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quinta-feira, março 21, 2024

Globalização nos Países do Terceiro Mundo

Globalização é uma palavra entendida por muitas pessoas nos países do terceiro mundo como uma espécie de estratégia política, Com esta constatação pode-se observar que, pelas conseqüências atuais, os ricos estão ficando cada vez mais ricos e os pobres mais pobres. Por este motivo o verdadeiro conceito de globalização e os problemas associados a ele devem ser mais bem entendidos.

O mundo passou por vários processos de evolução com o crescimento de uma simples família, assim formando grandes tribos, em seguida cidades, paises, nações, em tal resultado os povos no mundo inteiro se transformarem em independentes. Não é uma invenção de alguma nação em particular.

O problema que muitos associam ao conceito de globalização reside no abuso cometido por um grupo de nações poderosas que se aproveitam das vantagens desta nova realidade em seu próprio e egoístico benefício, causando prejuízo a outras. Nós estamos vivendo num novo mundo, dentro de uma nova realidade, enquanto muitos ainda pensam e se comportam com paradigmas superados.

Estes procuram aplicar soluções estribadas em visões limitadas e nacionalistas num mundo que exige uma visão global. Por exemplo, nós tratamos de aplicar o velho conceito de “competição” no progresso dentro de um mundo com uma nova realidade, na qual somente a “cooperação” pode assegurar a prosperidade das nações. Com esta visão acontece que as nações industriais, enquanto competem entre si, são ao mesmo tempo clientes umas das outras.

A destruição econômica de qualquer nação é uma perda de mercado e por esta razão é necessária a cooperação para evitar a destruição econômica dela. Todas deverão ser aliadas entre si para se prevenir contra ideologias divergentes. As nações ricas não poderão suportar alguma pobreza absoluta de alguma outra nação, já que a tranqüilidade internacional depende de certo nível de bem-estar de todo o resto da humanidade.

Neste sentido, o grande desafio do século XXI para todo o cenário internacional consistirá na interpelação a cada uma das diferentes sociedades nacionais sobre o como irá adaptar-se às condições da nova civilização industrial e urbana que se mundializa. Uma civilização que é o resultado do encontro e do dialogo tanto quanto do conflito das civilizações, e cuja dimensão economico-produtiva ganhou no século XX novas e revolucionarias proporções.

Por outro lado, ao introduzirem-se grandes transformações tecnológicas (no campo da microeletrônica, robótica, novos materiais, biotecnologia e nanotecnologia) e gerenciais (qualidade total, reengenharia etc.), sob o viés hegemônico da chamada “globalização”, a sociedade internacional assistiu também a uma grande mutação nos padrões culturais da urbe mundial. Unificada globalmente pela comunicação e o transporte, ela encontra-se dividida em meio à crise e a caotização do sistema industrial, comercial, financeiro, o que vem gerando crescentes e difusas exigências de nova distribuição de poder e riqueza no mundo.

É nesse contexto que temos de inserir o estudo da conjuntura internacional nas próximas décadas, uma avaliação do papel a ser desempenhado pelo Brasil na manutenção da estabilidade e da segurança no subcontinente sul-americano.

Iniciamos o século 21 com as contradições mantidas pelos dois últimos séculos, a Humanidade avança com o desenvolvimento da ciência e tecnologia de forma jamais vista em nossa História e, ao mesmo tempo, aumentam e se agravam as desigualdades sociais. No início de um novo tempo estamos vinculados aos dilemas passados. Como promover desenvolvimento e distribuição da riqueza produzida? Qual o caminho da paz e o entendimento entre os povos? Como preservar a independência e identidade dos países e ao mesmo tempo se incorporar ao mundo globalizado e “sem fronteiras”?

Estamos diante da insegurança da guerra que já marcou períodos de virada de século (como as revoluções liberais na Europa do século 18/19, as guerras entre as potências e o advento do socialismo na virada dos séculos 19/20), mas há muito tempo não se via um mundo unipolar, onde os EUA têm o domínio militar e econômico isolado. O neoliberalismo é a ideologia predominante com força no mundo, mas não sem resistência e contradições. Vivemos uma nova fase do capitalismo em que o sistema financeiro é a principal força das relações econômicas em seu estágio monopolista de poucas empresas que dominam o mercado internacional assumindo o protagonismo na industrialização e na comercialização de marcas, produtos e serviços.

Neste estágio, o avanço tecnológico com a microeletrônica, a nanotecnologia, a robótica, a biotecnologia e a genética, entre outros, resultam novas formas do sistema de produção da sociedade industrial. As mudanças no mundo da produção já causam efeitos impressionantes alterando toda uma lógica industrial do século 20, em que as empresas eram poderosas e competitivas pela sua grandeza, ou seja, a capacidade de produção envolvendo a melhor qualidade com a maior rapidez estava ligada ao tamanho das suas máquinas, ao espaço produtivo como o tamanho das fábricas, a quantidade de trabalhadores incorporados (além da mão de obra especializada e altamente qualificada) e a concentração das unidades de produção (embora estivessem em muitos lugares no mundo).

As empresas do século 21 estão atuando de maneira inversa ao século anterior. Capacidade combina com leveza, flexibilidade e mínimo de estrutura, descentralização produtiva e rapidez. As marcas estão em sua fase monopolística, das grandes corporações e fusões. As partes de um mesmo produto podem ser produzidas em diversas regiões do mundo de acordo com a capacidade, matéria prima e baixo custo, sobretudo da mão de obra. Nas grandes empresas de tecnologia, há uma guerra para adquirir as melhores “cabeças” nas áreas de maior desenvolvimento técnico-científico rompendo fronteiras do conhecimento.

No mundo do trabalho a diversificação, a flexibilização e a diminuição dos postos de trabalho têm sido a marca das mudanças mo século 21. Ao mesmo tempo, os trabalhadores perdem direitos trabalhistas e postos de trabalho são fechados tanto pelas crises cíclicas de produção quanto pelas novas técnicas produtivas que necessitam de menor quantidade de mão de obra.

A flexibilização altera a estrutura de organização do trabalho, superando a limitação das dimensões de espaço e tempo, fraciona o sistema produtivo e descentraliza o espaço físico. Depois do modelo fordista de sistema de produção e a experiência japonesa do fim dos estoques, a alta tecnologia cria novas condições de organização de produção.

Das novas condições do mundo do trabalho destacam-se, portanto, duas conseqüências sociais fundamentais, a flexibilização dos direitos trabalhistas e a diminuição dos postos de trabalho com o desdobramento da ampliação do exército de reserva e do desemprego e/ou trabalho informal. A informação ganha realce nesta nova onda de desenvolvimento e passa a cumprir papel ainda mais significativo para o sistema capitalista.

O advento da internet e da informação em tempo real é estratégico para a realização de transações comerciais e financeiras no mundo. Os jornais, como aparelhos ideológicos de Estado para a manutenção da hegemonia neoliberal na sociedade brasileira. O debate acerca dos aspectos ideológicos da imprensa faz parte de uma razoável polêmica nos meios intelectual/acadêmico, político e entre os próprios veículos de comunicação.

As principais questões estão ligadas à independência dos meios de comunicação que se auto-intitulam apartidários e não ideológicos, independentes e comprometidos com a verdade. Por outro lado, existem fatos para explicar como a grande imprensa se alinha às teses do neoliberalismo e cumpre papel decisivo na oposição aos governos distintos de suas opiniões. A tese de uma imprensa não ideológica está explícito na orientação jornalística de alguns veículos de comunicação, na propaganda da maioria dos jornais, rádios e TV’s e na sustentação dos argumentos dos colunistas, articulistas e editoriais da imprensa.

Destaca-se a orientação do jornal Folha de São Paulo, em seu manual de redação: “Em documentos anteriores a este, a Folha cristalizou uma concepção de jornalismo definido como crítico, pluralista e apartidário. Tais valores adquiriram a sua característica doutrinária que está impregnada na personalidade do jornal e que ajudou a moldar o estilo da imprensa brasileira nas últimas décadas” (Folha; 2001:17).

Outros jornais não são explícitos em seus manuais, mas sempre registram seu caráter independente. O jornal O Globo, em recente editorial respondendo a uma resolução do PT sobre a cobertura tendenciosa da crise aérea respondeu em seu editorial: “Notícia não tem ideologia nem partido. Ela fala por si para os verdadeiros profissionais de imprensa e a mídia profissional. Reduzir o destaque de um fato por conveniências políticas só em diários oficiais, no antigo ‘Pravda’ soviético e no ‘Granma’ cubano” (O Globo; 2007: 06).

Com este entendimento cria-se uma falsa idéia de um jornal que não se influencia por critérios ideológicos, sendo substituídos por critérios técnicos da informação. Isto se deve, provavelmente, a uma visão de que as estruturas ideológicas tais como conhecemos estão superados, em uma franca adesão ao pensamento pós-moderno e o fim das matrizes iluministas.

A imprensa faz sua opção ideológica e não há argumento de independência que se sustente, mesmo com todo o esforço feito pelos veículos de comunicação brasileiros para conquistar credibilidade através da isenção e relato “verdadeiro” dos fatos. Não é apenas no Brasil o fato da imprensa fazer sua opção ideológica, em importantes acontecimentos no mundo inteiro, pode se verificar ações de mídia ativas a favor de governos, candidatos, e, sobretudo, idéias alinhadas ao neoliberalismo. Destacam-se quatro acontecimentos mundiais em que a grande imprensa buscou desenvolver teses que favoreciam apoiadores do neoliberalismo contra a realidade dos fatos.

A primeira e mais importante é a cobertura dos atentados de 11 de setembro de 2001 e seus desdobramentos. A imprensa norte-americana, mesmo a mais crítica aos republicanos, ofereceram total apoio ao governo George W. Bush quanto às teses que culminaram na instalação de um verdadeiro Estado de exceção, através da lei do Ato Patriótico e as invasões ao Afeganistão e ao Iraque.

Redes de TV, rádio, jornais, revistas e outros veículos, se somaram aos argumentos fantasiosos do governo para justificar a beligerância e o rompimento de todas as regras internacionais vigentes. Ainda, na mesma forma do marcatismo, acusaram opositores dessas medidas de inimigos da pátria.

O segundo acontecimento foi a tentativa de golpe militar na Venezuela, em abril de 2002, orquestrada pelas elites venezuelanas em conluio com os EUA, igual as velhas fórmulas das ditaduras latinas. A RCTV, principal canal de televisão do país, cumpriu um papel estratégico na tentativa de derrubar o governo do presidente Hugo Chávez. O resultado, já sabido, foi a não renovação do canal público explorado pela RCTV, que gerou indignação em todas as redes de TV privadas na América Latina.

O terceiro acontecimento são os atentados no metrô de Madrid, em março de 2004, véspera da eleição presidencial da Espanha. Os principais veículos de comunicação espanhóis, capitaneados pelo jornal El País, foram ativos em defender a tese que os atentados foram cometidos pelo grupo de resistência basco ETA e não pela Al Qaeda, como se verificou posteriormente.

A tentativa de sustentar a tese de o atentado ter sido cometido pelos bascos fragilizaria a candidatura do socialista José Luiz Rodrigues Zapatero (PSOE) e a ligação com a invasão ao Iraque derrubaria a candidatura do então presidente direitista José Maria Aznar (PP). Os resultados foram os fatos irrefutáveis da ligação dos atentados com a invasão apoiada por Aznar e a clara manipulação dos meios de comunicação para tentar derrotar Zapatero.

O quarto acontecimento são as eleições presidenciais no Brasil, em outubro e novembro de 2006. A imprensa brasileira foi amplamente favorável ao candidato direitista Geraldo Alckmin (PSDB), opositor do presidente Lula (PT). A cobertura jornalística ajudou o candidato oposicionista a levar a eleição ao segundo turno. Embora os principais meios de comunicação tenham se movimentado amplamente para a vitória de Alckmin, foi Lula o vencedor das eleições com uma plataforma política mais clara de demarcação com o neoliberalismo.

Os quatro exemplos apresentados fazem parte da verificação de como a grande imprensa, através do domínio dos interesses das empresas jornalísticas (ou da indústria cultural) se comportam diante dos momentos decisivos nas diversas sociedades globais.

Os jornais assim como outros diversos veículos de informação, como aparelhos ideológicos de Estado, se renderam à ideologia neoliberal. Para o estudo apresentado neste trabalho, a cobertura jornalística de O Globo e Folha de São Paulo são tendenciosas para defender um determinado ponto de vista ideológico e entram na disputa política apoiando, mesmo que indiretamente, uma candidatura que mais se identifica com seus ideais.

Na disputa política os jornais funcionaram como instrumento de luta de idéias. E isto não significa que os jornais são partidários, ao contrário, se posicionam acima dos partidos, mas no nível dos seus próprios interesses, não há opinião política dos jornais que não sejam irremovíveis ou insubstituíveis.

A defesa do mercado enquanto instrumento eficiente na regulação social faz com que os jornais tenham posições políticas como as privatizações e a menor intervenção do Estado na economia. Enquanto empresas de comunicação, estes jornais também estão comprometidos com a defesa irrestrita da propriedade privada e têm interesses específicos que em algumas ocasiões podem interferir na notícia publicada.

Os jornais O Globo e Folha de São Paulo são instrumentos importantes para a defesa dos princípios do liberalismo econômico, inclusive em sua fase atual, o neoliberalismo, cumprindo um papel de formar opinião na sociedade, na emissão da mensagem a partir deste conceito ideológico. O mercado concentra os veículos de comunicação nas mãos de poucos grupos ou famílias enquadrando a verdade em interesses privados muito específicos.

Portanto, os jornais analisados neste trabalho têm compromissos político e ideológicos definidos, fazem uma opção de classe muito clara. Cumprem um papel de aparelho ideológico de Estado fazendo com que as opiniões emitidas e mesmo notícias publicadas tenham uma tendência de apoio à ideologia dominante.

Isto não significa, contudo que estes jornais estão vinculados a todo e qualquer governo, partido ou personalidade política, ao contrário, o compromisso é com o sistema econômico e social, mesmo que haja pontualmente críticas republicanas à corrupção, à miséria social ou a outros assuntos relevantes. Estas críticas e posições próprias de cada veículo de comunicação fazem parte das características das lutas de idéias no seio do próprio liberalismo.

A construção da tese do Consenso de Washington é o exemplo mais claro da demonstração da construção dos critérios de hegemonia nos anos 1990. A globalização, elemento fundamental da base do consenso, foi considerada nesse período, como inevitável, ou seja, não havia alternativa nenhuma de desenvolvimento no mundo a não ser pela integração entre os povos numa espécie de consentimento dos países mais pobres à exploração e subjugados pelos países desenvolvidos a inevitabilidade da globalização significou a abertura de todas as barreiras possíveis de comércio, de produção industrial, do sistema financeiro, das mudanças das leis em cada país, até chegar a proposta não realizada por completo de desmilitarização e unificação das unidades armadas em uma força internacional.

A orientação e o comando de cada uma das propostas foram desenvolvidos pelos países ricos, em particular o exercício unipolar dos EUA. Cada uma das propostas apresentadas tinha como elementos fundamentais, a orientação das mudanças econômicas em cada país prevalecendo o receituário de diminuição dos déficits das contas públicas através de cortes nos orçamentos que consistiam em não vincular receitas aos projetos de subsídios internos para o desenvolvimento econômico (a depender da realidade de cada país) e pras de serviços públicos e assistência social.

A necessidade de o Estado deixar de ser empreendedor para exercer a função de fiscalizador e gerenciador da economia, em outras palavras, significava as privatizações e a concessão de serviços. A integração entre os países pressupunha as mudanças das leis internas de remessas de lucros, composição de capitais externos nos setores da economia e o caráter de empresa nacional, para aplicar a abertura interna aos capitais e produtos estrangeiros, sob o argumento de forçar os produtores nacionais a se adequarem às novas condições de competitividade internacional.

A diminuição do papel do Estado tinha como fundamento a capacidade dos mercados de se autoregularem à base dos equilíbrios de competitividade, com isso, as taxas de câmbio e taxas de juros, por exemplo, deveriam seguir a lógica das demandas dos próprios mercados. Além, evidentemente, de procurar resguardar todos os contratos com os organismos internacionais e preservar o inalienável direito à propriedade privada

Essa receita foi seguida pela maioria dos países, com níveis diferenciados de resistências. O resultado foram crises cíclicas cada vez mais profundas, que abalaram os alicerces do Consenso de Washington e causaram atrasos e desigualdades ainda piores para os países em desenvolvimento.

O consenso foi um completo fracasso. A aplicação dos modelos neoliberais na maioria dos países, em especial no Brasil, foi aceita pela maioria da população com a eleição e reeleição de Fernando Henrique Cardoso pela construção da hegemonia no país, através dos instrumentos da classe dominante. Quando a Folha de São Paulo (de forma mais clara) e O Globo optam pelo argumento da modernidade, entendido como o processo pelo qual o Estado perde espaço na organização social deixando para os mercados a responsabilidade de desenvolvimento econômico e social, estão utilizando o discurso ideológico do neoliberalismo.

A modernidade significa superar estruturas consideradas atrasadas de domínio estatal dos setores estratégicos da economia e da legislação de proteção social, como as leis trabalhistas, por exemplo, substituindo pelas regulamentações básicas de convivência das disputas comerciais e produtivas da iniciativa privada.

A palavra modernidade, que outrora significava a superação do velho pelo novo, correspondente a um avanço na sociedade, no argumento ideológico das elites, transformou-se em um retrocesso radical de exploração de classes, em que um país em desenvolvimento fica cada vez mais dependente de outros países exploradores e a imensa população menos favorecida tem seus direitos sociais cada vez mais aviltados.

O discurso do novo, do moderno, sempre presente nos argumentos dos jornais para a aprovação das privatizações, da abertura desregulada do mercado interno, das reformas que cortam direitos sociais, da restrição dos investimentos públicos, da desqualificação dos movimentos questionadores do status que, inverte o papel diversificador e democrático que deveriam ter esses veículos de comunicação, para exercer a função de aparelhos ideológicos de Estado e assim manter o caráter hegemônico do neoliberalismo.

Os argumentos, as lutas de idéias travadas pelos jornais, estão diretamente ligadas à preservação do modo de produção dominantes, à estrutura de funcionamento social de exploração de classe. A posição diante das privatizações e abertura da economia nacional está ligada aos grupos econômicos oligopolizados nacionais e estrangeiros; a crítica à crítica da propriedade privada é essencial para a manutenção do sistema, sem a menor dúvida para os jornais; as explicações do nosso atraso social e a falsa consternação contra a miséria estão ligados ao pressuposto que qualquer mudança deva preservar os privilégios de classe.

Portanto, a manutenção do sistema de exploração de classe depende necessariamente da imposição das leis sobre o funcionamento social, aplicada pelo Estado, e o convencimento da maioria da sociedade através dos instrumentos disponíveis, destacadamente a escola, a igreja e os meios de informação. A disputa hegemônica da sociedade, contudo, não ocorre de maneira abstrata e meramente subjetiva, nem sem disputas entre os grupos (ou blocos) dominantes, como afirma Althusser:

É por isso que os AIEs não são a realização da ideologia em geral, nem tampouco a realização sem conflito da ideologia da classe dominante. A ideologia da classe dominante não se transforma na ideologia dominante pela graça divina, nem em virtude da simples tomada do poder estatal. É através da instauração dos AIEs, em que essa ideologia é realizada e se realiza, que ela se torna a dominante.

Mas essa instauração não se faz sozinha; ao contrário, é o pivô, de uma luta de classes muito acirrada e contínua, primeiro contra as classes dominantes anteriores e sua posição nos velhos e novos AIEs, e depois contra a classe dominada. (Althusser, in Zizek; 1999: 140).

A partir dos conflitos existentes dentro dos próprios AIEs é que se justifica as diferenças de classes e nas classes sociais, permitindo a disputa pela hegemonia nesses aparelhos. A disputa pela consciência coletiva é uma constante e envolve os interesses das empresas jornalísticas pautadas pela lógica de mercado.

O papel de qualquer empresa no capitalismo é a busca do lucro, distinto do papel do jornalismo que é a busca da verdade. A contradição entre empresa jornalística e jornalismo é a utilização da segunda em função da primeira. Daí que o argumento de Althusser sobre aparelhos ideológicos de Estado funciona, para demonstrar que todas as posições dos grandes jornais estão diretamente ligados aos interesses das empresas jornalísticas e aos grupos econômicos a elas ligados.

A construção da hegemonia é perfeitamente aplicável em nossos dias porque o sistema capitalista, mesmo em processos de transformação e superação de suas crises cíclicas (que ocorrem inevitavelmente em espaços de tempo cada vez menores), mantém a estrutura de funcionamento e sua justificativa ideológica, em essência, igual a sua origem.

O neoliberalismo, atual fase da aplicação política e econômica do liberalismo, traz à tona a forma mais ofensiva da exploração de classes. Portanto, esse estudo busca demonstrar como as classes dominantes impõem sua ideologia, baseada não apenas nos instrumentos coercitivos do Estado, mas efetivamente na persuasão e convencimento para a sociedade civil.

Os grandes jornais, pertencentes aos grupos econômicos aliados que compõe a classe dominante, funcionam como aparelhos ideológicos de Estado, instrumentos fundamentais para o exercício do poder.

Bibliografia

ALTHUSSER, Louis (1996). “Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado”. IN ZIZEK, Slavoj. Um Mapa da Ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, pp. 105-142.

Manual de Redação – Folha de São Paulo, Publifolha, 6a edição, São Paulo, 2001.Periódico: Jornal O Globo, editorial, página 06, edição de 04/08/2007.

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