AS ESCADAS DE LINA

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As escadas de Lina


Escada do Solar do Unhão, Salvador, 1963. Fonte: Arquivo do Instituto Lina Bo e P.M. Bardi

A arquiteta italiana Achilina Bo chegou ao Brasil em 1946 após se casar, na Itália, com Pietro Maria Bardi, cujo sobrenome adotou. Dentre as diversas personalidades que o casal conhece no Rio de Janeiro – Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Burle Marx – estava Assis Chateaubriand, de quem Pietro recebe o convite para fundar e dirigir um museu de arte no país. Daí surgiu o MASP, o museu mais importante da América Latina e que se abriga sob o traço de Lina Bo Bardi – como assim ficou conhecida a talentosa italiana.

Lina manteve intensa atividade em diversas áreas – arquitetura, teatro, cinema, artes plásticas, cenografia, design – e muito se pode falar sobre sua expressiva obra. Queremos aqui destacar, no entanto, apenas as fabulosas escadas que fazem parte de seus projetos arquitetônicos. Em concreto, ferro ou madeira, em edifícios novos ou restaurados, as escadas de Lina guardam extrema simbiose com o espaço arquitetural, não sendo, portando, meras circulações verticais.

No restauro da Casa do Benin, no Largo do Pelourinho, em Salvador, as escadas são lineares – ora em concreto, ora metálica -, acompanhando a estreiteza da planta do velho casarão. Elas dramatizam o exíguo espaço, provocando no visitante o desejo em observar o que se passa além do andar térreo. Na Casa de Vidro, construída em 1951 para morada do casal Bardi em São Paulo, somente a visualmente frágil escada de ferro é deixada como objeto exposto no meio do espaço – o que se configuraria como a essência de seus projetos e de seus restauros.

No Solar do Unhão, também em Salvador, está a mais genial de suas escadas, conhecida como a “escada da Lina”. Ela une o térreo ao primeiro pavimento do corpo principal do conjunto edificado, que é do século XVI e com várias limitações impostas por ser um prédio tombado. A escada se apresenta como síntese da solução modernista de restauro adotada por Lina – “o respeito a todo elemento do passado possível de ser preservado, e quando da necessidade de adaptação ou reconstrução de algum novo elemento, a consideração ao tempo presente em que se realiza a intervenção”. A escada se mostra contemporânea em seu desenho, mas se harmoniza com os elementos de outras épocas presentes no edifício; e simultaneamente remete ao tradicional, pelo uso da madeira e pelo sistema de encaixes copiado dos carros de boi.

No Solar do Unhão, a escada transparente e escultória de Lina permite que os salões ganhem amplidão, numa limpeza espacial que evidencia a feição original do prédio, criando uma área propícia a exposições. É uma escada que se mimetiza para destacar a grandeza do espaço arquitetural do velho edifício restaurado, mas ao mesmo tempo apresenta, pela engenhosidade de seu desenho, forte força figurativa. Assim como era Lina.

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