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sexta-feira, abril 26, 2024

DISCURSO PRELIMINAR SOBRE O ESPÍRITO POSITIVO 2/4

19. Importa, contudo, reconhecer, em principio, que, sob o regime positivo, a harmonia de nossas concepções se acha necessariamente limitada, até certo ponto, pela obrigação fundamental de sua realidade, isto é, de uma suficiente conformidade com tipos independentes de nós. Em seu cego instinto de ligação, nossa inteligência aspira a poder quase sempre ligar entre si dois fenômenos quaisquer, simultâneos ou sucessivos; mas o estudo do mundo exterior demonstra, ao contrário, que muitas dessas associações seriam puramente quiméricas, e que uma multidão de acontecimentos se realiza continuamente sem nenhuma real dependência mútua; de sorte que este pendor indispensável precisa, como nenhum outro, ser regulado por sã apreciação geral. Habituado, durante muito tempo, a uma espécie de unidade de doutrina, por mais vaga e ilusória que devesse ser, sob o império das ficções teológicas e das entidades metafísicas, o espírito humano, passando para o estado positivo, tentou logo reduzir as diversas ordens de fenômenos a uma lei comum. Mas todos os ensaios realizados durante os dois últimos séculos, para obter unia explicação universal da natureza, apenas conseguiram desacreditar radicalmente tal empreendimento, de ora em diante abandonado às inteligências mal cultivadas. Uma judiciosa explicação do mundo exterior o representou como sendo muito menos ligado do que o supõe e o deseja o nosso entendimento, predisposto, por sua própria fraqueza, a multiplicar relações favoráveis e à sua marcha, e, sobretudo, ao seu repouso. Não somente as seis categorias fundamentais que distinguiremos mais adiante entre os fenômenos naturais, não poderiam ser todas certamente submetidas a uma única lei universal, como também podemos assegurar agora que a unidade de expl1cação, ainda procurada por tantos espíritos sérios em relação a cada uma delas, tomada à parte, nos é finalmente interdita, mesmo neste domínio muito mais restrito. A Astronomia fez nascer, sob este aspecto, esperanças demasiado empíricas, que nunca se poderiam realizar para os fenômenos mais complicados, nem mesmo quanto à Física propriamente dita, cujos cinco ramos principais ficarão sempre distintos entre si, apesar de suas incontestáveis relações. Freqüentemente nos achamos dispostos a exagerar muitos inconvenientes lógicos dessa dispersão necessária, porque apreciamos mal as vantagens reais que apresenta a transformação das induções em deduções. Todavia cumpre reconhecer francamente esta impossibilidade direta de reduzir tudo a uma única lei positiva como grave imperfeição, conseqüência inevitável da condição humana, que nos força a aplicar uma inteligência muito fraca a um universo complicadíssimo.

20. Mas esta incontestável necessidade, que importa reconhecer, a fim de evitar vão desperdício de forças mentais, não impede de modo algum a ciência real de comportar, sob outro aspecto, suficiente unidade filosófica, equivalente às que a Teologia ou Metafísica constituíram passageiramente, e, aliás, muito superior, tanto em estabilidade como em plenitude. Para perceber-lhe a possibilidade e apreciar-lhe a natureza, é preciso recorrer, em primeiro lugar, à luminosa distinção geral esboçada por Kant entre os dois pontos de vista objetivo e subjetivo, peculiares a qualquer estudo. Considerada sob o primeiro aspecto, isto é, quanto ao destino exterior das nossas teorias, como exata representação do mundo real, nossa ciência não é, certamente, suscetível de plena sistematização, em virtude da inevitável diversidade entre os fenômenos fundamentais. Neste sentido não devemos procurar outra unidade senão a do método positivo encarado em seu conjunto, sem pretender verdadeira unidade científica, mas somente a homogeneidade e a convergência das diversas doutrinas. O mesmo não acontece sob o outro aspecto, isto é, quanto à origem interior das teorias humanas, encaradas como resultados naturais de nossa evolução mental, ao mesmo tempo individual e coletiva, destinadas à satisfação normal de nossas próprias necessidades, sejam físicas, intelectuais ou morais. Referidos assim, não ao universo, mas ao homem, ou antes à Humanidade, nossos conhecimentos reais tendem, ao revés, com evidente espontaneidade, para uma completa sistematização, tanto científica como lógica. Não devemos mais então conceber, no fundo, senão uma única ciência, a ciência humana, ou mais exatamente, social, da qual nossa existência constitui ao mesmo tempo o princípio e o fim, e na qual vem naturalmente fundir-se o estudo racional do mundo exterior, sob o duplo titulo de elemento necessário e de preâmbulo fundamental, igualmente indispensável quanto ao método e quanto à doutrina, como explicarei mais adiante. É só assim que os nossos conhecimentos positivos podem formar um verdadeiro sistema, de modo a oferecerem um caráter plenamente satisfatório. A própria Astronomia, ainda que objetivamente mais perfeita do que os outros ramos da filosofia natural, em razão da sua simplicidade superior, não é verdadeiramente tal senão sob este aspecto humano, porque o conjunto deste Tratado fará sentir com clareza que ela deveria, pelo contrário, ser julgada muito imperfeita se a referíssemos ao universo e não ao homem; pois todos os nossos estudos reais são ai por força limitados ao nosso mundo, que, entretanto, constitui apenas um elemento mínimo do universo, cuja exploração nos é essencialmente interdita, Tal é, pois, a disposição geral que deve enfim. prevalecer na genuína filosofia positiva, não só quanto às teorias diretamente relativas ao homem e à sociedade, mas também em relação às que concernem aos mais simples fenômenos, os mais afastados, em aparência desta comum apreciação: conceber todas as nossas especulações como produtos de nossa inteligência, destinados a satisfazer às nossas diversas necessidades essenciais, sem se afastarem nunca do homem senão para melhor voltarem a ele, depois de haver sido feito o estudo dos outros fenômenos na medida em que o seu conhecimento se torna indispensável, quer para desenvolver nossas forças, quer para apreciar nossa natureza e nossa condição. Pode-se desde então perceber como a noção preponderante da Humanidade deve necessariamente constituir, no estado positivo, uma plena sistematização mental, pelo menos equivalente à que afinal comportará a idade teológica com a grande concepção de Deus, tão fracamente substituída em seguida, a este respeito, durante a transição metafísica, pelo vago pensamento da Natureza.

21. Depois de haver caracterizado a aptidão espontânea do espírito positivo para estabelecer a unidade final do nosso entendimento, torna-se fácil completar esta explicação fundamental, estendendo-a do indivíduo à espécie. Esta indispensável extensão era, até agora, essencialmente impossível aos filósofos modernos, que, não tendo podido libertar-se assaz do estado metafísico, nunca se colocaram no ponto de vista social, único suscetível contudo de uma plena realidade, tanto científica como lógica, pois o homem não se desenvolve isoladamente, mas coletivamente. Afastando, como radicalmente estéril, ou antes muitíssimo prejudicial, esta viciosa abstração de nossos psicólogos ou ideólogos, a tendência sistemática que acabamos de apreciar no espírito positivo adquire enfim toda a sua importância, porque mostra nele o verdadeiro fundamento filosófico da sociabilidade humana, tanto pelo menos quanto esta depende da inteligência, cuja capital influência, ainda que de nenhum modo exclusiva, não poderia ser ai constatada. É, de fato, o mesmo problema humano, com diversos graus de dificuldade, quer se trate de constituir a unidade lógica de cada entendimento isolado ou de estabelecer uma convergência duradoura entre entendimentos distintos, cujo número não poderia essencialmente influir senão sobre a rapidez da operação. Também, em qualquer tempo, aquele que pôde tornar-se bastante conseqüente adquiriu, por isso mesmo, a faculdade de reunir gradualmente os outros, em virtude da semelhança fundamental de nossa espécie. A filosofia teológica não foi, durante a infância da Humanidade, a única própria para sistematizar a sociedade senão por ser então a fonte exclusiva de certa harmonia mental. Se, pois, ao espírito positivo passou irrevogavelmente, de ora avante, o privilégio da coerência lógica, o que não pode, a sério, ser contestado, cumpre desde então nele reconhecer também o único princípio efetivo desta grande comunhão intelectual que se torna a base necessária de toda verdadeira associação humana, quando convenientemente ligada às duas outras condições fundamentais uma suficiente conformidade de sentimentos e uma certa convergência de interesses. A deplorável situação filosófica do escol da Humanidade bastaria hoje para dispensar, a este respeito, qualquer discussão, pois nele não se observa mais verdadeira comunidade de opiniões senão sobre assuntos já reduzidos a teorias positivas, os quais, infelizmente, não são, antes muito pelo contrário, os mais importantes. Uma apreciação direta e especial, que seria deslocada aqui, faz, aliás, perceber facilmente que só a filosofia positiva pode realizar a pouco e pouco este nobre projeto de associação universal, que o catolicismo esboçou prematuramente na Idade Média, mas que era, no fundo, necessariamente incompatível, como a experiência plenamente o demonstra, com a natureza teológica da sua filosofia, a qual instituía uma coerência lógica muito fraca de modo a comportar semelhante eficácia social.

II. Harmonia entre a ciência e a arte, entre a teoria positiva e a prática.

22. Achando-se assaz e definitivamente caracterizada a aptidão fundamental do espírito positivo em relação à vida especulativa, só nos resta apreciá-la também em relação à vida ativa, que, sem poder mostrar nele nenhuma propriedade verdadeiramente nova, manifesta, de maneira muito mais completa e sobretudo mais decisiva, o conjunto dos atributos que lhe temos reconhecido. Ainda que as concepções teológicas tenham sido, mesmo sob este aspecto, por muito tempo necessárias a fim de despertar e sustentar o ardor do homem pela esperança indireta de uma espécie de império ilimitado, foi, entretanto, a este respeito que o espírito humano testemunhou primeiro sua predileção final pelos conhecimentos reais. E, com efeito, sobretudo como base racional da ação da Humanidade sobre o mundo exterior que o estudo positivo da natureza começa hoje a ser universalmente estimado, Nada é mais criterioso, no fundo, do que este julgamento vulgar e espontâneo; porque tal destino, quando convenientemente apreciado, lembra necessariamente, num resumo muito feliz, todos os grandes caracteres do verdadeiro espírito filosófico, não só quanto à racionalidade, mas também quanto à positividade. A ordem natural que resulta, em cada prático, do conjunto das leis dos fenômenos correspondentes, deve evidentemente ser-nos primeiro bem conhecida para que possamos ou modificá-la para nossa vantagem, ou, pelo menos, adaptar-lhe nossa conduta, se for de todo impossível intervirmos nela, como se dá em relação aos acontecimentos celestes. Tal aplicação é especialmente própria para tornar familiarmente apreciável a previsão racional que vimos constituir, sob todos os aspectos, o principal caráter da verdadeira ciência, porque a pura erudição, onde os conhecimentos, reais mas incoerentes, consistem em fatos e não em leis, não podia evidentemente, bastar para dirigir nossa atividade: seria supérfluo insistir aqui sobre uma explicação tão pouco contestável. É verdade que a exorbitante preponderância concedida agora aos interesses materiais conduziu demasiadas vezes o homem a compreender esta ligação necessária de modo a comprometer gravemente o futuro da ciência, pois tendeu a reduzir as especulações positivas somente às pesquisas de utilidade imediata. Mas esta cega disposição resulta apenas da maneira falsa e estreita de conceber a grande relação entre a ciência e a arte, por não terem uma e outra sido apreciadas com bastante profundeza. O estudo da Astronomia é o mais próprio de todos para corrigir semelhante tendência, seja porque sua simplicidade superior permite perceber melhor seu conjunto, seja em virtude da espontaneidade mais íntima das aplicações correspondentes que, há vinte séculos, se acham aí evidentemente ligadas às mais sublimes especulações, como este Tratado o fará claramente compreender. Mas importa sobretudo reconhecer bem, a este respeito, que a relação fundamental entre a ciência e a arte não pôde até agora ser convenientemente concebida, mesmo pelos melhores espíritos, o que é uma conseqüência necessária da extensão insuficiente da filosofia natural, que permanece ainda estranha às pesquisas mais importantes e mais difíceis, as que concernem diretamente à sociedade humana. Com efeito, a concepção racional da ação do homem sobre a natureza ficou assim essencialmente limitada ao mundo inorgânico, de onde resultaria uma excitação científica demasiado imperfeita. Quando esta imensa lacuna tiver sido suficientemente preenchida, como começa a sê-lo hoje, poder-se-á sentir a importância fundamental deste grande destino prático para estimular habitualmente, e muitas vezes mesmo para dirigir melhor as mais eminentes especulações, sob a única condição normal de uma constante positividade. E, de fato, a arte não será mais então unicamente geométrica, mecânica ou química, etc., mas também, e sobretudo, política e moral, devendo a principal ação exercida pela Humanidade consistir, sob todos os aspectos, no melhoramento contínuo da sua própria natureza, individual ou coletiva, entre os limites que o conjunto das leis reais indica, como em qualquer outro caso. Quando esta solidariedade espontânea da ciência com a arte puder ser assim convenientemente organizada, não se pode duvidar que, muito longe de tender a restringir de qualquer modo as sãs especulações filosóficas, ela lhes designará, ao contrário, um destino final muito superior ao seu alcance efetivo, se se não tivesse reconhecido previamente, como princípio geral, a impossibilidade de jamais tornar a arte puramente racional, isto é, de elevar nossas previsões teóricas ao verdadeiro nível de nossas necessidades práticas. Mesmo nas artes mais simples e mais perfeitas, torna-se constantemente indispensável um desenvolvimento direto e espontâneo, sem que as indicações científicas o possam, em caso algum, substituir completamente. Por mais satisfatórias, por exemplo, que se tenham tornado nossas previsões astronômicas, sua previsão é ainda, e será provavelmente sempre, inferior às nossas justas exigências práticas, como terei amiúde ocasião de indicar.

23. Esta tendência espontânea para constituir diretamente uma inteira harmonia entre a vida ativa e a especulativa deve ser considerada finalmente como o privilégio mais feliz do espirito positivo, pois nenhuma outra das suas propriedades pode manifestar-lhe tão bem o verdadeiro caráter e facilitar-lhe o ascendente real. Nosso ardor especulativo acha-se assim sustentado, e mesmo dirigido, por poderoso estímulo contínuo, sem o qual a inércia natural de nossa inteligência a disporia muitas vezes a satisfazer suas fracas necessidades teóricas por explicações fáceis, mas insuficientes, ao passo que o pensamento da ação final lembra sempre a condição de conveniente previsão. Ao mesmo tempo este grande destino prático completa e circunscreve, em cada caso, o preceito fundamental relativo ao descobrimento das leis naturais, tendendo a determinar, de acordo com as exigências da aplicação, o grau de precisão e de extensão de nossa previdência racional, cuja exata medida não poderia, em geral, ser fixada de outro modo. Se, por um lado, a perfeição científica não pode ultrapassar esse limite, abaixo do qual, ao contrário, há de realmente ficar sempre, por outro lado, se o transpusesse, cairia logo numa apreciação demasiado minuciosa, não menos quimérica do que estéril, que finalmente comprometeria mesmo todos os fundamentos da verdadeira ciência, pois nossas leis não podem nunca representar os fenômenos senão com uma certa aproximação, além da qual seria tão perigoso como inútil levar nossas pesquisas. Quando esta relação fundamental da ciência com a arte for convenientemente sistematizada, ela tenderá algumas vezes, sem dúvida, a desacreditar tentativas teóricas cuja esterilidade radical seria incontestável; mas, longe de oferecer qualquer inconveniente real, essa inevitável disposição se tomará desde então muito favorável aos nossos verdadeiros interesses especulativos, impedindo o vão desperdício de nossas fracas forças mentais que resulta muito freqüentemente hoje de cega especialização. Em sua evolução preliminar o espírito positivo teve de apegar-se por toda a parte a quaisquer questões que se lhe tornavam acessíveis, sem indagar muito de sua importância final, que resultava de sua relação própria com um conjunto que, a princípio, não podia ser percebido. Mas este instinto provisório sem o qual teria faltado muitas vezes o alimento conveniente à ciência, deve acabar por subordinar-se habitualmente a uma justa apreciação sistemática, logo que a plena madureza do estado positivo tiver permitido perceber as verdadeiras relações de cada parte com o todo, de modo a oferecer constantemente um largo destino às mais eminentes pesquisas, evitando, entretanto, toda especulação pueril.

24. A propósito desta íntima harmonia entre a ciência e a arte, importa enfim notar especialmente a feliz tendência que dela resulta para desenvolver e consolidar o ascendente social da sã filosofia, como conseqüência espontânea da preponderância crescente que a vida industrial obtém evidentemente na civilização moderna. A filosofia teológica só podia realmente convir a essa fase necessária de sociabilidade preliminar, em que a atividade humana deve ser essencialmente militar, a fim de preparar gradualmente uma associação normal e completa, a princípio impossível, conforme a teoria histórica que alhures estabeleci. O politeísmo adaptava-se especialmente ao sistema de conquista da antigüidade e o monoteísmo à organização defensiva da Idade Média. Fazendo prevalecer cada vez mais a vida industrial, a sociabilidade moderna deve, pois, secundar poderosamente a grande evolução mental que eleva hoje definitivamente nossa inteligência do regime teológico ao positivo. Esta tendência diária e ativa ao melhoramento prático da condição humana é necessariamente pouco compatível com as preocupações religiosas, sempre relativas, sobretudo no monoteísmo, a um destino muito diferente; mas, além disso, semelhante atividade é de natureza a suscitar finalmente uma oposição universal, tão profunda como espontânea, a toda filosofia teológica. Por um lado, com efeito, a vida industrial é, no fundo, diretamente contrária a todo otimismo providencial, pois supõe necessariamente que a ordem natural é tão imperfeita, que exige sempre a contínua intervenção humana, ao passo que a Teologia não admite logicamente outro meio de modificá-la a não ser apelando para o apoio sobrenatural. Em segundo lugar, esta oposição, inerente ao conjunto de nossas concepções industriais, se reproduz, continuamente, sob formas muito variadas, na realização especial de nossas operações, nas quais devemos encarar o mundo exterior, não como dirigido por quaisquer vontades, mas como submetido a leis, suscetíveis de nos permitir uma suficiente previsão, sem a qual nossa atividade prática não comportaria nenhuma base racional. Assim, a mesma correlação básica, que torna a vida industrial tão favorável ao ascendente filosófico do espírito positivo, lhe imprime, sob outro aspecto, uma tendência antiteológica, mais ou menos pronunciada, mas cedo ou tarde inevitável, quaisquer que tenham sido os esforços contínuos da sabedoria do sacerdócio para conter ou temperar o caráter antiindustrial da primitiva filosofia, com a qual a vida guerreira era a única suficientemente conciliável. Tal é a íntima solidariedade que faz todos os espíritos modernos, mesmo os mais grosseiros e os mais rebeldes, participarem involuntariamente, desde muito tempo, da substituição gradativa da antiga filosofia teológica por uma filosofia plenamente positiva, única suscetível, de ora em diante, de verdadeiro ascendente social.

III. Incompatibilidade final da ciência com a Teologia

25. Somos assim conduzidos a completar enfim a apreciação direta do genuíno espírito filosófico por uma última explicação que,. embora sendo sobretudo negativa, se torna, na realidade, indispensável hoje para acabar de caracterizar suficientemente a natureza e as condições da grande renovação mental agora necessária ao escol da Humanidade, manifestando diretamente a incompatibilidade final das concepções positivas com quaisquer opiniões teológicas, tanto monotéicas como politéicas ou fetíchicas. As diversas considerações indicadas neste Discurso já demonstraram implicitamente a impossibilidade de qualquer conciliação duradoura entre as duas filosofias, seja quanto ao método ou quanto à doutrina;, de modo que toda incerteza a este respeito pode ser, aqui facilmente dissipada. Sem dúvida a ciência e a Teologia não se acham a princípio em oposição aberta, pois se não propõem as mesmas questões; e foi isto que permitiu durante muito tempo o desenvolvimento parcial do espírito positivo, apesar do ascendente geral do espírito teológico, e, mesmo, a muitos respeitos, sob a sua tutela preliminar. Mas quando a positividade racional, limitada a princípio, às humildes pesquisas ,matemáticas, que a Teologia tinha desdenhado especialmente empreender, começou a estender-se ao estudo direto da natureza, sobretudo pelas teorias astronômicas a colisão tornou-se inevitável, ainda que latente, em virtude do contraste fundamental, ao mesmo tempo científico e lógico, desde então progressivamente desenvolvido entre as duas ordens de idéias. Os motivos lógicos em virtude dos quais a ciência se interdiz de modo radical os misteriosos problemas de que se ocupa essencialmente a Teologia, são de natureza a desacreditar cedo ou tarde, entre os bons espíritos, especulações que não se evitam senão por serem necessariamente inacessíveis à razão humana. Além disso, a prudente reserva com que o espírito positivo procede, estudando pouco a pouco assuntos muito fáceis, deve fazer apreciar indiretamente a louca temeridade do espírito teológico a respeito das mais difíceis questões. Todavia é especialmente pelas doutrinas que a. incompatibilidade das duas filosofias deve manifestar-se na maior parte das inteligências, muito pouco interessadas, de ordinário, nas simples dissidências de método, ainda que estas sejam, no fundo, as mais graves, por serem a fonte necessária de todas as outras. Ora, sob este novo aspecto, não se pode deixar de reconhecer a oposição radical das duas ordens de concepções, onde os mesmos fenômenos são ora atribuídos a vontades diretoras, ora reduzidos a leis invariáveis. A imobilidade irregular, naturalmente própria a toda idéia de vontade, não pode de modo algum concordar com a constância das relações reais. Também à medida que as leis físicas foram conhecidas, o império das vontades sobrenaturais achou-se cada vez mais restringido, sendo sempre consagrado sobretudo aos fenômenos cujas leis permaneciam ignoradas. Tal incompatibilidade torna-se diretamente evidente, quando se opõe a previsão racional, que constitui o principal caráter da verdadeira ciência, à adivinhação por meio da revelação especial, que a Teologia deve representar como o único meio legítimo de conhecer o futuro. É verdade que o espírito positivo, chegado à sua completa madureza, tende também a subordinar a própria vontade a verdadeiras leis, cuja existência é, com efeito, tacitamente suposta pela razão vulgar, pois os esforços práticos para modificar e prever as vontades humanas não poderiam ter sem isto nenhum fundamento razoável. Mas semelhante noção não conduz de modo algum a conciliar as duas maneiras opostas segundo as quais a ciência e a Teologia concebem necessariamente a direção efetiva dos diversos fenômenos. Tal previsão e a conduta que dela resulta exigem, de fato, evidentemente um profundo conhecimento real do ser no seio do qual as vontades se produzem. Ora, este fundamento preliminar só poderia provir de um ser pelo menos igual, julgando assim por semelhança; não o podemos conceber da parte de um inferior, e a contradição aumenta com a desigualdade de natureza. Também a Teologia sempre repeliu a pretensão de penetrar de qualquer modo os desígnios da Providência, assim como seria absurdo supor aos animais inferiores a faculdade de prever as vontades do homem ou dos outros animais superiores. É, contudo, a esta louca hipótese que seríamos necessariamente conduzidos para afinal conciliar o espírito teológico com o positivo.

26. Historicamente considerada, a oposição radical destes dois espíritos, existente em todas as fases essenciais da filosofia inicial, é em geral há muito admitida relativamente àquelas fases que as populações mais avançadas transpuseram completamente. É mesmo certo que, a respeito delas, se exagera muito tal incompatibilidade em conseqüência do desdém absoluto que nossos hábitos monotéicos inspiram de modo cego para com os dois estados anteriores do regime teológico. A sã filosofia, sempre obrigada a apreciar a maneira necessária segundo a qual cada uma das grandes fases sucessivas da Humanidade efetivamente concorreu para a nossa evolução fundamental, há de retificar cuidadosamente estes injustos preconceitos, que dificultam toda verdadeira teoria histórica. Mas, embora o politeísmo e mesmo o fetichismo, hajam, a princípio, secundado realmente o surto espontâneo do espírito de observação, deve-se, entretanto, reconhecer que não podiam ser verdadeiramente compatíveis com o sentimento gradual da invariabilidade das relações físicas, logo que tal sentimento pôde adquirir certa consistência sistemática. Devemos assim conceber essa inevitável oposição como a principal fonte secreta das diversas transformações que sucessivamente decompuseram a filosofia teológica, reduzindo-a cada vez mais. É aqui o lugar de completar, a este propósito, a indispensável explicação indicada no começo deste Discurso, onde essa dissolução gradual foi especialmente atribuída ao espírito metafísico propriamente dito, que, no fundo, não podia ser senão o simples órgão de tal dissolução e nunca o seu verdadeiro agente. Cumpre, com efeito, notar que o espírito positivo, em virtude da falta de generalidade que devia caracterizar-lhe a lenta evolução parcial, não podia formular convenientemente suas próprias tendências filosóficas, que apenas se tornaram sensíveis durante nossos últimos séculos. Dai resultou a necessidade especial da intervenção metafísica, única que podia sistematizar convenientemente a oposição espontânea da ciência nascente à antiga Teologia. Mas, ainda que tal ofício tenha feito exagerar muito a importância efetiva deste espírito transitório, é, contudo, fácil reconhecer que só o progresso natural dos conhecimentos reais dava séria consistência à sua ruidosa atividade. Esse progresso contínuo que, no fundo, tinha determinado, antes, a transformação do fetichismo em politeísmo, constituiu, em seguida, sobretudo a fonte essencial da redução do politeísmo ao monoteísmo. Como a colisão se operou principalmente pelas teorias astronômicas, este Tratado me fornecerá a oportunidade de caracterizar o grau preciso de seu desenvolvimento, ao qual cumpre atribuir, na realidade, a irrevogável decadência mental do regime politéico, que havemos de reconhecer então ser logicamente incompatível com a fundação decisiva da Astronomia Matemática pela escola de Tales.

27. O estudo racional de semelhante oposição demonstra claramente que ela não podia limitar-se à Teologia antiga e que teve de estender-se depois ao próprio monoteísmo, embora a sua energia devesse decrescer com a sua necessidade, à medida que o espírito teológico continuava a decair em virtude do progresso espontâneo da ciência. Sem dúvida esta fase extrema da filosofia inicial era muito menos contrária do que as precedentes ao surto dos conhecimentos reais, que nela não encontravam mais, a cada passo, a perigosa concorrência de uma explicação sobrenatural especialmente formu1ada. Assim foi especialmente sob este regime monotéico que se realizou a evolução preliminar do espírito positivo. Mas, por ser menos explícita e mais tardia; não era a incompatibilidade finalmente menos inevitável, mesmo antes da época em que a nova filosofia se tornaria bastante geral para tomar um caráter verdadeiramente orgânico e substituir, de modo irrevogável, a Teologia no seu ofício social, assim como no seu destino mental. Como o conflito se deve operar ainda sobretudo pela Astronomia, demonstrarei aqui, com precisão, qual foi a evolução mais avançada que estendeu necessariamente sua oposição radical, antes limitada ao politeísmo propriamente dito, até o mais simples monoteísmo: reconhecer-se-á então que essa inevitável influência resultou do descobrimento do duplo movimento da Terra, logo seguido da fundação da mecânica celeste. No estado presente da razão humana, podemos, assegurar que o regime monotéico, por muito tempo favorável, aos primeiros progressos dos conhecimentos reais, entrava profundamente a marcha sistemática que devem seguir de ora avante, impedindo adquira enfim a crença fundamental na invariabilidade das leis físicas sua indispensável plenitude filosófica. O pensamento contínuo de súbita e arbitrária perturbação na economia natural deve, na realidade, ficar sempre inseparável, pelo menos virtualmente, de toda Teologia qualquer, mesmo atenuada tanto quanto possível. Sem tal obstáculo, que não pode de fato desaparecer senão pelo completo desuso do espírito teológico, o espetáculo diário da ordem real já teria determinado uma adesão universal ao espírito fundamental da filosofia positiva.

28. Vários séculos antes do desenvolvimento científico permitir apreciar diretamente esta oposição radical, a transição metafísica havia tentado, sob seu secreto impulso, restringir, no próprio seio do monoteísmo, o ascendente da Teologia, fazendo abstratamente prevalecer, no último período da Idade Média, a célebre doutrina escolástica que sujeitou a ação efetiva do motor supremo a leis invariáveis, que ele teria a princípio instituído, interdizendo-se jamais mudá-las. Mas, esta espécie de transação espontânea entre o princípio teológico e o princípio positivo só comportava evidentemente uma existência passageira, própria a facilitar mais o declínio contínuo de um e o triunfo gradual do outro. Seu império estava mesmo limitado, em essência, aos espíritos cultos; porque, enquanto a fé realmente subsistiu, o espírito popular teve de repelir sempre com energia uma concepção que, no fundo, tendia a anular o poder providencial, condenando-o a uma sublime inércia, que deixava toda a atividade habitual à grande entidade metafísica – a Natureza, associada, assim, regularmente ao governo universal a título de ministro obrigado e responsável, ao qual se devia dirigir dai por diante a maior parte das queixas e dos votos. Vê-se que, sob todos os aspectos essenciais, esta concepção se parece muito com a que a situação moderna fez cada vez mais prevalecer relativamente à realeza constitucional; e esta analogia não é de modo algum fortuita, pois o tipo teológico de fato forneceu a base racional do tipo político. Esta doutrina contraditória, que arruína a eficácia social do princípio teológico, sem consagrar o ascendente fundamental do princípio positivo, não poderia corresponder a nenhum estado verdadeiramente normal e duradouro: constitui somente o mais poderoso dos meios de transição próprios à última tarefa necessária do espírito metafísico.

29. Enfim a inevitável incompatibilidade da ciência com a Teologia teve de manifestar-se também sob outra forma geral, especialmente adaptada ao estado monotéico, fazendo cada vez mais sobressair a profunda imperfeição da ordem real, oposta assim ao imprescindível otimismo da providência. Este otimismo deveu, sem dúvida, permanecer por muito tempo conciliável com o inicio espontâneo dos conhecimentos positivos, porque uma primeira análise da natureza tinha de inspirar então, por toda a parte, ingênua admiração pelo modo por que se realizavam os principais fenômenos constitutivos da ordem real. Mas essa disposição inicial tende em seguida a desaparecer, não menos necessariamente, à medida que o espírito positivo, adquirindo um caráter cada vez mais sistemático, substitui, pouco a pouco, o dogma das causas finais pelo princípio das condições de existência, que oferece num grau mais alto, todas as propriedades lógicas desse dogma, sem apresentar nenhum dos seus graves perigos científicos. Deixam, então, os homens de admirar que a constituição dos seres naturais se ache, em cada caso, disposta de maneira a permitir a realização de seus fenômenos efetivos. Ao estudar, com cuidado, essa inevitável harmonia, com o único desígnio de a conhecer melhor, são logo notadas as profundas imperfeições que apresenta, a todos os respeitos, a ordem real, quase sempre inferior em sabedoria à economia artificial que a nossa fraca intervenção humana estabelece em seu limitado campo. Como estes vícios naturais devem ser tanto maiores quanto mais complicados são os fenômenos considerados, as indicações irrecusáveis que o conjunto da Astronomia nos há de oferecer, sob este aspecto, bastarão para fazer pressentir aqui como semelhante apreciação deve estender-se, com uma nova energia filosófica, a todas as outras partes essenciais da verdadeira ciência. Mas importa sobretudo compreender, em geral, a respeito de semelhante crítica, que ela não tem apenas um destino passageiro, a título de meio antiteológico. Ela liga-se, de maneira mais íntima e mais durável, ao espírito fundamental da filosofia positiva, na relação geral entre a especulação e a ação. Se, por um lado, nossa intervenção ativa e permanente repousa, antes de tudo, sobre o exato conhecimento da economia natural, da qual nossa economia artificial deve constituir apenas, sob todos os aspectos, o melhoramento progressivo, não é menos certo, por outro lado, que supomos assim a imperfeição necessária dessa ordem espontânea, cuja modificação gradual constitui o fim de todos os nossos esforços diários, individuais ou coletivos. Abstraindo-se de qualquer crítica passageira, a justa apreciação dos diversos inconvenientes próprios à constituição efetiva do mundo real deve, pois, ser concebida de ora avante como inerente ao conjunto da filosofia positiva, mesmo em relação aos casos inacessíveis aos nossos fracos meios de aperfeiçoamento, a fim de conhecer melhor, quer nossa condição fundamental, quer o destino essencial de nossa continua atividade.

CAPÍTULO III
ATRIBUTOS CORRELATOS DO ESPÍRITO POSITIVO E DO BOM-SENSO
I. Da palavra positivo: suas diversas acepções resumem os atributos do verdadeiro espírito filosófico

30. O concurso espontâneo das diversas considerações gerais indicadas neste Discurso basta para caracterizar aqui, sob todos os aspectos principais, o verdadeiro espírito filosófico, que, após lenta evolução preliminar, atinge hoje o seu estado sistemático. Tendo em vista a evidente obrigação em que nos colocamos de qualificá-lo habitualmente, daqui por diante, por uma denominação curta e especial, tive de preferir aquela a que esta universal preparação atribuiu cada vez mais, durante os três últimos séculos, a preciosa propriedade de resumir o melhor possível o conjunto dos seus atributos fundamentais. Como todos os termos vulgares elevados assim gradualmente à dignidade filosófica, a palavra positivo oferece, em nossas línguas ocidentais, várias acepções distintas, mesmo que se afaste o sentido grosseiro que lhe dão os espíritos mal cultivados. Importa, porém, notar aqui que todos esses diversos significados convêm igualmente à nova filosofia geral, cujas diferentes qualidades características indicam alternadamente: assim essa aparente, ambigüidade não oferecerá de agora em diante nenhum inconveniente real. Convirá ver nisso, ao contrário, um dos principais exemplos dessa admirável condensação de fórmulas que, nas populações avançadas, reuniu, sob uma única expressão usual, vários atributos distintos, quando a razão pública chegou a reconhecer sua ligação permanente.

31. Considerada, em primeiro lugar, em sua acepção mais antiga e mais comum, a palavra positivo designa o real em oposição ao quimérico: neste sentido, convém plenamente ao novo espírito filosófico, que fica assim caracterizado pela sua constante consagração às indagações verdadeiramente acessíveis à nossa inteligência, com a exclusão efetiva dos impenetráveis mistérios com que se ocupava sobretudo a sua infância. Num segundo sentido muito próximo do precedente, mas, entretanto, distinto, este termo fundamental indica o contraste entre o útil e o ocioso: lembra então, em Filosofia, que o destino necessário de todas as nossas sãs especulações é o melhoramento contínuo de nossa verdadeira condição individual e coletiva, e não a vã satisfação de uma curiosidade estéril. Conforme um terceiro significado usual, esta feliz expressão é empregada freqüentemente para qualificar a oposição entre a certeza e a indecisão: ela indica, assim, a capacidade característica de semelhante filosofia para constituir espontaneamente a harmonia lógica no indivíduo e a comunhão espiritual na espécie inteira, em lugar dessas dúvidas indefinidas e desses debates intermináveis que o antigo regime mental devia suscitar. Uma quarta acepção ordinária, demasiadas vezes confundida com a precedente, consiste em opor o preciso ao vago: este sentido lembra a tendência constante do verdadeiro espírito filosófico para obter em toda a parte o grau de precisão compatível com a natureza dos fenômenos e conforme à exigência de nossas reais necessidades; ao passo que a antiga maneira de filosofar conduzia necessariamente a opiniões vagas, por não comportar a indispensável disciplina senão em virtude de contínua compressão, apoiada na autoridade sobrenatural.

32. Cumpre enfim notar especialmente uma quinta aplicação menos usada do que as outras, embora igualmente universal, quando se emprega o vocábulo positivo como o contrário de negativo. Sob este aspecto ele indica uma das mais eminentes propriedades da genuína filosofia moderna, mostrando-a destinada, sobretudo por sua natureza, não a destruir, mas a organizar. Os quatro caracteres gerais acima lembrados distinguem-na, ao mesmo tempo, de todos os modos possíveis, quer teológicos, quer metafísicos, peculiares à filosofia inicial. Esta última significação, que indica, além disso, a tendência contínua do novo espírito filosófico, oferece hoje especial importância por caracterizar diretamente uma das suas principais diferenças, não mais do espírito teológico que foi durante muito tempo orgânico, mas do espírito metafísico propriamente dito, que nunca pôde deixar de ser crítico. Qualquer que haja sido, com efeito, a ação dissolvente da ciência real, esta influência foi sempre nela puramente indireta e secundária: sua própria falta de sistematização impedia até aqui que fosse de outro modo, e o grande ofício orgânico, que agora lhe cabe, se oporia, daqui por diante, a essa atribuição acessória, que ele tende, aliás, a tornar supérflua. A sã filosofia afasta radicalmente, é verdade, todas as questões necessariamente insolúveis; mas, motivando-lhes a rejeição, evita negar qualquer coisa a seu respeito, o que seria contraditório ao desuso sistemático pelo qual devem extinguir-se todas as opiniões que não são verdadeiramente suscetíveis de discussão. Sendo igualmente indiferente a todas elas, e, por conseguinte, mais imparcial e tolerante em relação a cada uma do que os seus opostos partidários, a sã filosofia aplica-se a apreciar-lhes historicamente a influência respectiva, as condições de sua duração e os motivos de sua decadência, sem jamais pronunciar qualquer negação absoluta, mesmo quando se trata das doutrinas mais antipáticas ao estado presente da razão humana entre as populações de escol. É assim que presta escrupulosa justiça, não somente aos diversos sistemas de monoteísmo diferentes do que expira hoje entre nós, mas também às crenças politéicas, ou mesmo fetíchicas, referindo-as sempre às fases correspondentes da evolução fundamental. Sob o aspecto dogmático, ela professa além disso que as concepções de nossa imaginação, quando sua natureza as torna necessariamente inacessíveis a toda observação, não são mais desde então suscetíveis de negativa ou de afirmação verdadeiramente decisivas. Ninguém, sem dúvida, jamais demonstrou logicamente a inexistência de Apolo, de Minerva, etc., nem a das fadas orientais ou das várias criações poéticas; o que de nenhum modo impediu o espírito humano de abandonar irrevogavelmente os dogmas antigos, quando deixaram enfim de convir ao conjunto de sua situação.

33. O único caráter essencial do novo espírito filosófico que ainda não é indicado pela palavra positivo consiste na sua tendência necessária a substituir por toda a parte o absoluto pelo relativo. Mas este grande atributo, a um tempo científico e lógico, é por tal forma inerente à natureza fundamental dos conhecimentos reais, que sua consideração geral não tardará a ligar-se intimamente aos diversos aspectos que essa fórmula já combina, quando o moderno regime intelectual, até aqui parcial e empírico, passar comumente ao estado sistemático. A quinta acepção, que acabamos de apreciar, é especialmente própria para determinar esta última condensação da nova linguagem filosófica, desde então plenamente constituída, conforme a afinidade evidente das duas propriedades. Concebe-se, com efeito, que a natureza absoluta das antigas doutrinas, quer teológicas, quer metafísicas, determinasse necessariamente cada uma delas a tornar-se negativa em relação a todas as outras, sob pena de degenerar em ecletismo absurdo. É, pelo contrário, em virtude de seu gênio relativo que a nova filosofia pode apreciar sempre o valor próprio das teorias que lhes são mais opostas, sem todavia fazer nunca qualquer vã concessão, suscetível de alterar a nitidez de suas vistas ou a firmeza de suas decisões. Há, pois, na verdade, motivo para presumir-se, de acordo com o conjunto de semelhante apreciação especial, que a fórmula empregada aqui para qualificar habitualmente esta filosofia definitiva lembrará de ora em diante, a todos os bons espíritos, a inteira combinação efetiva de suas diversas propriedades características.

II. Correlação espontânea, e depois sistemática, entre o espírito positivo e o bom senso universal

34. Quando se procura a origem fundamental de semelhante maneira de filosofar, não se tarda a reconhecer que sua espontaneidade elementar coincide realmente com os primeiros exercícios práticos da razão humana, porque o conjunto das explicações dadas neste Discurso demonstra claramente que todos os seus atributos principais são, no fundo, os mesmos que os do bom senso universal. Apesar do ascendente mental da mais grosseira Teologia, a conduta diária da vida ativa suscitou sempre, em relação a cada ordem de fenômenos, certo esboço das leis naturais e das previsões correspondentes, em alguns casos particulares, que pareciam então apenas secundários ou excepcionais; ora, tais são, com efeito, os germes necessários da positividade, que devia por muito tempo permanecer empírica antes de poder tornar-se racional. Muito importa compreender que, sob todos os aspectos essenciais, o verdadeiro espírito filosófico consiste sobretudo na extensão sistemática do simples bom senso a todas as especulações verdadeiramente acessíveis. Seu domínio é radicalmente idêntico, pois as maiores questões da sã filosofia se referem por toda a parte aos fenômenos mais vulgares, em relação aos quais os casos artificiais constituem apenas uma preparação mais ou menos indispensável. São, de um e outro lado, o mesmo ponto de partida experimental, o mesmo objetivo de ligar e prever, a mesma preocupação contínua de realidade, a mesma intenção final de utilidade. Toda sua diferença essencial consiste na generalidade sistemática de um, resultante de sua abstração necessária, oposta à incoerente especialidade do outro, sempre ocupado com o concreto.

35. Encarada sob o aspecto dogmático, esta conexidade fundamental representa a ciência propriamente dita como um simples prolongamento metódico da sabedoria universal. Assim, muito longe de jamais pôr em dúvida o que esta verdadeiramente decidiu, as sãs especulações filosóficas devem sempre tomar de empréstimo à razão comum suas noções iniciais para fazê-las adquirir, por uma elaboração sistemática, um grau de generalidade e de consistência que não podiam espontaneamente obter. Durante o curso de uma tal elaboração o controle permanente da sabedoria vulgar conserva, além disso, alta importância a fim de evitar, tanto quanto possível, as diversas aberrações, por negligência ou por ilusão, que muitas vezes suscita o estado contínuo de abstração indispensável à atividade filosófica. Apesar da sua afinidade necessária, o bom senso propriamente dito deve preocupar-se sobretudo com a realidade e a utilidade, ao passo que o espírito filosófico tende a apreciar mais a generalidade e a ligação, de modo que sua dupla reação diária se torna por igual favorável a ambos, consolidando em cada um as qualidades fundamentais que nele se alterariam naturalmente. Semelhante relação indica logo como são necessariamente ocas e estéreis as indagações especulativas, dirigidas, em qualquer assunto, para os primeiros princípios, que, devendo sempre emanar da sabedoria vulgar, não pertencem nunca ao verdadeiro domínio da ciência, da qual constituem, ao revés, os fundamentos espontâneos e desde então indiscutíveis, o que corta pela raiz uma imensidade de controvérsias ociosas ou perigosas, deixadas pelo antigo regime. Pode-se igualmente sentir assim a profunda inanidade final de todos os estudos preliminares relativos à lógica abstrata, onde se trata de apreciar o verdadeiro método filosófico, sem nenhuma aplicação a qualquer ordem de fenômenos. E, de fato, os únicos princípios realmente gerais que, a este respeito, possamos estabelecer, se reduzem necessariamente, como é fácil verificar nos mais célebres desses aforismos, a algumas máximas incontestáveis, mas evidentes, tiradas da razão comum e que verdadeiramente nada de essencial acrescentam às indicações que resultam, em todos os bons espíritos, de simples exercício espontâneo. Quanto à maneira de adaptar essas regras universais às diversas ordens de nossas especulações positivas, o que constituiria a verdadeira dificuldade e a utilidade real de tais preceitos lógicos, ela não poderia comportar sólida apreciação senão após uma análise especial dos estudos correspondentes, de conformidade com a natureza própria dos fenômenos considerados. A sã filosofia não separa, portanto, nunca a Lógica da ciência, pois o método e a doutrina não podem ser bem julgados, em cada caso, senão de acordo com as suas verdadeiras relações mútuas: não é mais possível, no fundo, dar à Lógica, assim como à ciência, um caráter universal através de concepções puramente abstratas, independentes de todos os fenômenos determinados; as tentativas deste gênero indicam ainda a secreta influência dó espírito absoluto inerente ao regime teológico-metafísico.

36. Considerada agora sob o aspecto histórico, esta íntima solidariedade natural entre o gênio próprio da verdadeira filosofia e o simples bom senso universal mostra a origem espontânea do espírito positivo, que por toda a parte resultou, com efeito, de uma reação especial da razão prática sobre a razão teórica, cujo caráter inicial foi sendo assim aos poucos modificado. Mas não era possível se operasse essa transformação gradual simultaneamente, sobretudo com igual velocidade, nas diversas classes de especulações abstratas, todas primitivamente teológicas, como já o reconhecemos. Este constante impulso concreto não podia fazer o espírito positivo penetrar nelas a não ser segundo uma ordem determinada de acordo com a complicação crescente dos fenômenos, como será diretamente explicado mais adiante A positividade abstrata, necessariamente surgida nos mais simples estudos matemáticos, e propagada em seguida por via de afinidade espontânea ou de imitação instintiva, não podia, pois, oferecer a principio senão um caráter especial, e, mesmo, a muitos respeitos, empírico, que devia por muito tempo dissimular, à maior parte dos seus promotores, quer sua incompatibilidade inevitável com a filosofia inicial, quer, sobretudo, sua tendência radical para fundar novo regime lógico. Seus progressos contínuos, sob o impulso crescente da razão vulgar, não podiam então determinar diretamente senão o triunfo preliminar do espírito metafísico, destinado, por sua generalidade espontânea, a servir-lhe de órgão filosófico durante os séculos decorridos entre a preparação mental do monoteísmo e sua plena instalação social, após a qual, tendo o regime ontológico obtido todo o ascendente que sua natureza comportava, logo se tornou opressivo ao progresso científico, que ele havia até então secundado. Também o espírito positivo só pôde suficientemente manifestar sua própria tendência filosófica quando foi enfim conduzido, por essa opressão, a lutar especialmente contra o espírito metafísico, com o qual deverá parecer confundido durante muito tempo. Por esta razão a primeira fundação sistemática da filosofia positiva não poderia remontar à época anterior à memorável crise na qual o conjunto do regime ontológico começou a sucumbir em todo o ocidente europeu, sob o concurso espontâneo de dois admiráveis impulsos mentais, um, científico, emanado de Kepler e Galileu, e outro, filosófico, devido a Bacon e Descartes. A imperfeita unidade metafísica constituída no fim da Idade Média foi desde então irrevogavelmente dissolvida, como a ontologia grega já destruíra para sempre a grande unidade teológica, correspondente ao politeísmo. Depois desta crise verdadeiramente decisiva, o espírito positivo, crescendo mais em dois séculos, do que lhe fora possível durante toda a sua longa carreira anterior, não permitiu mais outra unidade mental a não ser a que resultava do seu próprio ascendente universal, pois cada novo domínio sucessivamente por ele adquirido jamais podia retornar à Teologia ou à Metafísica, em virtude da consagracão definitiva que essas aquisições crescentes achavam mais e mais na razão vulgar. E só por tal sistematização que a sabedoria teórica concederá verdadeiramente à sabedoria prática digno equivalente, em generalidade e em consistência, do serviço fundamental que dela recebeu, em realidade e em eficácia, durante sua lenta iniciação gradual; porque as noções positivas obtidas nos dois últimos séculos são, a falar verdade, muito mais preciosas como materiais ulteriores de uma nova filosofia geral do que por seu valor direto e especial, pois a maior parte delas ainda não pôde adquirir seu caráter definitivo, nem científico, nem mesmo lógico.

37. O conjunto da nossa evolução mental, e sobretudo o grande movimento realizado no ocidente europeu, desde Descartes, e Bacon, não deixam, pois, de ora avante, outra saída possível senão a de constituir enfim, após tantos preâmbulos necessários, o estado verdadeiramente normal da razão humana, proporcionando ao espírito positivo a plenitude e a racionalidade que ainda lhe faltam, de maneira a estabelecer, entre o gênio filosófico e o bom senso universal, uma harmonia que até aqui não havia podido suficientemente existir. Ora, estudando estas duas condições simultâneas, de complemento e de sistematização, que a ciência real deve hoje preencher para elevar-se à dignidade de verdadeira filosofia, não se tarda em reconhecer que finalmente coincidem. De um lado, com efeito, a grande crise inicial da positividade moderna só deixou fora do movimento científico propriamente dito as teorias morais e sociais, que ficaram desde então em irracional insulamento, sob o estéril domínio do espírito teológico-metafísico; era, pois, em trazê-las ao estado positivo que devia consistir, sobretudo em nossos dias, a última prova do verdadeiro espírito filosófico, cuja extensão sucessiva a todos os outros fenômenos fundamentais já se achava bastante esboçada. Mas, por outro lado, esta última expansão da filosofia natural tendia espontaneamente a logo sistematizá-la, constituindo o único ponto de vista, quer científico, quer lógico, que possa dominar o conjunto de nossas especulações reais, sempre necessariamente redutíveis ao aspecto humano, isto é, social, único suscetível de ativa universalidade. Tal é o duplo objetivo filosófico da elaboração fundamental, ao mesmo tempo especial e geral, que ousei empreender na grande obra indicada no começo deste Discurso: os mais eminentes pensadores contemporâneos julgam-na assim assaz realizada para já ter assentado as verdadeiras bases diretas da completa renovação mental projetada por Bacon e Descartes, mas cuja execução decisiva estava reservada ao nosso século.

II PARTE
SUPERIORIDADE SOCIAL DO ESPÍRITO POSITIVO
CAPÍTULO I
ORGANIZAÇÃO DA REVOLUÇÃO

38. Para que esta sistematização final das concepções, humanas seja hoje suficientemente caracterizada, não basta apreciar seu destino teórico, como acabamos de fazer; é preciso também considerar aqui, de um modo distinto, embora sumário, sua aptidão necessária para constituir a única saída intelectual que possa comportar a imensa crise social desenvolvida, há um século, no conjunto do ocidente europeu, e especialmente em França.

I. Impotência das escolas atuais

39. Enquanto se realizava gradualmente, durante os últimos séculos, a irrevogável dissolução da filosofia teológica, o sistema político, que a tinha por base mental, sofria cada vez mais uma decomposição não menos radical, igualmente presidida pelo espírito metafísico. Este duplo movimento negativo tinha como órgãos essenciais e solidários, de um lado, as universidades a princípio emanadas, mas logo rivais, do poder sacerdotal; de outro lado as diversas corporações de legistas, gradualmente hostis aos poderes feudais: apenas, à medida que a ação crítica se disseminava, seus agentes, sem mudar de natureza, tornavam-se mais numerosos e mais subalternos; de sorte que, no século XVIII, a atividade revolucionária teve de passar, na ordem filosófica, dos doutores propriamente ditos aos simples literatos, e, em seguida, na ordem política, dos juizes aos advogados. A Grande Crise final necessariamente começou quando esta comum decadência, primeiro espontânea, depois sistemática, para a qual, aliás, todas as classes da sociedade moderna haviam concorrido de modo direto, chegou a ponto de tornar universalmente irrecusável a impossibilidade de conservar o regime antigo e a necessidade crescente de uma ordem nova. Desde sua origem, esta crise tendeu sempre a transformar em vasto movimento orgânico o movimento crítico dos cinco séculos anteriores, apresentando-se como destinado sobretudo a operar diretamente a regeneração social, cujos preâmbulos negativos se achavam todos então suficientemente realizados. Mas esta decisiva transformação, embora cada vez mais urgente, permaneceu até aqui essencialmente impossível por falta de uma filosofia capaz de fornecer-lhe indispensável base intelectual. Na própria época em que o conveniente remate da decomposição preliminar exigia o desuso das doutrinas puramente negativas que a tinham dirigido, fatal ilusão, então inevitável, conduziu, pelo contrário, a conceder de modo espontâneo ao espírito metafísico, único ativo durante esse longo preâmbulo, a presidência geral do movimento de reorganização. Quando uma experiência plenamente decisiva (3) evidenciou para sempre, aos olhos de todos, a completa impotência orgânica de semelhante filosofia, a ausência de qualquer outra teoria não permitiu satisfazer logo às necessidades de ordem, que já prevaleciam, senão por uma espécie de restauração passageira (4) deste mesmo sistema, mental e social, cuja irreparável decadência havia ocasionado a crise. Enfim o desenvolvimento dessa reação retrógrada determinou, em seguida, memorável manifestação que nossas lacunas filosóficas tornavam tão indispensável quanto inevitável, a fim de demonstrar irrevogavelmente constituir o progresso, tanto como a ordem, uma das condições fundamentais da civilização moderna.

40. O concurso natural destas duas experiências irrecusáveis, cujo renovamento se tornou agora tão impossível como inútil, nos conduziu hoje a esta estranha situação em que nada de verdadeiramente grande pode ser empreendido, em benefício da ordem ou do progresso, por falta de uma filosofia realmente adaptada ao conjunto de nossas necessidades. Todo esforço sério de reorganização logo se detém diante dos temores de retrogradação que deve naturalmente inspirar, numa época em que as idéias de ordem ainda emanam, em essência, do tipo antigo, que se tornou justamente antipático às populações atuais: da mesma forma as tentativas de aceleração direta da progressão política não tardam a ser radicalmente entravadas pelas inquietações mui legítimas que devem suscitar sobre a iminência da anarquia, enquanto as idéias de progresso permanecem sobretudo negativas. Como antes da crise, a luta aparente acha-se, pois, empenhada entre o espírito teológico, reconhecido incompatível com o progresso, que ele foi conduzido a negar dogmaticamente, e o espírito metafísico, o qual, depois de terminar, em Filosofia, na dúvida universal, não pôde tender, em política, senão a constituir a desordem, ou um estado equivalente de não-governo. Mas, de acordo com o sentimento unânime de sua comum insuficiência, nem um, nem outro pode inspirar mais, de ora avante, aos governantes ou governados, profundas convicções ativas. Seu antagonismo continua, pois, a alimentá-los mutuamente, sem que nenhum deles possa comportar mais verdadeiro desuso, nem decisivo triunfo, porque nossa situação intelectual os torna ainda indispensáveis para representar de algum modo as condições simultâneas, de um lado, da ordem, e, de outro, do progresso, até que uma única filosofia as possa satisfazer igualmente, de modo a tornar enfim tão inútil a escola retrógrada como a negativa, cada uma das quais é sobretudo destinada hoje a impedir a completa preponderância da outra. Todavia, as inquietudes opostas, relativas a estes dois domínios contrários, deverão naturalmente persistir ao mesmo tempo, enquanto durar este interregno mental, como conseqüência inevitável da irracional cisão entre as duas faces inseparáveis do grande problema social. Com efeito, cada uma das duas escolas, em virtude de sua exclusiva preocupação, não é nem mesmo capaz de conter suficientemente, de ora em diante, as aberrações inversas de sua antagonista. Apesar de sua tendência antianárquica, a escola teológica mostrou-se, em nossos dias, radicalmente impotente para impedir o surto das opiniões subversivas, que, depois de se terem desenvolvido especialmente durante sua principal restauração, amiúde são por ela propagadas, em conseqüência de frívolos cálculos dinásticos. Assim também, qualquer que seja o instinto anti-retrógrado da escola metafísica, ela não tem hoje mais toda a força lógica que o seu simples ofício revolucionário exigiria, porque sua inconseqüência característica a obriga a admitir os princípios essenciais deste sistema, cujas verdadeiras condições de existência ela incessantemente ataca.

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