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quinta-feira, abril 18, 2024

Os Jogos e as Brincadeiras na Educação Infantil

A presente pesquisa trata de um tema relevante da Educação Infantil: os jogos e brincadeiras como proposta pedagógica. Com o objetivo de demonstrar que os jogos e brincadeiras são atividades de estimulação capazes de contribuir para o desenvolvimento cognitivo, físico, social e emocional da criança, principalmente, em idade pré-escolar, foi realizada uma pesquisa, na modalidade de pesquisa-bibliográfica, onde a importância dos jogos e brincadeiras no universo escolar infantil foi o foco principal. Aliando-se a abordagem teórica encontrada nos pressupostos de autores conceituados à realidade vivida nas Instituições de Educação Infantil, quanto à prática da brincadeira na atividade docente, buscou-se elaborar uma proposta que viabilize uma educação que respeite as características da infância, considerando-as como o alicerce do trabalho educativo eficaz. No que se refere à matemática, podemos dizer que tanto os jogos como as brincadeiras favorecem o desenvolvimento físico e cognitivo.

E, através de jogos e brincadeiras a criança tem oportunidade de desenvolver um canal de comunicação, uma abertura para o diálogo com o mundo das crianças e dos adultos, onde ela estabelece seu controle interior, sua auto-estima e desenvolve relações de confiança consigo mesma e com os outros. Dessa maneira, utilizar jogos e brincadeiras na educação infantil significa transportar para o campo do ensino-aprendizagem condições para maximizar a construção do conhecimento, introduzindo as propriedades do lúdico, do prazer, da capacidade de iniciação e ação ativa e motivadora. As brincadeiras e jogos não podem ser vistos apenas como forma de divertimento, mas como meio que contribuem e enriquecem, para o desenvolvimento cognitivo, físico e emocional. Sabemos que para manter o seu equilíbrio, a criança necessita brincar, jogar, criar e inventar.

As atividades lúdicas propiciam a criança à possibilidade de conviver com diferentes sentimentos os quais fazem parte de seu interior, a criança demonstra através da brincadeira como ela vê e constrói o mundo, como ela gostaria que ele fosse, quais as suas preocupações e que problemas a estão atormentando, ou seja, ela expressa na brincadeira o que tem dificuldade de expressar com palavras.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
1. DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM
2. A HISTÓRIA DO JOGO
2.1 O jogo como recurso para a aprendizagem
2.2 O papel do brinquedo e do jogo no desenvolvimento infantil
2.3 O jogo em sala
3. DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA
3.1 A brincadeira na educação infantil
4. A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
4.1 As estratégias do professor na utilização de jogos e brincadeiras
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

INTRODUÇÃO

O tema vem refletir sobre o papel dos jogos e brincadeiras na educação infantil. Nota-se que em muitas escolas há carência dos estímulos para uma aprendizagem eficaz, sendo que o lúdico possibilita um processo de construção e desenvolvimento cognitivo do conhecimento, onde a criança atua e passa a compreender as características do objeto, seu funcionamento, os elementos da natureza, os conhecimentos sociais, regras e limites; e o jogo tradicional é um dos instrumentos que possibilita o desenvolvimento das capacidades físicas, motoras, afetivas, sociais, cognitivas e lingüísticas nas crianças.

O jogo está presente no dia-a-dia dos alunos. E é através do jogo que a criança constrói grande parte do seu conhecimento espontaneamente, pois através de atividades lúdicas a criança ultrapassa os próprios limites, adquirindo assim sua autonomia na aprendizagem.

Face o exposto, o trabalho tem por objetivo compreender o valor dos jogos e atividades lúdicas na educação infantil como subsídios eficazes para a construção do conhecimento realizado pela própria criança; desenvolver estudos sobre situações de jogos e brincadeiras que proporcionem às crianças a estimulação necessária para sua aprendizagem; estudar o histórico dos jogos; refletir sobre a importância do brincar; diferenciar o jogo e a brincadeira; explicar os diferentes tipos de jogos e apresentar as etapas do desenvolvimento da criança

As atividades lúdicas infantis são muito variadas e a maioria delas está intimamente ligada às brincadeiras difundidas pela família, pelos grupos de crianças da comunidade em que vivem, de colegas da escola, e também por influências contemporâneas que colocam em evidência este ou aquele brinquedo.

Enfim, o jogo está presente no dia-a-dia dos alunos e através destes a criança constrói grande parte do seu conhecimento espontaneamente, pois nas atividades lúdicas a criança ultrapassa os próprios limites, adquirindo assim sua autonomia na aprendizagem.

Assim, o trabalho apresentará pesquisas bibliográficas referenciadas no desenvolvimento da aprendizagem, definindo jogo, brincadeira, a história dos jogos e sua importância na infância.

1. DESENVOLVIMENTO E A APRENDIZAGEM

A teoria do desenvolvimento e da aprendizagem tem como destaque Jean Piaget, um psicólogo suíço, que tornou-se conhecido mundialmente por suas obras e artigos publicados, reverenciando a análise a evolução do pensamento infantil. Por mais de quarenta anos, realizou pesquisas com crianças, visando conhecer melhor a evolução do pensamento até a adolescência, para que houvesse o aperfeiçoamento dos métodos educacionais. Com isso Piaget (1975) propõe que o desenvolvimento cognitivo se realiza em estágios, o que significa que a natureza e a caracterização da inteligência mudam com o passar do tempo.

Sobre os estudos da teoria do desenvolvimento infantil, Wallon (1986), afirma que:

Brincar de andar, de pular, brincar de subir e descer, de pôr e tirar, de empilhar derrubar, de fazer e desfazer, de criar e destruir. Educar neste momento é sinônimo de preparar o espaço adequado, o espaço brincado, isto é, explorável. (WALLON, 1986, p. 117).

Dessa forma, entende-se que os jogos e as brincadeiras ajudam no desenvolvimento da autoconfiança, da autonomia e da iniciativa da criança.

Vários filósofos e educadores têm discutido sobre como ocorre o desenvolvimento da criança em seus vários âmbitos – físico, motor, cognitivo, emocional – e de como, nesse desenvolvimento, insere-se a questão do conhecimento do mundo, em suas múltiplas dimensões. Esses filósofos e educadores criaram, assim, concepções de desenvolvimento, em cada uma das quais se encontram implícitas visões de mundo, homem, realidade, ciência e educação. Segundo Oliveira (1991), pode ser destacada três concepções a respeito do desenvolvimento: a Inatista, a Ambientalista e a Interacionista.

A concepção Inatista parte do pressuposto de que os acontecimentos que ocorrem após o nascimento não São determinantes para o desenvolvimento do indivíduo, uma vez que a personalidade, os valores, hábitos, crenças, a forma de pensar, as reações emocionais e até mesmo a conduta social do ser humano, basicamente, encontrar-se-ia determinadas ao nascer, não sofrendo quase nenhuma transformação ao longo da existência. Sendo assim, o papel do ambiente (e, portanto, da educação e do ensino) na formação do indivíduo seria o de interferir o mínimo possível no processo de desenvolvimento, uma vez que este ocorreria de forma espontânea.

Já a concepção Ambientalista enfatiza a ação do meio e da cultura sobre a conduta humana. Na teoria proposta por Skinner, há a preocupação em explicar os comportamentos observáveis do sujeito, deixando de lado seu raciocínio, seus desejos, suas fantasias e seus sentimentos.

Nesta concepção, o papel do ambiente é muito mais importante do que a maturação biológica, pois manipulando os elementos presentes no ambiente, é possível controlar o comportamento do indivíduo, provocando, assim, mudanças ao longo de seu processo de desenvolvimento. Quanto ao papel da aprendizagem, para que ela ocorra, após uma análise rigorosa da forma como os indivíduos atuam em seu ambiente, é preciso identificar os estímulos que provocam o aparecimento do comportamento ativo e as conseqüências que o mantêm. Nessa visão, são muito importantes os elogios, as recompensas, etc.

Em uma terceira abordagem, a Interacionista, o indivíduo constrói seus conhecimentos por meio de sua interação com o meio.

Os interacionistas admitem uma recíproca influência entre o indivíduo e o meio e consideram que os fatores biológicos e sociais estão em constante interação no processo de desenvolvimento infantil. Discordam, assim, da concepção inatista, que despreza o papel do ambiente, e da ambientalista, porque ignora os fatores maturacionais.

A concepção interacionista apóia-se, portanto, na interação entre o organismo e meio, e vê a aquisição do conhecimento como um processo construído pelo indivíduo, contrariamente às duas anteriores, em que o indivíduo, ou nasce pronto, sem sofrer transformações ao longo da existência, ou é visto como um receptor passivo das influências do meio. A visão interacionista é defendida em especial por Vygotsky (1896-1934) e Piaget (1896-1980).

Para Piaget (1975), o conhecimento é elaborado pela criança, de acordo com o estágio de desenvolvimento cognitivo em que ela se encontra. A criança só conhece um objeto quando age sobre ele, transformando-o. Portanto, o conhecimento é conseqüência da ação individual, ou seja, é o resultado da ação do sujeito sobre o objeto.

Vygotsky (1998), por sua vez, acredita que a construção do real proceda do social para o individual. Para ele, a criança nasce em um mundo social e desde o nascimento vai formando uma visão desse mundo através da interação com adultos ou crianças mais experientes.

No que se refere à aprendizagem, para Piaget (1975), o desenvolvimento é um processo maturacional que ocorre antes e independentemente da aprendizagem. Esta, por sua vez, consiste em um processo externo que não tem um papel ativo no desenvolvimento. Para este autor, os fatores internos são inicialmente mais importantes do que os externos. Ele explica que o desenvolvimento ocorre através de estágios, cuja seqüência não pode ser alterada: um é pré-requisito do outro. Já para Vygotsky (1998), o desenvolvimento e a aprendizagem são processos recíprocos. Quanto mais aprendizagem, mais desenvolvimento.

Piaget (1975), por sua vez, acredita que o pensamento vem antes da linguagem, sendo esta apenas uma forma de expressão, uma vez que o pensamento é viabilizado pela coordenação dos esquemas sensório-motores e não pela linguagem. Já Vygotsky (1998) defende que pensamento e linguagem são processos interdependentes desde o início da vida. A aquisição da linguagem pela criança possibilita o aparecimento da imaginação. Assim, ela adquire uma função central no desenvolvimento cognitivo.

Percebe-se, portanto, que esses dois autores admitem que o organismo e o meio exercem ação recíproca e consideram que os fatores biológicos e sociais estão em constante interação no processo de desenvolvimento infantil e não podem ser separados um do outro.

Segundo Piaget (1975), o desenvolvimento do indivíduo se faz ao longo de um processo gradual, dinâmico e contínuo, de forma integrada com os aspectos cognitivo, afetivo, físico-motor, moral, lingüístico e social. Para este autor, o que possibilita o desenvolvimento é a interação do sujeito com o seu meio, ou seja, é na interação sujeito-objeto (meio) que vão sendo assimiladas determinadas informações, segundo o estágio de desenvolvimento cognitivo em que este sujeito se encontra.

Face ao exposto, o desenvolvimento é, pois, conseqüente de combinações entre o que o organismo traz e as circunstâncias oferecidas pelo meio. Em sua constituição, vários fatores interatuam e se entrelaçam de forma dinâmica e contínua: a maturação, que seria o crescimento biológico dos órgãos; os exercícios, experiências que supõem o funcionamento dos esquemas e órgãos que implicam a formação de hábitos e a utilização das possibilidades adaptativas do indivíduo em relação dos objetos do meio; a aprendizagem social, que significa a aquisição de valores, linguagens, costumes e padrões culturais, que decorrem da interação social, já que é através desta que se realiza a transmissão social; e a equilibração, que se constitui no processo de auto-regulação interna do organismo, ou seja, na busca sucessiva de reequilíbrio após cada desequilíbrio.

Em relação a cada um destes fatores, Wadsworth (1992) afirma que a maturação é um aspecto intrínseco ao indivíduo e desempenha papel importante também em seu desenvolvimento cognitivo, uma vez que este se constitui a partir das transformações ocorridas nos esquemas com os quais a criança nasce. Tais esquemas são estruturas, inicialmente de natureza reflexa, que se adaptam e se modificam com o desenvolvimento mental. Ao nascer, a criança possui poucos esquemas. Com o seu desenvolvimento, os esquemas se transformam, tornam-se mais diferenciados, mais numerosos.

O meio físico é conhecido e conquistado através das experiências que a criança realiza, as quais podem ser de ordem física e lógico-matemática. Através da experiência física, a criança é capaz de extrair informações dos objetos, como: forma, peso, tamanho, etc. Já a experiência lógico-matemática está relacionada às ações sobre os objetos. A criança baseia-se não mais nas características físicas dos objetos, mas nas propriedades das ações que foram exercidas sobre eles. Como exemplo, poderíamos citar uma criança que ao brincar com blocos, de repente, resolve separar os blocos pequenos dos grandes para brincar. Mas, ao terminar de selecioná-los, conta-os e descobre a quantia dos mesmos. E, assim, brincando, faz outras descobertas, ultrapassando o conhecimento do objeto utilizado e estabelecendo descobertas em torno do mesmo.

Em relação ao ambiente social, a criança irá perceber inúmeras situações ocorridas em relação às pessoas, objetos e a si própria. Nessas situações, ocorrem interferências da criança, que poderão resultar em diferentes tipos de interação. Contudo, tanto as influências sociais, quanto a experiência, só podem ter efeito sobre o sujeito se ele for capaz de assimilá-las, isto é, se o indivíduo for capaz de relacionar essas novas experiências com as adquiridas anteriormente.

Por fim, a equilibração é entendida no sentido mais amplo da auto-regulação ou seqüência de compensações ativas do sujeito em resposta às perturbações exteriores.

O fator de equilibração é extremamente importante no processo de desenvolvimento. Quando o indivíduo está em equilíbrio, ele atinge o conhecimento. O equilíbrio é, portanto, um estado de balanço entre assimilação e acomodação. Estes dois processos, a assimilação e a acomodação, são os responsáveis pela adaptação do sujeito ao mundo. São processos distintos, porém, indissociáveis. Vejamos em que eles consistem.

Na assimilação, o sujeito age sobre os objetos que o rodeiam, aplicando esquemas já constituídos ou solicitados anteriormente. Ou seja, a assimilação é a tendência a relacionar um novo acontecimento com uma idéia que a criança já possui. Ela acontece sem interferir no conhecimento, não havendo, portanto, modificação do mesmo.

Já a acomodação representa o momento da ação do objeto sobre o sujeito. Ao contrário da assimilação, a acomodação exige mudanças no nível das idéias. A criança muda suas idéias próprias para que possam coincidir com um novo acontecimento.

A assimilação/acomodação apresenta-se como suporte para o restabelecimento do equilíbrio. Não como volta ao equilíbrio anterior, mas como um novo equilíbrio, sendo esse de nível superior e que se constituirá em um novo ponto de partida para novos conhecimentos.

Segundo Piaget (1982), a inteligência é o resultado da experiência do indivíduo, e é através da experiência que o indivíduo incorpora o mundo exterior e o vai transformando ao longo de sua vida. Para que haja, portanto, o desenvolvimento da inteligência, Piaget admite a necessidade de o indivíduo se adaptar ao meio e, a partir do contato com o mesmo, garantir a construção do seu próprio pensamento, do ato de conhecer.

Conhecer significa, portanto, para este autor, organizar, estruturar, explicar o real a partir das experiências vividas. E modificar, transformar o objeto, é compreender o mecanismo de sua transformação e, conseqüentemente, o caminho pelo qual o objeto é construído.

Segundo Wadsworth (1992), Piaget definiu o desenvolvimento como um processo contínuo, no decorrer do qual ocorrem mudanças graduais, sendo através destas mudanças que os esquemas são modificados continuamente. Assim, com o propósito de explicar o crescimento cognitivo, Piaget dividiu o desenvolvimento intelectual em quatro grandes estágios: o sensório-motor; o pré-operacional; o das operações concretas e o das operações formais.

O primeiro estágio, sensório-motor, vai do nascimento aos dois anos. Nele, a criança ainda não “pensa”, mas há o desenvolvimento cognitivo, na medida em que os esquemas são construídos.

O estágio pré-operacional vai dos dois aos sete anos. Sua principal característica é o desenvolvimento da linguagem e a capacidade de representar.

Já o estágio das operações concretas, que vai dos sete aos doze anos, ocorre quando a criança começa a aplicar o raciocínio lógico para os problemas concretos, ou seja, o pensamento opera sobre os objetos manipuláveis.

O último estágio, das operações formais, corresponde ao período da adolescência – dos doze anos em diante – e se caracteriza pelo surgimento do pensamento abstrato. Nesse estágio, o indivíduo alcança seu nível mais elevado de desenvolvimento cognitivo.

Face o exposto, entende-se que é de suma importância conhecer as fases do desenvolvimento da criança para então compreender se ela está ou não evoluindo.

2. A HISTÓRIA DO JOGO

Para compreender a origem e o significado dos jogos infantis, é necessário investigar suas raízes históricas e folclóricas responsáveis pelo seu aparecimento. Estudos mostram que a origem da sociedade brasileira advém da mistura de três raças ou da fusão progressiva, nos primeiros séculos das raças vermelha e negra pela raça branca, representada pela figura dos portugueses nossos primeiros colonizadores.

Segundo Freire apud Kishimoto (1996), quando em 1532 a sociedade brasileira se organizou, os portugueses já tinham pelo menos um século de experiência de convívio com os trópicos (Índia e África), facilitando sua adaptação na nova terra. A colônia portuguesa se instalou ancorada pela família patriarcal, apoiada no trabalho escravo, na união com a mulher índia formando-se aqui uma sociedade agrária de estrutura escravocrata, de exploração econômica, híbrida do índio e, mais tarde do negro após constatar a mal adaptação dos índios.

A fácil miscigenação dos lusos aliada à docilidade das índias permitiu a expansão de mestiços entre brancos e índios. A mistura do índio e negro ao branco fez predominar como núcleo primitivo para a formação da nacionalidade Brasileira o elemento branco.

Assim quando já no século XIX, antes da abolição da escravatura, começou-se a intensificar o movimento da imigração de origem mediterrânea e germânica (portugueses, italianos, espanhóis, alemães e outros) para substituir a mão-de-obra escrava, já estava constituído o núcleo nacional bastante sólido, explica Freire apud Kishimoto (1996).

Foi graças a este cruzamento, estimulado pela ausência de preconceitos raciais, que no Brasil se misturaram às raças brancas, ameríndias e africanas na formação do povo Brasileiro. Depois continuou o cruzamento com povos europeus e asiáticos produzindo a grande heterogeneidade da população de hoje. Com a mistura das populações veio também seu folclore, ao longo deste processo, o folclore Brasileiro recebeu nova cor, tomou novos aspectos.

Veio com os primeiros colonizadores o folclore lusitano, incluindo os contos, histórias, lendas e superstições que se eternizaram pelas vozes adocicadas das negras, e também os jogos, festas, técnicas e valores.

O folclore português, segundo o historiador Bittencourt apud Kishimoto (1996), é originário de traduções milenares européias; as que não eram, ao chegarem, levaram a nossa marca para depois sofrerem as imposições naturais que a própria terra sugeriria.

Essa tradição milenar do folclore transmitido pela oralidade de pessoas anônimas pode ser comprovada na veiculação dos jogos tradicionais infantis como a pipa, que foi introduzida no Maranhão pelos portugueses no século XVI. A pipa parece ter procedência oriental originária de tempos antigos, foram usadas primitivamente pelos adultos, com fins práticos, em estratégias militares e com o passar dos séculos, transformou-se em brinquedo infantil.

A partir do século XIX no Brasil as tradições portuguesas trazidas pelos primeiros colonizadores foram modificadas pela influência africana. A antiguidade de muitos jogos tradicionais infantis é atestada pela obra do Rei de Castile Alphouse X que, em 1283, redigiu o primeiro livro sobre os jogos na literatura européia. Nesta obra, segundo Grunfeld apud Kishimoto (1996), o Rei descreve “diversos jogos presentes até os tempos atuais, como o peão, a amarelinha, o jogo de assinho ou saquinhos, o xadrez, tiro ao alvo, jogo de fio ou cama de gato, jogos de trilha, o gamão entre outros”. (KISHIMOTO, 1996, p.9).

A maioria dos jogos tradicionais infantis incorporados a lúdico brasileiro chegou ao país por intermédio dos portugueses, mas já carregavam uma antiga tradição européia, vinda de tempos remotos. Deste modo, ao chegar ao Brasil, receberam novas influências unindo-se com outros elementos folclóricos como o povo negro e do índio.

A cidade de São Paulo entre 1900 e 1940, segundo Silva e Garcia apud Kishimoto (1996), apresentava um ritmo de vida tranqüilo, preenchido por inúmeras atividades sociais e de lazer. As ruas eram iluminadas por lampião de gás, e após o trabalho, as pessoas tinham o hábito de se encontrar nos bares. Entre as mulheres predominavam reuniões em casa de vizinhos e em confeitarias tradicionais ou salões de chá, sempre acompanhados de irmãos ou crianças, onde se discutiam poesia, literatura e teatro. Havia a prática de ficar nas janelas olhando o movimento das ruas, fazendo tricô ou crochê. Neste ambiente, a rotina das mães de classe média e alta era cuidar das crianças e dos afazeres domésticos. Mas, essa não era a realidade das mulheres operarias e domesticas que trabalhando em jornadas excessivas, tendo baixa remuneração, não tinham tempo para passeios ou trabalhos manuais.

Era na rua onde ocorriam desde manifestações anarquistas de operariado até o abastecimento da cidade com a circulação do leiteiro, peixeiro, fruteiro e verdureiro. A rua era também o espaço de:

(…) integração entre cidadãos, através de brincadeiras e atividades de lazer, esconde-esconde, acusado, pula-sela, jogo de bola na mão, bolinhas de gude, futebol, varinha tangendo rodas, pipas, cantigas de roda, bonecas e outras brincadeiras, preenchiam o cotidiano de diversos grupos infantis daqueles tempos. (Silva E Garcia, 1989, p.56-60, apud KISHIMOTO, 1996).

A predileção pelas brincadeiras de rua, presentes na memória de antigos moradores de São Paulo, mostra o poder dos jogos tradicionais infantis eternizados pela oralidade e pela apropriação do espaço coletivo. Essas brincadeiras de rua eram tidas como condutas de crianças não aceitas pela classe social de maiores recursos. Crianças de níveis econômicos privilegiados e, principalmente as meninas, não tinham permissão para brincar na rua.

Se o processo de industrialização e urbanização roubou o espaço das brincadeiras infantis, o crescimento das ciências da educação aponta para a importância do jogo, essencialmente para a educação e o desenvolvimento da criança. Assim, a infância carrega consigo as brincadeiras que se perpetuam e se renovam a cada geração.

Os antigos já sabiam da importância de brincar no desenvolvimento integral do ser humano, e, felizmente o tema jogo tem sido estudado por diferentes autores das mais diversas áreas.

Eles estão percebendo a importância do jogo para o desenvolvimento não só de crianças e adolescentes, mas também de adultos de qualquer idade:

As crianças mais velhas buscam no material e nos brinquedos correspondências entre o desejado e a realidade. O que caracteriza as novas etapas do desenvolvimento do jogo é a mudança operada nas exigências que a criança apresenta ao material lúdico. Às crianças com mais idade agrada muito mais jogarem elas próprias em substituição de um brinquedo (jogos protagonizados) do que com um brinquedo como tal, e prescindem facilmente dos brinquedos… (ELKONIN apud KISHIMOTO, 2002, p.138)

Entende-se, portanto, que a análise do jogo é feita conforme o contexto social que a criança se encontra, à educação em que está submetida e pelas relações sociais que mantém, o que lhe permite compreender melhor a sua realidade.

É notável que a criança comece com uma situação imaginária que, inicialmente, é tão próxima da situação do real. O que ocorre é uma reprodução da situação real. Uma criança brincando com uma boneca, por exemplo, repete quase exatamente o que sua mãe faz com ela . Isso significa que, na situação original, as regras operam sob uma forma condensada e comprimida. (VYGOTSKI, 1998, p135).

Segundo Wajskop (1995), pesquisadores como Comenius, Rousseau e Pestalozzi, baseados numa concepção idealista e protetora da criança, contribuíram para a valorização da infância, propondo uma educação dos sentidos que utilizava brinquedos e recreação como estratégias.

No decorrer dos anos com a ruptura do pensamento romântico, houve a valorização do jogo, deixando de ser visto apenas como uma brincadeira, passando a ser usado no espaço educativo.

A tradicionalidade e universalidade dos jogos apóiam-se no fato de que povos antigos como os da Grécia e Oriente brincaram de amarelinhas, empinar pipas e jogar pedrinhas. Essa tradicionalidade se explicaria devido ao poder de transmissão /expressão oral.

Os jogos e a educação se identificam, após o séc. XVII, a partir dos pedagogos – humanistas tal evolução foi comandada pela preocupação com o moral, a saúde e o bem comum, tendo como alvo principal a infância, cujo investimento educacional aparecia como um remédio para todos os males sociais.

Parece improvável que o jogo imaginativo tenha tido seu único início apenas no século XIX. Antes, ele já existia de maneira mais simples, mas passava despercebido para o mundo adulto nas experiências da infância.

Surge agora um novo significado para a infância, iniciando-se a elaboração de métodos próprios para sua educação, deixando de ser vista como adulto em miniatura.

A valorização crescente da criança em desenvolvimento no seio da família, assim como as necessidades educacionais de seu controle e orientação, cria um vínculo escrito entre o jogo e sua educação. Nessa época a criança era vista como cidadã com imagem social contraditória, era, ao mesmo tempo, o reflexo do que o adulto e a sociedade queriam que ela fosse e do que temiam que ela se tornasse.

Pesquisas nas áreas da Psicologia, Sociologia e Pedagogia demonstraram quão importante é o período da infância na vida do ser humano, dando, então, ênfase a ele. Situa-se na antiga Roma e na Grécia o nascimento das primeiras reflexões em torno da importância do brinquedo na educação:

A criança se desenvolve de forma integrada nos aspectos cognitivos, afetivo, físico motor, moral, lingüístico e social. Este processo de desenvolvimento se dá a partir da construção que a criança faz na sua interação com o meio físico e social. A criança vai conhecendo o mundo a partir da sua ação sobre ele. Nessa interação sujeito-objeto (o meio), a criança vai assimilando determinadas informações, seguindo o seu estágio de desenvolvimento. (FRIEDMANN, 1992, p. 68-69).

Alguns autores assinalam em seus escritos a presença de guloseimas em forma de letrinhas, elaboradas pelas doceiras de Roma, destinadas ao aprendizado das letras. Sabemos que a prática de aliar o jogo aos primeiros estudos justifica que as escolas responsáveis pelas introduções elementares tenham recebido o nome de ludus, semelhante aos locais destinados a espetáculos e a prática de exercícios de fortalecimento do corpo e do espírito.

Com o advento do Cristianismo impõe-se uma educação rígida e disciplinadora, onde os mestres recitam e os alunos decoram. Neste clima não há condições para expansão dos jogos, considerados delituosos. Durante o Renascimento, aparece um novo ideal trazendo outras concepções pedagógicas, reabilitando assim, o jogo.

O século XVIII caracterizou-se pela popularização dos jogos educativos e nasce a concepção de infância postulada por Rousseau e a necessidade de uma educação ajustada a natureza infantil.

A concepção de educação infantil que vem se forjando historicamente tem reiterado as idéias propostas pelos teóricos de fins do séc. XIX e início do século XX. Neste século, nasce a Psicologia Infantil e discute-se a importância do ato de brincar para a construção de representações infantis.

Estudos e pesquisas de caráter psicogênico encabeçados por Piaget (1975), Bruner (1987) (apud Kishimoto, 1994), Vygotsky (1998) e outros, demonstram que o ato de brincar, assim como outros comportamentos do ser humano, sofre influência da cultura na qual a criança está inserida, passando-se a valorizar os brinquedos e brincadeiras como nova fonte de conhecimento e de desenvolvimento infantil; assim, percebe-se quão os jogos possibilitam à criança captar o mundo que a cerca: observa, escuta, esforça-se para perceber e compreender as coisas, os seres, as canções, as estórias, as imagens como se fossem toda olhos e ouvidos”. (Wallon, 1975, p. 76). Nesse sentido, Froebel (1968) (apud Kishimoto, 1996) afirmava que:

A criança precisa aprender cedo como encontrar por si mesmo o centro de todos os seus poderes e membros, para agarrar e pegar com suas próprias mãos, andar com seus próprios pés, encontrar e observar com seus próprios olhos. (KISHIMOTO, 1996, p. 59).

Assim, o jogo foi concebido como parte inerente do processo de desenvolvimento infantil, cognitivo, afetivo e emocional.

2. 1 O Jogo como recurso para a aprendizagem

Desde tempos passados, alguns estudos apontam uma ligação entre o jogo e a aprendizagem. Mas predomina a déia do jogo associado à recreação, a situações que se contrapõem ao trabalho escolar. É essa orientação que flui nos primórdios das salas de asilos franceses, onde o jogo não se presta à formação moral, nem mesmo colabora para o desenvolvimento cognitivo. Admite-se como recreação, uma espécie de distração e descanso do árduo trabalho.

Kergomard apud Kishimoto (1994) apóia-se na idéia da incompatibilidade lógica entre o jogo e a educação e pondera:

Sei muito bem que à primeira vista estas duas palavras – a pedagogia pelos jogos – colocadas juntas, fazem um efeito de certas uniões infelizes, caracterizadas sobretudo pela incompatibilidade de caráter dos cônjuges; mas esta impressão cessa no momento em que se reflete, porque se compreende de estar limitada à instrução, abraça a cultura completa dos ser. (KISHIMOTO, 1994, p. 161).

Nesse sentido, ele pleiteia a liberdade de ação da criança. Entretanto, essa colocação choca-se com outra que começa a predominar. Girard apud Kishimoto (1994, p.18) e muitos outros tentam conciliar a tarefa de educar com a necessidade irresistível de brincar. Nessa junção, surge o jogo educativo, um meio de instrução um recurso de ensino para o professor e, ao mesmo tempo, um fim em si mesmo para a criança que só quer brincar. Nesse sentido compreende-se que o jogo também é um meio de educar.

As divergências em torno do jogo educativo estão relacionadas à presença concomitante de duas funções, dentre as quais destacam-se: a função lúdica – o jogo propicia a diversão, o prazer e até o desprazer quando escolhido voluntariamente, e função educativa – o jogo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do mundo (Campagne apud KISHIMOTO,1994, p.20)

Embora alguns autores (Kishimoto,1994; Winnicot, 1979; Brougère, 2003) destaquem a liberdade como atributo principal do jogo, no campo da educação procura-se conciliar a liberdade, típica dos jogos, com a orientação própria dos processos educativos. São inúmeras as situações acadêmicas que podem ser criadas para ensinar repertórios básicos às crianças, mas provavelmente a mais produtiva dentre elas é a que envolve o jogo recreativo, atividade não utilitária em que o elemento mais importante é o envolvimento do indivíduo que brinca.

A família e a escola influenciam fortemente a aquisição inicial e o aperfeiçoamento desses repertórios, na medida em que produzem situações em que a criança deve descrever objetos, pessoas, animais ou o próprio organismo; como atuam ou funcionam; a que classes pertencem; como se parecem; como e onde se localizam; quantos são; qual a sua periodicidade; seu ritmo e sua velocidade de funcionamento; e assim por diante juntamente com as habilidades de comunicação, atenção, compreensão, memorização, imitação e de seguir instruções, os conceitos relativos a espaço, tempo e quantidade são assim, centrais à aprendizagem que a escola considera fundamentais. Os termos jogo brincadeira e brinquedo são utilizados nesta monografia, com atributos do mesmo significado, sendo estes, compreendido por uma atividade ou situação estruturada, no qual o elemento lúdico está presente.

Para Ausubel (apud Aguiar, 1998, p.35), a principal tarefa do educador é então a de identificar, nos conteúdos formadores do conhecimento, os conceitos mais abrangentes, que tenham o maior poder de inclusividade, que sejam os mais amplos; e de colaborar para que o aprendiz os aprenda significativamente. Se o indivíduo aprender de forma significativa o conteúdo essencial, é bem provável que estará apto a utilizá-lo na solução de problemas e a aplicá-lo em situações novas.

Vygotsky (1998) destaca que a formação dos conceitos não se inicia na escola, mas muito antes, nas experiências da criança no mundo físico e social, cabendo ao ensino formal a importante missão de propiciar condições para desenvolver na criança o processo de percepção generalizante. Ele desempenha, assim, um papel decisivo na conscientização da criança sobre os próprios processos mentais. Os conceitos aprendidos na escola, com o seu sistema hierárquico de inter-relações, parecem constituir o meio no qual a consciência e o domínio se desenvolvem, sendo mais tarde transferidos e generalizados a outros conceitos e a áreas do pensamento. A consciência reflexiva chega à criança pelos portais dos conhecimentos aprendidos na escola e é altamente significativa para sobrevivência humana.

Piaget (1975) afirma que:

O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação do real à atividade própria, fornecendo à esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades. Múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil. (p.160)

Sob a ótica de Bijou (apud Aguiar 1998), o jogo (brinquedo, brincadeira) é uma atividade que aumenta todo o repertório comportamental de uma criança, influência seus mecanismos motivacionais, além de fornecer oportunidades inestimáveis para o aumento de seu ajustamento. O brinquedo pode estabelecer novas capacidades, atividades imaginativas (fantasias) e habilidades de solução de problemas, ou, então, manter as já existentes no repertório da criança.

Em uma criança a quem foi oferecida amplas oportunidades para engajamento em brinquedo orientado para o conhecimento, desenvolvem-se repertórios comportamentais que funcionam como pré-requisitos para outros tais como habilidades pré-acadêmicas e, particularmente, as respostas orais e escritas que descrevem o mundo físico, social e orgânico. O que significa que se uma criança aprendeu a fazer discriminações precisas e a reconhecer certas relações entre os objetos, ela provavelmente estará apta a aprender os seus nomes e a relatar como funcionam.

Para Bijou (apud Aguiar, 1998), o ensino de conceitos tenderá a ser mais eficiente se a exposição da criança ocorrer por meio do jogo e na presença de pessoas dispostas e hábeis para ajudá-la a aprender a responder diferencialmente a estímulos pertencentes a diferentes classes.

A relevância do jogo no desenvolvimento infantil também é enfocada na perspectiva sócio-histórica. Vygotsky (1998) diz que é enorme a influência do brinquedo no desenvolvimento da criança. No brinquedo a criança cria e expressa uma situação imaginária. Ele situa o começo da imaginação humana na idade de três anos, afirmando que a mesma surge originalmente da ação. Durante os anos pré-escolares as habilidades conceituais da criança são expandidas por meio do brinquedo e do uso da imaginação. Para ele, no brinquedo a criança projeta-se nas atividades adultas de sua cultura e ensaia seus futuros papéis e valores. Dessa maneira, o brinquedo gera oportunidades para o desenvolvimento intelectual; começa a criança começa a adquirir motivação, as habilidades e as atitudes necessárias à sua participação social; a qual só pode ser completamente atingida com a assistência de seus companheiros da mesma idade e também dos mais velhos. Nos jogos a criança adquire e inventa regras.

Para Decroly (apud Kishimoto, 2002), certos processos de aquisição de conhecimentos são facilitados quando tomam a forma de atividades lúdicas. A autora atribui ao jogo, usado sob a forma de método pedagógico, grande importância na aprendizagem de conteúdos escolares)

Marcellino apud Brougère (2003); fazendo referência à necessidade do lúdico para a criança afirma:

O primeiro e fundamental aspecto sobre a sua importância é que o brinquedo, o jogo, a brincadeira são gostosos, dão prazer, trazem felicidade. E nenhum outro motivo precisaria ser acrescentado para afirmar a sua necessidade. (p. 70)

Estudiosos da aprendizagem e do desenvolvimento infantil vêm salientando a importância do jogo no universo da criança, primeiramente como um fato indiscutível – as crianças brincam grande parte de seu tempo – e depois porque o jogo constitui um dos recursos mais eficientes de ensino para que a criança adquira e amplie conhecimentos. Sob o olhar de vários teóricos vimos que a ludicidade (jogos) se apresenta como uma das ferramentas pedagógicas que exerce função relevante para o desenvolvimento da criatividade, da autonomia e da iniciativa, como também para apropriação dos diversos saberes produzidos pela humanidade no decorrer da história.

A escola deve sim aproveitar todas as manifestações da criança direcioná-las por meio de atividades lúdicas educativas que quando bem direcionadas trarão grandes benefícios à saúde física, social e mental da criança.

As brincadeiras e os jogos transformam conteúdos necessários e maçantes em atividades interessantes, prazerosas explorando o caráter método lógico lúdico da atividade.

Para o ensino de conceitos numa concepção que tem por base o princípio da interligação entre a atividade motora e o desenvolvimento cognitivo o jogo surge como recurso de ensino, mediado pela linguagem oral, motora, por objetos e figuras.

A análise de vários teóricos, mediante a verificação desta pesquisa, aponta a eficiência do jogo como procedimento pedagógico.

Portanto, jogar e brincar são atividades que bem planejadas e orientadas, certamente contribuirão no desenvolvimento da criança no contexto do processo escolar.

2.2 Papel do brinquedo e do jogo no desenvolvimento infantil

Numa tendência cada vez maior, o brinquedo e o jogo vêm sendo valorizados no desenvolvimento infantil e, assim, na educação pré-escolar. O brinquedo possibilita o desenvolvimento integral da criança, no qual ela se envolve afetivamente, convive socialmente e opera mentalmente, de uma maneira envolvente.

Ela despende energia, imagina, constrói normas e cria alternativas para resolver os imprevistos que surgem no ato de brincar. É, portanto, uma ação que envolve movimentação física, envolvimento emocional e desafio mental, e por ser essencialmente dinâmica, possibilita o aparecimento de comportamentos espontâneos e improvisados, explica Kishimoto (2002).

O jogo permite a compreensão da realidade e a adaptação espontânea a ela. Por mais que existam objetivos presentes no jogo, o desafio sempre existe. Há sempre um caráter novo, e este é fundamental para despertar o interesse e a curiosidade infantil. Ele é integrador, permitindo à criança a descoberta de novas maneiras de explorar o seu corpo, resolver problemas e interagir com os seus pares e com adulto.

Piaget (1975) ressalta a importância dos jogos não somente como fator de entretenimento, mas como meio de desenvolvimento cognitivo da criança. Também Vygotsky (1998), valoriza os jogos realizados em grupo, sendo esta uma atividade de suma importância para o processo de aprendizagem e desenvolvimento.

Em especial, o uso de histórias infantis na educação pré-escolar favorece a aprendizagem sobre problemas interiores dos seres humanos, bem como as possíveis soluções; desenvolve a linguagem que constitui um instrumento de comunicação da criança com ela mesma e com o outro; favorece a auto-afirmação e possibilita a análise da realidade em que vivemos a partir de variados estímulos.

Estas atividades como recursos favoráveis à aprendizagem assumem um efeito positivo na visão de diversos educadores, e algumas dificuldades que se apresentam estão no ato de planejar a determinada atividade ou quando não se tem os recursos adequados. Porém, dependendo da visão que o professor tem acerca do lúdico como alternativa de ensino, ele pode se tornar um mero momento de passa tempo da criança na escola.

Segundo Kishimoto (2002), as atividades envolvendo o lúdico na escola merecem ser objetos de reflexão na prática pedagógica do professor; e neste caso ele não se revela omisso em relação ao planejamento considerando faixa-etária, objetivos e o contexto no qual está inserido.

Porém, esta alternativa de ensino deve ser concebida como um processo dinâmico e continuado na escola e, desta forma, não pode se apresentar como uma atividade pronta e acabada, mas sim deve ser discutida conforme se apresenta a realidade da criança.

De acordo com Kishimoto (2002), o uso do lúdico na escola pode representar um imenso passo para o processo de desenvolvimento da aprendizagem, estimulando a criança ao aprendizado de maneira libertadora e autônoma.

A presença de atividades lúdicas na escola oferece amplas possibilidades para o constante desenvolvimento dos aspectos cognitivos e psicomotores da criança e os efeitos de sua utilização podem ser observados a médio e longo prazo, visto que a socialização e interação dela com os outros se revela como fator importante do desenvolvimento.

Assim sendo, o lúdico como instrumento educativo deve ter garantido o seu espaço na pré-escola, especialmente porque o mundo infantil é marcado pela constante presença do mesmo como meio possibilitador do processo de internalização de normas e valores culturalmente legitimados no meio em que a criança se insere, explica Kishimoto (2002).

Pensar na educação pré-escolar ausente de atividades lúdicas é retroceder ao quadro apresentado no século XVIII, em que a criança era concebida como adulto em miniatura e, nessa visão, seus sonhos e fantasias eram castrados pela sociedade conservadora da época.

As atividades pré-escolares podem, desta forma, tornar-se lúdicas ao invés de serem propostas de uma maneira rotineira, em que os brinquedos e os jogos são apresentados às crianças, podendo as mesmas envolver as mais variadas áreas de estimulação, como: Comunicação e Expressão, Matemática, Ciências, Estudos Sociais, Expressão Artística, Educação Física, Psicomotricidade etc.

A importância do brinquedo no desenvolvimento da criança tem sido demonstrada, na contemporaneidade, pelo crescente número de pesquisas existentes no campo da educação. Segundo abordagens diversas nas áreas sociológica, psicológica e pedagógica, estas pesquisas têm como objeto de estudo, entre outros, a influência da cultura na constituição dos brinquedos, a função destes na construção do psiquismo infantil ou ainda a importância de utilizá-los como recurso pedagógico, seja no contexto familiar ou em instituições coletivas, como creches ou pré-escolas.

Muitos autores usam indistintamente o termo brinquedo para nomear tanto o jogo quanto à brincadeira. Daí, muitas vezes, ser impraticável distinguir estes termos com nitidez. Em seu livro “Brinquedo e Indústria Cultural”, Oliveira (l986, p.25) aponta quatro possibilidades para se definir o que é o brinquedo, tiradas de um dos mais conhecidos dicionários brasileiros, organizado por Aurélio Buarque de Holanda Ferreira apud Oliveira (1986, p. 25), brinquedo é: “1) Objeto que serve para as crianças brincarem; 2) Jogo de crianças, brincadeira; 3) Divertimento, passatempo, brincadeira; 4) Festa, folia, folguedo, brincadeira.”

Reforçando também esta idéia de que em nossa língua os termos jogo e brincadeira são utilizados de forma similar, Bomtempo apud Kishimoto (1996) acrescenta, no entanto, que na maioria das vezes as pessoas se referem à palavra “jogo”, quando a brincadeira envolve regras, e “brinquedo”, quando se trata de uma atividade não estruturada.

Concordando com as posições de Oliveira e Bomtempo apud Kishimoto (1996) vem confirmar que é muito difícil fazer a definição de jogo devido à variedade de fenômenos considerados como jogo e acrescenta que essa dificuldade cresce, quando o mesmo objeto pode ser visto como jogo ou não jogo, dependendo apenas do significado a ele atribuído pelas diferentes culturas e pelas regras e objetos que o caracterizam.

Já ao referir-se ao brinquedo, a autora coloca que através deste é estabelecida uma relação íntima com a criança, sem um conjunto de regras para a sua utilização. Acrescenta que o brinquedo, visto como objeto é sempre o suporte da brincadeira e que esta última se constitui na ação que a criança exerce ao valorizar as regras do jogo, ao mergulhar na ação lúdica.

Assim,

“…se considerarmos que a criança pré-escolar aprende de modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o brinquedo desempenha um papel de grande relevância para desenvolvê-lo. Ao permitir a ação intencional (afetividade), a construção de representações mentais (cognição), a manipulação de objetos e o desempenho de ações sensório-motoras (físico) e as trocas nas interações (social), o jogo contempla várias formas de representação da criança ou suas múltiplas inteligências, contribuindo para a aprendizagem e o desenvolvimento infantil…”. (Kishimoto, 1996, p.36).

Além destes aspectos, a autora enfatiza que o brinquedo diminui o sentimento de impotência da criança, pois, ao manipulá-lo, ela cria situações novas, reconhece outras, compara, experimenta, desenvolve sua imaginação e habilidades.

Brougère (1995), em seu livro “Brinquedo e Cultura”, também faz uma diferenciação entre jogo e brinquedo. Para este autor, o brinquedo é um objeto que a criança manipula livremente, sem estar condicionado às regras ou a princípios de utilização de outra natureza. O brinquedo é um objeto infantil; o jogo, ao contrário, pode ser destinado tanto à criança quanto ao adulto, sem restrição de uma faixa etária, enquanto o brinquedo, para um adulto, torna-se sempre motivo de zombaria, de ligação com a infância.

Campagne (apud Andrade, 1994) é outro autor que, preocupado com o papel do brinquedo no desenvolvimento infantil, nos mostra as diversas funções deste para as crianças em idade pré-escolar.

Para este autor, o brinquedo, é o suporte do jogo, é o objeto que desperta a curiosidade, exercita a inteligência, permite a invenção e a imaginação e possibilita que a criança descubra suas próprias capacidades de apreensão da realidade. Ele permite, pois, à criança, testar situações da vida real ao seu nível de compreensão, sem riscos e com controle próprio.

Rosamilha (apud Oliveira, 1986, p. 19) apresenta algumas das principais tendências sobre o que leva a criança a brincar:

1) “as crianças brincam porque tem excesso de energias; 2) as crianças brincam porque esse é um instinto que as leva a preparar-se para a vida futura; 3) As crianças brincam porque a hereditariedade e o instinto as levam a recapitular as atividades ancestrais importantes para o indivíduo; 4) as crianças brincam para descarregar suas emoções de forma catártica; 5) as crianças brincam porque e agradável. O jogo é importante pelo seu aspecto hedônico; 6) o brincar é um aspecto de todo comportamento. Ele está implícito na assimilação que o indivíduo realiza em relação a realidade. “ (ROSAMILHA apud OLIVEIRA, 1986, p.19).

Pelas definições acima expostas, podemos perceber que há grande dificuldade em se encontrar uma concordância sobre o que significa o comportamento de brincar. Se, por um lado, para alguns autores, o brincar é livre e se opõe a toda regra fixa, por outro, podemos questionar as idéias dos autores que vêem o brincar como meio para descarga de energias, isto é, não lhe atribuindo importância.

Parece, pois, que vários motivos levam a criança a brincar. Não é, portanto, somente por simples prazer ou para gastar suas energias que as crianças brincam. Existem amplos aspectos que devem ser considerados, não se devendo de forma alguma subestimar esta atividade, que é, sem dúvida, essencial para o desenvolvimento da criança em idade pré-escolar.

De qualquer modo, é através do brincar que a criança aprende a se preparar para o futuro e para enfrentar direta ou simbolicamente dificuldades do presente. Brincar, além de ajudar a descarregar o excesso de energias, é agradável, dá prazer à criança e estimula o desenvolvimento intelectual da mesma. As crianças brincam porque esta é uma atividade agradável e ao brincar a criança exercita também a mente, além do corpo, pois ambos estão envolvidos. O brincar é muito importante porque, além de estimular o desenvolvimento intelectual da criança, ensina, sem forçá-la, os hábitos necessários para seu crescimento.

De seu lado, Bomtempo apud Kishimoto (1996) faz um levantamento de como as crianças brincam. Segundo ela, as crianças têm várias maneiras de brincar, tanto sozinhas, como em grupo. Quando a criança é muito pequena, por exemplo, seu mundo, de certo modo, é muito restrito; ela não tem condições de brincar com um número grande de pessoas; no máximo, com duas ou três crianças, ou sozinhas. Além disso, nem sempre ao dividir os brinquedos, as crianças, nessa idade, estão brincando juntas e, sim, muitas vezes, brincam uma ao lado da outra, porém, sem brincar uma com a outra. Ao falar de crianças maiores, a autora coloca que estas já conseguem se organizar em grupos mais amplos e, na maioria das vezes, dividem tarefas, desenvolvendo atividades iguais ou semelhantes.

Bandet & Sarazanas (apud Andrade, 1994) também mostram preocupação sobre a forma como as crianças brincam e colocam que todos os meios de educação deveriam informar-se sobre este aspecto e sobre os objetos que poderiam ajudar na atividade construtiva da brincadeira. Acrescentam ainda que não se pode conhecer nem educar uma criança sem saber por que e como ela brinca.

Cunha (1998), por sua vez, coloca que “brincando a criança experimenta, descobre, inventa, exercita e confere suas habilidades” (p. 9). Acrescenta ainda que brincar é um dom natural que contribuirá no futuro para o equilíbrio do adulto, pois o ato de brincar é indispensável à saúde física, emocional e intelectual da criança.

Já Wayskop (1995) afirma que a brincadeira precisa perder o caráter de jogo e, assim, ganhar confiança para poder mostrar que é útil ao futuro da criança, para poder ser aceita como atividade infantil. Também acrescenta que a atividade do brincar tem sido reconhecida como uma forma mais livre e informal de educação de crianças em idade pré-escolar.

Estabelecida à caracterização geral do que é o “brinquedo” e em que consiste o “brincar”, passamos agora a enfocar, de maneira mais específica, a teoria de um dos autores que mais têm contribuído para a compreensão do papel do brinquedo/brincar no desenvolvimento da criança em idade pré-escolar – a teoria de Piaget.

Como veremos, para esse autor, a criança em idade pré-escolar conhece o mundo através do relacionamento que ela estabelece com pessoas e objetos, sendo que deste mundo fazem parte o brinquedo e os jogos, ambos assumindo diferentes modalidades e contribuindo de diferentes formas para o desenvolvimento do pensamento infantil.

O brincar também contribui para a aprendizagem da linguagem, que funciona como instrumento de pensamento e ação, para ser capaz de falar sobre o mundo, a criança precisa saber brincar com o mundo com a mesma desenvoltura que caracteriza a ação lúdica. “O brincar de se esconder é sua primeira atividade lúdica e com ela elabora a angústia de desprendimento, a desolação por um objeto que deve perder.” (ABERASTURY, 1992, p.26)

Para esta autora ao final do primeiro ano, o globo e, depois, a bola constituirão o centro de seu interesse. As fantasias de união vão dando origem ao forte desejo de ter um filho. O corpo de sua mãe e também o seu próprio estão simbolizados nas formas esféricas. A menina e o menino se identificam com a mãe, querem um filho dentro de seu corpo, imaginando-no e brincam com esse desejo. Esse filho é o que depois se tornará palavra, já que a palavra é para a criança um objeto concreto, capaz de substituir magicamente o objeto real externo.

2.3 O jogo em sala

Jogando, alunos e professores são instigados a saber mais, em diferentes áreas e níveis de complexidade, devido às exigências do próprio jogo, em um clima de animação que sugere, freqüentemente, aos observadores externos, bagunça, mas que na verdade traduz a alegria de saber e de conviver. Enquanto joga, o aluno desenvolve a iniciativa, a imaginação, o raciocínio, a memória, a atenção, a curiosidade e o interesse, concentrando-se por longo tempo em uma atividade. Cultiva o senso de responsabilidade individual e coletiva, em situações que requerem cooperação e coloca-se na perspectiva do outro.

Como se vê, as brincadeiras e os jogos são espaços privilegiados para a promoção do desenvolvimento e da aprendizagem. Mas para isso, é necessário que o jogo seja proposto de forma que o aluno possa tomar decisões e agir de maneira transformadora sobre conteúdos significativos e acessíveis para ele.

A partir da evolução das estruturas mentais propostas por Piaget, temos os diferentes tipos de jogos: de exercício, onde a fundamental característica da criança neste seu primeiro estágio de vida é obter a possibilidade de satisfação de suas necessidades. Se caracteriza pela repetição de uma ação pelo prazer que ela proporciona e é uma das primeiras atividades lúdicas do bebê. É o que acontece quando ele joga objetos no chão diversas vezes ou balançar o chocalho sem parar. Já no jogo simbólico a brincadeira de faz-de-conta, também conhecida como simbólica, de representação de papéis ou sociodramática, é a que deixa mais evidente a presença da situação imaginária. Envolve o faz-de-conta, a representação que ocorre quando os alunos brincam de pirata, de escolinha, de casinha ou de super-heróis. Também acontece quando as crianças manipulam objetos atribuindo a eles significados diferentes do habitual, como tratar um cabo de vassoura como cavalo. Nos jogos de regras, a atividade lúdica do ser socializado está pre
sente nos jogos de regras, movimento/momento de experimentação humana, em que as modificações ocorridas na criança encontram a reversão do pensar operatório concreto. Exige que os participantes cumpram normas e passem a considerar outros fatores que influenciam no resultado, como atenção, concentração, raciocínio e sorte. E por fim, os jogos de construção, que são considerados de grande importância por enriquecer a experiência sensorial, estimular a criatividade e desenvolver habilidades da criança. A atividade principal é construir e usar diversos objetos para criar um novo. Pode ser uma cidade com blocos de madeira ou um aviãozinho de sucata.

3. DEFINIÇÃO E IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA

São várias as concepções sobre o brincar entre psicólogos e filósofos. Para uns, é a energia acumulada do indivíduo que precisa ser descarregada; para outros, significa uma forma de relaxamento, após um trabalho cansativo, tendo a finalidade de repor energias gastas; o brincar pode também representar uma preparação para a vida futura; ou ainda, uma atividade relacionada à representação do passado.

Esses pensamentos, no entanto não estão relacionados à brincadeira como prática pedagógica. A brincadeira a que vamos nos referir neste trabalho está fundamentada em uma teoria construtivista da aquisição do conhecimento.

Dentro da teoria construtivista, que representa a psicologia cognitiva, podemos citar Piaget, que via no brincar uma atividade importante da criança, visto que, ao manipular o mundo externo em suas representações simbólicas, ela faz o reconhecimento de seu meio social que será continuamente encaixado aos esquemas já construídos.

Seguindo ainda esta teoria, Vygotsky, entende a brincadeira como uma ação imaginária representada pela criança, através do contato com sua realidade social. Desta forma, o faz-de-conta é uma brincadeira que possui um “papel central na aquisição da linguagem e das habilidades de solução de problemas por parte das crianças”. (SPODEK; SARACHO, apud WAJSKOP, 1995, p. 64)

Face o exposto, entende-se que o brincar apresenta-se por meio de várias categorias de experiências. Essas categorias incluem o movimento e as mudanças da percepção resultantes da mobilidade física das crianças; a relação com objetos e suas propriedades físicas assim como a combinação e associação entre eles; a linguagem oral e gestual que oferecem vários níveis de organização a serem utilizados para brincar; os conteúdos sociais, como papéis, situações, valores e atitudes que se referem à forma como universo social se constrói; e, finalmente, os limites definidos pelas regras, constituindo-se em um recurso fundamental pra brincar. Estas categorias de experiências podem ser agrupadas em três modalidades básicas, quais sejam, brincar de faz-de-conta ou com papéis, considera como atividade fundamental da qual se originam todas as outras; brincar com materiais de construção e brincar de regras.

Houve um tempo em que era extremamente nítida a separação entre brincar e o aprender. Os momentos de uma atividade e os momentos de outra eram separados por rígido abismo e não se concebia que fosse possível aprender quando se brincava. (ANTUNES apud MACEDO, 2004, p.11)

O conceito de que o brincar está distante do saber foi literalmente superado por tudo quanto hoje se conhece sobre a mente infantil e não mais se duvida que é no ato de brincar que toda criança se apropria da realidade imediata, atribuindo-lhe significado.

Brincando, as crianças constroem seus próprios mundos e dos mesmos fazem o vínculo essencial para compreender o mundo do adulto, ressignificam e reelaboram acontecimentos que estruturam seus esquemas de vivências, sua diversidade de pensamentos e a gama diversificada de sentimentos. (ANTUNES, apud MACEDO, 2004, p.12)

Para utilizar as brincadeiras no dia-a-dia, é preciso que o educador seja criativo. Não é necessário a utilização de brinquedos caros que, muitas vezes, não tem muita utilidade pedagógica. Com poucos recursos e muita força de vontade e comprometimento é possível obter bons resultados, afinal, o que mais importa é a maneira como os materiais são utilizados, contribuindo para o processo ensino/aprendizagem.

Brincar favorece a auto-estima, a interação com seus pares e, sobretudo, a linguagem interrogativa, propiciando situações de aprendizagens que desafiam seus saberes estabelecidos e destes fazem elementos para novos esquemas de cognição. “Através do jogo simbólico a criança aprende a agir e desenvolve a autonomia que possibilita descobertas e anima a exploração, a experiência e a criatividade”. (ANTUNES, Apud MACEDO, 2004, p. 13)

Vygotsky considera o brinquedo como uma importante fonte de promoção de desenvolvimento. “O termo ‘brinquedo’ empregado por Vygotsky num sentido amplo, se refere principalmente à atividade, ao ato de brincar” (REGO, 1995, p. 80). De acordo com Vygotsky, através do brinquedo, a criança aprende a atuar numa esfera cognitiva que depende de motivações internas. Nessa fase, ocorre uma diferenciação entre os campos de significado e da visão.

A importância das brincadeiras é que humanizam as crianças e possibilitam-lhes ao seu modo, e ao seu tempo, compreender e realizar, com sentido, sua natureza humana, bem como o fato de pertencerem a uma família e a uma sociedade em determinado tempo histórico e cultural. A criança que brinca tem o domínio da linguagem simbólica. A brincadeira ocorre por meio da articulação entre a imaginação e a imitação da realidade anteriormente vivenciada.

3.1 A brincadeira na educação infantil

Atualmente, é crescente o reconhecimento de que a brincadeira constitui-se num elemento chave para o próprio desenvolvimento humano. O brincar tem sido estudado e discutido continuamente por diferentes autores. Antunes (2004) explica a relação entre o brincar e o aprender:

Toda a criança, distanciada da criação desse ‘mundo’, afasta-se da significação do ‘outro mundo’ que, como adulto, buscará decifrar e estabelecer linhas de convivência. É com triste freqüência que se descobre que muitos desses desajustes adultos ancoram-se na ausência ou distância do devaneio tão marcante no ‘faz-de-conta’ com o qual se arquitetou o mundo infantil. Não é, pois, sem razão que a brincadeira representa sólido eixo da proposta educativa de uma escola de educação infantil. (ANTUNES, apud MACEDO, 2004, p. 12)

Alguns estudos mais recentes referentes à brincadeira na pré-escola indicam que há um consenso sobre a importância da brincadeira na formação social do indivíduo.

Macedo (1995), ao discutir a importância da brincadeira na escola, coloca que esta pode ser considerada uma experiência fundamental ao indivíduo, pois possibilita maior intimidade com o conhecimento, construção de respostas por meio de um trabalho lúdico, simbólico e operatório integrados. “a brincadeira tem um sentido espiritual, filosófico, cognitivo, cultural, simbólico e operatório”. (MACEDO, 1995, p. 17)

No entanto, as pesquisas quando analisam o papel da brincadeira na escola, na prática cotidiana, revelam que esta toma outro rumo: quando se concretiza na prática é comum ser transformada apenas em atividades didáticas diretivas e destituídas de significado. O papel do professor também não está basicamente associado à idéia de prontidão, disfarce (aprender brincando) e passatempo.

Wajskop (1995), preocupada em pesquisar as condições concretas na escola que favorecem o desenvolvimento das brincadeiras pelas crianças, relata que a escola prioriza a preparação da criança para o ensino fundamental, utilizando-se das brincadeiras apenas como recurso didático de sedução. A autora propõe períodos longos entre as atividades dirigidas, para que a criança tenha espaço para brincar livremente, sugere também a organização do ambiente, incorporação da brincadeira no currículo, integração do professor nas brincadeiras – às vezes como observador, outras como participante ativo.

O aspecto de envolvimento emocional que torna a brincadeira uma atividade com forte teor emocional, capaz de gerar um estado de viração e euforia, mobiliza os esquemas mentais de forma a acionar e ativar as funções psiconeurológicas e as operações mentais, estimulando o pensamento. Integra as dimensões afetiva, motora e cognitiva da personalidade.

As brincadeiras proporcionam flexibilidade, organização e objetivos. Existem determinados objetivos que se podem atingir mediante o recurso à brincadeiras específicas, desde que se controlem as suas orientações.

As brincadeiras podem ser praticadas de maneira construtiva e não como uma série de preenchimento de lacunas em lições, ou como atividades sem sentido. As brincadeiras podem resolver problemas, ajudar a remover as barreiras entre os indivíduos, criam interesses e despertam entusiasmo. Postos em prática com uma finalidade e com eficiência, podem tornar-se a moldura na qual se desenvolvem todas as outras atividades.

O brincar colabora com a promoção da comunicação afetiva, alarga determinadas áreas de reações e, como reforço, dá às crianças maior segurança, desenvolve suas idéias e a sua própria expressão. O prazer gerado a partir das brincadeiras resulta, mais do que qualquer outro recurso, no desenvolvimento da identidade de grupo. Enfim, criança precisa de brincar para aprender com eficiência.

Em recentes pesquisas sobre as relações entre brincadeira e educação, constata-se que a aprendizagem é o mais freqüente motivo pelo qual o brincar é considerado importante para a educação infantil, onde muitos educadores ainda são resistentes a assimilá-los à aprendizagem, ainda que reconheçam sua importância para o desenvolvimento da criança.

A brincadeira precisa ocupar seu lugar para que não fique tão largada dispensando o educador, dando margem a práticas educativas espontaneístas que envolvem o brincar, nem tão dirigida que deixe de ser brincadeira, explica Ramos apud Fortuna (2004). O educador deve desempenhar o seu papel em relação ao brincar na Educação Infantil e é imprescindível que saiba como fazer isso.

Brincar é uma atividade paradoxal: livre, imprevisível e espontânea, porém, ao mesmo tempo, regulamentada; meio de superação da infância, assim como modo de constituição da infância; maneira de apropriação do mundo de forma ativa e direta, mas também através da representação, ou seja, da fantasia e da linguagem (Wajskop, 1995, p. 47)

O primeiro paradoxo contido no brinquedo é que a criança opera com um significado alienado numa situação real. O segundo é que, no brinquedo, a criança segue o caminho do menor esforço. Ela faz o que mais gosta de fazer, porque o brinquedo está munido de prazer.

É desse modo que Brougère chega à afirmação de que a brincadeira não é naturalmente educativa, mas torna-se educativa pelo processo de formalização educativa. Todavia, adverte: “o brincar pode possibilitar o encontro de aprendizagens. É uma situação comportando forte potencial simbólico que pode ser fator de aprendizagem, mas de maneira inteiramente aleatória, dificilmente previsível” (BROUGERE, apud WAJSKOP, 1995, p. 48)

A dificuldade que os educadores infantis encontram em incluírem a brincadeira na escola infantil sem incorrer na didatização ou no abandono do brincar adquire uma configuração original em razão a pendulação histórica entre o ensino dirigido na escola infantil e sua evitação através da defesa da exclusividade do brincar (BROUGERE apud WAJSKOP, 1995, p. 50)

O professor de educação infantil que realiza seu trabalho pedagógico na perspectiva lúdica observa as crianças brincando e faz disso a ocasião para reelaborar suas hipóteses e definir novas propostas de trabalho.

Além disso, como aponta Kishimoto, (2002, p. 23), “o educador não deve exigir das crianças descrição antecipada ou posterior das brincadeiras, pois se assim o fizer, não estará respeitando o que define o brincar, isto é, sua incerteza e improdutividade”, embora esteja disponível para conversar sobre o brincar antes, durante e depois da brincadeira.

A escola deve ser um lugar onde o aluno possa investigar e construir seu próprio pensamento e dominar suas ações e é através da atividade lúdica que se produz aprendizado espontâneo. Nesse sentido, é necessário que o educador insira o brincar em um projeto educativo, que supõe intencionalidade, ou seja, ter objetivos e consciência da importância de sua ação em relação ao desenvolvimento e aprendizagem infantis.

Assim como é importante o cuidado com a alimentação, higiene e necessidades básicas da criança é igualmente expressivo o afeto dedicado a ela, também como os estímulos através de uma recepção calorosa aos seus anseios e necessidades que só serão supridas através das brincadeiras propiciadas dentro de um programa.

Se a ciência mostra que o período que vai da gestação até o sexto ano de vida é o mais importante na organização das bases para as competências e habilidades que serão desenvolvidas ao longo da existência humana, prova-se que a Educação Infantil efetivamente é tudo, mas é essencial que possamos refletir sobre como fazê-la bem e descobrir que esse bem fazer vai muito além de um “desejo” sincero e um “amor” pela criança.

Hoje não mais de discute que período que se estende do nascimento até os seis anos de idade é aquele no qual se formarão mais de 90% das conexões cerebrais e, sobretudo, que o adulto em que a criança se transformará depende muito pouco de suas base genéticas e muito de suas interações com os estímulos do ambiente.

Acreditar que a educação infantil é tudo significa “tudo aprender e tudo fazer para que esse trajeto educacional se torne realidade” (ANTUNES apud MACEDO, 2004, p. 13). Neste aspecto, é importante que cada educador infantil procure fazer a sua parte no sentido de contribuir para o desenvolvimento de seus alunos, valorizando o que a criança mais sabe e gosta de fazer: o ato de brincar.

Pressupõe-se, com isso, que a criança encontra-se em um contexto de relações humanas positivas, favoráveis à valorização do seu “eu”, ambiente de relações desprovido de ameaça ou desafio à concepção que o sujeito faz de si mesmo. É esse o ambiente favorável ao crescimento e ao desenvolvimento de criatividade, confiança, bom humor, autoconceito positivo.

A educação deve se voltar para a busca de um modo mais saudável de aprender, permitindo às crianças uma interação lúdica que garanta felicidade, prazer, satisfação e vontade de aprender, desempenhando como elemento principal o desenvolvimento físico, cognitivo, motor e psicológico infantil. Como explica Vygotsky (1984), as crianças, em suas brincadeiras,

[…] reproduzem muito do que vêem, mas é sabido o papel fundamental que ocupa a imitação nas brincadeiras infantis. Estas são, com freqüência, mero reflexo do que vêem e ouvem dos maiores, mas tais elementos da experiência alheia não são nunca levados pelas criançaS aos jogos como eram na realidade. Não se limitam a recordar experiências vividas, senão as que reelaboram criativamente, combinando-as entre si e edificando com elas novas realidades de acordo com seus desejos e necessidades. (VYGOTSKY, 1984, p. 12)

As brincadeiras devem ser incorporadas aos conteúdos diários possibilitando tudo o que a criança merece aprender e de forma prazerosa. A Educação Infantil é o melhor lugar para que isso ocorra de forma planejada e organizada e com objetivos concretos, sem dispensar a presença do educador, mas também de maneira suave para que a criança não perca o prazer do brincar devido a tal presença.

Dessa forma, oferecer diversos tipos de brinquedos aos educandos já é o início de um projeto educativo lúdico. Porém, é indispensável a observação do educador na ação do brincar para que, quando necessário, possa reestruturar suas hipóteses e fazer novas propostas de trabalho que visem incitar a atividade mental, social e psicomotora e, com isso, garantir que a criança evolua no nível em que encontra-se tanto no que diz respeito à aprendizagem de conteúdos, quanto no seu desenvolvimento.

Portanto, quando o professor tem a preocupação de colocar a brincadeira como parte integrante no planejamento diário, está dando a oportunidade de a criança aprender com prazer, preparando-se para um mundo cada vez mais complexo e dinâmico, aguçando sua curiosidade natural e sua vontade de experimentar.

4. A IMPORTÂNCIA DO LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Durante muito tempo confundiu-se “ensinar” com “transmitir”, o aluno era um agente passivo da aprendizagem e o professor era o transmissor da aprendizagem. Acreditava-se que a aprendizagem ocorria com repetições de termos e exercícios, e, o aluno que não aprendesse era responsabilizado pelo seu fracasso e no final do ano era castigado com a reprovação. Hoje essa idéia é abominada, pois sabemos que não existe ensino sem que ocorra aprendizagem, e esta só acontece com a ação do professor como mediador da aprendizagem juntamente com a busca constante do conhecimento, partindo do aluno.

Diante da constante evolução da humanidade, a criança também tem evoluído, e dessa forma, necessita-se que sejam propostas condições para que ela se desenvolva de maneira que os conhecimentos adquiridos sejam absorvidos e conseqüentemente, seu desenvolvimento seja estabelecido de acordo com as necessidades educacionais vivenciadas.

Ao trabalhar com crianças da educação infantil, o educador possibilita que seus alunos estabeleçam uma relação com o meio que o cerca, oportunizando o desenvolvimento, pois este se dá entre o sujeito e o meio onde ele está inserido, e o lúdico influencia enormemente no desenvolvimento da criança. É através de brincadeiras e jogos que a criança aprende a agir, sua curiosidade é estimulada, adquire iniciativa e autoconfiança, proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração.

Diversos autores afirmam que conceituar o jogo não é tarefa fácil. Segundo Kishimoto (2005, p.13), “quando se pronuncia a palavra jogo cada um pode entendê-la de modo diferente”.

Os jogos possuem diferentes significações variando sua imagem de acordo com o contexto social. Para Kishimoto (2005, p.17) “(…) cada contexto social constrói uma imagem de jogo conforme seus valores e modo de vida, que se expressa por meio da linguagem”.

Nesse sentido, o sistema lingüístico possui um papel fundamental na utilização de brincadeiras e jogos tendo em vista que é por meio desses que surge uma série de fatos e atitudes de forma que o ato de brincar remete a linguagem cotidiana.

Vale ressaltar que o educador como profissional articulador do estímulo do desenvolvimento educacional, priorize meios que propiciem o aprendizado, tendo como base o desenvolvimento corporal, afetivo e cognitivo da criança, já que esses devem ocorrer concomitantemente.

Através do jogo, a criança se preocupa com a aquisição do conhecimento e desenvolvimento das habilidades física e mental. Por meio dessa forma lúdica de ensinar, o educador faz com que o aluno viva experiências, como medo e a perda, além de conhecerem conceitos e regras. A criança gosta de regra, especialmente porque é por meio da regra que a criança forma uma base, uma estrutura, uma confiança em si e nos colegas.

É através dessa forma descontraída de educar, que a criança poderá acumular experiências e assim, aprenderá a viver, vencendo seus medos e amadurecendo aos poucos, pois este lúdico proporciona que a criança conheça regras, entenda-as, identifique os contextos em que são utilizadas e inventem outros contextos modificando essas mesmas regras, além de dispor-se à incerteza e ao risco, exercitando-se, assim, para enfrentar os acontecimentos acidentais da vida cotidiana.

Para Kishimoto (2005, p.79-80):

“…as concepções sócio-interacionistas partem do pressuposto de que a criança aprende e desenvolve suas estruturas cognitivas ao lidar com o jogo de regra. Nessa concepção, o jogo promove o desenvolvimento, porque está impregnado de aprendizagem. E isto ocorre porque os sujeitos, ao jogar, passam a lidar com regras que lhes permitem a compreensão do conjunto de conhecimentos veiculados socialmente, permitindo-lhes novos elementos para apreender os conhecimentos futuros”

Nesse contexto, ao jogar a criança vivencia uma forma eficaz de aprendizagem que propicia estímulos a sua imaginação e melhora o processo de aprendizagem, tendo em vista que o ensino deve valorizar algumas características naturais da criança como o questionamento e a vontade de conhecer o novo.

Sendo assim, através das brincadeiras a criança adquire liberdade de se tornar um sujeito ativo, possibilitando a facilitação do ensino do professor, pois ocorrendo a participação do aluno acontecerá uma integração na sala de aula, de forma que o professor observará com maior facilidade as necessidades dos alunos.

Para estimular a criatividade do educando necessita-se que sejam criadas condições favoráveis, que abranjam um contexto que esteja de acordo com os objetivos almejados, envolvendo professor e aluno em atitudes adequadas que favoreçam a absorção dos conhecimentos.

Segundo Antunes (1998, p.38):

Em geral, o elemento que separa um jogo pedagógico de um outro de caráter apenas lúdico é que os jogos ou brinquedos pedagógicos são desenvolvidos com a intenção explícita de provocar uma aprendizagem significativa, estimular a construção de um novo conhecimento e, principalmente, despertar o desenvolvimento de uma habilidade operatória.

Convém lembrar que a utilização dos jogos e brincadeiras na educação infantil deve ser feita de forma trabalhada, relacionando os objetivos dos mesmos e vivências, pois só assim, serão desenvolvidas as potencialidades das crianças.

Sendo o jogo parceiro do professor no processo de desenvolvimento da criança na educação infantil, quando o educador planeja e se prepara para sua utilização com intuito de introduzir o lúdico educativo no aluno, a aprendizagem se torna mais flexível, solidária e interativa.

Dessa forma, a criança que participa de aulas em que o professor utiliza jogos e brincadeiras como recurso de ensino, se sente familiarizada com esse método de aprendizagem, pois este já faz parte de seus hábitos cotidianos, e dessa forma, o desenvolvimento fluirá naturalmente.

A percepção de que o jogo faz parte da cultura nos mostra que ele transcende as necessidades imediatas da vida e significa alguma coisa para quem o joga. O jogo poderá preparar ludicamente um jovem para tarefas sérias futuramente ou até mesmo servirá como exercício de autocontrole indispensável ao indivíduo.

De um modo resumido, Huizinga (2004) nos esclarece sobre o estudo histórico-sociológico do jogo, contribuindo para o entendimento desse conceito:

Numa tentativa de resumir as características formais do jogo, poderíamos considerá-lo uma atividade livre, conscientemente tomada como “não séria” e exterior à vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorver o jogador de maneira intensa e total. É uma atividade desligada de todo e qualquer interesse material, com a qual não se pode obter qualquer lucro, praticada dentro de limites espaciais e temporais próprios, segundo uma certa ordem e certas regras. Promove formação de grupos sociais com tendência a rodearem-se de segredo e a sublinharem sua diferença em relação ao resto do mundo por meio de disfarces ou outros meios semelhantes. (HUIZINGA, 2004, p.16).

Nesta obra, Huizinga (2004) faz uma revisão dos jogos desde os tempos mais remotos como forma de diversão e formação social, seguindo pelos estudos da importância dos jogos e brincadeiras na formação do indivíduo no século XVIII, até o elemento lúdico na formação contemporânea. Seus conceitos são fundamentais para um entendimento significativo da importância do jogo na vida do ser humano. O autor aponta duas características básicas do jogo, acrescentando o caráter de discernimento que a criança tem entre o real e o imaginário:

“… chegamos, assim, à primeira das características fundamentais do jogo: o fato de ser livre, de ser ele próprio liberdade. Uma segunda característica, intimamente ligada à primeira é que o jogo não é vida “corrente” nem vida “real”. Pelo contrário, trata-se de uma evasão de “vida real” para uma esfera temporária de atividade com orientação própria. Toda criança sabe perfeitamente quando está só fazendo de conta” (HUIZINGA,2004, p.11).

Nesta perspectiva conclui-se que o jogo é cativante e fascinante por permitir ao indivíduo transportar-se para um espaço diferente da vida cotidiana, colocando-se num mundo de representações, dando liberdade e alivio as tensões, possibilitando se divertir mesmo que tenha que respeitar regras e manter a atenção nas atividades previstas pelo jogo.

Segundo Huizinga (2004), o jogo pode ser dividido em dois aspectos: uma luta por alguma coisa ou a representação de alguma coisa, onde os dois aspectos podem ser confundidos, de modo que o jogo passe a representar uma luta ou se torne uma luta para melhor representar. A representação significa mostrar, exibir perante alguém, e isto na criança chega a ser um prazer a ponto de perder o sentido do real dando asas à sua imaginação. A realização pela representação conserva sempre as características formais do jogo e a criança sabe que é temporário, mas, seus efeitos não terminam após o jogo, ele sempre trará uma influência benéfica garantindo uma aprendizagem significativa para uma próxima vez.

Na escola não poderia ser diferente, o jogo é um desafio que tem a capacidade de criar e renovar, pois, sempre que jogamos e esclarecemos sobre os resultados obtidos, os alunos ficam na expectativa de jogar novamente para tentar superar o resultado obtido anteriormente.

Desta forma, o jogo não representa apenas as experiências vividas, mas prepara o indivíduo para o que está por vir, pois, exercita habilidades e, principalmente, estimula o convívio social. Por tudo isso, ressalta o grande valor educativo do jogo e a importância de se trabalhar esse conteúdo nas escolas, de forma comprometida com a formação física, intelectual, moral e social do aluno.

Percebe-se, no entanto, a importância do professor em se fazer presente não apenas no ato de repassar o conteúdo para o aluno, mas também estar atento à absorção dos conteúdos repassados aos alunos, buscando perceber o que eles estão ou não incorporando, e nesse sentido, procurando introduzir entre as várias opções de jogos os mais adequados ao estímulo da aprendizagem do aluno e conseqüentemente do seu desenvolvimento para que possa obter melhores resultados. O professor possui o papel de mediador de conhecimentos a serem adquiridos pelos seus alunos; através da colaboração de um indivíduo mais experiente a criança pode construir e ampliar conceitos, os quais ela não teria condições de realizar sozinha naquele momento de seu desenvolvimento.

Dessa forma, o professor como mediador do conhecimento, tem a função de proporcionar na criança através dos jogos educativos, o estímulo do despertar para o conhecimento através da brincadeira, permitindo assim, a ação e a compreensão das diversas atividades vivenciadas.

Sendo assim, entende-se a necessidade de o educador manter um papel ativo no desenvolvimento das aprendizagens a serem repassadas para os seus alunos, procurando estar sempre intermediando as ações dos alunos, incentivando, orientando, organizando situações de aprendizagem e adequando-as à realidade dos alunos.

As brincadeiras infantis são fundamentais para o desenvolvimento das aptidões físicas e mentais da criança, e estas agem como agente facilitador para a crianças estabelecer vínculos sociais com os seus semelhantes, descobrir sua personalidade, aprender a viver em sociedade e preparar-se para as funções que assumirá na idade adulta.

Portanto, conclui-se que os jogos e brincadeiras infantis não devem ser vistos pelo professor somente como entretenimento, mas como atividades que possibilitam a aprendizagem de várias habilidades, pois são recursos capazes de contribuir para o desenvolvimento das funções cognitivas da criança.

4.1 As estratégias do professor na utilização de jogos e brincadeiras

A educação está oportunizando mudanças no pensar da criança e percebe-se que o seu modo de olhar o mundo já não é mais o mesmo. É nessa perspectiva que se apresenta a educação Infantil: a oportunidade de dar às crianças uma “nova” infância. Uma infância que tem de ser respeitada em seus interesses e curiosidades, em que a criança deve brincar muito e, através da brincadeira, desenvolver suas potencialidades.

O desenvolvimento mental da criança, antes de seis anos de idade, segundo Piaget, pode ser sensivelmente estimulado através de jogos. A brincadeira representa tanto uma atividade cognitiva quanto social e através das mesmas as crianças exercitam suas habilidades físicas, crescem cognitivamente e aprendem a interagir com os outros (ANTUNES, 1998, p.73).

O momento da brincadeira possui grande importância, pois contribui para o desenvolvimento do potencial integral da criança. Sendo também o espaço que proporciona liberdade criadora, oportunidades de socialização, afetividade e um encontro com o seu próprio mundo, descobrindo-se de maneira prazerosa.

Partindo desse pressuposto, e por acreditar que, muitas vezes, as brincadeiras não têm feito parte do currículo escolar, sendo ignoradas no planejamento diário, propõe-se uma reflexão acerca da utilização da brincadeira em seu aspecto pedagógico nas escolas de Educação Infantil.

Segundo ANTUNES (1998),

O jogo ganha um espaço como ferramenta ideal da aprendizagem, na medida em que propõe estímulo ao interesse do aluno, que como todo pequeno animal adora jogar e joga sempre principalmente sozinho e desenvolve níveis diferentes de sua experiência pessoal e social. O jogo ajudo-o a construir sua novas descobertas, desenvolve e enriquece sua personalidade e simboliza um instrumento pedagógico que leva ao professor a condição de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem. (ANTUNES, 1998, p.36).

A atividade lúdica é uma importante fonte ao educador, trazendo informações sobre os interesses de seus alunos, suas interações, suas habilidades de adaptação às regras, etc. Com base nessas observações, o educador tem a oportunidade de programar atividades pedagógicas direcionadas.

Ao programar as atividades, é interessante que o educador associe também alguns questionamentos relativos à idade, capacidades, preferências e outras particularidades, visando o prazer e os efeitos positivos que o jogo proporciona.

Outra questão importante, além de tratar-se de um dos pontos de preocupação dos educadores infantis, refere-se à organização de um espaço adequado para a realização da atividade, para que o jogo possa ser explorado em sua totalidade.

A conveniência do ambiente é fundamental para o sucesso no uso dos jogos. “O espaço necessário à manipulação das peças é sempre imprescindível, assim como sua cuidadosa embalagem e organização, a higiene da mesa ou mesmo do chão em que o aluno usa para sua atividade”. (ANTUNES, 1998, p.41).

A atenção do educador é fundamental no contato direto com a criança, ensinando-a como utilizar o brinquedo e brincando com ela também. Ao brincar com a criança, o educador contribui significativamente, pois assim a auxilia na construção de sua identidade cultural e de sua personalidade.

Ao utilizarmos o jogo na prática pedagógica, é interessante fazer deste um momento de conhecimento e convivência com as crianças, permitindo conhecê-las e aproximar-se de seu modo de conhecimento do mundo. É interessante voltar o olhar não apenas no que elas fazem, mas também observar o modo como elas fazem.

Neste processo, o centro de atenção passa a ser o outro, buscando para os educadores um novo sentido ao trabalho pedagógico: conhecer a criança para trabalhar com ela, para brincar com ela, para aprender com ela.

Quando o jogo é extremamente fácil ou é acima da capacidade de solução por parte do aluno, causa desinteresse e até mesmo baixa estima. Por isso, é importante que o professor planeje desafios que estimulem o aluno. É essencial que o professor utilize o jogo ou brincadeira como ferramenta de combate à apatia e como instrumento de desafios visando a interação do grupo. O entusiasmo do professor e o preparo dos alunos para um momento especial a ser propiciado pelo jogo constituem um recurso insubstituível no estímulo para que os alunos queiram jogar, e, os jogos devem ser cuidadosamente introduzidos e a posição dos alunos claramente definida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se através desta pesquisa que jogos e brincadeiras são muito importantes no processo de aprendizagem e torna a atividade pedagógica muito mais interessante e rica. Além de proporcionar prazer e alegria às crianças, o jogo pode proporcionar também outros aprendizados, como valores, comportamentos, raciocínio lógico, inserção no meio social, cooperação, aprendizado com os erros, solução de problemas, entre outros.

O desafio da utilização do jogo educativo é equilibrar o caráter lúdico e o caráter educativo. Para que isso efetivamente ocorra, é fundamental que o educador esteja preparado com materiais adequados para explorar todos os recursos que os jogos e brincadeiras podem oferecer.

Os jogos e brincadeiras educativas utilizadas com intuito de enfatizar o desenvolvimento da criança educam prazerosamente, e nesse sentido, os educandos da educação infantil aprendem intuitivamente, adquirindo espontaneidades.

Utilizado como função educativa, os jogos propiciam que a criança absorva diversos sentimentos e conhecimentos, além de complementar os saberes já adquiridos, tanto na escola, quanto no cotidiano vivenciado.

Em seu aspecto pedagógico, o jogo se apresenta produtivo ao professor que busca nele um aspecto instrumentalizador, e, portanto, facilitador da aprendizagem muitas vezes de difícil assimilação, e também produtivo ao aluno, que poderá desenvolver sua capacidade de pensar, refletir, analisar, compreender, levantar hipóteses, testá-las e avaliá-las com autonomia e cooperação.

O momento do jogo é algo precioso ao educador, oferecendo-lhe informações importantes a respeito de seus alunos, seus hábitos, seus interesses e duas dificuldades. A partir dessas informações, o educador pode orientar seu planejamento pedagógico.

No entanto, a presença do educador brincando junto com a criança é fundamental para o desenvolvimento de suas potencialidades. É necessária ao educador uma postura de descobrir o seu aluno, brincando com ele e aprendendo com ele também.

O objetivo desta pesquisa, de estudar na teoria e na prática a importância dos jogos e brincadeiras no processo de aprendizagem, foi atingido. A pesquisa bibliográfica despertou o interesse pelo tema no qual pude verificar e aprender que a criança pode aprender brincando.

Através do brincar, do brinquedo e dos jogos, a criança passa a compreender seu dia-a-dia, aprendendo a refletir sobre ele por meio das brincadeiras que realiza e da interação significativa com os indivíduos que fazem parte de seu mundo.

Todas essas atividades, que se realizam em um processo de maior ou menor interação, são muito importantes quando se pensa no aspecto da socialização, no decorrer do qual a criança constrói, elabora e transforma as estruturas cognitivas que lhe permitirão apropriar-se do conhecimento. Por isso, é necessário que lhe sejam dadas oportunidades de tomar decisões, estimulando suas iniciativas e a curiosidade que lhe é própria, o que lhe permitirá expressar e descobrir o que pensa. Assim agindo, estaremos contribuindo para que ela compreenda o significado dos elementos que constituem seu universo e resignifique esses elementos integrando-se em um mundo cada vez mais complexo, mas nem por isso menos humanizado.

Tudo o que foi visto evidencia, a nosso ver, a importância do brincar na vida da criança em idade pré-escolar. Conhecer por que brinca e como brinca a criança, com certeza, nos permite penetrar em um mundo mágico, em que existem medos, angústias e alegrias.

É através do brincar que a criança começa a perceber as características dos objetos, seu funcionamento e os acontecimentos ao seu redor. Participando com ela nessa atividade, podemos ajudá-la a construir e a dirigir seu raciocínio para uma visão crítica da própria realidade.

O professor tem um papel maior do que ser transmissor do conhecimento, pois o aluno é o próprio sujeito de sua formação. Para sair do papel de transmissor do conhecimento e passar a ser um mediador, o professor precisa manter uma relação de diálogo entre o aluno e o conteúdo, esta relação irá aguçar sua curiosidade e incentivá-lo a buscar seu próprio conhecimento.

O jogo, por exemplo, é um desafio que tem a capacidade de criar e renovar, pois, sempre que jogamos e esclarecemos sobre os resultados obtidos, os alunos ficam na expectativa de jogar novamente para tentar superar o resultado obtido anteriormente.

Os elementos do jogo, como o conjunto de regras, a competição, o tempo e o espaço em que ele ocorre, colocam a criança em situações de adaptação e readaptação, que provocam diferentes atitudes comportamentais e, conseqüentemente, exigem que ela desempenhe seu papel social de criança, esta é a principal importância dos jogos e brincadeiras na Educação Infantil.

Desta forma, a brincadeira e o jogo funcionam como preparação do indivíduo para situações futuras, pois eles estimulam habilidades e o convívio social. Tudo isso nos mostra a importância dos jogos e brincadeiras trabalhadas na escola, beneficiam a formação física, intelectual, moral e social do aluno. Enfim, o uso de jogos e brincadeiras com fins pedagógicos orienta-nos para a importância destes instrumentos para o desenvolvimento do ensino-aprendizagem.

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