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quarta-feira, abril 17, 2024

FUNÇÃO DOS INALANTES

FUNÇÃO DOS INALANTES

Universidade Salgado de Oliveira
2008
Os inalantes são utilizados para obter um estado psíquico alterado através absorção pulmonar dos vapores por meio das fossas nasais (sniffing) ou pela boca (huffing).

Apesar de haver outras drogas que possam ser inaladas, convencionou-se não incluir na classe “inalantes” aquelas que devam ser queimadas ou aquecidas, como o crack, por exemplo.

O uso voluntário dos inalantes começou a se difundir a partir de 1940, na era do desenvolvimento industrial e da conseqüente fabricação em série de produtos contendo substâncias voláteis. Nos países latino-americanos, os inalantes encontram-se entre as drogas de uso mais difundido. No Brasil, por exemplo, este problema é freqüente em 2 grupos populacionais: jovens estudantes e crianças de rua, nos quais os inalantes são as drogas mais usadas, excetuando-se o álcool e o tabaco.

Classificação dos inalantes de acordo com a forma em que são encontrados:

a) Solventes voláteis: são líquidos que vaporizam a temperatura ambiente. Ex: tíner, removedor de tinta, desengordurantes, gasolina, cola etc.
b) Aerossóis: são líquidos ou sólidos em suspensão contidos em frasco pressurizado. A fonte propelente é geralmente um gás liquefeito, que é o componente procurado pelo usuário. Ex: tintas e desodorantes em spray.
c) Gases: são os anestésicos (éter, clorofórmio, halotano e óxido nitroso) e outros gases contidos em produtos caseiros ou comerciais, como o butano e o propano encontrados em gases combustíveis e fluidos de isqueiros.
d) Nitritos orgânicos voláteis: originalmente usados para aliviar dores no peito devido às suas propriedades vasodilatadoras, atualmente são usados por jovens e homossexuais para aumentar performance sexual e o prazer. Incluem os nitritos de amila, isoamila, butila e isobutila.

Qualquer produto químico que contenha um ou mais componentes voláteis pode ser utilizado para inalação. Os mais usados são os que contêm alta concentração dessas substâncias, são baratos e de fácil aquisição e uso.

De acordo com pesquisas no Brasil, os produtos mais utilizados são: lança-perfume, cola de sapateiro e cheirinho-da-loló (versão alternativa do lança-perfume contendo mistura das seguintes substâncias: éter etílico, etanol e clorofómio).

Método da inalação

Para produtos viscosos, como as colas, o modo usado é sua deposição em pequeno saco plástico que tem a extremidade franzida. O saco é colocado sobre a boca e o nariz para inalação dos vapores emitidos. Geralmente, líquidos e aerossóis são inalados na própria embalagem ou em um pedaço de pano embebido com o produto e aplicado sobe o rosto. Os nitritos são dispensados em ampolas de vidro, que são quebradas entre os dedos, tendo seus vapores inalados. Já o fluido de isqueiro é inalado colocando-se a válvula do mesmo entre os dentes e pressionando-a para a liberação do gás.

Perfil do usuário e padrões do uso

O abuso de inalantes ocorre em diversas faixas etárias, predominantemente entre adolescentes e pré-adolescentes, mas está se expandindo para grupos populacionais cada vez mais jovens, existindo relatos de uso por crianças de 5 anos de idade.

Alguns estudos sugerem que o abuso entre adultos é muito difundido, como o ocorrido com a população carcerária e os trabalhadores industriais.

Já no que diz respeito às diferenças de uso de inalantes entre os sexos, estas estão cada vez menos significativas, apesar de existir a predominância do sexo masculino.

A pobreza, o desemprego e a falta de estrutura familiar são citados em pesquisas como fatores geradores ao abuso dos inalantes. O uso destas substâncias parece servir como defesa temporária para um estado depressivo, problemas econômicos e dificuldades de relacionamento, associados principalmente à crise da adolescência. O baixo preço e a disponibilidade destes produtos contribuem para iniciação da prática.

Para as crianças que vivem nas ruas, além da falta de suporte financeiro e emocional, a redução da sensação da fome é um dos motivos que levam ao abuso dos inalantes. Para estas crianças, o uso é um fenômeno grupal, com produtos adquiridos pela compra ou por furto.

Segundo pesquisas, a estimativa média da duração da prática é de 18 meses, embora existam usuários que persistam no hábito por 5 anos ou mais. Os inalantes são apontados como a única droga que apresenta tendência de queda na sua utilização com o aumento da idade do usuário.

Toxicodinâmica

Os mecanismos de ação dos inalantes não estão ainda bem esclarecidos. Múltiplas propriedades explicam o emprego dos inalantes como anestésicos e sua utilidade no tratamento de abstinência de outras drogas como seus efeitos vasodilatadores, relaxamento da musculatura lisa, liberação de β-endorfinas, assim como suas propriedades psicogênicas.

Efeitos tóxicos ao uso abusivo

A manifestação destes efeitos depende de fatores como estrutura química do composto, quantidade inalada, freqüência da exposição, co-exposição e suscetibilidade individual.

Não se conhece muito sobre os efeitos a longo prazo, pois as informações disponíveis são baseadas em estudos ocupacionais e testes com animais de laboratório que apresentam relevantes diferenças em relação ao uso intencional, como: concentrações menores, tempo de exposição maior, uso de compostos puros, entre outros.

Efeitos tóxicos a curto prazo

Há uma fase excitatória inicial geralmente seguida por uma fase de depressão do SNC.

Na fase excitatória encontram-se os efeitos procurados pelo usuário: euforia e bem estar, alcançados segundos após a inalação e persistindo por minutos ou horas. São relatados sentimentos de invulnerabilidade, tranqüilidade, grandiosidade e hilaridade. Alucinações visuais são comuns. Geralmente não há “ressaca”.

Já no período da depressão ocorre desorientação, perda do autocontrole, dor de cabeça, palidez, sonolência, falta de coordenação muscular e diminuição dos reflexos. Nos casos mais severos, pode chegar à parada respiratória pelo fato de o usuário continuar a inalar vapores depois de perder a consciência.

A inalação de concentrações elevadas de solventes pode induzir arritmias cardíacas e levar à falência desse órgão, acarretando a morte em poucos minutos.

Os inalantes também podem causar morte por anoxia (diminuição da oxigenação), devido à incapacidade de retirar o saco plástico da cabeça; asfixia pela aspiração do próprio vômito ou pela aderência da cola na boca ou no nariz; asfixia pela oclusão das vias respiratórias, devido ao seu rápido resfriamento com o borrifo de gases frios contidos em produtos aerossóis ou o butano contido em gás de isqueiro; ou por traumatismos causados pelo prejuízo de julgamento que acompanha a intoxicação.

Efeitos tóxicos a longo prazo

O uso crônico de solventes voláteis causa destruição das fibras nervosas, similarmente às doenças neurológicas, como a esclerose múltipla.

Os efeitos neurotóxicos acarretam danos nas partes do cérebro que envolve a visão, audição, movimento e cognição, causando perda da acuidade visual, surdez, alteração da postura, incoordenação dos membros, apatia, prejuízo intelectual e instabilidade emocional.

O uso prolongado também pode causar paralisia e perda de sensibilidade, principalmente nos membros inferiores, e até tetraplegia nos casos mais severos, pois afeta o sistema nervoso periférico.

Na pele, pode causar prurido, eritema e queimaduras. No uso crônico destacam-se rinite, úlceras nasais e orais, halitose, tosse, aumento da expectoração, conjuntivite e hemorragia nasal periódica.

A inalação crônica de solventes pode causar dano hepático e renal, além de deteriorização da função pulmonar. Pesquisas indicam a possibilidade de indução de doenças autoimunes, como a glomerulonefrite e lesão pulmonar.

O abuso de inalantes durante a gestação pode causar a morte ou anormalidades no feto, como microcefalia, lábio leporino e achatamento do septo nasal.

Além de todos os malefícios acima citados, o abuso dos inalantes pode predispor o usuário ao câncer e aumentar a difusão de doenças infecciosas como AIDS, HIV e hepatite.

Apesar de algumas pesquisas na área, o uso de inalantes ainda precisa de maiores estudos focados em programas para combater o uso e ajudar no tratamento clínico do usuário.

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