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sábado, outubro 5, 2024

O PAPEL DA FAMÍLIA E DA ESCOLA NA APRENDIZAGEM ESCOLAR 1/2

INTRODUÇÃO

A participação dos pais na vida escolar dos filhos representa um papel muito importante em relação ao seu bom desempenho em sala de aula. Também o diálogo entre a família e a escola favorece sobremaneira para a construção do conhecimento por parte do aluno, o que denota que a criança e seus genitores mantêm entre si e com a aprendizagem uma ligação muito íntima e profícua.
Não é possível deixar de lado o fato de que os professores são extrema importância no processo ensino aprendizagem e, portanto, das ações escolares, incluindo aquelas relativas ao relacionamento escola família. Numa visão construtivista, o aluno tem a sua relação com o objeto mediada pelo professor e com ele mantém vínculos positivos, que impulsionam a aprendizagem, ou negativos, que proporcionam um afastamento das situações de aprendizagem.
Envolver a família na educação escolar dos filhos pode significar, para os educadores, que eles tenham que conhecer melhor os pais dos alunos e realizar um trabalho conjunto com eles para criar, entre outras fatores, uma atmosfera que fortaleça o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças.
Quando escola e família têm uma linguagem comum e posicionamentos adotados colaborativamente no trato de aspectos da educação das crianças e da sua escolarização, é possível que os educandos consigam ter uma aprendizagem mais significativa, um percurso acadêmico mais tranqüilo e um desenvolvimento intelectual e emocional mais harmonioso, o que não pode ser desprezado. Assim, percebe-se que a influência da família precisa ser bem recebida pela escola, sem preconceitos, orientando suas falhas e aplaudindo seus acertos.
Assim sendo, consciente dessas verdades e crendo que a família exerce uma relevante influência na vida escolar dos seus filhos, propus-me a elaborar a presente monografia, tendo por base experiências e práticas realizadas em escolas desta cidade. E, para a realização do meu trabalho, pude contar tanto com a colaboração de colegas educadores como de alunos e comunidade em geral, os quais não se eximiram em prestar a sua parcela de colaboração no desenvolvimento das pesquisas, estudos bibliográficos e demais metodologias que permitiram que a presente monografia se concretizasse.
Assim, além de consultas bibliográficas a teóricos e demais leituras sobre o assunto em questão, entrevistei cinco professores e cinco alunos distribuídos entre as escolas nas quais realizei as minhas práticas. A partir das respostas coletadas pude compreender melhor a realidade desses espaços de ensino e, em extensão, da própria realidade da educação brasileira no que tange a influência da família no processo de construção do saber por parte dos alunos.
Após a análise dos dados coletados e demais estudos realizados, sintetizei o conhecimento colhido e o expus nesta monografia, a qual se apresenta dividida em três capítulos principais: no primeiro trato da influência da família e da escola no processo ensino-aprendizagem, tecendo comentários sobre a responsabilidade de cada qual no referido processo, bem como a respectiva importância de cada parte envolvida.
Por sua vez, no segundo capítulo, falo da necessidade da família e da escola unirem forças, aproximarem-se através do diálogo e de outras ações em favor da construção do conhecimento por parte dos educandos, num efetivo estabelecimento de parcerias. Por fim, no terceiro e último capítulo, abordo o papel da família, da escola e dos alunos quanto à aprendizagem destes últimos, procurando criar a conscientização sobre a necessidade de se instaurar um clima de afetividade, transparência e cristalinidade em sala de aula envolvendo todos estes elementos.
Na expectativa de prestar a minha parcela de contribuição quanto ao assunto tratado neste trabalho, procuro compartilhar o resultado de minhas pesquisas e estudos com colegas, alunos e seus familiares, deixando a sua disposição à monografia que ora tem início.

1 – O PAPEL DA FAMÍLIA E DA ESCOLA NA APRENDIZAGEM ESCOLAR

1.1Afinal, educar é responsabilidade de quem?

Entendo que os conceitos e visões acerca das categorias escola, família, aluno e aprendizagem consistem numa tentativa de compreensão e interpretação do quanto à falta de participação dos pais no processo educacional constitui um fenômeno abrangente e complexo. A análise destes elementos tem a proposição de apreender e codificar o fenômeno da falta de participação da família na vida escolar dos seus filhos, bem como conhecer as influências deste fenômeno no referido processo.
Aliás, a aprendizagem não se resume necessariamente ao processo de ensino, como tantos imaginam. Não existe um processo único de ensino aprendizagem como muitas vezes se diz, mas dois processos distintos: o de aprendizagem, que é o desenvolvimento do aluno, e o de ensino, protagonizado pelo professor.
São dois momentos que se comunicam, mas que não se confundem: o sujeito do processo de ensino é o professor, enquanto do processo de aprendizagem é o aluno. Todavia, fica claro que o processo de ensino deve dialogar com o processo de aprendizagem. Através de minhas práticas pude perceber que um complementa o outro, e que ambos não podem se desenvolver isoladamente.
O que se observa cada vez mais, nos dias de hoje e em diferentes contextos, é que a freqüência das crianças com pouca idade em ambientes socializadores, como creches e escolas de Educação Infantil não é incomum, o que acarreta sua permanência por mais tempo fora de casa do que convivendo com os membros de sua família.
Com isso o papel socializador da família passa a ser mais difuso e a responsabilidade da educação dos filhos mais dividida, principalmente com a escola e com parentes como avós, tios e irmãos. Essas modificações na estrutura e forma de educar os filhos vai se refletir na conduta dos alunos dentro da escola assim como nas relações mantidas entre família e espaço de ensino, influenciando tanto os processos de ensino quanto os de aprendizagem.
Entendo que, para oferecer um leque diversificado de saberes, o currículo escolar necessita ser organizado com a participação dos estudantes, dos pais e da comunidade. Sendo o plano mestre adotado por uma escola, não é válido que este currículo seja um elenco de disciplinas e conteúdos linearmente organizados, mas que seja aberto, com grandes temas, possibilitando sempre a inclusão de novos eixos e conteúdos significativos.
Em torno desses temas, eixos e conteúdos é que se articularão os saberes oriundos dos diferentes enfoques da prática docente. Dessa forma, poderá ser possível às crianças aprender a aprender por toda a vida, porque aprenderam a buscar diferentes saberes, os quais se complementam graças às práticas e experiências do professor.
Entendo que o professor tem uma grande responsabilidade, mas o seu papel não é instruir, mas orientar: é possível influir o aluno de tal modo que este não se deixe influir, não cabe ao educador tirar dúvidas e sim trazer. Enfim, trata se de um amor exigente: ao mesmo tempo em que cabe apoiar o educando do modo mais envolvente possível, deve exigir dele o melhor desempenho viável.
Desta forma, os professores devem estar cientes de que a função da escola e da verdadeira responsabilidade profissional é o de conseguir que os alunos atinjam o maior grau de competência possível em todas as suas capacidades. Para tanto, mostra-se válido envidar esforços objetivando que estes superem suas deficiências, as quais muitas vezes carregam por motivos sociais, culturais e pessoais. Segundo a fala de uma aluna: A Não me importo que a professora exija.
Com isto pode-se perceber que as crianças não temem serem desafiadas a estudar, contanto que elas consigam perceber uma finalidade neste estudo.
Porem conseguir um clima de respeito mútuo, de colaboração, de compromisso com um objetivo comum é condição indispensável para que a atuação docente seja eficaz na construção da cidadania de seus alunos. E a observação da atuação dos educandos em situações o menos artificiais possíveis, em um clima de cooperação e cumplicidade, é a melhor maneira de se realizar uma avaliação formativa.
Devido a formas de pensar semelhantes a estas, pode se perceber que a transição da escola de hoje para a escola do amanhã não se dará sem traumas e conflitos: a cada dia que passa torna se mais e mais evidente que a construção da nova escola que tanto queremos exige de nós renúncias e transformações. E, para a escola que está sendo construída ser de fato nova, precisamos nos renovar também, abandonando antigas e ultrapassadas formas de pensar e de agir.
Como lembra Sacristán (2005 p. 192): Para que a situação do aluno mude, nós temos que mudar antes. A cada dia que passa, percebo com mais clareza que, para que essa metamorfose ocorra a contento, é necessário que todos nós, educadores, nos dispusemos a abrir nossas mentes a diferentes idéias e teorias, por vezes estranhas e incomuns, mas que nos ajudam a ver com outros olhos o mundo que nos cerca.
Ainda em função das minhas práticas pedagógicas, um dos maiores desafios que a escola de hoje enfrenta é realizar um trabalho que tenha um significado relevante tanto para o professor quanto para os alunos. Neste ponto cabe aos docentes repensarem suas propostas, reverem as rotinas, romperem com o formalismo dos conteúdos preestabelecidos, esquecerem a escola tradicional e tecnicista para construírem a nova escola.
De certa forma, a reflexão sobre sua proposta de trabalho envolve uma série de outras questões muito importantes para a construção da identidade profissional: visão de mundo, opção por um quadro de valores, posicionamento frente à realidade social conflitiva, etc, mas com a vantagem de se dar a partir do contexto bem definido de sua atuação como professor, tornando se, conseqüentemente, muito mais pertinente e realmente formativa, ciente de sua função perante o aluno.
Além da escola é a família que tem um papel preponderante na educação de seus filhos cabendo a ela dar continuidade ao processo educacional iniciado no ambiente familiar. Assim, o processo educacional que aí se dá necessita ser compreendido como complementar ao que cada um traz de história individual e coletiva. A educação não começa na escola, mas nasce antes, no seio familiar.
Quanto a este aspecto os professores que colaboraram na entrevista reconhecem que os pais são os principais responsáveis pela educação de seus filhos, porém há aqueles que deixam esta etapa apenas para a escola, sem comprometer-se de modo efetivo. E, quando questionados sobre o grau de participação dos pais dos alunos nas atividades escolares, os professores entrevistados, em sua grande maioria, informaram que é média a participação da família, podendo esta se dar de um modo bem mais amplo e sensível.
Porém, quando ocorre uma presença e participação maior dos pais na escola, este fato não pode significar uma desresponsabilização dos professores para com a aprendizagem dos alunos e do governo no que se refere à educação como um todo. Assim, entendo que os pais são capazes de envolver se com o processo escolar de seus filhos e exigir que a escola cumpra o papel que lhe cabe na educação, mas sem descaracterizar a especificidade dos papéis que cada instância deve exercer.

1.2A importância dos pais na educação das crianças

Os professores incentivam o acompanhamento e orientação em se tratando dos primeiros, e falta de diálogo e afetividade, ausência paterna ou materna e pouca participação nas atividades escolares em se tratando dos empecilhos.
Assim, percebo que os pais têm um importante papel em fortalecer a auto estima da criança, dando estímulos positivos, estabelecendo relações saudáveis, prazerosas e produtivas para que essa sensação se transforme em retorno somador para o desenvolvimento pessoal: para que a criança vá bem, ela precisa de um ambiente afetivamente equilibrado, onde receba amor autêntico capaz de satisfazer suas necessidades emocionais.
Pais que, ao contrário, não dispensam às crianças o valor que lhes é peculiar, tratando as com desprezo, julgando as preguiçosas, ruins, subestimando suas capacidades, projetam em suas atitudes uma imagem negativa. Quando à criança falta auto estima ela vive com medo de fracassar, cria um pensamento negativo e de menos valia, ansiedade, angústia, inferioridade e retraimento.
Ela se sente inibida, desanimada, insegura, desinteressada. Isso acarreta problemas no seu desenvolvimento normal e, conseqüentemente, em sua aprendizagem. E ainda conflitos oriundos da instabilidade familiar e a falta de formas eficazes para suprir as carências dos relacionamentos são fatores que influenciam nas dificuldades de aprendizagem na escola. Como me disse certa vez uma aluna: Não consigo me concentrar, minha cabeça tá longe.
Desta forma, entendo que a maneira como as crianças demonstram suas atitudes e reações sofrem influências e revelam situações emocionais entre pais e filhos. Por exemplo, quando na família há relacionamento de mando por parte do pai e obediência por parte da mãe e do filho, não havendo diálogo, está se trazendo padrões culturais de uma sociedade tradicional rígida, caracterizada pela importância da autoridade masculina, onde o pai é o chefe da família, a quem as demais pessoas devem obedecer, caso contrário são severamente punidas.
A criança traz para a escola estas situações, não aceita gestos de afago, carinho e age agressivamente com os colegas. Não estando bem estruturada emocionalmente, rejeita a presença do diálogo e do amor não só na família, mas também na sala de aula, como não raro tive a oportunidade de presenciar em minhas práticas.
Acredito que, em termos educativos, não há nada pior do que o nítido descompasso entre o casal na direção e resolução dos problemas dos filhos. É possível que os pais não concordem entre si em algumas situações, mas isso nunca pode transparecer para a criança ou o adolescente.
Os familiares podem discutir novamente a questão, argumentar sobre a decisão e até rever sua postura quando estiverem a sós, mas, na hora do sim ou não, a resposta deve ser assumida por ambos. Isso dá segurança ao jovem por não permitir que ele crie mecanismos para manipular os pais e evita que aconteça um jogo de empurra-empurra desnecessário e perigoso em seu processo evolutivo.
Ainda quanto ao fato da família ter por função socializar a criança e adaptá la à convivência na sociedade, este fato se dá oferecendo e ensinando os modelos de comportamento adotados em sua cultura, tais como valores, atitudes, formação do caráter e características pessoais.
Assim, os pais se revelam como exemplo, oferecendo disposições emocionais de como reagir diante de certas situações. Os familiares, a partir dessa convivência, mostram para a criança a maneira como o mundo é visto por eles. A própria auto estima que a criança vai fazendo de si é diretamente dependente da maneira como os pais a vêem.
Quanto a este aspecto, extensivo aos espaços educacionais a totalidade dos alunos entrevistados disse acreditar que seus pais influenciam na sua aprendizagem escolar, e uma das formas de haver uma colaboração ainda maior, segundo estes educandos, é que haja uma participação mais assídua de seus familiares nas reuniões e outras atividades desenvolvidas nos estabelecimentos de ensino.
E é de fato assim. A base de praticamente toda a aprendizagem escolar encontra se na família. E é justamente neste ponto que reside à importância das escolas estabelecerem um trabalho sintonizado com os pais de seus alunos, compartilhando dúvidas, anseios e também buscando soluções conjuntas para os problemas que se apresentarem. Além disso, esta parceria entre escola e família é extremamente benéfica para as crianças, que passam a desenvolver sentimentos positivos, sentindo se seguras e amparadas durante todo o desenrolar de seu ensino.
Entendo que é importante que os educadores percebam que cada criança traz de casa para a escola uma bagagem cultural muito grande, repleta de referências afetivas, às quais refletem diretamente no seu desempenho em sala de aula. Desta maneira, a escola somente vem a reforçar e a sedimentar o que a criança carrega em seu bojo, sendo uma continuadora das primeiras lições aprendidas em casa.
E são essas mesmas lições as grandes responsáveis pela capacidade das crianças conviverem harmoniosamente com seus colegas na escola, compreendendo as regras comuns a todos e reconhecendo direitos e deveres. Também a construção do conhecimento se dá de acordo com o que já se sabe, uma vez que todo novo conhecimento precisa associar se a outro já aprendido para, a partir de então modificá lo e a aumentá lo. Segundo Negrine:
O ambiente familiar parece ser o primeiro e mais significativo local para a internalização de valores, criação de hábitos e de aprendizagem variadas. Quanto mais estimulador for este ambiente, mais ele influi na transformação dos processos elementares em superiores; em contrapartida, quanto mais conflitivo, mais carente de afetividade, maiores problemas trará a criança em formação. De qualquer forma as influências do ambiente familiar adicionais àquelas extraídas do contexto sócio cultural permitem que ela vá construindo todo um saber e se constituem nos alicerces das primeiras aprendizagens (Bozzetto 1994).
Inclusive, percebo que quanto mais se valorizar o saber do aluno, mais relações podem ser estabelecidas entre os conteúdos que serão aprendidos e os conhecimentos já existentes, e também mais possibilidades terá a criança de responder a situações ou problemas complexos. Desta forma, o simples fato do estudo partir de situações próximas ao aluno já cria um ambiente favorável para a aprendizagem e motivação do educando. Segundo Bozzetto (2005): Os/As estudantes já vêm para a escola educados, tanto pela força da mídia, da televisão permeada pela violência, pela cultura de lazer e de consumo quanto pela influência de princípios religiosos, políticos, familiares e pelas normas que permeiam a sociedade.
E, de acordo com Chechia e Andrade (2003), a influência da família em relação à aprendizagem de seus filhos pode ser vista sob cinco perspectivas diferentes. A primeira enfatiza a classe social dos pais e o desempenho escolar dos filhos, indicando que o analfabetismo ou o pouco conhecimento dos familiares dificulta a ajuda nas tarefas de casa. A segunda análise aborda os diferentes graus de interesse da família em relação à escola de seus filhos.
O terceiro ponto se refere à participação dos pais na escola, indicando que a presença de familiares na vida escolar de seus filhos constitui um fator indispensável para o seu bom desempenho escolar. A quarta ótica revela que é a mãe que, com maior freqüência, acompanha as atividades escolares dos filhos. E a quinta e última análise enfatiza a importância dos pais especificamente em relação ao sucesso ou insucesso escolar dos filhos, mostrando que se fossem mais bem orientados sobre as atividades e obrigações escolares dos alunos, haveria maiores avanços por parte destes.
Assim sendo, as famílias podem e devem colaborar em relação à aprendizagem de seus filhos. Inclusive, as dificuldades no aprender, que levam a um retardo escolar, podem ter causas e conseqüências múltiplas, o que exige uma análise detalhada de cada caso para então se buscarem as devidas soluções.
Na maioria das vezes, os familiares podem contribuir decisivamente para a superação desses entraves, desde que sejam devidamente orientados para isso. Desta forma, não basta que os professores apenas comuniquem aos pais que uma criança não consegue aprender ou que não demonstra muita vontade em envolver se nas atividades propostas, mas deve dialogar com esses pais e mães, orientando os e estabelecendo uma parceria com eles.
Esse entrosamento entre família e escola traz apoio às crianças, além de estímulo e sensação de bem estar, o que se revela extremamente útil na superação das dificuldades de aprendizagem eventualmente surgidas. Além disso, os pais, uma vez incluídos no processo de ensino, abandonam a posição de simples espectadores e passam a ser protagonistas em busca de soluções.
Mas, somente uma avaliação psicopedagógica das dificuldades de aprendizagem de uma criança pode dizer qual é a parcela de responsabilidade dela, da sua família ou da escola. Porém, em muitos casos realmente a responsabilidade cabe à família, em especial quando é um tanto desorganizada, infligindo à criança excesso de atividades além das escolares como balé, informática e esportes, ou ainda permitindo lhe uma rotina relaxada, com muito tempo disponível para o lazer em detrimento aos estudos.
Por outras vezes os pais do aluno podem conflitá lo introduzindo métodos e exercícios alternativos de estudo, que se chocam com os empregados pela escola, além de poderem ser excessivamente ansiosos, depositando expectativas exageradas nos ombros dos filhos. Contudo, em nenhum desses casos à escola deve criticar esses familiares e sim pacientemente orientá los, levando os a proceder de forma mais apropriada.
Convém lembrar que, na maioria das vezes, trata se de pessoas leigas no que se refere à educação escolar e, por isso mesmo, suscetíveis a erros. Percebo que é esta suprema realidade das escolas em que realizei minhas práticas, onde os pais, em sua maioria de origem humilde, precisam enfrentar muitos obstáculos para convenientemente poderem orientar seus filhos.
Além de tudo isso também mostra-se necessário que se crie vínculos entre educação e humanização. Considero de grande valor os familiares posicionarem-se ao alcance de seus filhos, revelando com sinceridade que também tiveram dificuldades no aprendizado de certas matérias, e que dúvidas e inseguranças são comuns na vida de qualquer estudante. Pondo se em um mesmo patamar, os genitores estarão mais aptos a incentivarem seus filhos a vencer suas adversidades, e estes estarão mais predispostos a acolherem dicas, sugestões e conselhos, pois quem lhes fala é um ser igual a eles e não um intelectual onisciente, detentor das notas máximas no colégio em que estudou.
Assim, percebo que a família revela se fator indispensável para a boa formação destes. É ela que propicia o suporte afetivo necessário e, quando em sintonia com a escola, favorece o desenrolar de uma aprendizagem mais significativa, um percurso acadêmico mais tranqüilo e um desenvolvimento intelectual e emocional mais harmonioso para meninos e meninas.

1.2.1A liberdade dos filhos e a responsabilidade dos pais

A criança vai elaborando seus códigos de comportamento conforme experimenta a satisfação ou não de suas necessidades em contato com o mundo externo e as pessoas. As experiências cotidianas e simbólicas representam referencial para a formação da personalidade de meninos e meninas, que projetam no mundo e nos indivíduos suas sensações, fantasias e desejos, recebendo de fora pressões e satisfações que serão absorvidas e interpretadas segundo seus meios. Desta forma, o comportamento da criança resulta desse projetar se no mundo e devorá lo concomitantemente. Isto quer dizer que ela está sentindo a realidade e elaborando a sua sensibilidade ao mesmo tempo.
Quando nasce, a criança já encontra as coisas feitas: a linguagem, os objetos, os costumes, as leis, os dogmas da cultura. Essa é a realidade que enfrenta como o primeiro enigma: a família (ou a falta dela), a situação social, o meio onde mora, a alimentação, os contatos afetivos, os outros etc. A criança se torna o depósito dos conceitos, desejos, neuroses e até frustrações dos pais. Nas famílias em que há a frustração de expectativas, o simples fato de a criança ter nascido com o sexo que não o esperado já pode ser fonte de problemas.
Percebo que geralmente a criança é tomada como objeto dos pais e, não raro, como bibelô da família. Muitas vezes o meio familiar é mais hostil à criança do que a própria sociedade. De todo modo, é na família que se dá o pontapé inicial para a formação da criança (ou sua deformação). A criança, de toda maneira, tem que se desdobrar para virar adulto, adaptando se aos trancos e barrancos.Tive a oportunidade de conviver com alunos que penam em se amadurecer em ambientes nada propícios a crianças. Como disse certo aluno meu, de dez anos: Não sei se é pior ficar na estrada ou lá em casa.
É sábio que os pais servem de espelho para os filhos. Se a criança for excessivamente criticada, pode formar uma imagem ruim de si mesma, ou então, se for freqüentemente elogiada, pode carecer de limites. Nenhum dos extremos é saudável. E não é preciso falar tudo à criança, ela está atenta ao modo como os pais se relacionam com ela, entre si e com as outras pessoas. Todas essas funções exercidas pela família são importantes, e não é possível abster se desse primeiro convívio tão necessário à constituição do eu de meninos e meninas.
De acordo com Mendoça, apud, Domingos (2004, p. 1): Apesar de ser um fato que a influência das famílias é fator determinante no aprendizado das crianças, é também uma necessidade da escola reconhecer que um grande número de famílias não tem condição objetiva de acompanhamento das crianças escolarizadas.
Portanto, o ambiente familiar em seus aspectos afetivos interfere na aprendizagem, dependendo das vivências que gerara. Se a família criar laços fortes, de afeto mútuo, isso dá à criança base favorável e melhores condições de aprender, pensar e conviver em companhia de outras pessoas. Caso contrário, poderá gerar situações de agressividade e do respeito.
E algo bastante comum em nossas escolas se refere à indisciplina apresentada por alguns alunos, quando, não raro, a própria autoridade do professor é atacada. Diz Sacristán (2005, p. 209 , 210): O adulto tem saudade de um poder que lhe dava segurança em sua capacidade de influência, que agora já não sente ter. Sem dúvida trata se de um quadro difícil, mas, afinal, o que os professores devem fazer ao serem desrespeitados?
Embrutecer, gritar, vingar se da turma toda por meio de provas massacrantes ou simplesmente expulsar da sala de aula quem ousar questionar a autoridade de um educador? Segundo Cury (2003, p. 90): Deve haver autoridade na relação pai filho e professor aluno, mas a verdadeira autoridade é conquistada com inteligência e amor. Portanto, entendo que não é gritando que se consegue algo de produtivo: durante minhas práticas pude perceber, com absoluta certeza, que a verdadeira relação entre aluno e professor só se dará por meio da afetividade.
Sendo assim, nenhuma das alternativas anteriormente relacionadas mostra se válida: violência só faz nascer ainda mais violência. Sacristán (2005, p. 210 211) diz que (…) a >escola na medida’ do aluno se apóia na busca da cumplicidade, no pacto, e não na imposição. Por isso, urge que os educadores percebam que os alunos não são seus inimigos, e que, em vez de afastá los, piorando ainda mais uma situação de conflito, é seu dever esmerar se em trazer o educando para seu lado.
E como se consegue isso? Através do toque e demais formas de afetividade, do interesse sincero e, fundamentalmente, através do diálogo. Como apropriadamente lembra Cury (2003, p. 46): A verdadeira autoridade é o sólido respeito que nasce através do diálogo, e é de fato assim: já que envolve emocionalmente duas pessoas, dialogar com alguém pode fazer com que se quebre a mais sólida das resistências. Nós não nos tornamos amigos de uma pessoa conversando, dialogando com ela? Pois então, o que impede que os professores dialoguem com seus alunos, fazendo destes seus amigos? Devemos nos lembrar sempre que entre amigos não é necessário proclamar qualquer tipo de autoridade, o respeito flui naturalmente, sem qualquer imposição. Com certeza, é muito mais prazeroso e produtivo educar desse jeito.
E, não raro, a indisciplina que se verifica nas salas de aula é originária dos lares dessas crianças. Também neste ponto cabe aos professores ajudarem pais e mães a, por sua vez, ajudarem seus filhos: na grande parte das vezes, o comportamento agressivo de meninos e meninas (…) são clamores que imploram a presença, o carinho e a atenção dos pais (CURY, 2003, p. 44).
Dessa forma, com muito tato e destreza, os educadores podem esmerar se em aproximar os sujeitos envolvidos, fazendo com que percebam que são uma família e que precisam se amar. Rir e chorar junto, estabelecer e manter relações de afeto, carinho e empatia com os pais e irmãos só contribuirá para o bem do aluno, refletindo positivamente em sua vida escolar.

2- ESCOLA E FAMÍLIA: UMA APROXIMAÇÃO EM PROL DA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO POR PARTE DO ALUNO

2.1A importância do diálogo entre pais, alunos e professores

Estou plenamente convencida de que a participação dos pais na vida escolar dos filhos representa um papel muito importante em relação ao seu bom desempenho em sala de aula. De modo paralelo, também o diálogo entre a família e a escola favorece sobremaneira à construção do conhecimento por parte do aluno, o que denota que a criança e seus genitores mantêm entre si e com a aprendizagem uma ligação muito íntima e profícua.
Mas as relações entre seres humanos nem sempre são fáceis. E, para inibir casos em que situações desgastantes ocorram, devemos nos acercar de duas poderosas armas: o diálogo e o respeito. Tanto alunos, os pais destes, professores e funcionários que trabalham diariamente conosco são seres humanos, e sabemos perfeitamente que os dias para as pessoas não são todos iguais: existem aqueles em que parece que nada do que fazemos dá certo, que ninguém nos entende, que ninguém nos ama, e que o mundo todo conspira contra nós a fim de nos derrubar. Assim, é normal que homens, mulheres e crianças tenham dias considerados ruins, onde a irritabilidade impera, sendo que esses momentos precisam ser respeitados.
Desta forma, para que a escola não se torne um campo de batalha, devemos nos conscientizar da importância de duas atitudes: conhecermos a fundo nossas emoções, controlando as sempre que for necessário, e entendermos os momentos de fragilidade de quem convive conosco, procurando, desta maneira, evitar todo e qualquer momento negativo. Como diz Cury (2003, p. 76): Nos primeiros trinta segundos que estamos tensos, cometemos os piores erros, nossas piores atrocidades. No calor da tensão, seja amigo do silêncio, respire fundo.
Além disso, nós educadores, precisamos parar momentaneamente nossas atividades e refletir sobre as práticas que mantemos, pois a construção do conhecimento se dá pela reflexão. A escola não pode ser um lugar onde o erro não seja permitido e onde só é valorizado o aluno que consegue tirar boas notas. Sabemos que se trata de um processo delicado e que exige muitos cuidados, mas precisamos rever o que aprendemos em nossa formação, pois o mundo mudou e ainda vai continuar mudando.
Portanto, também precisamos mudar, nos contextualizando com essas transformações diárias. O professor deve estar em um constante fazer e refazer, propondo, questionando, avaliando, inovando… Porém, sua ação não pode dar se a esmo, necessita ser planejada e refletida com esmero. Segundo Cury (2003, p. 17): Um excelente educador não é um ser humano perfeito, mas alguém que tem serenidade para se esvaziar e sensibilidade de aprender.
Já o aluno necessita de incentivos e estímulos. É necessário que conheça sua situação em relação a si mesmo e em relação aos seus colegas e professores. Por sua vez, as informações que os familiares do educando devem receber deverá ter um caráter educativo: a partir desses dados os pais poderão estimular ainda mais seus filhos em seu dia a dia escolar.
A referência básica necessita ser o processo pessoal do educando, a fim de que se perceba claramente o que se poderá fazer para ajudá lo, instaurando-se um diálogo capaz de envolver família e escola. Tive um aluno que, de um momento para outro, passou a ter maiores dificuldades de aprendizagem.
Questionei-lhe sobre o que estava acontecendo e ele me disse que o pai estava exigindo que lhe ajudasse no cultivo da soja. Procurei, então, os familiares deste aluno e expus-lhes o problema. Eles prontamente entenderam a situação e mudaram sua forma de proceder, o que veio refletir benéfica mente na aprendizagem do educando.
E em se tratando da administração do estabelecimento de ensino, deve ser disponibilizada qualquer informação que solicitar, mas estas informações deverão ser o mais complexas possíveis, ricas em detalhes e dados. Seria extremamente incoerente se uma escola adotasse um ensino voltado à diversidade, globalização, transversalidade, etc, e ainda resumisse todas as informações acerca um aluno em uma simples nota.
Um outro fato relevante com referência às informações sobre os alunos é a sua privacidade. Estas informações necessitam ser usadas unicamente para contribuir para o progresso tanto do estudante como do professor: aos professores para que possam adaptar o ensino às necessidades do aluno e para que valorizem seu esforço, e ao aluno para que se conscientize de sua situação e analise seus progressos, retrocessos e envolvimento pessoal. Assim, não é justo e nem útil que esse conhecimento se proclame indiscriminadamente aos quatro ventos, o que, com certeza, não levaria a um diálogo construtivo.
Por exemplo, é costume sacramentado as informações sobre a aprendizagem dos alunos serem as mesmas tanto para eles, como para os professores, pais e administração da escola, geralmente vindas em forma de boletins de notas. Porém, uma escola que presta atenção à diversidade e que busca a formação integral da pessoa precisa propor formas diferentes de informação, cada qual destinado a um segmento envolvido no processo educativo, onde o diálogo entre pais, mestres e alunos é devidamente valorizado.
Assim, é conveniente que os professores sejam disponibilizados todos os dados que permitem conhecer cada passo seguido pelo aluno em seu processo de aprendizagem, visando determinar suas necessidades e, a partir daí, propor novas medidas educativas. A equipe docente precisa ficar a par de tudo o que se refere a cada aluno em particular, obtendo dados sobre o processo seguido, resultados obtidos, medidas específicas utilizadas e qualquer incidente significativo que ocorrer. Desta forma, a escola poderá garantir a continuidade e a coerência no percurso do aluno. Segundo Bozzetto (2005a, p. 42):
Os registros de acompanhamento dos alunos necessitam ser construídos ao longo do processo de ensino e de aprendizagem, pois a avaliação é integrante dos mesmos. A sua elaboração requer, portanto, um processo contínuo e constante. É durante o processo que o/a professor/a registrará as necessidades de cada aluno e o que fez para auxiliá lo a superá las.
Além disso, para que se instaure um clima de diálogo na escola e para bem realizar o seu trabalho ao longo do ano, é válido que o professor sugira leituras específicas e adequadas, promova reuniões de estudo, organize momentos em que haja efetiva troca de idéias e experiências com colegas e com o grupo em geral, estimulando e oportunizando o crescimento de todos, visando manter a hegemonia de pensamentos e ações da comunidade escolar.
Ele precisa também se manter permanentemente atualizado, realizando leituras da área educacional, bem como assuntos da contemporaneidade, uma vez que suas ações e orientações não podem incorrer no campo do achismo e de meias certezas. Desta forma, dialogando bem em seu próprio meio, a escola terá maiores condições de dialogar com êxito com seus pais.
Infelizmente, o que percebi é que ainda falta uma proximidade real entre família e escola. Uma aproximação que vá além do ato de deixar a criança ficar na porta do estabelecimento ou este encontrar os familiares do aluno somente em dias de festividade ou entrega de resultados. Urge instaurar uma relação que garanta verdadeiramente a criança e ao jovem estudante a certeza de que sua família e a escola em que estudam comungam dos mesmos valores, apesar de, em certos momentos, usarem meios diferentes para atingir a mesma finalidade: a construção do conhecimento por parte do educando.
Lembro que Freire (1997) dizia que ninguém educa ninguém, assim como ninguém educa sozinho: alguém só aprende se existir uma pessoa que lhe deseje ensinar. Da mesma forma, alguém só ensinará se houver um indivíduo predisposto a aprender, e o aprender se tornará prazeroso na medida em que for significativo.
Assim, no mundo complexo em que vivemos, a nossa missão é realmente desafiadora, pois temos o compromisso de introduzir, de lançar nosso educando em um espaço público, em um universo de muitas incertezas, onde, muitas vezes, nem sabemos o que está certo ou o que está errado. Pensando desta forma, vemos que o conhecimento se amplia e que cada aula dada por nós é uma grande oportunidade de crescimento, tanto nosso como o de nossos alunos.
Mas, para que isso ocorra a contento, é necessário diálogo: o professor constrói a sua história se comunicando, e é imprescindível que tenhamos essa capacidade de representar o mundo através de várias linguagens de expressão. Trata se de uma caminhada árdua e cheia de obstáculos, mas ser educador é isso mesmo: aquele que assume a força de suas idéias e não se abate diante das barreiras surgidas, aprimorando, constantemente, métodos para vencer estes desafios, dialogando com seus alunos e com a família destes. Como me disse uma aluna, certa ocasião: Profe, eu gosto quando a senhora conversa com a gente. Esta simples frase me fez ganhar o dia.

2.1.1Reuniões entre pais e professores

Durante as minhas práticas pedagógicas propus uma série de atividades, as quais envolviam, entre outras, reuniões entre pais e professores e encontros com alunos da 10 e da 40 a 80 série. Todos esses momentos foram muito proveitosos, revelando se experiências enriquecedoras e gratificantes, que alargaram sobremaneira os meus horizontes profissionais.
Percebi que cada turma possui características próprias, mas todas têm muito que aprender e também a ensinar. Percebei, também, que a grande maioria das famílias é participativa e dedicada, mas, por vezes, nota se uma dificuldade maior por parte de alguns pais em expressarem os seus sentimentos, o que os leva a não se envolver ativamente das atividades propostas.
Desta forma, procurando ajudar quanto à aproximação desses familiares, entendo que se mostra válido o educador acompanhar de perto o desenvolvimento de todas as atividades educativas e reuniões realizadas na escola. Longe de esta atitude ter caráter de vigilância ou controle, ela evidencia preocupações e envolvimento com o espaço educacional no sentido de contribuir para uma maior aproximação das famílias, apresentando novas idéias capazes de enriquecer práticas, orientando, propondo atividades diferenciadas, sugerindo e organizando encontros.
Este compartilhar propicia a formação de elos que serão sedimentados em sólidas bases de confiança mútua e respeito, sem os quais a possibilidade de êxito fica extremamente comprometida. De acordo com Cury (2003, p. 55): Educar é ser um artesão da personalidade, um poeta da inteligência, um semeador de idéias.
Neste sentido, o Projeto Político Pedagógico e o regime escolar geralmente dão grande ênfase à responsabilidade que os pais têm de acompanhar o desenvolvimento de seus filhos e, por isso, abrem espaço para que os familiares visitem freqüentemente a escola, conversem com os professores e participem das reuniões e eventos em geral. Este elo de proximidade entre família e escola contribui para que a educação familiar e a educação escolar se complementem, que estejam abertas ao diálogo e ao entendimento visando trabalhar juntas para superar dificuldades encontradas.
Esses encontros entre pais, professores e alunos mostram se valiosos e produtivos. Por exemplo, ao serem questionados se ficam felizes quando os seus pais participam das atividades desenvolvidas na escola, a unanimidade dos alunos entrevistados disse sentirem-se satisfeitos com esta participação, o que demonstra o interesse dos familiares quanto ao seu futuro. E realmente estas oportunidades podem levar ao envolvimento e ao comprometimento de todos.
Além disso, é muito gratificante perceber que as famílias envolvidas nas práticas propostas começam a acreditar nas suas capacidades e em seu poder de tornar a vida uma experiência maravilhosa, cheia de realizações. Essas pessoas passam a gostar mais de si mesmas, sentindo se úteis e valorizadas, contribuindo, servindo e cooperando e, também, estando felizes por participarem de uma sociedade disposta a mudar e a evoluir.
É com satisfação que percebi que, quanto a este aspecto, os educadores entrevistados estão em sintonia com esta forma de pensar, sugerindo algumas maneiras para as famílias participarem ainda mais ativamente das atividades e decisões da escola de seus filhos, tais como freqüentar ativamente das reuniões escolares, buscar informações sobre seus filhos e visitar regularmente a escola, demonstrando interesse quanto ao futuro de suas crianças.
Desta forma, percebo que os espaços educacionais devem, mais do que nunca, abordar temáticas que despertem nos pais inquietações e, ao mesmo tempo, dêem a eles respaldo para orientar os filhos para o mundo e a transformação dele, além de propor a convivência sadia nas relações interpessoais e a aceitação das diferenças e da pluralidade cultural existente em nosso país.
E tudo isso deve ser feito com o objetivo de formar cidadãos cada vez mais engajados nos projetos sociais, mais atentos à mudança acelerada que acontece diariamente, com clareza e discernimento suficientes para a tomada de decisões e, sobretudo, para tornar as pessoas mais aptas a enfrentarem o mundo.
Assim sendo, quando as escolas chamam os pais para o seu interior, assumem uma postura democrática na medida em que vão utilizar a reunião para discutir, analisar ou comunicar algo que é de importância para a família. E, por parte dos pais, o ideal é que reflitam sobre o que se deve levar de contribuição ou dúvida sobre os filhos para estas ocasiões.
Assim, é de extrema importância para a família avaliar a vida escolar dos filhos sistematicamente, informando se sobre seu desempenho, seus procedimentos, suas ações em geral para que, quando convocadas pela escola para um momento de encontro, tenha elementos para conversar com os professores e orientadores. E ainda mais: entendo que possuir todos os dados sobre a vida escolar das crianças não será somente importante para a reunião, mas também para conhecer melhor os próprios filhos.
Da mesma maneira, a família não deve ficar numa posição passiva, à espera de que a chamem para uma reunião. Ao detectar qualquer problema escolar com seus filhos, necessitam imediatamente se comunicar com a escola a fim de buscar esclarecimentos, lembrando sempre que cada caso é único.
De igual forma, é válido que usem este tempo para a troca de informações sobre educação, temas atuais sobre as crianças e adolescentes e, principalmente, sobre a proposta pedagógica da escola, muitas vezes não explicitada à família, que deve conhecer quais conteúdos serão trabalhados com os filhos, com qual metodologia serão tratados e quais serão seus significados para a vida.
Em suma, entendo que a escola é a responsável pelo processo de escolarização formal dos alunos e sabe quais objetivos precisa atingir. Sabe também que os profissionais envolvidos precisam dar conta desse processo, mas necessitam contar com o apoio integral da família, pois o tempo de convivência dos alunos com os pais e irmãos é muito maior do que com professores e colegas de classe. Assim, a interferência da família é importante na hora e medida certas e nesse ponto um bom diálogo com professores e orientadores, durante as reuniões de pais, poderá ser muito útil e esclarecedor.

2.2O estabelecimento de parcerias entre família e escola por um objetivo comum: a aprendizagem escolar

Os professores são sujeitos fundamentais no processo ensino aprendizagem e, portanto, das ações escolares que incluem aquelas relativas ao relacionamento escola família. Numa visão construtivista, o aluno tem a sua relação com o objeto mediada pelo professor e com ele mantém vínculos positivos, que impulsionam a aprendizagem, ou negativos, que proporcionam um afastamento da situação de aprendizagem. Envolver a família na educação escolar dos filhos pode significar, para os educadores, que eles tenham que conhecer melhor os pais dos alunos e realizar um trabalho conjunto com eles para criar, entre outras fatores, uma atmosfera que fortaleça o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças.
Porém, mesmo garantindo se a especificidade dos papéis da escola e do governo na educação das crianças e o respeito ao conhecimento especializado que detêm os professores para desenvolverem o seu trabalho, o estreitamento das relações entre escola e família pode ajudar os professores a exercerem a sua profissão com mais competência.
Com essa aproximação os educadores podem passar a ter maiores informações a respeito de quem são os seus alunos, suas famílias, sua cultura, sua vida cotidiana, o que, em última instância, favorece a organização do trabalho a ser desenvolvido em benefício dos alunos e da comunidade.
E, por parte dos pais, relações mais estreitas com a escola podem ajudá los a compreender melhor o trabalho por ela realizado e a se envolverem, na medida de suas possibilidades, no processo educacional dos filhos, trabalhando de forma consoante com as necessidades educativas da vida e da participação no mundo atual.
Inclusive, quando inquiridos se procuram estabelecer relações de parceria com as famílias de seus alunos, quase a totalidade dos professores entrevistados disse buscar a participação dos familiares de seus alunos na escola através de reuniões, confraternizações e conversas informais, procurando também visitar os educandos na casa destes.
Outros educadores, entretanto, disseram não se esmerar na realização de nenhuma dessas atividades, o que leva a questionar a falta de motivação e interesse desses profissionais o que, a meu ver, se deve ao fato de alguns educadores sentirem a presença da família como uma ameaça a sua profissionalidade, sentindo-se destituídos de sua competência e de seu papel de ensinar.
Ainda quanto a este sentido, crianças que colaboraram com a entrevista alegaram perceber um bom nível de amizade envolvendo alunos e professores, sendo que algumas atividades sugeridas para aumentar ainda mais este entrelaçamento vem a ser a realização de festinhas, jogos, gincanas, reuniões e outros encontros semelhantes. Este ponto de vista confirma outra posição defendida por 100% dos alunos questionados: todos eles disseram preferir a escola como uma entidade aberta, permitindo a presença de pais e outros elementos da sociedade em seu meio.
E, de fato, quando escola e família têm uma linguagem comum e posicionamentos adotados colaborativamente no trato de aspectos da educação das crianças e da sua escolarização, é possível que os educandos consigam ter uma aprendizagem mais significativa, um percurso acadêmico mais tranqüilo e um desenvolvimento intelectual e emocional mais harmonioso, o que não pode ser desprezado. Assim, percebi que a influência da família deve ser bem recebida pela escola, sem preconceitos, orientando suas falhas e aplaudindo seus acertos.
Além disso, é recomendável que a família que possui condições sociais e econômicas deve procurar conhecer da melhor forma possível a escola que vai escolher para os seus filhos, procurando uma coerência entre suas expectativas e o que o espaço educacional realmente tem a oferecer. Quanto a este ponto, segundo Winnicott (1982, p. 217), é importante que os pais reflitam sobre certos aspectos que podem vir a favorecer a aprendizagem escolar de suas crianças:
a) Mostra se recomendável inteirar se previamente das metodologias aplicadas pela nova escola. Se estas exigirem a intensiva participação dos pais em atividades tais como trabalhos de casa, pesquisas, reuniões, festinhas no colégio, etc, e os familiares não puderem cumprir com essas solicitações por trabalharem fora ou outro motivo qualquer, a criança poderá não compreender a situação devidamente e sentir se desprezada. Por meio de minhas práticas constatei que as crianças cobravam dos pais esta participação, e sentem-se infelizes quando não são atendidas em seus interesses;
b) Também se mostra recomendável considerar o tamanho e a organização da escola em relação à personalidade do estudante. Há crianças que se intimidam em escolas muito grandes, com turmas imensas e salas de aula superlotadas. Estes alunos vão sentir se melhor em escolas pequenas, mais acolhedoras e, portanto, menos ameaçadoras. Por outro lado, há aqueles que gostam de grandes grupos, muito espaço e de atividades diversificadas, neste caso cabendo melhor os colégios de maior porte.
Vejo a importância de que os pais tenham consciência de seu papel na formação de seus filhos e clareza na maneira de conduzir os mesmos. É fundamental que a relação pais e filhos seja baseada no carinho, no diálogo e no amor, pois o relacionamento familiar implicará diretamente em sua vida futura, principalmente nos espaços educacionais. Sabe se que a escola vai melhor quando a família está presente: se os familiares se interessam por ela, a criança se comprometerá mais com os estudos.
Desta forma pais, educadores e toda sociedade precisam estar conscientes sobre a importância da união entre a família e a escola na formação das crianças. Ambas têm função de auxiliar o sujeito a ser autônomo, criativo, capaz de relacionar se bem com o outro e interagir significativamente na sociedade.
Desta forma, para que se efetive na prática o processo ensino-aprendizagem, é necessário partilhar responsabilidades com a presença ativa de todos os envolvidos, organizando e definindo objetivos e estratégias, bem como sanar conflitos e situações indesejáveis que não foram previstos no planejamento. Tecer essa dimensão significa transformar, revolucionar.
Por isso, é fundamental que as relações entre as pessoas sejam horizontais, contribuindo, dessa forma, no processo de intercâmbio de vivências, experiências e interações entre os sujeitos. Sabe-se que a escola não tem somente o papel de transmitir conhecimentos, mas, muito mais, o de repensar a sociedade na qual vivemos e que desejamos reconstruir.
Contudo, para que isso aconteça, o comprometimento de todos é indispensável: quando dizemos que a escola é um lugar onde os alunos possam descobrir e desenvolver seus talentos, estamos colocando à prova o nosso trabalho, visto ser nossa a tarefa de proporcionar espaços e possibilidades para o seu fecundo desenvolvimento.

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