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domingo, março 24, 2024

Os Nitrofuranos

Os nitrofuranos são medicamentos antimicrobianos de largo espectro para bactérias, alguns fungos e protozoários. Foram muito usados na terapêutica e prevenção de infecções em medicina veterinária e como aditivos. (promotores de crescimento em animais para alimentação). A partir de 1993 o uso destas substâncias em animais destinados ao consumo humano passou a ser proibido. Com base em dados toxicológicos, o Comitê Misto FAO-OMS de Peritos em Aditivos Alimentares e o Comitê de Medicina Veterinária emitiram pareceres sobre a utilização destas substâncias, que foram incluídas no Anexo IV do Regulamento CE n°2377/90 do Conselho, onde se encontram outras substâncias também proibidas.
Alguns medicamentos usados para combater doenças nos animais de consumo humano também servem para promover o seu crescimento. Em termos econômicos isto traz vantagens para os criadores, pois os animais se desenvolvem antes do tempo permitindo o abatimento prematuro. Como conseqüência, há um aumento do lucro, já que se criam mais animais, de maneira mais rápida aumentando, assim as vendas.

A CEE formulou um regulamento (n°2377/90 de 26 de Julho) que previa um processo comunitário para o estabelecimento de limites máximos de resíduos de medicamentos veterinários nos alimentos de origem animal. Este programa institui a inclusão destes medicamentos em 4 listas distintas, publicadas em 4 anexos. Os nitrofuranos foram colocados no Anexo IV, onde estão todas as substâncias cuja utilização em animais de consumo é proibida.

Este regulamento foi formulado com base nos estudos toxicológicos realizados em medicamentos e aditivos de uso veterinário. Para permitir ou proibir o uso de uma substância é necessário saber os seus riscos e benefícios. Um medicamento usado para tratar animais durante um certo período de tempo pode trazer-nos problemas com o consumo contínuo da carne.

Foram avaliados vários parâmetros dos nitrofuranos para se determinar uma dose diária mínima que não trouxesse risco para os consumidores. Foram avaliadas as probabilidades de ocorrência de cancro, malformações fetais (teratogénese) e alterações no DNA (mutagénese) por parte dos nitrofuranos e seus metabolitos (produtos resultantes da transformação dos nitrofuranos no organismo).

Os estudos realizados em animais revelaram que os nitrofuranos eram capazes de provocar cancro, teratogénese e mutagénese. Tendo em vista estes resultados não foi possível determinar uma dose que não oferecesse risco. Mesmo assim, até hoje nenhum caso de cancro, mutagénese ou teratogénese em seres humanos foi relacionado ao consumo de carne com resíduos de nitrofuranos. É importante ressaltar que o consumo de carne é feito de forma contínua durante toda a vida. Esta é a preocupação das Organizações que fazem este tipo de estudo e também da CEE quando não asseguram o consumo de animais tratados com nitrofuranos sem que haja risco para a saúde.

O Ministério da Agricultura garante que o último caso de uso de nitrofuranos em animais de consumo se deu em maio de 2003. Mesmo assim, o que se pode fazer para evitar uma possível exposição continuada é uma alimentação variada.
Os nitrofuranos caracterizam-se pela presença do radical nitro (NO2) na posição 5 do anel furano. Basicamente são usados em veterinária como coccidiostáticos em frangos, antibacterianos intestinais em perus, antibacterianos na mastite das vacas, como profilático e terapêutico de infecções intestinais em suínos. Além disso são usados em aquicultura (peixes e camarões) no tratamento das águas.

O mecanismo de acção exacto ainda não é conhecido. Aparentemente estas drogas actuam inibindo vários sistemas enzimáticos.

Da extensa família dos nitrofuranos, os mais utilizados em medicina veterinária e como aditivos foram: Nitrofurazona, Furazolidona, Nitrofurantoína, Furaltadona e Nifursol, os quais serão toxicologicamente abordados a seguir. Também podem ser consultados os textos que forneceram as informações toxicológicas sobre cada composto.

NITROFURAZONA

Os ensaios de toxicidade por administração repetida revelaram que a nitrofurazona induz a formação de tumores (fibroadenomas mamários, tumores nos ovários em ratos e ratinhos). Os ensaios de genotoxicidade foram positivos apenas nos testes in vitro. Os ensaios sugerem que a nitrofurazona não é teratogénica, porém é fetotóxica e maternotóxica em coelhos e ratinhos.

NITROFURAZONA

FURAZOLIDONA

Os ensaios de toxicidade por administração repetida revelaram incidência aumentada de adenocarcinomas da glândula mamária e nos brônquios, além de linfossarcomas em ratos e ratinhos. Os ensaios de genotoxicidade in vitro revelaram-se quase todos positivos. Demonstrou-se também que a furazolidona inibe a conversão de progesterona em corticosterona nas células adrenais.

Estudos realizados pelo EMEA (European Agency for the Evaluation of Medicinal Products) revelaram que a furazolidona e seu metabolito 3-amino-2-oxazolidona são mutagénicos. Os resíduos totais estavam na faixa dos mg/kg em todos os tecidos edíveis e que passados 45 dias do último tratamento os resíduos presentes ainda eram bioavaliáveis.

Furazolidona

Furazolidona (EMEA)

NITROFURANTOÍNA

Os ensaios de carcinogenicidade em ratos mostraram um aumento na incidência de neoplasmas em células trubulares dos rins nos machos. Nas fêmeas houve um aumento na incidência de adenomas tubulares e tumores benignos nas células granulares dos ovários. Também se verificou osteossarcoma incomum e neoplasma de tecido subcutâneo em machos. Os ensaios de mutagenicidade obtiveram resultados positivos apenas in vitro. A nitrofurantoína mostrou-se gonadotóxica em ratos e ratinhos em doses elevadas.

NITROFURANTOÍNA

FURALTADONA

Não existem muitos dados sobre a furaltadona. O que se apurou foi que esta substância obteve resultados positivos em ensaios de carcinogenicidade in vivo em células não humanas. Existem evidências de tumores mamários malignos e linfomas linfoblásticos em ratos submetidos a uma dieta de 46 meses com doses de 1000 ppm.

FURALTADONA

NIFURSOL

Testes in vitro demonstraram que o nifursol possui potencial mutagénico na presença de activação metabólica. Estudos utilizando medula óssea como tecido alvo obtiveram resultados negativos, o que não ocorreu com a utilização de outros tecidos alvo. Os testes de carcinogenicidade em ratos não foram significativos, não se conseguindo estabelecer uma relação dose e efeito (excepto na incidência de adenomas renais em machos). Foram também realizados testes em perus, em cuja determinação de resíduos após uma dieta de 8 semanas obteve resultados negativos.

NIFURSOL

O que faz com que o uso de nitrofuranos seja proibido na produção de alimentos é o facto de não se ter estabelecido uma ADI (Admissible Daily Intake) e, conseqüentemente um LMR (Limite Máximo de Resíduo).

Tendo em conta que a ingestão destes alimentos não é ocasional, mas sim continuada, não é possível afirmar que os animais destinados ao consumo humano que foram tratados com qualquer substância da família dos nitrofuranos sejam seguros.

Em 28 de Fevereiro de 2003 foi emitido pelo Ministério da Saúde um parecer sobre o uso de nitrofuranos tendo em conta o problema que surgiu no início do ano com a descoberta de resíduos na carne de aves e porcos. Este parecer pode ser visto com maior detalhe em Parecer do Ministério da Saúde.

Nitrofuranos de uma forma geral:
www.ncbi.nlm.nih.gov

www.gateway.nlm.nih.gov

www.toxnet.nlm.nih.gov

www.afsni.ac.uk/foodbrand

Pesquisa de nitrofuranos na carne:
www.fougere.fr

Autor: Susana Nunes da Rocha

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