de outra, estejam convivendo com o HIV/AIDS.

Esta monografia esta dividida em embasamento teórico, resultados e discussões, metodologia e considerações finais. No embasamento teórico, subdividimos em dois capítulos, um sobre AIDS e outro sobre Funções Estomatognáticas, expondo definições, sintomas e alterações que a AIDS pode causar no individuo. Já, o segundo capítulo, está dividido em cada função estomatognática, ou seja, mastigação, respiração, deglutição, articulação e fala, expondo o normal e patológico de cada função.

2. EMBASAMENTO TEÓRICO

2.1. AIDS

A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), envolve uma série de conceitos medicinais muitas vezes difíceis de compreender. Sua definição é apresentada em cada palavra que constitui sua sigla. A palavra síndrome é conjunto de sintomas que ocorrem mais ou menos simultaneamente, tendo uma ou várias causas comuns. A palavra imunodeficiência é a deficiência do sistema imunológico. A imunidade é a capacidade que tem o organismo para reconhecer e destruir “invasores” que o “atacam”. Deficiência, porque é peculiar dessa doença deixar o organismo sem funcionar, ficando exposto a uma multiplicidade de agentes infecciosos, muitos dos quais habitualmente inofensivos, mas que, nessas condições, conseguem atingir seu pleno desenvolvimento nocivo.

Para completar o significado amplo desta patologia, a palavra adquirida, significa que a imunodeficiência da AIDS se dá por contágio, ou seja, o agente infeccioso penetra no organismo através do sangue, do esperma ou de certas secreções de um outro organismo no qual se encontra presente.

A AIDS é definida como síndrome porque não tem uma manifestação única, caracteriza-se pela aparição de várias doenças sucessivas e simultâneas, que “ocultam” a verdadeira doença. É justamente uma doença do sistema imunológico, que causa um desabamento geral das defesas orgânicas.

O MINISTÉRIO DA SAÚDE (1999), expõe, ainda que, a AIDS é uma doença contagiosa, imunodepressiva e letal, causada pelo vírus HIV (Human Immunodeficiency Vírus). Esse vírus infecta as células do sistema imune e do sistema nervoso central, sendo capaz de destruir células importantes no sistema de defesa do organismo onde a pessoa pode desenvolver, com maior ou menor gravidade, doenças como pneumonia, herpes simples, infecções por fungos do tipo Cândida (sapinho), doenças intestinais, tumores e outras.

No Brasil, o aparecimento da AIDS se deu pela primeira vez em 1982, quando o diagnóstico foi feito em sete pacientes. A epidemia que, em sua primeira fase (1980 a 1986), caracterizava-se pela preponderância da transmissão em homens homo e bissexuais, de escolaridade elevada, em sua segunda fase (1987 a 1991), passou a caracterizar-se pela transmissão sanguínea, especialmente na subcategoria de usuários de drogas injetáveis (UDI), dando inicio, nesta fase, a um processo mais ou menos simultâneo de pauperização e interiorização da epidemia, ou seja, mais pessoas com baixa escolaridade e de pequenas cidades do interior estavam infectados.

Finalmente, em sua terceira fase (1992 até os dias atuais), um grande aumento de casos por exposição heterossexual vem sendo observado, assumindo cada vez maior importância a introdução de casos do sexo feminino (feminização da epidemia).

Como muitas patologias, a AIDS apresenta sintomas, dentre eles podemos destacar: perda de peso, náuseas ou vômitos, ulcerações mucocutâneas, aftas, paralisia facial, entre outros. A debilitação neurológica é geralmente autolimitada, passando de um quadro assintomático até déficits neurológicos persistentes. Os portadores do vírus HIV também desenvolvem sinais ou sintomas no seu aspecto emocional.

As manifestações clinicas de uma infecção por HIV são muito variáveis, afirma VERONESI (1991). Atualmente, segundo uma sugestão dos Centers for Disease Control (CDC), é possível caracterizar quatro estágios principais da evolução da doença.(ALVES, 2001)

O estágio um engloba a sintomatologia da infecção aguda por HIV. Caracteriza-se por mal-estar geral, fadiga, febre, cefaléia e dores localizadas nos membros, irritação da mucosa de orofaringe, erupção cutânea e linfadenomegalia. O estágio dois é descrito como infecção HIV assintomática, onde aqui não se verifica sinais ou sintomas de doença. O estágio três é descrito como uma linfadenopatia generalizada e persistente.

Por último, o estagio quatro, no qual os participantes da pesquisa encontravam-se, é caracterizado pela gama da sintomatologia do quadro completo da AIDS. Neste estágio, os pacientes apresentam sintomas constitucionais, ou seja, febre de origem desconhecida, perda de peso, (diarréia persistente), sintomas neurológicos, caracterizados pelos distúrbios de concentração e memória, lentidão psicomotora, perda progressiva da capacidade intelectual e motricidade fina e infecções oportunistas do tipo: pneumonias, diarréias crônicas, infecções intestinais, infecções por toxoplasmose no sistema nervoso central, candidíase esofágica, apresentando implicações sobre a alimentação, respiração e voz (LEMOS, 1992), brônquica ou pulmonar, infecções por citomegalovírus, infecções mucocutâneas crônicas ou disseminadas por herpes-simples-virus.

O MINISTÉRIO DA SAÚDE (1999), afirma ainda que, outras infecções, anteriormente, não estavam incluídas na definição clássica da AIDS, algumas delas são: a tuberculose, candidíase oral e doenças infecciosas oportunistas representantes de todas as áreas de micróbios patogênicos humanos: bactérias, fungos, parasitas, helmintos e vírus e doenças tumorais associadas ao quadro completo da AIDS (sarcoma de kaposi, malignomas do sistema hematopoéico).

As manifestações gastrintestinais são consideradas as mais freqüentes, causando perda de peso, e conseqüentemente, desnutrição grave. A incidência das doenças gastrintestinais, principalmente a doença diarréica, é mais elevada nos pacientes com disfunção imunológica severa e nas regiões onde as condições socioeconômicas são menos favoráveis.

As células do trato digestivo são suscetíveis à infecção pelo HIV; a partícula viral já foi identificada desde o esôfago até o cólon; e o tecido linfóide do intestino é considerado um reservatório importante do vírus no organismo. O processo infeccioso causado desencadeia inúmeros fenômenos imunopatogênicos que podem estimular a infecção de células sãs, pois aumentam a expressão do HIV e são responsáveis por sintomas como febre, náusea, vômito e diarréia.

Nas infecções virais de vias aéreas superiores apresentam sintomas clássicos: coriza serosa, tosse seca, hiperemia conjuntival e febre pouco elevada. As otites costumam ser de repetição, e as sinusites, bem freqüentes.

As pneumonias bacterianas adquiridas apresentam-se com febre elevada, tosse, taquipnéia e toxemia relativa. A tuberculose possui alta incidência; o quadro clínico costuma ser crônico e inespecífico, composto por febre prolongada, perda de peso, tosse crônica com ou sem insuficiência respiratória e pneumonias.

As manifestações orais em indivíduos infectados pelo HIV são comuns e podem ocorrer como as infecções por fungos, bactérias, vírus, neoplasmas ou manifestações de etiologia desconhecida, dentre elas pode-se destacar: candidíase, estomatite herpética, cáries, gengivoestomatite ulcerativa necrotizante aguda, hipertrofia de parótida, quelite angular, abscesso dentário, leucoplasia pilosa, úlcera aftosa, neoplasia. Estas manifestações podem ser de extrema importância no diagnóstico precoce da infecção por HIV.

2.2. FUNÇÕES ESTOMATOGNÁTICAS

“O sistema estomatognático identifica um conjunto de estruturas bucais que desenvolvem funções comuns, tendo como característica constante a participação da mandíbula, daí o nome de gnática, do grego gnatos = mandíbula. Como todo sistema, tem características que lhe são próprias, mas depende do funcionamento ou está intimamente ligado à função de outros sistemas como o nervoso, o circulatório, e todos em geral, porque não constitui uma unidade separada do resto do organismo. Diferentes tecidos e órgãos fazem parte deste sistema, como músculos, ossos, dentes, articulações, glândulas, mucosas e o aporte correspondente”. (DOUGLAS, 1994, p.833)

Segundo FERRAZ (2001), são considerados funções estomatognáticas: mastigação, deglutição, sucção, respiração e fonação e articulação. Exceto a respiração, todas as outras funções são exclusivas do sistema estomatognático.

GRASSI (1994) afirma que os indivíduos portadores da infecção por HIV, além de manifestarem alterações quanto a deglutição, mastigação, apresenta alterações na musculatura orofacial.

Segundo MARCHESAN (1999), o reflexo de sucção visa a ingestão do leite materno, único alimento do recém-nascido, função esta, que não foi avaliada, pois os pacientes desta pesquisa utilizavam da mastigação para se alimentarem.

Para entender e identificar as alterações estomatognáticas nos pacientes com AIDS é fundamental o conhecimento dos padrões normais e alterados destas funções.

2.2.1. Deglutição

A deglutição tem como principal função a propulsão do alimento da boca para o estômago. DOUGLAS (1994) define a deglutição como o ato de engolir, isto é, o transporte do bolo alimentar ou de líquidos, da cavidade oral até o estômago. É uma atividade neuromuscular muito complexa, que pode ser iniciada conscientemente, o que se completa mediante a integração no sistema nervoso central de impulsos aferentes e eferentes organizados no centro da deglutição, como explicam MARCHESAN & JUNQUEIRA (1998).

A deglutição faz parte do sistema estomatognático, o qual age conjuntamente envolvendo as estruturas anatômicas que o compõe. Participam da deglutição estruturas ósseas como o maxilar, a mandíbula, a coluna cervical e o osso hióide; estruturas cartilaginosas como as cartilagens da laringe; estruturas musculares como a língua e mais 31 pares de músculos, principalmente os supra-hióideos, como o digástrico e o estilo-hióideo, e os infra-hióideos e por fim as estruturas neurais como 6 pares cranianos e os nervos cervicais assim explica MACEDO FILHO (1999).

O processo da deglutição é programado e executado por refinado controle neuromuscular, com mecanismos de controle cortical e do tronco cerebral. Caracteriza-se por uma sucessão de fenômenos inter-relacionados, durando de 3 a 8 segundos. Possui três fases: a oral, a faríngea e a esofágica, como refere DOUGLAS (1994).

A fase oral inclui a mordida e a mastigação que transforma o alimento num bolo homogêneo. Este bolo alimentar é deslocado para um canal transversal no dorso da língua, os lábios se aproximam e os músculos elevadores da mandíbula (masseter, temporal e pterigóideo medial) se contraem. A língua eleva e encosta sua ponta na papila retroincisiva e a face palatina dos incisivos superiores. Ocorre neste momento, a contração do músculo milo-hióideo, e esta faz com que a parte anterior da língua pressione o palato duro e a base se deprima, deslocando o bolo alimentar para trás através dos movimentos ondulatórios da língua de frente para trás. A pressão exercida pelo bolo alimentar nos pilares anteriores da faringe, na base da língua e palato mole gera impulsos nervosos e disparam o reflexo da deglutição.

A fase faríngea é um estágio involuntário. DOUGLAS (1994), escreve que neste instante os músculos supra-hióideos, faríngeos e linguais se contraem. O caminho do ar, a glote, é fechado para prevenir a aspiração interrompendo a respiração. A válvula do esôfago abre-se para receber o bolo. Ocorre a elevação do palato mole e a úvula, fechando a nasofaringe para evitar o reflexo nasal. A musculatura de faringe se contrai e conduz o bolo alimentar até o esôfago.

A fase esofágica ocorre, quando o bolo alimentar passa para o esôfago. O músculo milo-hióideo relaxa-se e o osso hióideo desce. A laringe volta a sua posição original, abre-se a glote, o véu do palato desce, a língua retorna a sua posição de repouso e a mandíbula volta a sua posição postural. Neste momento, reinicia-se a respiração normal que foi interrompida durante um segundo ou menos, na fase faringo-laríngea. Através de movimentos peristálticos reflexos, o bolo alimentar é conduzido para o estômago.

Para que a deglutição ocorra de maneira normal é necessário um equilíbrio entre todos os elementos que participam desse processo. Durante a fase oral da deglutição há participação efetiva e conjunta de várias estruturas como: lábios, língua, mandíbula, maxila, dentes, palato e receptores existentes na boca. Qualquer intercorrência em uma destas estruturas poderá afetar diretamente a deglutição.

Segundo informações colhidas, quando há alteração no processo de deglutição na fase oral utiliza-se o termo “deglutição atípica”. Muitas são as características para que se possa definir uma deglutição atípica, são elas: o pressionamento atípico da língua; a participação da musculatura perioral; movimentos de cabeça durante a deglutição; alteração na articulação de fonemas; língua volumosa, alargada; cuspir ou acumular saliva nos cantos da boca; baba noturna; dificuldades de deglutir pílulas e dificuldades de deglutir com os lábios separados.

HANSON (apud ALLTMANN, 1993) acrescenta ainda que a deglutição atípica envolve todas as alterações musculares e funcionais dos órgãos fonoarticulatórios que a ela se associam tais como alteração das posturas labial, lingual e mandibular; alteração da motricidade dos órgãos fonoarticulatórios; inadequação da força muscular de lábios, língua, bochechas e músculos elevadores da mandíbula e respiração bucal.

No entanto, há polêmicas a respeito do termo “deglutição atípica” para “alterações de deglutição” já que nem sempre se trata de uma atipia e sim de uma adaptação às possibilidades funcionais do indivíduo. Por este motivo, apresentaremos os resultados da avaliação de deglutição, realizados na pesquisa, utilizando o termo “alterações de deglutição”.

2.2.2. Mastigação

“A mastigação é processo fisiológico, relativamente complexo, resultado de uma atividade neuromuscular e digestiva. Nesse processo se integra várias partes do sistema mastigatório, que inclui os dentes, suas estruturas de suporte, músculos, articulações têmporo-mandibulares, lábios, bochechas, o paladar, a língua e a secreção salivar”.(BEUTTENMULLER, 1995, p. 33)

MARCHESAN (1999) aborda as três etapas desta função que são: a incisão, a trituração e a pulverização. DOUGLAS (1994) acrescenta que um ciclo mastigatório é composto pelas fases de abertura e fechamento da boca e fase oclusal. Relata que a duração deste ciclo varia de acordo com a consistência do alimento, que influencia diretamente na mastigação, adaptando-a ao tipo de alimento ingerido, modificando a intensidade da força, a pressão e a quantidade de golpes mastigatórios. Salienta ainda, que durante o processo mastigatório, a produção de saliva ocorre de maneira reflexa na incisão e trituração e dela depende a eficiência da mastigação, amolecimento e formação do bolo alimentar.

Na primeira fase, incisão, seu objetivo é o corte de traços grandes, facilitado pela reduzida superfície oclusal dos incisivos, quase linear. Possuem ação de faca (DOUGLAS, 1994). A língua recebe o alimento e leva-o até a face oclusal dos dentes posteriores para iniciar-se a segunda fase (BIANCHINI, 1998).

A trituração ocorre principalmente nos pré-molares, uma vez que sua pressão intercuspideana é elevada, maior que a dos molares, pois sua superfície oclusal é razoavelmente grande, menor que a dos molares e maior que a dos incisivos. Sendo assim, é mais fácil moer nos pré-molares as partículas maiores que oferecem resistência. (DOUGLAS, 1994) Esta fase trata-se da transformação das partes grandes do alimento em partes menores. A salivação age facilitando na eficiência desta fase.

Na ultima fase, pulverização, segundo DOUGLAS (1994), acontece como moenda final das partículas pequenas, transformando-as em elementos minúsculos que não oferecem resistência nenhuma para as superfícies oclusais ou mucosa oral. Ocorre principalmente em molares.

Finalmente, DOUGLAS (1994) descreve que, existindo harmonia funcional do sistema estomatognático, a mastigação será bilateral, levando ao equilíbrio da força mastigatória, da oclusão e da musculatura envolvida.

Mas se faltam os dentes? Como mastigar? A perda dentária é muito significativa, pois altera todo o sistema estomatognático devido à destruição de parte do esqueleto facial, altera a morfologia e neuromusculatura, o que dificulta a realização das funções de deglutição, mastigação e fala (CUNHA, FELÍCIO, BATAGLION, 1999).

A principal causa da perda de dentes entre adultos é a periodontite, ou seja, doença periodontal. A falta de higiene faz com que acumule placa bacteriana junto à gengiva, entre os dentes, nas emendas de restaurações ou de coroas e estas placas são a causa da cárie e da doença periodontal.

Podemos, então, reiterar a importância dos dentes na mastigação, pois se os dentes estiverem ausentes, com certeza os alimentos não serão mordidos de forma adequada, não serão bem triturados e o indivíduo irá engolir pedaços inteiros. Esse indivíduo irá mastigar, mas esta mastigação será adaptada à falta dentária e poderá ser unilateral, o que provocará um desequilíbrio de forças entre os lados de trabalho e balanceio.

O ideal é uma mastigação bilateral para que ocorra a estimulação dos músculos mastigadores, da membrana periodontal e articulações têmporomandibulares. Além de interferir na mastigação, a ausência de dentes torna a pronúncia das palavras alteradas e altera as outras funções do sistema estomatognático (respiração, deglutição, sucção). Portanto, é de fundamental importância tomar os cuidados precisos para manter uma boa dentição e conservar as funções dos dentes e assim as funções do sistema estomatognático.

2.2.3. Respiração

O sistema respiratório está constituído por um conjunto de órgãos tubulares e alveolares situados na cabeça, pescoço e cavidade torácica. Eles são os elementos do nosso organismo responsáveis pela respiração. Os pulmões são os órgãos mais importantes para que se efetue a respiração e estão situados na cavidade torácica. São dois e ocupam a linha pleural do tórax, um em cada lado da linha mediana, e quando separados um do outro, por um espaço chamado mediastino, onde estão o coração, os grandes vasos, a traquéia, o esôfago e alguns troncos nervosos.

Cada pulmão apresenta uma base, um ápice e três faces (costal, medial e diafragmática) e está coberto por um envoltório delicado, mas forte, que é o saco pleural. A passagem de ar faz-se pela parte interna do nariz, faringe, laringe, traquéia e brônquios.

Existem tipos e modos respiratórios, quanto ao tipo de respiração, encontramos na literatura referencias a quatro tipos básicos: clavicular ou superior, a abdominal ou inferior, média, mista ou torácica e a completa ou costo-diafragmática. Já os modos compreendem a respiração bucal e nasal elucidadas mais abaixo.

A respiração do tipo superior, também denominada respiração clavicular, caracteriza-se por apresentar elevação de ombros acompanhada ou não por uma anteriorização do pescoço. Respiração contra-indicada devido não apresentar suporte aéreo suficiente para a produção da voz. Pode ocorrer uma tensão ao nível do pescoço (na região laríngea) e cintura escapular, e ser acompanhada de uma respiração invertida.

Na respiração Inferior ou abdominal há ausência de movimentos na região superior da caixa torácica, a capacidade respiratória encontra-se reduzida. Caracteriza-se devido o respirador inferior apresentar: atrofia muscular, postura inadequada e ombros caídos.

Em relação à respiração mista, conhecida como respiração torácica, apresenta suporte aéreo adequado para o uso da fala coloquial, há uma expansão equilibrada da caixa torácica. Pode apresentar predomínio superior ou inferior.

Por último, na respiração costo-diafragmática, há uma expansão global da caixa torácica. Utilizada por profissionais da voz. A expansão da caixa torácica ocorre de forma equilibrada.

Quanto ao modo respiratório, MARCHESAN (1999), relata que a respiração normal é feita pela via nasal acrescentando ainda que a respiração bucal interfere negativamente na postura adequada da língua em repouso ou em ação.

Muitos são as conseqüências de uma respiração bucal. FERRAZ (1984) apresentou alguns efeitos que uma respiração incorreta (respiração bucal) poderia acarretar, são eles: aumento das infecções próprias do aparelho respiratório; estreitamento da arcada superior, do palato e das narinas, tornando o palato ogival; lábio superior hipotônico, curto e elevado com alteração, dada a pouca irrigação sangüínea; gengiva hipertrófica; língua com postura anormal, deixando de exercer sua função modeladora, do palato e também com sua tonicidade prejudicada, como também, má oxigenação cerebral, ocasionando dificuldade de atenção e concentração e conseqüentemente problemas de aprendizagem.

2.2.4. Articulação e Fala

A função mastigatória é uma preparação da musculatura oral para a articulação dos fonemas, pois os seus movimentos grosseiros iniciais, é que vão desenvolver os movimentos refinados da fala.(GOMES, PROENÇA, LIMONGI, 1989).

Varias são as estruturas que são utilizadas na articulação da fala, como os lábios, dentes, mandíbula, palato e língua, principal órgão para a fala articulada.

A língua é composta por músculos intrínsecos facilitando sua mudança de forma (afilada, alargada, enrolada) e, também, de músculos extrínsecos fazendo com que a mesma possa realizar movimentos de protrusão, retração, elevação e abaixamento. Sem a precisão destes movimentos causados pelos músculos, não poderá haver qualquer fala articulada. (BOONE, 1994).

Para MARCHESAN (1999), a articulação depende da posição de língua e de sua capacidade de se movimentar, da presença e da posição dos dentes e também da movimentação dos lábios e das bochechas. A mesma relata que a articulação dos sons é realizada pelos órgãos fonoarticulatórios, que determinam modificações do som produzido inicialmente nas cordas vocais.

A língua constitui o órgão principal de articulação, operando em conjunto com os dentes, palato e mandíbula. A língua constitui o órgão principal da articulação, operando em conjunto com as estruturas citadas acima.

Segundo ISSLER (1996) caso ocorra alteração na mobilidade da língua por alteração na função dos músculos, levará a uma inadequada articulação dos fonemas.

Outras estruturas utilizadas na articulação da fala são os lábios. São as estruturas mais visíveis da boca sendo facilmente alterados e moldados para propagar diversas expressões faciais. Também constituído por músculos, este órgão tem a possibilidade de contrair, expandir ou formar um circulo, onde podemos citar um dos músculos mais importantes, o orbicular dos lábios. As alterações dos fonemas bilabiais (/p/, /b/, /m/) podem ser decorrentes de estrutura labial fraca.

Os dentes são estruturas importantíssimas no papel mastigatório (seu principal objetivo), como também, apresentam funções na articulação dos fonemas. Chamamos de labiodental, o lábio inferior sendo comprimido pelos incisivos centrais superiores, onde precisamos desse ato para a produção dos sons fricativos, /f/ e /v/. Contudo, para a produção dos sons /n/, /s/, /z/, /t/ e /d/, é necessário o contato da ponta da língua na protuberância alveolar por trás dos dentes maxilares.

A perda de elementos dentários e o uso de próteses também podem prejudicar a fala. Com a falta de alguns dentes a língua se posicionará na região desdentada, com a finalidade de estabilizar a mandíbula, contudo, problemas de fala e de estabilidade do arco dental residual podem resultar dessa ação muscular. Mais especificamente, se os dentes posteriores são perdidos não haverá muita distorção da fala, mas as perdas anteriores provocam omissão e substituição dos sons, o que muitas vezes exige compensações para os fonemas labiodentais e linguodentais (CHIERICI e LANSON, 1973).

Para que a articulação dos sons da fala seja realizado de forma normal, é fundamental que a mandíbula, realize seus movimentos corretamente, contribuindo para as mudanças do tamanho da cavidade oral, necessário para a produção de diferentes vogais.

MARCHESAN (1999) define os músculos mastigatórios como elementos ativos e dinâmicos do sistema estomatognático, estes movimentam a mandíbula em diversos sentidos, dependendo das características de inserção e orientação de suas fibras.

As articulações têmporomandibulares (ATM) possibilitam os movimentos da mandíbula como o de abrir, fechar, lateralizar, protruir, retrair e os movimentos rotatórios que são os próprios movimentos da mastigação (BIANCHINI, 1998).

A liberdade dos movimentos mandibulares possibilita as funções de respiração e postura, sucção, mastigação, deglutição, fala e produção da voz. Uma desordem na harmonia do sistema estomatognático pode provocar uma disfunção têmporomandibular (DTM), em que os músculos e as articulações não trabalham harmonicamente, causando comprometimentos musculares como: espasmo, tensão, dor e comprometimento das estruturas ósseas (TENÓRIO CABEZAS, 1997).

Uma DTM pode causar prejuízo ao sistema estomatognático levando em consideração os seguintes fatores: problemas degenerativos (artrite, osteoporose, esclerose múltipla); traumas na articulação causados por acidentes de trânsito ou esportivos; alterações esqueléticas; problemas oclusais (os quais durante toda a vida do indivíduo estão em freqüentes modificações por perdas ou desgastes dentários, cáries, próteses mal-adaptadas e restaurações dentárias inadequadas) e Radioterapia (BIANCHINI,1998).

Além da dor, outros sintomas em pacientes com DTM’s são crepitações, ruídos nas ATM’s, limitações na abertura bucal, travamento articular, desvios mandibulares, alterações dos órgãos fonoarticulatórios (OFA’s), zumbido ou sensação de ouvido tapado e alterações funcionais (mastigação, deglutição, fala e voz).

Por ultimo, o palato, formado pelo palato ósseo e palato mole, contribui para a ressonância oral importante na vocalização das consoantes nasais. É importante lembrar que, um palato muito alto pode levar a um desvio de septo, interferindo na respiração nasal, que conseqüentemente acarretará num tipo de respiração incorreta.

3. METODOLOGIA

Os sujeitos desta pesquisa compreenderam 11 pacientes, desconsiderando a faixa etária e o sexo, infectados pelo HIV, apresentando manifestações clínicas da doença, que se encontram internos no C.H.C.F., na cidade de João Pessoa – PB, no período de 22 a 24 de Novembro de 2001.

Como instrumentos foram utilizados: anamnese específica contendo questões abertas abordando sobre inicio da doença, piora do quadro e dificuldades quanto às funções estomatognáticas e uma avaliação especifica realizada para investigar, minuciosamente, as funções estomatognáticas.

Antes de iniciar a realização da avaliação, foi enviado a Diretoria do C.H.C.F. um oficio solicitando a permissão da autora da pesquisa dentro do referido local para realizar tais investigações. Por conseguinte, foram entregues um termo de compromisso aos pacientes, solicitando sua participação, expondo os objetivos da pesquisa e informando-os o anonimato.

Partido do pressuposto de que no estado da Paraíba há uma escassez de pesquisas relacionadas ao tema alterações oromiofuncionais encontradas em pacientes com AIDS, procuramos desenvolver uma pesquisa que sirva como linha norteadora para estudos posteriores. Não obstante esta importância foi necessário a princípio, realizar um levantamento literário sobre o tema em questão, observando os assuntos encontrados na literatura atual, para que nos auxiliem na análise criteriosa dos dados.

A coleta de dados da pesquisa será realizada por uma estagiária do Curso de Fonoaudiologia do Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ, no Complexo Hospitalar Clementino Fraga, localizado na Rua Ester Borges, em Jaguaribe.

Em seguida, os indivíduos selecionados serão orientados quanto à finalidade e a sistemática da avaliação e só participarão da pesquisa mediante a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Não será feita divulgação das identidades dos pacientes, onde, somente, será exposto no resultado da pesquisa.

Será utilizado o método indutivo e o método de procedimento o estudo comparativo, pois pretendemos comparar os resultados obtidos, através dos dados coletados, à teoria base utilizada em nossa pesquisa.

Os dados serão analisados de forma sistemática, onde serão registrados em uma ficha própria e, depois do exame de todos os pacientes, os resultados serão analisados descritivamente.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao propormos a realização de uma pesquisa quantitativa, objetivamos apresentar inicialmente, a descrição da amostra avaliada para posteriormente discutir sobre os resultados obtidos.

Os sujeitos desta pesquisa compreenderam todos os pacientes que se encontravam internos no C.H.C.F no período de 22 a 24 de novembro de 2001. A partir desta informação prévia da Diretoria do referido local, a amostra final ficou constituída por 11 pacientes de ambos os sexos entre 14 e 51 anos.

Esta pesquisa foi relatada através de uma avaliação realizada com base nas queixas mencionadas pelos pacientes durante a anamnese, investigando minuciosamente as funções do sistema estomatognáticos.

Para analisarmos e discutirmos os resultados, se fez necessário utilizarmos como base de raciocínio a teoria já citada anteriormente, e somente enumerar algumas considerações que se destacaram nesta pesquisa.

4.1. Interpretação dos resultados

Inicialmente, com a realização da anamnese específica, foi constatado que 100% da amostra avaliada não mencionou data para inicio da doença, referindo piora nos últimos seis meses. Já em relação as dificuldades nas funções estomatognáticas, 9% dos pacientes relataram dificuldades na mastigação devido a falta de dentes; 18% mencionaram dificuldades de respiração; 55% dificuldades na deglutição relatando odinofagia e engasgos, e 27% referiram alteração de fala tornando-a após a doença, “devagar”. Outra queixa em 46% dos pacientes foi a mudança de voz, porém a avaliação desta alteração não foi realizada devido ao objetivo da pesquisa.

Após a concretização das avaliações, foi realizada a análise dos dados, considerando-se a presença ou ausência de alterações estomatognáticas em cada paciente avaliado.

As alterações encontradas nos pacientes infectados pelo HIV foram divididas em: mastigação, deglutição, respiração e articulação e fala, sendo evidenciados, também, as estruturas duras e moles que fazem parte dessas funções.

Gráfico 1. Apresentação da porcentagem de indivíduos segundo alterações de mastigação.

Este primeiro gráfico caracteriza toda a amostra distribuída pelo numero de pacientes que apresentaram alterações na mastigação.

Dos pacientes avaliados, 36% apresentaram mastigação normal e 91% alteração na mastigação, onde estes mesmos pacientes mostraram falta de dentes do lado oposto ao da mastigação.

Foi observado ainda que, as estruturas duras que fazem parte da mastigação (mandíbula e palato) apresentaram alterações. Foram evidentes desvios de mandíbula para o lado direito em 45% dos pacientes, para o lado esquerdo 28% dos pacientes e os outros participantes, 27%, não apresentaram desvios. Nenhum dos pacientes relataram acidentes envolvendo a mandíbula.

Em relação ao palato, 73% apresentaram palato normal e 27% palato ogival. Outra notável alteração desses pacientes foi a falta de força muscular durante a mastigação, onde 82% dos avaliados apresentaram musculatura orofacial hipotônica (fraca).

Este primeiro gráfico caracteriza toda a amostra distribuída pelo numero de pacientes que apresentaram alterações na mastigação.

Dos pacientes avaliados, 36% apresentaram mastigação normal e 91% alteração na mastigação, onde estes mesmos pacientes mostraram falta de dentes do lado oposto ao da mastigação.

Foi observado ainda que, as estruturas duras que fazem parte da mastigação (mandíbula e palato) apresentaram alterações. Foram evidentes desvios de mandíbula para o lado direito em 45% dos pacientes, para o lado esquerdo 28% dos pacientes e os outros participantes, 27%, não apresentaram desvios. Nenhum dos pacientes relataram acidentes envolvendo a mandíbula.

Em relação ao palato, 73% apresentaram palato normal e 27% palato ogival. Outra notável alteração desses pacientes foi a falta de força muscular durante a mastigação, onde 82% dos avaliados apresentaram musculatura orofacial hipotônica (fraca).

Este primeiro gráfico caracteriza toda a amostra distribuída pelo numero de pacientes que apresentaram alterações na mastigação.

Dos pacientes avaliados, 36% apresentaram mastigação normal e 91% alteração na mastigação, onde estes mesmos pacientes mostraram falta de dentes do lado oposto ao da mastigação.

Foi observado ainda que, as estruturas duras que fazem parte da mastigação (mandíbula e palato) apresentaram alterações. Foram evidentes desvios de mandíbula para o lado direito em 45% dos pacientes, para o lado esquerdo 28% dos pacientes e os outros participantes, 27%, não apresentaram desvios. Nenhum dos pacientes relataram acidentes envolvendo a mandíbula.

Em relação ao palato, 73% apresentaram palato normal e 27% palato ogival. Outra notável alteração desses pacientes foi a falta de força muscular durante a mastigação, onde 82% dos avaliados apresentaram musculatura orofacial hipotônica (fraca).

Gráfico 2. Apresentação da porcentagem de indivíduos segundo alterações de respiração.

Durante a avaliação da respiração observou-se que 81% dos pacientes apresentaram respiração superior, 19% respiração média e nenhum dos pacientes apresentaram respiração inferior nem costo-diafragmática.

Foi observado também que 36% desses pacientes apresentaram respiração predominantemente bucal.

Foram observadas, também, alterações de limitações no padrão expiratório, associadas com a capacidade diminuída para produzir pressões intra-orais adequadas.

Gráfico 3. Apresentação da porcentagem de indivíduos segundo alterações de deglutição.

Foram notáveis as alterações na deglutição em 82% dos pacientes, onde 15% desses pacientes não conseguiram deglutir alimentos de consistência sólida.

Gráfico 4. Apresentação da porcentagem de indivíduos segundo alterações de Articulação e Fala

Os achados em relação a fala, também mostraram-se evidentes. Dos pacientes avaliados, 73% apresentaram uma articulação imprecisa, sem a movimentação dos órgãos fonoarticulatórios corretos para cada fonema. Observou-se, também, uma hipernasalidade acentuada.

4.2. Comparação entre os resultados

A partir dos resultados obtidos da avaliação, verificou-se que houveram alterações significantes nas funções estomatognáticas.

Como citado anteriormente por CUNHA, FELÍCIO, BATAGLION (1999), a falta de dentes dificulta a realização das funções de deglutição, mastigação e fala. Dos pacientes avaliados que apresentaram mastigação unilateral, 91% apresentaram falta de dentes onde podemos dizer que ocorreram, sugestivamente, devido a periodontite, que faz parte das doenças infecciosas oportunistas representantes de todas as áreas de micróbios patogênicos humanos associadas ao quadro completo da AIDS, ou até mesmo pela falta de higiene devido a problemas sociais.

Os dentes também fazem partas das estruturas que são utilizadas na articulação da fala. Estas foram observadas com alterações em 73% dos pacientes, onde foi notável as alterações na articulação dos fonemas dificultando a inteligibilidade da fala, porem para que a articulação da fala seja realizada de forma normal, também é necessário que a mandíbula esteja realizando seus movimentos corretamente.

Foram notáveis as alterações de ATM visto que possíveis problemas de oclusão dentária devido a perda ou desgaste de dentes, cáries, próteses mal-adaptadas poderiam acarretar um DTM, que foi observado em 73% dos pacientes.

GRASSI (1994) referiu que os indivíduos portadores da infecção por HIV, além de manifestarem alterações quanto a deglutição e mastigação, apresenta alterações na musculatura orofacial. Destarte, 82% dos avaliados apresentaram musculatura orofacial hipotônica dificultando a deglutição visto que esta necessita da participação efetiva e conjunta de maneira normal de estruturas como: lábios, língua, mandíbula, maxila, dentes, palato e receptores existentes na boca, dificultam também a mastigação devido ao desequilíbrio da força mastigatória, da oclusão e da musculatura envolvida fazendo com que esta ocorresse bilateralmente.

Já em relação ao palato 27% dos pacientes apresentaram palato ogival devido a respiração encontrar-se de modo bucal, como causa dessa alteração de palato e/ou aumento das infecções próprias do aparelho respiratório; estreitamento da arcada superior, do palato e das narinas, tornando o palato ogival.

Dos pacientes avaliados, 81% apresentaram respiração superior, visto que as infecções oportunistas do sistema respiratório (pneumonias, bronquites) apresentam implicações sobre a respiração e voz (LEMOS, 1992).

Alterações de limitações no padrão expiratório, associadas com a capacidade diminuída para produzir pressões intra-orais adequadas devido a esse tipo de respiração encontrada nos pacientes avaliados, dificultaram a fonação dos mesmos.

As alterações de deglutição foram observadas em 82% dos pacientes que apresentaram contração da musculatura orofacial, movimentos associados de cabeça como também pressionamento atípico da língua pela falta dentária, contudo qualquer intercorrência em uma das estruturas que são utilizadas na deglutição (lábios, língua, mandíbula, maxila, dentes, palato e receptores existentes na boca) afeta diretamente a deglutição.

Para que aconteça uma boa articulação da fala é necessário que estruturas como: lábios, dentes, mandíbula, palato e língua, estejam em normal funcionamento. Não é o que observamos nestes pacientes. Dos pacientes avaliados, 73% apresentaram uma articulação imprecisa, sem a movimentação dos órgãos fonoarticulatórios corretos para cada fonema.

A falta de dentes provocou alteração na articulação dos sons da fala, principalmente nos fonemas labiodentais e linguodentais. Com a falta dentária, notou-se também que a língua se posicionou na região desdentada, causando problemas de deglutição.

Outra alteração que tornou a articulação da fala imprecisa foi as disfunções têmporomandibulares encontradas em 73% dos pacientes.

O mecanismo articulatório é afetado de maneira similar a outros sistemas musculares, como a perda de movimentos espontâneos, a incapacidade para transmitir um ato e a expressão mascarada.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Antigamente pensava-se que só homossexuais, viciados em drogas e quem tivesse vários parceiros sexuais, corriam o risco de ser portador do vírus HIV. Isso mudou! Quem não se previne, não se cuida, é um alvo fácil e ingênuo.

Deixe o orgulho de lado, abra os olhos e enxergue a realidade. A AIDS não escolhe aparência física, cor, religião, raça, o próximo pode ser qualquer um de nós, sim!

A AIDS não tem uma manifestação única, caracteriza-se pela aparição de várias doenças sucessivas e simultâneas, que “ocultam” a verdadeira doença. É uma doença contagiosa, imunodepressiva e letal, causada pelo vírus HIV.

Este trabalho teve como objetivo verificar a ocorrência das alterações estomatognáticas em pacientes portadores de AIDS, visto que esta doença esta inserida num dos maiores problemas de saúde publica apresentando, também, uma escassez de literatura especifica.

Tal pesquisa ocorreu no período de 22 a 24 de Novembro de 2001, com 11 pacientes portadores do HIV internos no C.H.C.F., na cidade de João Pessoa – PB. Foram realizadas entrevistas com os pacientes como também uma avaliação fonoaudiológica das funções estomatognáticas.

Os resultados encontrados referem-se alterações de mastigação em 91% dos pacientes visto que a falta dentária, causada, sugestivamente, pela periodontite que faz parte das doenças infecciosas oportunistas representantes de todas as áreas de micróbios patogênicos humanos associadas ao quadro completo da AIDS, ou até mesmo pela falta de higiene bucal devido a problemas sociais, dificultando a mastigação onde estes não estão presentes.

Tendo em vista que os dentes também fazem partas das estruturas que são utilizadas na articulação da fala, estas foram observadas com alterações em 73% dos pacientes, sendo notável as alterações na articulação dos fonemas dificultando a inteligibilidade da fala.

Outra alteração evidenciada durante a avaliação foi DTM em 73% dos pacientes, onde podemos concluir que possíveis problemas de oclusão dentária devido a perda ou desgaste de dentes, cáries, próteses mal-adaptadas podem causar esse tipo de alteração.

Dos pacientes avaliados, 81% apresentaram respiração superior, já que as infecções oportunistas do sistema respiratório (pneumonias, bronquites) apresentam implicações sobre a respiração e voz (LEMOS, 1992).

As alterações de deglutição foram observadas em 82% dos pacientes que apresentaram contração da musculatura orofacial, movimentos associados de cabeça como também pressionamento atípico da língua pela falta dentária, contudo qualquer intercorrência em uma das estruturas que são utilizadas na deglutição (lábios, língua, mandíbula, maxila, dentes, palato e receptores existentes na boca) afetando a deglutição.

Como foi mencionado anteriormente, para que aconteça uma boa articulação da fala é necessário que estruturas como: lábios, dentes, mandíbula, palato e língua, estejam em normal funcionamento. Não é o que observamos nos pacientes avaliados, no qual 73% dos pacientes apresentaram uma articulação imprecisa, sem a movimentação dos órgãos fonoarticulatórios corretos para os fonemas labiodentais e linguodentais.

Com base nestes resultados, concluiu-se que os portadores do HIV podem apresentar alterações em suas funções estomatognáticas na presença ou não de manifestações orais em conseqüência de tal patologia.

É claro, que o fonoaudiólogo precisa saber muito mais acerca das doenças e anomalias que existem e sobre as manifestações fonoaudiológicas dessas anormalidades tendo maior conhecimento dos sistemas de fala e suas complexas alterações.

Por fim, esta simples pesquisa com certeza contribui para o enriquecimento de informações sobre as alterações estomatognáticas em pacientes com AIDS nos fornecendo dados importantes, impulsionando as pessoas, a cada vez mais investir nas pesquisas científicas mostrando que a fonoaudiologia ainda tem um percurso longo na área da saúde até alcançarmos o dia em que a fonoaudióloga não mais será considerada como uma técnica que realiza exercícios repetidas vezes sob ordem de um médico.

Claro que estes pensamentos já mudaram nestes últimos 10 anos, mas ainda é pouco para um profissional que também publica artigos científicos e tem um título de especialista em curso de pós-graduação, mestrado e doutorado como qualquer outro médico.

Ao concluir os resultados da referida pesquisa cabe ainda comentar alguns aspectos que se evidenciaram nestes relatos. Alterações de voz foram evidentes nestes pacientes, motivo pelo qual se faz necessário novas pesquisas para avaliar tais alterações.

BIBLIOGRAFIA

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BATAGLION, C.; CUNHA, C.C. (et al); Condições miofuncionais orais em usuários de próteses totais. Revista de atualização científica : Pró-fono, 1 (v. 11): 21-6, 1999.

BEUTTENMULLER, G. & BEUTTENMULLER, V.- Reequilíbrio da Musculatura Orofacial. Rio de Janeiro: Enelivros, 1995.

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ISSLER, S. Articulação e Linguagem: avaliação e diagnóstico fonoaudiológico. 3. ed.; São Paulo: Lovise, 1996.

JAKUBOVICZ, R., Avaliação, diagnostico e tratamento em fonoaudiologia: Disfonia, Disartria e Dislalia. Rio de Janeiro: Revinter, 1997.

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MARCHESAN, I.Q. & JUNQUEIRA, P. Atipica ou adaptação: como considerar os problemas de deglutição? In: DAUDEN, A.T.B. & JUNQUEIRA, P. Aspectos atuais em terapia fonoaudiológica. São Paulo: Pancast, 1998.

MINISTÉRIO DA SAÚDE, Manual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis; 3a ed; Brasília, 1999.

TABITH, Alfred Jr; Foniatria: Disfonias, Fissuras Labiopalatinas e Paralisia Cerebral; 7a ed; São Paulo: Cortez; 1995.

TENÓRIO-CABEZAS,N – Desordens Temporomandibulares. In : Lopes Fo, O Tratado de Fonoaudiologia. São Paulo, Roca, 1997.

VAN RIPER, C. Correção da Linguagem. Rio de Janeiro, 1997.

VERONESI, R. Doenças infecciosas e parasitárias. Rio de Janeiro, 1991.

ANEXO 1

TERMO DE COMPROMISSO

Eu, ____________________________________________________ , após ser informado que:

A pesquisa de que irei participar intitula-se ALTERAÇÕES ESTOMATOGNÁTICAS ENCONTRADAS EM PACIENTES COM AIDS: UM LEVANTAMENTO REALIZADO NO C.H.C.F., NA CIDADE DE JOÃO PESSOA – PB, e está sendo desenvolvida por aluna do Curso de Fonoaudiologia do Centro Universitário de João Pessoa;

O objetivo desta pesquisa é realizar uma anamnese e avaliação nos pacientes acometidos de AIDS para apresentar as possíveis alterações estomatognáticas encontradas nos mesmos;

Minha participação na pesquisa é voluntária e, portanto, não sou obrigado a fornecer as informações requeridas;

Se decidir não participar da pesquisa, ou resolver posteriormente desistir da participação, não sofrerei nenhum dano ou prejuízo;

Por ocasião da publicação dos resultados da pesquisa, será assegurado o meu anonimato;

Este documento assinado por mim será guardado em porder da responsável pela pesquisa e em, nenhuma circunstancia, ele será dado a conhecer a outra(s) pessoas.

dou o meu comprometimento para participar da pesquisa.

João Pessoa, _____ de _____ de 2001

__________________________________

Participante

__________________________________

Estagiária

ANEXO 2

ANAMNESE ESPECIFICA

Identificação

Nome: Data de nascimento:

Profissão: Data:

Histórico do problema

Como surgiu o problema ?

Quando piorou ?

Já fez transfusão sangüínea?

Usa drogas ou usou? De que forma?

Apresenta sangramentos?

OBS.:__________________________________________

Outras Informações

Como é seu estado geral de saúde ?

Já sofreu algum acidente, envolvendo a face ou mandíbula?

Já teve ou tem asma? Rinite? Sinusite?

Tem dificuldade de mastigar os alimentos?

Tem dificuldade de deglutir sólidos ou líquidos? De que forma?

Tem dificuldade para respirar ? Já teve pneumonia ? Há quanto tempo ?

OBS.:___________________________________

Fala

Houve alguma alteração na fala?

De que forma houve mudança na sua fala?

Estas mudanças foram lentas ou progressivas?

O que mais prejudicou sua fala?

__________________________________

Estagiária

__________________________________

Fonoaudióloga

ANEXO 3

AVALIACAO ESPECIFICA

Língua

Posição, volume, tamanho, tônus

OBS.:________________________________________ Lábios

Posição, tônus (inferior e superior)

OBS.:________________________________________ Mandíbula

Características mandibulares

OBS.:__________________________________________ Palato

Duro e mole, outras anomalias (ex. Fissura)

OBS.:_______________________________________

Exame das funções motoras

Mobilidade

Língua, lábios, bochechas, mandíbula (ATM), velo

OBS.:______________________________________________

Funções neurovegetativas

Respiração (modo, tipo, capacidade)

Sucção

Mastigação (uni, bi)

Deglutição (típica, atípica, adaptada)

OBS.:______________________________

Considerações finais

Já se submeteu a terapia fonoaudiológica?

Há quanto tempo?

Que resultado obteve? Houve melhoras?

Relate você hoje.

OBS.:_________________________________

__________________________________

Estagiária

__________________________________

Fonoaudióloga

ANEXO 4

GLOSSÁRIO

Candidíase – É uma infecção fúngica produzida pelo Cândida albicans que vive nas mucosas e só causa doença quando existem condições que favoreçam o seu crescimento.

Candidíase brônquica – Inflamação dos bronquios provocada pelo fungo Cândida albicans.

Candidíase esofágica – Inflamação no esófago provocada pelo fungo Cândida albicans.

Candidíase oral – Inflamação na cavidade oral provocada pelo fungo Cândida albicans.

Candidíase pulmonar – Inflamação nos pulmões provocada pelo fungo Cândida albicans.

Estomatite herpética – Inflamação da mucosa bucal causada pelo Herpesvirus hominis (Herpesvirus simplex).

Gengivoestomatite ulcerativa necrotizante aguda (GUNA) – É uma infecção bacteriana na gengica, na gengiva com formação de ulcera necrosante.

Gengivite e Periodontite – São achados periodontais em indivíduos infectados pelo HIV que vão desde uma gengivite caracterizada por uma faixa eritematosa até uma periodontite, freqüentemente localizada, destrutiva e necrosante do periodonto de inserção.

Herpes simples – vírus contraído por uma pessoa que se encontra com baixa defesa de imunodade.

Hiperemia conjuntival – Conjutiva ocular avermelhada.

Infecções por citomegalovírus – É uma infecção provocada pelo vírus denominado Citomegalovirus (CMV) pertencente à família dos herpesvírus

Infecções por fungos do tipo cândida (sapinho) – O sapinho, ou monilíase, é uma infecção fúngica bucal causada por um fungo semelhante a uma levedura, Candida albicans.

Infecções por toxoplasmose no sistema nervoso central – A toxoplasmose é uma doença causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii que pode causar morte fetal, aborto, deficiência neurológicas e visuais.

Leucoplasia pilosa – É considerada um sinal precoce da presença do vírus HIV. Pode ocorrer em qualquer área da mucosa bucal apresentando placas esbranquiçadas, bem delimitadas, geralmente planas, de dimensões variáveis, não infiltradas.

Linfadenomegalia – Aumento dos glaglios na cadeia gangionar.

Linfadenopatia – Inflamação da cadeia gangionar.

Malignomas do sistema hematopoéico – Doenças de caráter maligno do sistema hematológico.

Neoplasia – (neo=novo; plasia=crescimento, formação) É uma proliferação anormal de células com um crescimento relativamente autônomo que pode ser causada por agentes químicos, físicos ou biológicos, alterando irreversívelmente o genoma da célula.

Pneumonia – Inflamação dos pulmões provocada por vírus e ou bactéria.

Quelite angular – Inflamação na comussira angular dos lábios.

Sarcoma de Kaposi – Manchas de coloração azul-arroxeada ou vermelho-arroxeada que não desaparecem quando exercidas pressões sobre as mesmas. Está presente no palato com maior freqüência e apresenta-se com coloração avermelhada, azulada ou de nódulos roxos, podendo estar associado a ulcerações

Taquipnéia – Aumento nos movimentos respiratórios

Toxemia relativa – Infecção generalizada (em todos os órgãos) de forma relativa

Tuberculose – Doença infecciosa causada por Bacilo Álcool-Ácido-Resistente (BAAR) que localiza-se nos alvéolos pulmonares e podem ser transportados para outras partes do corpo.

Úlcera aftosa – Úlcera (ferida aberta) provocada por uma afta.

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