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sexta-feira, março 29, 2024

DESENVOLVIMENTO AUDITIVO NORMAL

Autor: Joyce dos Santos Porcino

A linguagem tem um valor extremo para o ser humano, pois além de envolver um processo complexo, está diretamente relacionada com a elaboração e simbolização do pensamento humano. É a capacidade humana e abstrata de representação de conteúdos. É através dela que o ser humano estabelece contatos com seus semelhantes, desenvolve a habilidade de compartilhar suas experiências, pensamentos, idéias, desejos, na busca de novas experiências e conhecimentos, ou seja, comunicar-se com o outro.

A comunicação, assim como a linguagem, é de fundamental importância na vida de uma pessoa, sem elas, o homem torna-se um ser vazio, uma ilha. O desenvolvimento da comunicação depende, significativamente, do desenvolvimento da linguagem.

Será enfatizada, neste projeto, a importância da linguagem falada, da comunicação oral.

A maioria dos indivíduos é capaz de adquirir a linguagem, mas para que isto aconteça, devem ser mencionadas três seqüências inter-relacionadas de desenvolvimento:

1) Desenvolvimento da capacidade de receber, reconhecer, identificar, discriminar e manipular as características e os processos do meio que nos cerca. Este é o ponto de apoio deste projeto, porque envolve a audição.

De acordo com LEWIS – 1996, a audição é um dos sentidos que trás informações importantes para o desenvolvimento humano, principalmente nos aspectos lingüísticos e psicossociais.

Para qualquer pessoa adquirir a linguagem falada e a comunicação oral, é necessário que ela ouça e possua uma integridade periférica e central das vias auditivas.

Segundo RUSSO & SANTOS – 1998, é pela integridade das vias auditivas que podemos localizar a fonte sonora. O mais alto nível de audição reside no fato de que o homem, por possuir grande habilidade de distinguir e reconhecer o significado dos sons, juntamente com a capacidade de produzir e simbolizar uma enorme variedade deles através da fala desenvolve um sistema de comunicação estruturado e único da espécie humana, isto é, a linguagem falada.

HUNT – 1982, relata que o bebê parece nascer com “conhecimento preexistente” de linguagem, estruturas nervosas especializadas no cérebro que aguardam experiências auditivas com linguagem para disparar seu funcionamento.

Existem períodos cruciais para o desenvolvimento da linguagem, e este é durante a infância. Uma perda auditiva num recém-nascido pode atrasar e atrapalhar todo o processo de desenvolvimento da linguagem.

Para LENNEBERG – 1967, a aquisição da linguagem pela audição “é uma função que depende do tempo e está relacionada a períodos de maturação precoce, que são denominados de períodos críticos para o desenvolvimento de funções biológicas, as quais são responsáveis pela aquisição da linguagem em tempo certo”.

A relação audição / linguagem é própria do ser humano e relaciona-se com períodos maturacionais que ocorrem precocemente na via de um bebê. Jamais terá uma linguagem desenvolvida, o bebê que for privado de estimulações de linguagem durante seus 2 ou 3 anos de vida.

2) Desenvolvimento da capacidade de compreender, decodificar, associar a linguagem falada, ou seja, a interpretação dos sons lingüísticos que a criança ouve em seu ambiente.

3) Desenvolvimento da capacidade de produzir os sons da fala, isto é, a emissão.

Para que uma pessoa chegue a se comunicar, antes ela realiza comportamentos auditivos, que nada mais é do que a maturação da audição. Mas para que possamos compreender os comportamentos auditivos, temos que conhecer o desenvolvimento geral da audição, desde a filogenia até a anatomia.

FILOGENIA DAS ORELHAS EXTERNA, MÉDIA E INTERNA.

A capacidade de ouvir é uma das características adquiridas pela orelha, mas ela não é a principal característica, tornando-se secundária e importante apenas para a forma mais alta de vertebrados.

A responsabilidade do órgão auditivo é a manutenção do equilíbrio.

A “orelha” dos seres vivos evoluiu com o passar dos séculos. Essa evolução foi puramente uma forma de melhor se adaptar ao meio vivente de cada espécie.

Um exemplo disso é que a audição depende da propagação da onda, que é diferente para cada meio: aquático, aéreo e sólido. O habitat dos peixes é aquático, e do ser humano é aéreo. Sendo diferente a propagação da onda nesses meios, a anatomia da audição de um não poderia ser igual a do outro. Por fins necessários, houve uma evolução até chegar até chegar a orelha dos seres humanos.

O mecanismo auditivo humano é resultado de um processo evolutivo de 400 milhões de anos, em que porções descartadas de estruturas adjacentes, tendo perdido sua função original, adaptaram-se plenamente ao aparato auditivo (Hilmalstein, 1978).

Nos mamíferos ocorreu uma grande mudança na orelha média. No lugar de um osso único, como nas outras espécies, passou a existir uma cadeia ossicular com 3 ossículos articulados entre Membrana Timpânica e Janela Oval. Esses ossículos se derivam de um sistema mandibular que foi especializado e que foi modificado.

Nos peixes, o osso hiomandibular mudou sua função e transformou-se no estribo, em forma de columela.

A junta articular da mandíbula dos répteis transformou-se no martelo dos mamíferos. E o osso quadrado, que se articula a articular e ao osso hiomandibular (precursor dos peixes) transformou-se na bigorna. Esses ossos eram estruturas das guelras dos peixes.

Numa ordem evolutiva, segundo Romer, os aparatos de respiração dos peixes transformaram-se em aparato de alimentação dos répteis e estes, em aparatos da audição dos mamíferos.

Há outras estruturas, de outras espécies que também se transformaram em estruturas da orelha média humana: como os ossículos de Weber, da carpa e a columela das aves, que se relacionam com a cadeia ossicular humana.

EMBRIOLOGIA DAS ORELHAS EXTERNA, MÉDIA E INTERNA.

Num embrião existem 3 folhetos embrionários ou germinativos, de onde se originam as estruturas do organismo humano. Esses folhetos são: endoderme, mesoderme e ectoderme. As porções internas e externas da orelha desenvolvem-se a partir do tecido ectodérmico, enquanto os ossículos da orelha média e o osso que envolve a orelha interna originam-se do tecido mesodérmico.

As orelhas externa (OE), média (OM) e interna (OI) desenvolvem-se ao mesmo tempo no embrião. Relataremos, brevemente, os acontecimentos mais importantes do desenvolvimento da audição, em cada semana gestacional:

3a Semana Gestacional: na OM começa a desenvolver-se o recesso tubo-timpânico (futura cavidade timpânica e tuba auditiva), enquanto que na OE surge o placóide auditivo, que é um “buraco” auditivo.

4a Semana Gestacional: na OE começam a formar-se os espessamentos de tecido, e na OI, a vesícula auditiva (otocisto) e ocorre a divisão cocleovestibular.

5a Semana Gestacional: na OE ocorre a formação inicial do meato auditivo primário.

6a Semana Gestacional: na OE evidenciam-se as seis saliências e começam a formar-se as cartilagens. Na OI, nota-se a presença do utrículo e do sáculo, e o começo dos canais semicirculares.

7a Semana Gestacional: na OE nota-se o movimento dorsolateral dos pavilhões auriculares, e na OI, a presença de uma volta coclear e células sensoriais no utrículo e no sáculo.

8a Semana Gestacional: na OE, o terço cartilaginoso externo está formado; na OM, há presença cartilaginosa da bigorna e do martelo, formação da metade inferior da cavidade timpânica; e na OI há presença do ducto de união e células sensoriais nos canais semicirculares.

9a Semana Gestacional: na OM nota-se a presença das 3 camadas de tecido na membrana timpânica.

11a Semana Gestacional: na OI nota-se a presença de 2,5 voltas cocleares e o oitavo nervo liga-se ao ducto coclear.

12a Semana Gestacional: na OI há células sensoriais na cóclea, labirinto membranoso completo e começo da ossificação da cápsula óptica.

15a Semana Gestacional: na OM, o estribo cartilaginoso está formado.

16a Semana Gestacional: na OM começa a ossificação do martelo e da bigorna.

18a Semana Gestacional: na OM começa a ossificação do estribo.

20a Semana Gestacional: na OE o pavilhão auricular atinge a forma adulta, embora continue a crescer até os 9 anos de idade; e na OI há a maturação da orelha interna, que atinge o tamanho adulto.

21a Semana Gestacional: na OI o plug meatal desintegra-se, expondo a membrana timpânica.

30a Semana Gestacional: na OE, o meato acústico externo continua amadurecer até os 7 anos de idade; e na OM há a pneumatização do tímpano.

32a Semana Gestacional: na OM completa-se a ossificação do martelo e da bigorna.

34a Semana Gestacional: na OM desenvolvem-se as células aéreas mastóides.

35a Semana Gestacional: na OM há a pneumatização do antro.

37a Semana Gestacional: na OM há a pneumatização do epitímpano, o estribo continua a se desenvolver até a idade adulta, a membrana timpânica muda de posição relativa até os dois primeiros anos de vida.

OSSO TEMPORAL.

O osso temporal forma parte da parede lateral e base do crânio. No seu interior localiza-se parte da orelha externa, média e interna, parte do nervo facial (VII par), parte do nervo vestíbulo-coclear (VIII par), porções da artéria carótida interna e seio segmóideo com o tubo da veia jugular.

Ele articula-se com os demais ossos do crânio: esfenóide, parietal, occipital, zigomático e com a mandíbula.

Apresenta-se dividido em quatro porções – a escama, a mastóide, a petrosa e a timpânica – e três processos – zigomático, estilóide e mastóide.

A parte petrosa do osso temporal é a mais rígida do corpo humano, e localiza-se na face interna do osso temporal, tem forma de pirâmide, cujo ápice está voltado para dentro do crânio. É em seu terço médio que se encontram as estruturas da orelha média, e também interna.

Por ser tão rígido e resistente, a parte petrosa do osso temporal tem a função de proteger as estruturas internas da orelha média e interna, entre outras mais. Seu conhecimento é fundamental para o estudo e localização da orelha média e interna.

ANATOMIA DA ORELHA EXTERNA.

Uma parte da OE encontra-se dentro do osso temporal. É constituída pelo: pavilhão auricular, meato acústico externo e membrana timpânica.

O pavilhão auricular é formado de cartilagens encobertas por pele, localizado na face lateral do crânio. É constituído por pregas e sulcos denominados: hélice, anti-hélice, trago, antitrago, concha, lóbulo, escafa, fossa triangular e tubérculo da orelha. Tem como função coletar e amplificar as ondas sonoras e afunila-las para o meato acústico externo.

O meato acústico externo é o mecanismo de som entre a OM e o meio externo, está situado entre a membrana timpânica e o pavilhão auricular. Tem a forma de “S”, com aproximadamente 2,5 cm de comprimento e de 6 a 8 mm de diâmetro. Seu terço externo é cartilaginoso, contendo pêlos, glândulas sebáceas e ceruminosas. Seus dois terços internos são ósseos, revestido por pele. Sua principal função é transportar o som até a membrana timpânica.

A membrana timpânica pertence tanto a OE, quanto a OM, e será relatada na OM.

ANATOMIA DA ORELHA MÉDIA.

A orelha média localiza-se entre a orelha interna e externa, separando-se desta pela membrana timpânica. Ela é constituída pela cavidade timpânica, antro mastóideo (e espaços anexos) e tuba auditiva.

A cavidade timpânica é um espaço irregular entre orelha externa e interna, tendo um formato que se assemelha a um cubo revestido por mucosa, que envolve um espaço aéreo onde encontramos a cadeia ossicular.

Esse cubo é formado por seis paredes, cuja delimitação não é exata e nítida:

Teto: também conhecido como tégmen. É o assoalho da fossa média craniana, constituído por uma lâmina óssea.
Assoalho: ou parede jugular. Aqui se encontra a fossa jugular, por onde passa a veia jugular interna.
Parede Anterior: ou carotídea. Na parte superior há o canal do músculo do martelo (semicanal do tensor do tímpano), e na inferior o orifício timpânico da tuba auditiva.

Parede Posterior: ou mastóidea. Aqui encontramos a eminência piramidal, que em cujo ápice há uma abertura por onde passa o tendão do músculo do estribo. Ao lado deste há um orifício onde passa a corda do tímpano. Entre a pirâmide e esse orifício há o recesso do facial, conhecido como seio posterior ou recesso retropiramidal. Medialmente ao processo piramidal há o pequeno recesso infrapiramidal, e acima deste há um maior, o recesso incuidal, ocupado pela bigorna e seu ligamento. Mais acima há o recesso epitimpânico, que se abre no antro mastóideo.
Parede Medial: ou labiríntica. Nesta parede encontramos três estruturas de fundamental importância – o promontório, que se encontra numa porção inferior, que corresponde a um abaulamento da espira basal da cóclea e na sua superfície há o plexo timpânico; inferior e posterior a ele há uma depressão, a janela coclear ou redonda, cujo orifício é fechado por uma membrana secundária do tímpano; superior e posterior a ela há outra depressão, a janela vestibular ou oval, fechada pela platina do estribo e ligamento anular, há também nesta região a saliência do facial e acima, a saliência do canal semicircular horizontal. Na porção ântero-superior há um processo cocleariforme, que representa o ponto de emergência do tendão do músculo do martelo e a terminação posterior do canal do tendão do músculo tensor do tímpano. Posterior e medial a este processo, encontramos o nervo facial.
Parede Lateral: ou timpânica, ou membranosa. Constituída pela membrana do tímpano e parte óssea do osso temporal
A membrana do tímpano faz a delimitação do meato acústico externo (orelha externa) e cavidade timpânica. Tem a forma de um disco semitransparente, medindo de 9 a 10 mm no eixo vertical, e de 8 a 9 mm de diâmetro e 0,074mm de espessura. Apresenta-se côncava em sua face lateral, devido à tração do martelo, forma de um ângulo de 140o com a parede superior e no centro há uma depressão correspondente à ponta do cabo do martelo: o umbigo. Ela é dividida em 2 partes. Uma delas: os ligamentos que saem do martelo – cujo cabo faz saliência na membrana e em sua extremidade superior há a apófise curta – um anterior, outro posterior, dirige-se ao sulco timpânico, originando uma área triangular denominada parte flácida ou Membrana de Schrapnell, não está tencionada ao anel timpânico. A outra é a parte tensa, que é maior, tendo uma espessura de 30 a 230µm e afunila-se medialmente, do anel para seu centro pelo cabo do martelo. A face medial é revestida pela mucosa da orelha média.

No interior da cavidade timpânica há importantes estruturas como:

Martelo: é o maior e mais lateral dos ossículos. Mede aproximadamente de 8 a 9 mm e está ligado a membrana timpânica. É constituído por: cabeça, colo, cabo e dois processos. Nele estão inseridos ligamentos e músculos: ligamento superior, ligamento anterior, ligamento lateral e músculo tensor do tímpano. É na região do colo que se insere o tendão do músculo tensor do tímpano.

Bigorna: é o segundo ossículo, menor que o martelo, medindo aproximadamente 7mm. Possui em seu corpo duas apófises. O corpo articula-se com a cabeça do martelo, e o processo lenticular com o estribo. Associados a bigorna há o ligamento superior e posterior.
Estribo: é o terceiro e o menor dos três ossículos, medindo aproximadamente 3mm, constituído de capítulo, pescoço, 2 ramos e 1 platina, que ocupa quase que totalmente a janela oval. Nele observamos o ligamento anular que sustenta a janela oval e o músculo estapédio. O capítulo articula-se com o processo lenticular da bigorna. Os ramos ligam o capítulo e a bigorna. Entre o capítulo e o pescoço insere-se o músculo estapédio.
Mucosa da Orelha Média.
Articulações.
Músculo da Orelha Média: músculo tensor do tímpano e músculo estapédio.
Vasos e Nervos da Orelha Média.
Ainda na orelha média há o antro e células da mastóide. O adito do antro é uma pequena abertura na parte superior da parede posterior do recesso epitimpânico, que comunica uma câmara conhecida por antro mastóideo. É do tamanho de um feijão e a sua função varia em função da pneumatização da mastóide. Está atrás e pouco acima da cavidade timpânica, é revestido por um mucoperiósteo como o da cavidade, possuindo numerosas células que se abrem.

A tuba auditiva também se localiza na orelha média. Ela vai desde sua abertura timpânica à parte lateral da rinofaringe, sendo inclinada medial e anteriormente. Tem uma porção óssea e uma cartilaginosa, com comprimento de 3,5 a 4 cm.

Posteriormente a tuba há um canal ocupado pelo músculo tensor do tímpano, e sua parede medial relaciona-se com o canal carotídeo. Sua luz é em forma triangular e revestida por um epitélio do tipo respiratório que se comunica com a orelha média sendo ciliada colunar e pseudo-estratificada junto à nasofaringe.

ANATOMIA DA ORELHA INTERNA.

A orelha interna localiza-se na porção petrosa do osso temporal. É constituída pelo labirinto ósseo e labirinto membranoso.

O labirinto ósseo é formado por uma série de canais e passagens dentro do osso. Suas porções são: vestíbulo, cóclea, canais semicirculares, aqueduto coclear, aqueduto vestibular e meato acústico interno. É preenchido por um líquido: a perilinfa.

O labirinto membranoso localiza-se dentro do ósseo e aloja as estruturas sensoriais de recepção dos estímulos auditivos e posturais. É preenchido pela endolinfa. É constituído pelo: ducto e saco endolinfático, sáculo, utrículo, ducto semicirculares e ducto coclear.

O labirinto membranoso que está contido no vestíbulo é formado pelo sáculo e pelo utrículo, neles há o espessamento de uma das paredes, a mácula.

A mácula é formada por células sensoriais e de sustentação, e sobre elas há uma membrana otolítica, que contém otocônias, importantes na estimulação das células ciliadas. É responsável pela recepção dos efeitos da gravidade.

Os canais semicirculares são 3: lateral, posterior e superior. Tem origem e inserção no vestíbulo e apresenta uma dilatação em uma das extremidades, denominada ampola. É na ampola que encontramos as estruturas sensoriais dos canais semicirculares, a crista ampular. São responsáveis pela percepção dos movimentos rotatórios e da velocidade de deslocamento.

O ducto e o saco endolinfático são responsáveis pelo equilíbrio interno da pressão do líquido endolinfático.

A cóclea assemelha-se a um cone achatado, cuja base mede 9 mm, e a altura, 5mm. Desenrolada mede aproximadamente 35mm. É formada por 2 ou 3 voltas em torno de um eixo ósseo central chamado modíolo. É dividida pelo labirinto membranoso em 3 partes ou rampas: timpânica, média e coclear.

As rampas timpânica e vestibular são preenchidas por perilinfa e desempenham um importante papel na transmissão mecânica de energia sonora para as estruturas sensoriais contidas na rampa média. Estabelecem contato no ápice da cóclea em uma região chamada helicotrema, permitindo que as ondas produzidas pelo estribo na perilinfa do vestíbulo possam ser transmitidos para a rampa vestibular e timpânica.

A rampa vestibular está em contato com o vestíbulo, e a rampa timpânica, com a orelha média, através da membrana da janela redonda.

O ducto coclear ou rampa média tem a forma de um triângulo, cujas paredes são formadas por três membranas e por um espessamento do tecido conjuntivo – o ligamento espiral. Este se encontra em contato direto com a parede óssea da cóclea – cápsula ótica ou labirinto ósseo, ligando a lâmina espiral óssea ao ligamento espiral. E, desta forma, delimitando o espaço da rampa timpânica, encontra-se a membrana basilar. Ela tem cerca de 32 mm de comprimento e sua largura e espessura variam desde a base até o ápice da cóclea.

Superiormente a rampa média é delimitada pela membrana de Reissner, que separa o ducto coclear da rampa vestibular.

É sobre a membrana basilar que se encontra o órgão sensorial da audição, este recebe o nome de Órgão de Corti. Ele é constituído por células ciliadas sensoriais e por células de sustentação. Está dividido em duas partes – interna e externa, por uma passagem chamada túnel de Corti. Essa divisão anatômica é acompanhada pelas células sensoriais que são denominadas de: células ciliadas internas e externas.

As células ciliadas internas são em torno de 4.500, estão arranjadas em uma fileira única e apresentam terminações nervosas na sua base. Seus cílios estão dispostos em 3 fileiras paralelas e são em número aproximado de 40 a 60 em cada célula.

As células ciliadas externas são em número aproximado de 12.000 e estão dispostas em 3, 4 ou até 5 fileiras. Seus cílios são em torno de 120 e estão dispostos em fileiras com o formato de um “W”, cuja abertura maior está voltada para o medíolo.

Sobre as células ciliadas internas e externas encontra-se uma membrana gelatinosa que recebe o nome de membrana tectória, e está apoiada sobre os cílios das células ciliadas. Ela encontra-se ligada ao limbus de uma das extremidades, e tem papel importante na estimulação dos cílios toda vez que a onda sonora atinge o ducto coclear.

FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO.

O ponto fundamental do processo da audição é a conversão da atividade vibratória do som no ar, em atividade dinâmica nos líquidos cocleares. Sem esse mecanismo, 99% da energia sonora se perderia.

O pavilhão auricular localiza a fonte sonora, capta as ondas sonoras e as conduzem para o meato acústico externo. Ao atingir a membrana timpânica, esta vibra com o mesmo padrão do estímulo sonoro. Com a movimentação da membrana timpânica ocorre a movimentação da cadeia ossicular, pelo fato delas estarem ligadas pelo cabo do martelo. Na orelha média não há perda de energia sonora por causa do sistema de amplificação d energia por alavanca (cadeia ossicular) e pela diferença de diâmetro entre a membrana timpânica e a janela oval.

A orelha média é exatamente o recurso criado pela natureza para transformar a energia vibratória aérea em energia vibratória no meio líquido sem perda de suas características físicas; por isso, ou seja, por ser capaz de transformar uma energia em outra sem perder suas características e qualidades, a orelha média recebe o nome de transformador mecânico.

A janela oval está aderida a platina do estribo, portanto, a vibração da cadeia ossicular faz vibrar a janela oval e os líquidos internos da orelha interna, provocando o deslocamento das ondas mecânicas, que provoca o deslocamento de todo ducto coclear. O Órgão de Corti, localizado sobre a membrana basilar, movimenta-se e é estimulado pela movimentação da membrana tectória sobre os cílios de suas células sensoriais. Cada vez que os cílios das células ciliadas saem de sua posição de repouso ocorre o disparo do impulso nervoso para as fibras nervosas, que irão formar o nervo vestíbulo-coclear.

A amplitude do deslocamento da membrana basilar varia de acordo com a freqüência e a intensidade do estímulo sonoro. Se este é mais agudo, o deslocamento maior ocorre na região basal da cóclea, se este é grave, seu deslocamento maior ocorre na região apical.

O estímulo sonoro ou “onda viajante” que se move desde o estribo até o helicotrema faz com que estas células ciliadas sejam estimuladas pela membrana tectória no momento de máxima vibração da onda.

A partir do momento em que o movimento mecânico da onda sonora dentro dos líquidos da cóclea atinge as células ciliadas, através do movimento da membrana tectória, inicia-se o processo de transdução eletroquímica, ou seja, o processo de conversão de energia mecânica para energia eletroquímica.

“DESENVOLVIMENTO DO COMPORTAMENTO AUDITIVO NORMAL”

O fonoaudiólogo deve contribuir quanto à compreensão do desenvolvimento da linguagem no bebê, e até que ponto parâmetros acústicos da linguagem no bebê são inatas e como elas influenciam na linguagem.

AUDIÇÃO PRÉ-NATAL E NEONATAL.

Elliot e Elliot (1964) confirmaram fisiologicamente que a cóclea humana tem função adulta normal após a 20a semana gestacional. Johansson e seus colegas (1964) estavam entre os primeiros a relatar o teste de audição fetal.

Usando tons puros, eles gravaram a freqüência cardíaca fetal após a 20a semana gestacional.

Comprovou-se assim, que o recém-nascido não nasce como uma “tabula-rasa”, ouvindo sons por pelo menos quatro meses: sons que vem dos fluidos.

Quando o bebê percebe a fala e a ação no seu meio ambiente acústico?

Há processos pré-adaptativos de percepção para dimensões acústicas da fala. O recém-nascido é capaz de diferenciar e distinguir a voz materna de outras vozes.

Há exposição acústica suficiente no útero, para permitir tal desenvolvimento precoce?

Pode ser. Foram realizadas diversas pesquisas para verificarem essa exposição acústica. Bench (1968) mostrou que para um sinal de 72 dB encaminhado ao útero numa freqüência de 200 Hz há a atenuação mínima do som, pouco mais a 500 Hz, mais a 1000 Hz, e o maior a 2000 e 4000 Hz. A freqüência de 1000 Hz e abaixo continham a voz materna que pode ser ouvida, quer de modo fraco, a partir do 5o mês de gestação, quando, como se tem mostrado, a orelha fetal é capaz de analisar o som.

Num estudo que Armitage et al (1980) realizou em ovelhas, concluiu-se que os sons da mãe comendo, respirando, se movimentando, bebendo podiam ser percebidos pelo bebê. Vozes elevadas eram quase sempre distintas.

Querleu et al (1981) efetuou medidas intra-uterinas reais em humanos e demonstraram que o feto poderia ouvir a voz da mãe e outras vozes, que eram perfeitamente audíveis, mas deficientes de tom, porque as freqüências altas eram absorvidas. O feto normal responde a sons através da mudança da freqüência cardíaca, associada com movimento.

Gries et al (1980) transmitiu sinais acústicos para pintinhos ainda dentro da casca do ovo, e pode observar que os pintinhos, após o nascimento, ficavam mais agitados à exposição dos sinais do que um grupo que não foi exposto anteriormente. Autores dizem que ocorreu uma “impressão” auditiva pré-natal.

Os estudos acima apóiam a hipótese de DeCasper e Fifer de que uma grande quantidade de experiências auditivas antecedeu a capacidade do recém-nascido de preferir a voz da mãe a outras vozes. Porém, antes que tais discriminações precoces possam ser feitas, o sistema auditivo do bebê deve ser pré-adaptado às várias discriminações. Tais discriminações aparecem no recém-nascido, e, pressupondo uma orelha útil e sistema nervoso central, as mesmas capacidades estariam presentes no feto de 5 meses. As discriminações inatas que auxiliam a preferência pela voz da mãe requerem competências auditivas para discriminar ritmo, entoação, variação de freqüência, acento (aspecto supra-segmentar da fala) e componentes fonéticos da fala (aspectos lingüísticos).

ATIVIDADES SUPRA-SEGMENTARES DA FALA.

Os bebês são capazes de perceber intervalos de tempo, assim como vínculos subjetivos entre os sons.

SPRING e DALE – 1997, mostraram que bebês de 1 a 4 meses de idade poderiam distinguir o acento lingüístico tão bem quanto posição, freqüência fundamental, intensidade e duração. Deste modo, a série completa de aspectos supra-segmentais da fala parece estar disponível para a criança ao nascimento.

Muitas frases e muitas palavras contêm significados múltiplos, que são esclarecidos somente através da entoação, ritmo, duração e acento. Este fato explica uma parte do problema da criança surda no que diz respeito à compreensão de alguns parâmetros sutis de ironia, sátira, raiva, humor, que transmite o sentido de frases ou palavras com significados múltiplos.

O fato de o feto ouvir melhor, ou não, sons de baixa freqüência do que de alta pode não ser importante para a aprendizagem precoce contínua.

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