A Linguagem Falada na Zona Urbana de Luzilândia

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O presente trabalho buscou compreender e conhecer a linguagem utilizada na sociedade, em diferentes grupos sociais, pois quando se pensa em falar sobre linguagem, acaba-se por se realizar uma atividade profunda de análise linguística. A linguagem é um fato social, onde todo ser humano que vive incluso na sociedade, independente de qual seja ela, possui sua própria linguagem. E quando se passa a questionar a fala, é como se modificasse a língua no seu contexto social e cultural, pois se sabe que existe uma grande variedade linguística em todo mundo. Com isso este estudo tem como base as diversas opiniões sobre linguagem, buscando demonstrar como ela está sendo desenvolvida na sociedade. Pois, o grande problema que a fala enfrenta é o preconceito dialetal, que deve ser enfrentado e superado na sociedade. E para isso, buscou-se salientar as diferentes formas de linguagem, a padrão, a coloquial e as gírias, retratando a importância de cada uma no meio social.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO
1 METODOLOGIA DA PESQUISA
1.1 O Campo Pesquisado
1.2 Dados dos Entrevistados
2 UM BREVE HISTÓRICO DA LINGUAGEM
2.1 A Lei de Grimm
2.2 Labov e a Linguagem
2.3 A Linguagem Falada no Brasil
2.4 A Linguagem Padrão
2.5 A Linguagem Coloquial
2.6 A Gíria
2.7 A Linguagem na Zona Urbana de Luzilândia
3 COLETA DE DADOS
3.1 A Análise de Dados
3.2 Dados Relativos à Entrevista aos Moradores
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS

INTRODUÇÃO

O ser humano sente necessidade de comunicar-se e viver em sociedade, para isso, ele utiliza a linguagem que é um fator natural de cada indivíduo, sendo que ao mesmo tempo partilha com estes, diversos saberes e conhecimentos sobre sua aprendizagem e o mundo.

Para o indivíduo a expressividade oral é algo que requer confiança em si mesmo. Isso se conquista mediante ambientes favoráveis à manifestação do que se pensa, do que se sente, do que se é. Produzir linguagem significa produzir discursos, ou seja, dizer alguma coisa para alguém, de uma determinada forma, num determinado contexto histórico.

A linguagem é uma forma de ação inter-individual que nasce com cada indivíduo, seja ela oral gestual, escrita etc. É por meio desta que a pessoa apresenta sua forma de comunicação, orientada por uma finalidade específica, um processo de interlocução que se realiza na prática social existente nos diferentes grupos de uma sociedade, nos distintos momentos da sua história.

O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, é por meio dela que o homem tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de um mundo, produz conhecimento. A idéia é que a língua está programada de alguma forma em nossa mente, como uma parte de nosso conhecimento do mundo.

Toda língua é adequada à comunidade que a utiliza. O indivíduo aprende a variedade qual é exposto e sempre existirá um conjunto de variedades linguísticas circulando no meio social.

Portanto, tornou-se como objeto de estudo a pesquisa feita com moradores de dois bairros situados no município de Luzilândia (PI) que são Centro e Cajueirão, onde se observou a diferença linguística praticada por estes.

Dessa forma, partiu-se para a análise da comunicação falada com pessoas residentes dos bairros citados anteriormente, tendo como foco o conhecimento linguístico e as diferentes variações existentes.

O presente estudo é composto por três capítulos, sendo no primeiro capítulo a apresentação da metodologia utilizada para a realização deste. No segundo, fala-se da linguagem usada pelos brasileiros, marcada por uma heterogeneidade original. Relaciona-se também como parte dessa linguagem, a padrão, a coloquial e a gíria, em particular o linguajar Luzilandense que, assim como em qualquer outra comunidade, possui a sua variedade linguística. Além de relacionar algumas gírias populares ditas pelos indivíduos residentes em um dos bairros da cidade, e que se fala também em outros municípios nordestinos. O terceiro capítulo aponta para o resultado da pesquisa feita em alguns moradores do município de Luzilândia (PI) que promove algumas diferenças entre a língua falada (língua padrão, coloquial e gíria), mostrando as situações de produção oral entre emissor e receptor.

Para finalizar foram desenvolvidas as considerações finais às quais procuram comprovar, através do seguinte trabalho, que há uma grande variação linguística no município como em qualquer outro lugar. E que essa variação é uma forma de comunicação de fácil entendimento com os demais falantes da língua.



1 METODOLOGIA DA PESQUISA

Este estudo teve como campo de pesquisa dois bairros de Luzilândia, Centro e Cajueirão, com o propósito de observar as formas de linguagem que estão sendo feitas entre os moradores e tentar entender porque em uma única cidade pode existir diferentes formas de linguagens. E com base nisso, o presente trabalho divide-se em duas etapas.

A primeira baseia-se na realização da pesquisa bibliográfica, onde se faz toda uma busca de materiais adquiridos na biblioteca e em meio eletrônico. Com essa pesquisa passa-se a conhecer a opinião de vários autores sobre o tema em estudo, adquirindo informações importantes para a realização deste estudo. Depois da leitura e análises dos teóricos, prossegue-se para a segunda etapa, a pesquisa de campo exploratória, onde leva-nos a uma pesquisa mais empírica, por meio de uma observação não participativa.

A pesquisa consiste na realização de um conjunto de ações e técnicas muito bem planejadas em um projeto de pesquisa, apresentada sequencialmente para a construção de informação original de acordo com certas exigências e pedidos.

Os materiais utilizados para a realização deste trabalho foram: uma entrevista com perguntas estruturadas durante uma conversa informal. Esse estudo foi direcionado aos moradores de dois bairros de Luzilândia-Pi, com observação em dupla tendo com objetivo principal observar a linguagem que estão sendo feitas pelos os mesmos. Os dados foram colhidos no espaço natural dos entrevistados, analisando e observando que seria maior necessidade para o esclarecimento do tema deste trabalho.

1.1 O Campo Pesquisado

O referido trabalho foi realizado na cidade de Luzilândia do estado do Piauí, nos bairros: Centro e Cajueirão. Os bairros pesquisados encontram-se localizados em diferentes partes da cidade dando assim uma diferença grande na linguagem e comportamentos diários dos moradores do mesmo.

1.2 Dados dos Entrevistados

▪ Centro

Os entrevistados do Centro da cidade são pessoas mais letradas, onde na sua maioria têm os estudos mais avançados e onde os moradores têm seus filhos mais frequentes nas escolas. E percebe-se que seu linguajar é mais padrão, mais rico.

▪ Cajueirão

A entrevista foi destinada aos jovens de 18 a 25 anos de idade. E o que se pode observar é que na sua maioria falam do jeito de seus pais, e que muitos deles não chegaram a cursar o ensino fundamental e que grande parte dos jovens desse bairro participa de programa para jovens e adultos. Porque a maioria deles são obrigados a começar a trabalhar muito cedo, deixando de lado assim a escola. E apesar de muitos programas oferecidos pelo governo, alguns moradores não chegam a frequentar a escola.

2 UM BREVE HISTÓRICO DA LINGUAGEM

Sabe-se que ao longo da história, a linguagem vem ganhando espaço nos diversos campos de estudos. Todos com o mesmo objetivo, o de compreendê-la. Hoje a linguagem é estudada por vários profissionais: psicólogos, antropólogos etc. Ambos se interessam em observar e analisar os processos cognitivos, sociais, políticos, pragmáticos etc. Todos ligados ao nascimento e evolução da comunicação humana.

Segundo Mussalim e Bentes, (2006, p. 77) “a linguística histórica estuda os processos de mudanças de línguas no tempo”. Sendo assim, todas as mudanças que ocorrem na língua dentro de uma sociedade é estudada pela linguagem.

Os estudos históricos da linguagem foram desenvolvidos principalmente a partir do século XIX, onde foram traduzidos no latim, no grego e no sânscrito, pois a linguística só afirmou-se como ciência a partir desses três estudos.

Linguagem e sociedade estão ligadas entre si de modo inquestionável. Mais do que isso, podemos afirmar que essa relação é a base da constituição do ser humano. A história da humanidade é a história de seres organizadores em sociedade e detentores de um sistema de comunicação oral, ou seja, de uma língua. Efetivamente, a relação entre linguagem e sociedade não é posta em dúvida por ninguém, e não deveria estar ausente, portanto, das reflexões sobre o fenômeno lingüístico. (MUSSALIM; BENTES, 2006, p. 21)

Partindo deste ponto de vista, percebe-se que não se pode separar a linguagem das sociedades, pois à medida que a sociedade evolui e cresce, a linguagem se expande também, ambas estão ligadas por uma questão natural, a linguagem nasce e evolui à medida que a sociedade também evolui.

Ainda com relação à linguagem, sabe-se que há vários tipos, onde as pessoas utilizam como código ou como conjunto de signos que se combinam segundo regras e que transmite mensagens, informações de um emissor a um receptor. Nesse contexto, há necessidade de falantes dominarem esse código para que a comunicação seja efetiva, visto que o falante sempre tem em mente uma mensagem a ser transmitida a um ouvinte, ou melhor, informações que devem chegar ao outro.

Para outros, é visto apenas como instrumento de comunicação onde o indivíduo utiliza ao usar a língua, e não é somente transmitir informações a outrem, mas sim realizações, agir, atuar sobre o interlocutor ouvinte e leitor. Sendo assim, a linguagem é lugar de interação humana e comunicativa pela produção de efeitos e sentidos entre interlocutores.

No final do século XVIII Sir William Jones, sendo um juiz inglês na Índia, propôs que o latim, o grego e o sânscrito eram línguas que apresentavam semelhança entre si. No entanto, ele foi mais além, apesar de demonstrar a semelhança entre as línguas citadas, com seus métodos de correspondência de som, e mesmo buscou comprovar as suas teorias, como também hipotetizou que as três línguas eram derivadas de outra língua, possivelmente já existente, sendo “proto-indo-europeu”, segundo Mussalim e Bentes (2006, p. 77). Partindo deste contexto, percebe-se que era o início de estudos sistemáticos em Linguistica e Histórica e Comparativa, que, graças a variedade de registros históricos, se concentraram nas línguas indo-européias.

Vários estudiosos depois de Sir William Jones, como os Dinamarqueses Rasmus Rask e Karl Verner e o alemão Jacob Grimm se interessaram para o estudo e o entendimento das relações entre as línguas indo-européias.

2.1 A Lei de Grimm

Segundo Mussalim e Bentes (2006, p. 78), “Rask descobriu e um pouco mais tarde Grimm aperfeiçoou analiticamente as seguintes mudanças com relação à língua-mãe, o proto-indo-europeu (PIE)”:

1) as consoantes oclusivas surdas( p, t, k, kw ) do PIE mudaram em fricativas surdas correspondentes ( f, v, h, hw ) nas línguas germânicas. 2) as consoantes oclusivas sonoras ( b, d, e, gw ) do PIE mudaram em oclusivas surdas correspondentes ( p. t, k. kw ) nas línguas germânicas. 3) as consoantes aspiradas sonoras ( bh, dh, gh. Gwh ) do PIE, mudaram em oclusivas não aspiradas sonoras correspondentes ( b, d, g, gw ) nas línguas germânicas.

Percebe-se que a partir daí, começou o aperfeiçoamento e a evolução dos estudos sobre as línguas. Para a linguagem atingir o campo que se tem hoje, passou por vários processos.

2.2 Labov e a Linguagem

Não se pode falar da linguagem humana sem mencionar os nomes de William Labov, Chomsky, Bloomfield, Hjelmslev, Martinet, e Saussure.

A descrição linguística, assim como os fatores sociais que atuam na língua, somente passaram a ter êxito com os trabalhos de Labov, que logo se tornou o representante mais conhecido da chamada teoria da variação linguística.

Deve-se ter em mente que a língua não é simplesmente um veículo para se transmitir informações, mas é também um meio para se estabelecer e manter relacionamentos com outras pessoas.

A função da língua de estabelecer contatos sociais e o papel social, por ela desempenhado, de transmitir informações sobre o falante constitui uma prova cabal de que existe uma íntima relação entre língua e sociedade.

Tal relação é muito mais profunda do que se imagina. A língua como sistema acompanha de perto a evolução da sociedade e reflete de certo modo os padrões de comportamento, que variam de acordo com o tempo e o espaço.

O interesse principal dos trabalhos de Labov refere-se ao condicionamento social das línguas com relação aos fenômenos de variação e de mudanças linguísticas. É o que explica Labov (1968 apud MONTEIRO, 2000, p. 111):

A variação no comportamento linguístico em si mesmo não exerce uma decisiva influência no desenvolvimento social nem afeta as oportunidades de vida do individuo. De modo oposto, a forma de comportamento linguístico muda rapidamente quando muda a posição social do falante.

Percebe-se então que a própria fala dos indivíduos, se não tem o poder de influenciar os padrões, pode ao contrário ser afetada por estes.

A linguagem é uma forma simbólica de exprimir nossos pensamentos, ajudando a organizar nossas percepções e a formular conceitos a partir dessas percepções, além de servir de recursos indispensáveis para o ser humano em sociedade.

Em 1964, Labov fixa um modelo de descrição e interpretação do fenômeno linguístico no contexto social de comunidades urbanas conhecidas como Sociolinguistica Variacionista ou Teoria da Variação, onde teve um grande impacto na Linguistica contemporânea.

O objeto da Sociolinguistica é o estudo da língua falada, observada, descrita e analisada em seu contexto social, isto é, em situações reais de uso.

Uma comunidade de fala se caracteriza não pelo fato de se constituir por pessoas que falam do mesmo modo, mas por indivíduos que se relacionam, por meio de redes comunicativas diversas, e que orientam seu comportamento verbal por um mesmo conjunto de regras.

Segundo Orlandi (1986, p. 52):

O estudo da variação é essencial para W.Labov. Temos como um exemplo, em português, no caso da variável que é a marca de plural, a seguinte variação: os carros vermelhos/ os carros vermelho / os carro vermelho. A presença ou ausência de “S” é o que chama variante.

A linguagem não é só instrumento de pensamento ou instrumento de comunicação. Ela tem função decisiva na constituição da identidade.

Ainda não se conseguiu estabelecer um acordo sobre o que de fato constitui uma comunidade de fala.

Assim, para Labov (1972 apud MONTEIRO, 2000, p. 40):

A expressão não pode ser aplicada a um grupo de falantes que utilizam todas as mesmas formas, e, sim a um grupo que segue as mesmas normas relativas ao uso da língua. (…) numa cidade como Nova Iorque, os falantes mais idosos nãos pertencem à mesma comunidade dos mais jovens.

Sendo assim, numa comunidade de falantes, as pessoas não compartilham necessariamente a mesma língua, e sim compartilham um conjunto de normas e regras para o seu uso. Um exemplo, o português falado no Brasil e em Portugal, ou seja, embora tanto os brasileiros quanto os portugueses possam fazer parte de uma única comunidade linguística, distinguem-se quanto às regras e atitudes face ao uso do idioma.

Neste caso, de acordo com Labov, a variedade linguística é comum em qualquer comunidade de falantes.

Para Fishman (1972 apud MONTEIRO, 2000, p. 40), “o que vale é o fato de que todos os membros do agrupamento social tinham pelo menos em comum uma variedade linguistica, assim como as normas de seu emprego.”

Observou-se que Fishman quer dizer o mesmo que Labov, ou seja, que num grupo de falantes com apenas uma variedade em comum, compartilham regras, acordos ou normas para a realização dessa linguagem ou o seu emprego seja correto.

As idéias de William Labov modificam as atitudes dos educadores com relação a própria concepção de linguagem, contribuindo, através dos resultados de suas pesquisas, não só para as decisões educacionais e sim também para as decisões políticas exigidas através das questões relacionadas à diversidade linguística que vem se destacando gradativamente no mundo moderno.

Para se chegar a um entendimento do chamado português do Brasil e da sua realidade linguística é necessário cada vez uma leitura imprescindível a todos que se interessam pelos problemas de linguagem.

2.3 A Linguagem Falada no Brasil

Linguagem e sociedade estão ligadas entre si de modo inquestionável. Mais do que isso, pode-se afirmar que tal relação é a base da constituição do ser humano.

De acordo com Martin (2003, p. 55-56):

A linguagem é o conjunto das condições que tornam possíveis a construção da língua. Tais condições têm toda a chance de serem as mesmas. Qualquer que seja a língua. A linguagem é uma função humana, uma função ligada à espécie. Se uma língua é adquirida é por causa, ao menos em parte, do inatismo da linguagem: toda criança, salvo deficiência mental, é capaz de adquirir uma (ou várias) língua (s) – e não importa que língua.

De fato, as línguas só podem ser adquiridas pela aprendizagem. Como o pensamento e a linguagem estão estreitamente unidos em seus usuários, é preciso que se analisem as possíveis interferências que um deles pode ter sobre o outro, assim como o modo pelo qual eles se relacionam.

O homem procura denominar o mundo em que vive. Uma forma de ele ter esse domínio é o conhecimento. Esse é um dos motivos pelos quais ele procura explicar tudo o que existe. A linguagem é uma dessa maneiras. Ao procurar explicar a linguagem, o homem está procurando explicar algo que lhe é próprio e que é parte necessária de seu mundo e da sua convivência com os outros seres humanos.

Compreende-se, portanto, que a linguagem está incondicionalmente associada com a atividade mental humana, a qual só em virtude dela se pôde firmar a desenvolver.

Borba (1987, p. 09) escreve que

A atividade de comunicação é uma constante em qualquer escola da vida animal, todos os animais se comunicam de alguma forma e em algum período de sua vida seja por necessidade de sobrevivência seja por imperativos biológicos (…) só possíveis através de um mínimo de interação.

Muito aspecto da realidade linguística brasileira que até então haviam recebido uma importância menor por parte dos estudiosos da linguagem: incluindo-se as línguas indígenas, as línguas e os dialetos trazidos pelos africanos e pelos europeus e as inúmeras variedades regionais do português.

Geralmente, cada país tem a sua língua. É o que se chama língua comum ou língua nacional. Assim, na França, fala-se francês, no Japão, japonês. Há, porém, países com mais de uma língua nacional. A Suíça, por exemplo, tem três línguas nacionais. Por outro lado, uma língua pode ser comum a mais de um país, e, portanto, a língua nacional desses países. É o caso do Português, língua nacional de Portugal e do Brasil.

Saussure (apud CÂMARA JR,1980, p. 25) estabeleceu a diferença entre língua e fala, onde a primeira representa um fato social, e a segunda, um ato individual.

Na cidade de Brasília, existem brasileiros provenientes de todos os estados, onde os professores certamente são capazes de identificar os sotaques nordestino, gaúcho, mineiro etc. O mesmo acontece em outras grandes cidades brasileiras que são pólo de recepção no processo migratório e por isso recebem brasileiros de diversas proveniências.

Segundo Ricardo (2004, p. 30-32):

A principal marca dos falares nordestino é as vogais / e / é / o / pronunciadas abertas quando vêm na sílaba pretônica. Exemplo: o [ ó ] ração, R [ ó ] Berto, r [ é ] dendo, r [ é ] moto, v [ é ] rolade, pr [ ó ] curar. Mas há também outras marcas nesse sotaque, como o / t / pronunciado como uma consoante línguo dental diante de / i /. [ … ] No Centro – Sul do país, o fonema / t / diante da vogal / i / não tem pronuncia línguo dental e sim uma pronuncia palatal, que podemos representar assim: / tch /, como nas palavras Tiago, tijolo, tijuca e contigo.

No Brasil, a linguagem falada nas cidades litorâneas, foram sendo criadas ao longo do século XVI e XVII, como Salvador, Rio de Janeiro, Recife e Olinda, Fortaleza. São Luís, João Pessoa, entre outras, sempre tiveram mais prestígio que os falares das comunidades interioranas. Isso se explica porque as cidades brasileiras estão voltadas para a Europa e receberam um enorme contingente de portugueses nos três primeiros séculos de colonização e desenvolveram uma linguagem mais próxima dos falares lusitanos.

Hoje, no Brasil, os falares de maior prestígio são justamente os usados nas regiões economicamente mais ricas, influenciadas pelos fatores históricos, políticos e econômicos.

A aquisição da linguagem é uniforme na espécie humana. É também específica da espécie humana. Toda pessoa normal aprende uma língua humana. Mas nenhum outro animal mostrou-se capaz de um mínimo de progresso nesta direção, embora alguns animais possam aprender a resolver problemas, a usar instrumentos, etc.

Numa sociedade como a nossa, a linguagem precisa de ser ensinada e aprendida, se a quisermos em níveis mais abstratos e técnicos, principalmente porque a ascensão social está quase sempre ligada ao domínio determinados registros da língua padrão. Considerados mais importantes ou mais cultos. Por isso, a escola tem uma grande importância na aprendizagem da língua, visto que ela é a instituição social destinada a conter a desenfreada e desorganizada evolução de uma língua, como acontece com todas as línguas faladas por muitas pessoas, como o português o inglês, o espanhol, etc.

2.4 A Linguagem Padrão

Nas linguagens especiais encontram-se fatores psicológicos e sociais, entre outros, que agrupam as pessoas de acordo com a profissão, a religião, as atividades, etc. Esses grupos expressam-se através do sistema linguístico comum a todos, fazendo uso de certas particularidades expressivas e representativas desse sistema.

Como é de conhecimento, a língua varia, no tempo, no espaço geográfico, no espaço social de uma situação comunicativa para outra. Existem, portanto, várias “línguas portuguesas” cada uma das quais é uma variedade do português.

O carioca e o paraense, embora não usem o mesmo código, falam a mesma língua, porque se consideram membros da mesma comunidade linguística e, supondo-se que tinham certo grau de escolaridade, utilizam, na comunicação escrita formal, a mesma variedade dessa língua, que é a sua forma padrão. Portanto, embora existam várias “línguas” portuguesas como códigos, há um e somente um português como instituição social.

A língua padrão é a variedade culta formal do idioma. O termo norma culta não é sinônimo de língua padrão. Ocorre que a língua culta, isto é, a das pessoas com nível elevado de instrução, pode ser formal ou informal. A língua padrão é a culta, mas limitada à sua vertente formal.

A variedade padrão é a variedade linguística socialmente mais valorizada, de reconhecido prestígio dentro de uma comunidade, cujo uso é normalmente requerido em situação de interação definidas pelas comunidades como próprias. Em função da formalidade da situação, do assunto tratado da relação entre os interlocutores, etc.

Oliveira (1999, p. 65) relata que:

A gramática normativa funciona até certo ponto como padrão linguístico ideal, termo que em sociolingüística se refere a maneira como os falantes gostariam de falar (ou de escrever) em circunstâncias formais, em oposição ao padrão lingüístico real, que é a forma como eles realmente falam e escrevem nessas circunstancias.

A variedade padrão de uma comunidade, não é a língua por excelência, a língua original, da qual os falantes se apropriam como podem ou são capazes. É o resultado de uma atitude social ante a língua, estabelecida mediante um conjunto de normas que definem o modo “correto” de falar.

2.5 A Linguagem Coloquial

Cientificamente não há nada que possa fundamentar a superioridade ou inferioridade de uma forma de falar em relação a outra. Se o falar do campo é visto como errado ou inferior face à norma dita culta ou língua-padrão, isto é apenas um julgamento social, motivado por puros preconceitos contra a linguagem rural.

O modo de falar revela o que o ser humano é. Luft (1985, p. 01) diz que: “toda língua (…) é questão de uso”, ou seja, toda mudança linguística ocorre a partir do usuário da língua, do falante. É o costume que vai determinar as normas da língua e não o contrário.

A autonomia e a liberdade do indivíduo passam pela linguagem que ele utiliza. É a sua maneira de mostrar seu pensamento sobre o mundo. A língua está viva, não é algo que se esquece tão logo se saia da sala de aula.

A fala coloquial é uma fonte inesgotável de invenções vocabulares.

Um dos preconceitos mais fortes numa sociedade de classes é o que se instaura nos usos da linguagem. Se o falante é um camponês ou mora numa favela, se é analfabeto ou de baixo nível de escolaridade, é lógico que sua maneira de falar não será a mesma que a das pessoas que se situam no ápice da pirâmide social. Este falante provavelmente usará formas como rida, pranta, expilicar e musga ou construções do tipo nós veve, ele viu eu, eu vi ele etc. E, com isso, é mais discriminado ainda pela sociedade.

Com isso, Labov (1972 apud MONTEIRO, 2000, p. 65) diz que:

A variedade das classes dominadas tende a se desestruturar, quando em contato com a variedade de classe dominante, gerando inúmeros sentimentos de culpabilidade ou de inferioridade linguísticas, que cevam muitos falantes a se envergonharem de seus próprios dialetos.

2.6 A Gíria

A intolerância linguística é um dos componentes sociais mais facilmente observáveis, seja na mídia, nas relações sociais cotidianas, nos espaços institucionais etc. Na realidade, existe sempre um conjunto de variedades linguísticas em circulação no meio social.

A gíria é um vocabulário informal e peculiar usada por um determinado grupo social. A gíria dá um novo significado às formas já existentes ou que tenham sido alteradas nesse sistema linguístico comum. O objetivo da gíria é não se fazer entender por quem não pertence a um determinado grupo. Logo, ela pretende manter a identidade e a consciência de um determinado grupo social.

A criação de termos e expressões pode servir ao desejo de não se fazer entender por estranhos ao grupo. A comunidade geral tende a receber essas inovações na linguagem de forma antagônica, opondo os sentimentos de conservadorismo e de curiosidade. Assim, estamos diante de um dos mecanismos mais interessantes no que diz respeito à evolução da língua.

Cunha (2004, p. 244) aborda a transformação da linguagem especial em gíria:

[…] desde o momento em que deixe de ser uma proteção involuntária do grupo, mas no instante em que este, tomando consciência do caráter enigmático de sua linguagem, passe a usá-la voluntariamente, em ocasião oportuna, como arma não só de defesa, mas também de ataque aos profanos.

Pode-se dizer que toda gíria é uma linguagem especial, mas nem toda linguagem especial é obrigatoriamente uma gíria. Também se pode entender gíria como uma linguagem particular de um grupo caracterizado por deformações intencionais, criações anômalas, transformações semânticas, de caráter burlesco, jogos ou depreciativo. Ela é falada para excluir da comunicação as pessoas estranhas e para reforçar o sentimento de identidade dos que pertencem ao grupo.

A gíria é, portanto, derivada de contribuições variadas da língua comum, incorporando arcaísmos, neologismos, aspectos estilísticos, mudanças sintáticas e outros recursos que, a princípio, teriam o objetivo de tomar uma linguagem irreconhecível.

Embora inicialmente restrita a um pequeno grupo, muitas vezes ela passa a fazer parte da língua cotidiana.

A língua do adolescente não deve ser considerada como gíria, porque pretende atingir de forma original as pessoas de fora do seu grupo, a fim de incorporá-las a ele. No entanto, não deixa de ser gíria, porque, fora do universo do adolescente, seus falantes adotam a língua geral.

2.7 A Linguagem na Zona Urbana de Luzilândia

É sabido que em qualquer comunidade, seja ela qual for, há sempre variações linguísticas. Isso quer dizer que qualquer comunidade, seja pequena, como um distrito semi-rural pertencente a um município, ou grande, como uma capital, um estado ou um país, sempre apresentará variação linguística, que decorre de vários fatores.

O município de Luzilândia, como qualquer outro, também apresenta essa diversidade linguística.

Observa-se que nos grupos etários, os avós falam diferente dos filhos e dos netos etc. Pode-se dizer que o mesmo ocorre na sociedade como um todo.

Ricardo (2004, p. 47) relata um episódio com relação a isso:

Uma aluna de pedagogia que trabalha de dia em uma casa lotérica me relatou um episódio ilustrativo das diferenças lingüísticas associadas a grupos etários. Um cliente, já idoso, sempre a procurava para fazer o jogo e um dia ele disse: “moça, qual é a sua graça?”. Ela ficou sem entender e sem saber o que responder. Só mais tarde percebeu que a pergunta era: qual é o seu nome?

Nota-se também que a linguagem dos homens é fortemente marcada pelos chamados palavrões e gírias mais chulas, especialmente nos bairros afastados do centro da cidade, onde se pode citar o bairro Cajueirão.

Há um provérbio conhecido que diz: “Dize-me com quem andas e eu te direi quem és”. Essa sentença resume um conceito muito importante: cada um de nós adota comportamentos muito semelhantes aos das pessoas com quem convivemos em nossa rede social.

Neste bairro, de acordo com as pesquisas realizadas, há uma forte predominância de uma variedade da língua muito comum em bairros distantes do centro-local onde se concentra certas atividades comerciais, burocráticas e de serviços – é o que se denomina de gírias.

Observa-se que os falantes das gírias a desenvolver com a intenção de “impressionar” e “chamar a atenção” dos não iniciados, sobretudo por parte daqueles que residem no centro, que possuem um grau de escolarização mais elevada, além do nível social mais acentuado, por isso utilizam uma linguagem coloquial, porém com predominância da língua padrão, devido às atividades profissionais que desenvolvem, desempenhando assim, um fator condicionador de seu repertório sociolinguístico.

Utilizam-se a gíria com a finalidade de não ser compreendida pelas pessoas que não pertencem ao respectivo grupo. Além das gírias. Utilizam-se também a linguagem coloquial, porém, a primeira é a que predomina entre os falantes, sobretudo entre a juventude residente no bairro citado.

Portanto, mediante observações com relação à linguagem de alguns falantes moradores do bairro Cajueirão, pode-se destacar algumas palavras e frases consideradas como gírias:

3 COLETA DE DADOS

Qualquer língua é representada por um conjunto de variações. A linguagem não é simplesmente um meio de transmitir informações, mas é, sobretudo um símbolo de identificação do indivíduo com um determinado grupo social. Cada grupo social estabelece um contínuo de situações cujos pólos extremos e expostos são representados pela formalidade e informalidade.

A língua que uma criança aprende, aprende-a a partir dos modelos que tiver em seu convívio, qualquer que seja a situação. É durante a primeira infância que a língua materna se instala, segundo processos de aprendizagem particulares. A estrutura da linguagem humana é algo extremamente complexo. É lógico que, numa sociedade do tipo da nossa, a linguagem precisa ser ensinada e aprendida.

Segundo Lanchec (1977, p. 76)

A língua materna, bem fixada, permite-lhe organizar suas relações com o mundo exterior, segundo certas estruturas ligadas à sua língua de origem e exercer influencia permanentes sobre a segunda língua. Somente uma aprendizagem precoce, antes dos cinco anos pode permitir o domínio harmonioso e sem esforço de vários códigos lingüísticos.

Toda língua é adequada à comunidade que a utiliza, permite a um povo exprimir o mundo em que vive. Sempre existirá um conjunto de variedades linguísticas circulando no meio social. A linguagem não é, portanto meio neutro de transmitir ideias, mas sim constitutiva da realidade social, é sua parte presente e legitimadora.

3.1 Análise de Dados

Neste período de prática do estudo será apresentado o resultado encontrado da pesquisa a partir das observações e das respostas obtidas na entrevista dirigida aos moradores dos seguintes bairros: Cajueirão e Centro, situados no município de Luzilândia (PI). Sobre os aspectos: o linguajar utilizado, as diferentes variedades da língua.

3.2 Dados Relativos à Entrevista Aplicada aos Moradores

Dentre as pessoas entrevistadas foram jovens com idade entre 18 a 25 anos. Observou-se que a linguagem utilizada pelos moradores do Bairro Cajueirão é extremamente coloquial, ou seja, a gíria. Segundo eles, falam essa linguagem desde criança, pois cresceram ouvindo seus pais, amigos e a comunidade. O grau de escolaridade é muito precário, alguns estudaram até o 4º ano do ensino fundamental e outros nunca frequentaram a escola.

Já na segunda pesquisa feita no Centro da cidade o resultado é bem diferente. São pessoas onde o índice de escolaridade é mais alto. Algumas utilizam-se da linguagem coloquial, mas a que predomina é a padrão.

No decorrer da entrevista foram observadas algumas palavras e expressões utilizadas pelos moradores:

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Espera-se, com este estudo, mostrar para aqueles que se propõem a conhecer a heterogeneidade linguística dos brasileiros, em particular a linguagem do município, ou qualquer outro lugar, no qual o indivíduo está inserido. Tendo a consciência de que a língua é básica da inteligência humana, além de ter grande importância na organização da conduta da criança e no seu desenvolvimento.

As pesquisas relativas ao desenvolvimento da linguagem humana ainda estão longe de atingirem uma explicação adequada e eficiente com relação a sua organização, aquisição e evolução, visto que a cada dia surgem novos vocábulos na fala dos brasileiros de um modo em geral.

Os novos rumos tomados pela linguística, através dos estudiosos pesquisadores, sem dúvida têm relacionamento com os estudos relativos à linguagem.

Entende-se facilmente que há uma relação muito estreita entre o pensamento e a linguagem. Que há mesmo uma interdependência relativa entre eles, de tal forma que muitos pensamentos e muitos conceitos seriam irrealizáveis sem o auxílio da linguagem e que ela é, quando exteriorizada, a simbolização do pensamento, quando interiorizada, o elemento básico de sua organização.

Não é difícil compreender que todo ser humano possui uma competência linguística razoavelmente evoluída. A aquisição da linguagem é natural e espontânea em todos os seres humanos, desde que sejam colocados em contato com outras pessoas que usam alguma linguagem durante certo período.

O modo pelo qual cada indivíduo usa a sua competência linguística, não afetará em nada a sua organização, ou seja, a sua estrutura.

É fácil observar a diversidade da língua em todos os estados brasileiros, desde o norte até o sul. E que, a homogeneidade linguística é um grande mito, que pode ter consequências graves na vida social.

A língua é um dos componentes do sistema cultural. Assim como não existem línguas “inferiores”, não existem variedades linguísticas “inferiores”. Portanto, não se deve julgar “feia” a variedade dos falantes de origem rural, de classe social baixa, com pouca escolaridade, de regiões culturalmente desvalorizadas e que há línguas pobres em vocabulários.

As línguas diferem entre si em numerosos aspectos, e essas diferenças correspondem ao patrimônio expressivo da humanidade.

A escola deve mostrar aos alunos que a sociedade atribui valores sociais diferentes aos diferentes modos de falar da língua e que esses valores se baseiam em preconceitos e falsas interpretações do certo e errado linguístico, tendo consequências econômicas, políticas e sociais muito sérias para as pessoas.

REFERÊNCIAS

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BORTONI-RICARDO, Stella Maris. Educação em língua materna: a sociolinguística na sala de aula. São Paulo: Parábola Editorial, 2004.

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CUNHA, Celso Ferreira da. Em torno dos conceitos de gírias e calão. In: PEREIRA, Cilene da Cunha. Sob a pele das palavras. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: Academia Brasileira de Letras, 2004.

LANCHEC, Jean-Yvon. Psicolinguística e pedagogia das línguas. Rio de Janeiro: Zahar, 1977.

LUFT, Celso Pedro. Língua e liberdade: por uma nova concepção da língua materna e o seu ensino. 4. ed. Porto Alegre: L e PM, 1985.

MARTIN, Robert. Para entender a linguistica: epistemologia elementar de uma disciplina: Tradução Marcos Bagno. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

MONTEIRO, José Lemos. Para compreender Labov. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

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OLIVEIRA, Helênio Fonseca de. Como e quando interferir no comportamento linguístico do aluno. In: JÚDICE, Norimar (Org.) et al. Português em debate. Niterói. Universidade Federal Fluminense, 1999.

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