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sexta-feira, março 29, 2024

MARECHAL RONDON – O DESBRAVADOR SEM FRONTEIRAS

Começo este trabalho de pesquisa citando uma passagem de um grande poeta brasileiro, Carlos Drumonnd de Andrade, que assim como Rondon, também teve grande importância para a literatura brasileira, e o interessante é que este mesmo autor reconhece a importância da atitude deste grande homem não só para um pequeno povo, mas para todo o mundo e a ele faz referência, dizendo estas belíssimas palavras:

As nações erravam em fuga e terror Vieste e nos encontraste. Eras calmo, pequeno, determinado teu gesto paralisou o medo,tua voz nos consolou, era irmã. Protegidos de teu braço nos sentidos. O akangatar mais púrpura e sol te cingira mas quiseste apenas nossa fidelidade. Eras um dos nossos voltando à origem e trazias na mão o fio que fala e o foste estendendo até o maior segredo da mata.

São com essas belas palavras que inicio aqui o meu pequeno discurso acerca de um homem pequeno em estatura, mas enorme em dedicação, em humildade e amor para com o próximo, falo de Cândido Mariano da Silva Rondon, que recebeu no decorrer de sua vida o título de Marechal Rondon, esse homem teve, tem e sempre terá grande importância na história do povo brasileiro, pois com tudo o que fez, mostrou a todo o mundo e ao próprio Brasil que pode haver sim paz entre um povo diferente de cada um de nós, ele foi um grande herói, um grande desbravador, que abriu horizontes levando proteção a um povo que até então era rejeitado por muitos e com o que ele fez tentando integrar todo esse povo a sociedade, mostrou que pode haver sim sociabilidade entre um índio e um branco, entre uma sociedade indígena e uma sociedade de homens brancos, ele demonstrou o que falava através de suas ações, não deixou só na teoria, mas colocou em prática tudo o que dizia, claro que demorou para que ele pudesse fazer amizade com um povo toalmente diferente, de costumes diferenciados, modo de vida diferente, pra conseguir isso que tanto pretendia ele passou a conviver com estes povos, pois assim como ia avançando a obra telegráfica por todo interior, juntamente crescia a amizade, o carinho e o afeto de Rondon por estes povos indígenas, teve ele contato com várias tribos, sendo muitas vezes alvo de muitas delas como veremos mais à frente. A história de vida deste homem é muito comovente, começando pela sua infância, Rondon, como era conhecido, era de origem indígena por parte de seus avós maternos e bisavó paterna, nasceu no dia 05 de Maio na sesmaria do Morro Redondo, nos campos de Mimoso, em Mato Grosso, daí sua preocupação com o povo indígena, pois também era parte deles, também fazia parte de sua família, teve uma infância dura pois perdeu seus pais muito cedo, mas soube aproveitar sua infância, morando então com seu avô, que também depois de um tempo também veio a falecer ficando sozinho no mundo. Mas logo após a morte de seu avô se mudou para o Rio de Janeiro e ali ingressou na escola militar, ali os estudos eram oferecidos gratuitamente e os alunos que assentassem praça recebiam o soldo de sargento, mas esse bravo e corajoso herói não parou por ai, ele foi mais além e no ano de 1881 alistou-se no segundo Regimento de Artilharia a cavalo, isso porque Rondon tinha um grande objetivo: seguir o pensamento de seu pai e se preparar para poder servir melhor a sua tão amada pátria, e o marco mais importante que ocorreu na vida deste grande homem foi ter a grande sorte de ser recruta do tão grande marechal Deodoro da Fonseca, pois foi ai que a vida de Rondon começa a tomar outro rumo, o Marechal Deodoro da Fonseca ver em Rondon um jovem excepcionalmente apto de preparo físico e de instrução educacional, isso porque Rondon não se dedicou tão somente a vida militar, mas também se dedicou a outros estudos, cursou matemática e ciências físicas e naturais na Escola Superior de Guerra, e mesmo sendo ainda estudante teve participação desde cedo nos movimentos abolicionistas e republicano. Nesse tempo o jovem Rondon havia despertado para a defesa de questões sociais, não sabia ele que mais na frente o destacariam como referencia de defesa dos povos indígenas, nesta época antes que o interesse se voltasse para o índio, a atenção do país estava voltada para o abolicionismo que também naquela mesma época estava em alta e que Rondon também lógico era amplamente favorável, tudo isso despertaria em Rondon um grande humanitarista.
Mas tudo começou quando foi nomeado chefe do distrito Telegráfico de Mato Grosso, dessa forma sendo designado para a comissão de Construção da linha telegráfica que ligaria Mato Grosso e Goiás, isso porque o governo republicano tinha grande preocupação com a região oeste do Brasil, muito isolada dos grandes centros e em regiões de fronteiras, sendo assim decidiram melhorar as comunicações construindo linhas telegráficas para o centro oeste. Rondon passou então a cumprir sua missão, para isso começou a abrir caminhos, desbravando terras, lançando linhas telegráficas, fazendo mapeamento do terreno e principalmente, estabelecendo relações cordiais com os índios, algo que muitas das pessoas não faziam, pois viam os índios como povos bárbaros desprovidos de qualquer sociabilidade, mas Rondon era diferente, estava ali para quebrar essa barreira, esse preconceito que separava o homem índio do homem branco, manteve contato com muitas tribos de indígenas entre elas posso destacar os bororo, Nhambiquara, Urupá, Jaru, Karipuna, Ariqueme, Boca Negra, Pacaás Novo, Macuporé, Guaraya, Macurape. Rondon fez o que outro homem jamais pensaria em fazer, passou por muitas dificuldades, muitas das vezes jurado de morte por algumas tribos, sendo até alvejado certa vez por uma flecha envenenada lançada por índios da tribo Nhambiquara e sendo salvo graças a bandoleira de couro de sua espingarda, mas mesmo assim não quis em momento algum usar de violência para com estes que o atingiram, ao contrário, pediu para os que com ele estavam que se retirassem e não fizessem mal algum àqueles homens, algo que outro homem no seu lugar não teria feito, mas sim teria partido pra violência, pra guerra, pro genocídio, mas Rondon não, ele pensava diferente , ele queria paz e assim também poder adentrar nos sertões levando a muitos a oportunidade de um novo tempo, ligar dois lugares por meio do telégrafo e ao mesmo tempo quebrar a barreira do preconceito, conseguir relação de amizade e afeição com esses povos indígenas.
Foram muitos os benefícios que Rondon conseguiu trazer para o Brasil através de sua postura e de seu tão grande desejo de integração do pais. Entre elas estar a ajuda que deu na construção das linhas telegráficas de Mato Grosso a Goiás, entre Cuiabá e Araguaia, e uma estrada ligando Cuiabá a Goiás, isso entre os anos de 1892 e 1898. Entre 1900 e 1906 dirigiu a construção de mais uma linha telegráfica, entre Cuiabá e Corumbá, alcançando as fronteiras de Paraguai e Bolívia. Em 1906 Rondon encontrou as Ruínas do Real Forte do Príncipe da Beira, sendo esta a maior relíquia histórica de Rondônia. Em 1907, no posto de major do Corpo de Engenheiros Militares foi nomeado chefe da comissão que deveria construir a linha telegráfica de Cuiabá a Santo Antonio do Madeira, a primeira a alcançar a região amazônica, e que foi denominada Comissão Rondon, seus trabalhos desenvolveram-se de 1907 a 1915. Nesta mesma época estava sendo construída a ferrovia Madeira Mamoré, que junto com o desbravamento e integração telegráfica de Rondon ajudaram a ocupar a região do atual estado de Rondônia.
Rondon também realizou várias expedições com a Comissão Rondon, com o objetivo de explorar a região amazônica. Em 1910 organizou e passou a dirigir o serviço de proteção aos índios e de maio de 1913 a maio de 1914 realizou mais uma expedição, em conjunto com o ex-presidente dos Estados Unidos da América, Theodore Roosevelt. Em 1914, com a Comissão Rondon, construiu 372 km de linhas e mais cinco estações telegráficas: Pimenta Bueno, Presidente Hermes, Presidente Pena (depois Vila de Rondônia e atual Ji-Paraná), Jaru e Ariquemes, na área do atual estado de Rondônia. Em 1º de janeiro de 1915 concluiu sua missão com a inauguração da estação telegráfica de Santo Antônio do Madeira. De 1919 a 1924 foi diretor de Engenharia do Exército. Com a revolução de 1930, que destituiu Washington Luís e levou Getúlio Vargas ao poder, foi preso. Em maio de 1913 Juarez Távora escreve algo acerca da pessoa de Rondon, são estas as suas palavras: “Esclareço que o fato de haver oposto restrição quanto à oportunidade do empreendimento (linhas telegráficas) do Marechal Rondon, não significava desapreço pelo conjunto de sua obra sertanista – e aí incluo o nobre esforço de catequese leiga de nossos índios Rondon foi sem dúvida um pioneiro.” Em outras palavras Rondon passou a assumir neste tempo um trabalho realizado pelos jesuítas lá no período colonial, onde estes mesmo tinham somente um único serviço, avançar mata adentro catequizando todos os índios que encontrassem pela frente, e Rondon voltou a assumir esta postura em pleno século XIX, pois ele foi verdadeiramente um pioneiro, um desbravador que não media esforços para alcançar o que tanto almejava, ele tinha um grande respeito por esses povos e isso foi fundamental para criar um laço de grande amizade com tribos arredias, que eram marcadas por um histórico de cruéis confrontos com os colonizadores que lhes deixaram marcas, traumas e cicatrizes profundas em alguns povos como os Nhambiquara, Kepkiriwát, Parnawát, Urumí, Arikén e Umotina. Os feitos desse grande homem em defesa destes povos indígenas eram celebrados e reconhecidos por todos e isso fez com que se despertasse uma nova consciência social, era preciso e como não dizer necessário, respeitar as tribos e principalmente integrá-las aos novos tempos, e esse era o que objetivo principal de Rondon, e foi através desse despertamento de consciência social que foram criadas leis, terras demarcadas e expedições formadas para atuar junto às aldeias, foi através de Rondon que foi criada o que hoje conhecemos como a FUNAI.
Instituição esta, voltada para a defesa e proteção do povo indígena, dando continuidade ao trabalho começado por Rondon. É dele o lema que se tornou marco de seu tão grande desejo: morrer,se preciso for,matar nunca , e junto a esse lema, o próprio Rondon se norteava por outros três princípios: respeitar as tribos indígenas como povos independentes, garantir-lhes posses de terras e assegurá-los proteção direta do estado. Além do mais, Rondon era um grande positivista, e sob influência do positivismo fez seu credo dizendo que :
o homem e o mundo são governados por leis naturais e que a ciência integrou o homem ao universo, alargando a unidade constituída pela mulher, criando, assim, modesta e sublime: simpatia para com todos os seres de quem, como poverello, se sente irmão.
E como diz o pensamento positivista a história é feita de grandes homens e grandes heróis, Rondon foi um desses grandes homens e um herói maior ainda, seus feitos jamais serão esquecidos, mas serão lembrados por toda a eternidade, seu nome, suas ações, sua maneira de agir ficará pra todo o sempre nos anais da história, pois enquanto houver história também há de existir a história desta tão grande pessoa, pois sua história será ouvida e repassada de geração a geração, servindo sempre de exemplo e inspiração a todo o mundo.

BIBLIOGRAFIA

DIÁRIOS ASSOCIADOS. Informativo – Rondon : a luta pela integração nacional e a causa indígena. Fundação Assis Chateaubriand . 2009
PAIVA LOPES, Carlos de. Artigo – Na trilha do Marechal Rondon. Associação Brasileira das Prestadoras do Serviço Telefônico Fixo Comutado.
CONTACTA. Artigo – Marechal Rondon: Patrono das Telecomunicações no Brasil. São Paulo.

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