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domingo, abril 21, 2024

O CULTIVO DO CACAU

O CULTIVO DO CACAU

Resumo

O cacaueiro (Theobroma cacao L.) é uma espécie nativa americana que possui o seu centro de origem nas margens dos rios Amazonas e Orinoco. Foi introduzido na Bahia em 1746, no município de Canavieiras, e se tornou uma das principais culturas do estado, chegando a responder por cerca de 40% do PIB baiano, mas no fim da década de 80 a região foi atacada pelo fungo Crinipellis perniciosa, causador da doença Vassoura-de-Bruxa. O fungo encontrou na região condições ideais para o seu desenvolvimento e rapidamente se alastrou, conseguindo reduzir a produção, que chegou a 380.000 t/ano, para menos de 100.000 t/ano. A queda de produção fez com que o Brasil passasse de país exportador para país importador de cacau.

As instituições de pesquisa, principalmente a CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), tiveram de buscar soluções para aumentar a produção das lavouras, e gerar plantas tolerantes à vassoura de bruxa. Os trabalhos de pesquisa realizados indicaram que a forma mais viável de combater a doença e elevar a produção das áreas era trabalhar a genética das plantas através de melhoramento, de cruzamentos e até mesmo em nível molecular (projeto genoma). Atualmente existem 10 clones lançados pela CEPLAC, para a substituição das áreas infectadas, que apresentam tolerância à vassoura de bruxa e produção superior aos cacaueiros convencionais. Estas plantas contribuíram para elevar a produção da região para cerca de 200.000 t no ano de 2001 e vêm apresentando sementes de características superiores àquelas que eram obtidas anteriormente.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO CACAU

O cacaueiro é uma planta estimulante, tropical, pertencente a família das Esterculiáceas, encontrada em seu habitat, nas Américas, tanto nas terras baixas, dentro dos bosques escuros e úmidos sob a proteção de grandes árvores, como em florestas menos exuberantes e relativamente menos úmidas, em altitudes variáveis, entre 0 e 1.000 m do nível do mar. Do fruto do cacaueiro se extraem sementes que, após sofrerem fermentação, transformam-se em amêndoas, das quais são produzidos o cacau em pó e a manteiga de cacau. Em fase posterior do processamento, obtém-se o chocolate, produto alimentício de alto valor energético. Envolvendo as sementes, encontra-se grande volume de polpa mucilaginosa, branca e açucarada, com a qual se produzem sucos, refrescos e geleias. Da casca extrai-se a pectina, que após simples processamento mecânico, se transformam em ração animal, ou ainda, por transformações biológicas, pode ser usada como fertilizante orgânico.

Introdução

A região sul da Bahia, região cacaueira, chegou a responder por 81% da produção nacional de cacau e a possuir mais de 700.000ha plantados, mas a partir do fim dos anos 80 a cultura entrou em declínio, pois houve a introdução da doença vassoura de bruxa, causada pelo fungo Crinipellis perniciosa, que associada a outros fatores como estiagens e o ataque severo da podridão parda acabaram por gerar a maior crise que a região conheceu. A crise trouxe diversas conseqüências, em sua grande maioria negativas, como o desemprego, a descapitalização da região, o êxodo rural, favelização, mas também trouxe conseqüências favoráveis como a diversificação da lavoura.

As instituições de pesquisa assumiram o desafio de criar soluções para reverter a atual situação da cacauicultura baiana, e atualmente existem os planos de recuperação da lavoura cacaueira que consistem na recuperação de todas as áreas de cacau a partir da “clonagem” dos cacaueiros, ou melhor através dos processos de enxertia e plantio de mudas enxertadas que apresentam tolerância a vassoura de bruxa e maior produtividade que os cacaueiros convencionais.

A CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira) através de suas estações experimentais como a ESARM (Estação Experimental Arnaldo Medeiros) avaliaram centenas de materiais quanto a características de tolerância a vassoura de bruxa e quanto à produtividade, atualmente existem 10 clones lançados (CEPEC 42, EET 397, TSA 654, TSA 656, TSH 774, TSH 516, TSH 565, TSA 792, TSH 1188 e VB 900). Esses materiais são mais exigentes quanto às condições de implantação e de manejo, e são essas condições que proporcionam ao material demonstrar todo o seu vigor e seu potencial produtivo. O objetivo deste trabalho é esclarecer quais os procedimentos ideais para a implantação e qual o manejo adequado que se deve dar às áreas “clonadas” para garantir uma boa produção.

Revisão de Literatura

“O cacaueiro (Theobroma cacao L.) é uma espécie nativa da floresta tropical úmida americana, sendo o seu centro de origem, provavelmente, as nascentes dos rios Amazonas e Orinoco” (Gramacho, 1992). Da região de origem o cacaueiro se expandiu por grande parte dos continentes e “atualmente, as principais regiões produtoras de cacau concentram-se na América, África e Ásia” (Dias,2001).

“Na Bahia, o cacaueiro foi introduzido em 1746, pelo colono francês Luiz Frederico Warneaux, que trouxe as sementes do Pará doando-as a Antonio Dias Ribeiro. Estas sementes foram plantadas por Antonio Dias Ribeiro na fazenda Cubículo, situada à margem direita do Rio Pardo, na época pertencente à Capitania de São Jorge dos Ilhéus, atualmente município de Canavieiras” (Gramacho, 1992).

Na região sul da Bahia o cacaueiro encontrou as condições ideais para o seu desenvolvimento, pois é uma planta típica de regiões quentes e úmidas. A Bahia, segundo Gramacho (1992), participou com cerca de 81% da produção nacional, já tendo possuído cerca de 700 mil hectares plantados com cacau, o que atualmente estima-se estar reduzido para cerca de 300 a 400 mil hectares. O cacau já respondeu por cerca de 40% das exportações e 50% das receitas do estado, constituindo-se como a principal cultura de exportação do estado, e uma das principais do país. Atualmente, “o Brasil é o quarto produtor mundial e tem o quinto maior parque chocolateiro do mundo” (Dias, 2001), já tendo chegado a segunda posição em termos de produção com 380 mil toneladas anuais, “sendo que nos dias de hoje, devido aos problemas causados principalmente pela vassoura de bruxa, não chega a 200 mil toneladas” (Sodré,2000).

“Desde 1987, o setor cacaueiro vem passando pela mais profunda crise de sua história. Os principais fatores que desencadearam foram os baixos preços recebidos pelo produto, o monocultivo, a presença da doença vassoura de bruxa na região sulbaiana” (Dias, 2001). Além disto “a ocorrência da podridão parda nos anos agrícolas 91/92 e 92/93, e o período de estiagem de 93-97 foram fatores que reduziram substancialmente a produtividade (…), resultaram na descapitalização dos produtores e conseqüentemente, na aplicação insuficiente de recursos para a manutenção da lavoura em padrões desejáveis” (Pinto, 1999).

“Dos fatores considerados, a vassoura de bruxa requer maior atenção por parte dos técnicos e produtores, pois o fungo Crinipellis perniciosa, agente causal da doença, encontrou na região sul da Bahia condições ideais para o seu desenvolvimento, provocando danos irreparáveis à lavoura” (Pinto, 1999).

Além das condições ambientais o fungo encontrou na região, uma gama de cacaueiros “comuns” e híbridos altamente suscetíveis, “salvo alguns híbridos que envolveram o clone Scavina ou aqueles derivados destes” (Pinto, 1999).

Como o controle cultural e químico não vem trazendo resultados econômicos satisfatórios, devido ao alto custo destas práticas e devido às baixas respostas em termos de produtividade, tem se buscado outros meios para garantir uma boa produtividade e a redução nos prejuízos causados por doenças, principalmente a Vassoura de Bruxa.

“Entende-se, pois que a resistência genética dos cacaueiros ao fungo Crinipellis perniciosa seja a forma mais desejável para o controle desta doença considerando que o melhoramento genético de qualquer cultivo é o modo mais econômico e eficiente para aumentar a produtividade, reduzir custos de controle de doenças e pragas, melhorar a qualidade do produto e por fim reduzir a relação custo/benefício do empreendimento. Dentre os procedimentos de melhoramento genético, o desenvolvimento de variedades “clonais” de cacau é o mais recomendado para respostas a curto prazo pois a propagação vegetativa permite a manutenção do valor reprodutivo integral do indivíduo, não ocorrendo meiose segregação ou recombinação gênica” (Pinto, 1999).

Materiais e Métodos

Este trabalho foi realizado na ESARM (Estação Experimental Arnaldo Medeiros), que se localiza no Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC), unidades pertencentes a CEPLAC (Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira), localizado na Rodovia Ilhéus-Itabuna, Km 22, no município de Ilhéus.

A ESARM possui uma área de 344ha dedicados a trabalhos de “clonagem”, produção de mudas de cacau, produção de sementes com melhoramento genético e áreas destinadas à produção de hastes para enxertia (jardins clonais). Além do trabalho de pesquisa, esta é uma área de produção, de demonstração para aulas e cursos práticos, e área onde são plantados e testados os novos materiais (clones) que poderão ser lançados para os produtores. Um exemplo de materiais lançados pela a ESARM são os clones TSH 1188 e TSH 516 que apresentam frutos maiores, produção precoce e frutos de coloração avermelhada.

Implantação e Manejo de Áreas Clonadas

1. Obtenção de Mudas para a produção de porta-enxertos

As mudas utilizadas como porta-enxerto para a produção, futura, de material tolerante à Vassoura de Bruxa ou até mesmo de material mais produtivo foram obtidas a partir de sementes provenientes de frutos selecionados. Os frutos foram selecionados de variedades que possuam características desejáveis e, também, de acordo com as suas características, como: tamanho, número e peso das sementes.

Os frutos coletados foram quebrados, e a mucilagem das sementes retirada a partir da adição de serragem e, pelo atrito das sementes a uma mesa telada. Após esse processo às sementes foram plantadas em primeira instância num substrato de serragem, logo após a germinação foram transplantadas em saco de polietileno contendo um substrato adequado (terriço adubado) e mantidas num viveiro por cerca de 4 meses.

2. Obtenção de hastes para enxertia

As hastes foram obtidas no jardim clonal da própria ESARM, este material foi recolhido no início da manhã, quando encontrava-se ainda bastante túrgido, estas hastes foram levadas para o local de preparo, onde são desfolhadas, embaladas em jornais umedecidos para melhor conservação e levadas para o local de enxertia (viveiro ou campo). As hastes têm que ser identificadas de acordo com a procedência para que o enxerto seja feito de maneira correta.

3. Enxertia

A enxertia de cacaueiros pode ser realizada a partir de 2 processos, o primeiro consiste na enxertia de mudas em viveiro para posterior plantio a campo, a segunda consiste na enxertia de cacaueiros a campo (em brotos basais), ou seja, cacaueiros já formados que são utilizados para a recuperação da área.

A enxertia é um processo constituído de várias etapas, como:

3.1. Tipo de enxertia

Foram realizados 2 tipos de enxertia neste período, enxertia por borbulhia e enxertia por fenda cheia.

Pelo método de borbulhia foi retirada uma placa em forma de U do material a ser enxertado e adicionado no porta enxerto que já havia sido preparado, também retirando-se, com o canivete, uma placa em forma de U de aproximadamente mesmo tamanho, esta borbulha retirada do material a ser enxertado tem de conter uma gema foliar, viável, de onde surgirá a nova brotação (Fig. 02), a borbulha é amarrada à muda por um fitilho. Este método tem apresentado índices de pegamento de cerca de 80%.

Pelo método de fenda cheia outros detalhes têm de ser observados, como a compatibilidade do tamanho, em diâmetro, entre a muda e o porta enxerto para que haja a soldadura perfeita entre porta-enxerto/enxerto. Neste processo foi feito o corte de 15-20cm de altura na muda e até 25cm em brotos utilizando uma tesoura de poda e com o canivete abre-se uma fenda de aproximadamente 5cm no porta enxerto onde insere-se a haste já cortada sob forma de cunha (Fig. 03) amarrando-os com um fitilho, além disso deve-se fazer a proteção do enxerto com um saco plástico para conservar a água perdida por transpiração, formando assim uma câmara úmida (Fig. 04) que só deve ser retirada de 15 a 30 dias após o enxerto quando este apresentar sinais de cicatrização. O índice de pegamento deste método é de 80-90%.

4. Preparo da área para plantio

4.1. Preparo de área para o plantio de mudas enxertadas

Para que fossem plantadas as mudas “clonadas” a área teve de sofrer algumas modificações de modo que as mudas tivessem um desenvolvimento ideal, os processos realizados foram:

4.1.1. Raleamento de sombra

A área apresentava excesso de árvores de grande porte que causavam um sombreamento excessivo para o desenvolvimento das plantas, logo foi necessário à retirada de algumas dessas árvores com a finalidade de que houvesse maior penetração de luz solar.

4.1.2. Limpeza da área

A limpeza foi feita para a retirada dos restos das árvores cortadas, retirada de mato e ervas daninhas através de roçagem e destoca para a retirada de tocos e raízes das árvores.

4.1.3. Drenagem

Foram abertas valetas para a drenagem do excesso de água pluvial, evitando-se assim alagamento e possíveis comprometimentos da cultura.

4.1.4. Balizamento

Foi realizado o balizamento da área, utilizando-se cordas, piquetes de madeira e fita métrica, para fazer a marcação do terreno com a finalidade de que as plantas fossem dispostas de maneira correta facilitando o desenvolvimento e o manejo das plantas. O balizamento foi realizado tomando-se por base o espaçamento 3,0 x 3,0m, que segundo estudos da CEPLAC é o que apresenta melhor resultado quanto ao desenvolvimento e produção, o “stand” formado ao fim do processo é de 1.111 plantas/ha.

4.1.5. Abertura de covas

As covas foram abertas nas dimensões 0,40 x 0,40 x 0,40 m, com inversão do solo, da camada inferior para a superfície. Foi realizada adubação com 200g por cova da formula A – 11 – 30 –17 porcento de N, P2O5 e K2O respectivamente. Este procedimento é o que vem apresentando melhores resultados, pois aumenta a área a ser explorada pelo sistema radicular e permite um melhor desenvolvimento das plantas.

5. Preparo de área para enxertia em cacaueiros adultos

Para a formação de áreas “clonadas” a partir de uma área já estabelecida, não há grandes diferenças em relação à formação de áreas para plantios de mudas. Para a formação de uma área “clonada” a partir de uma área já existente foram realizados os seguintes processos:

•Raleamento de sombra
•Limpeza da área
•Limpeza das plantas- para a retirada de ramos, frutos e folhas atacados por vassoura de bruxa e outras doenças.
•Aplicação de uréia-100g/planta 60 dias antes da enxertia, para dar maior vigor à planta
•Enxertia- principalmente por fenda cheia
•Recepa- corte da planta velha, deixando-se apenas a planta enxertada, após 4 a 6 meses da realização da enxertia quando o enxerto já apresenta um bom desenvolvimento (Fig. 05).
6. Manejo de cacaueiros clonados

Os cacaueiros “clonados” são altamente exigentes em relação a manejo, exigindo cuidados especiais em todos os estágios de seu desenvolvimento.

6.1. Retirada da câmara úmida

A câmara úmida foi retirada entre 15 e 30 dias após a realização da enxertia, para retirar a câmara úmida fez-se primeiro a retirada do fitilho que a amarrava e só após 24 horas fez-se à retirada do saco plástico.

6.2. Retirada do Amarrio

O amarrio utilizado foi retirado quando os tecidos apresentaram sinais de soldadura, pois caso não seja retirado pode causar o estrangulamento dos tecidos devido à ausência de circulação de seiva.

6.3. Controle de pragas e doenças

O controle de pragas e doenças é de fundamental importância para garantir o desenvolvimento adequado das plantas. O cacau é altamente susceptível ao ataque de doenças e de determinadas pragas, principalmente quando se apresentam jovens e tenros. As principais pragas que atacam os cacauais nesta região são formigas, monalonium, tripes, vaquinhas que foram controladas pela utilização de inseticidas como o Decis (0,13%), Thiodam (0,2%) de forma manual com o auxílio do pulverizador costal, além da utilização de formicidas.

Quanto às doenças as que mais atacam são a vassoura de bruxa, podridão parda e a antracnose, para o controle destas doenças foram utilizados, além da catação e retirada manual das partes infectadas, produtos como o Dithane (0,6%), Benlat (0,2%), Manzat e Peprosan que são aplicados com uso de pulverizadores costais manuais.

6.4. Controle de plantas invasoras

Para o controle das plantas invasoras foram usados o Round up (glifosate), na concentração de 50ml para cada 10 litros de água, e o Gramocil (diuron + paraquat), na mesma concentração, de maneira alternada. A depender da espécie invasora pode-se utilizar estes produtos em concentrações maiores como 100ml para cada 10 litros de água . Este procedimento foi utilizado para o combate da espécie Zebrina pendula que estava atacando os cacauais recém enxertados daquela área.

6.5. Podas

As podas são práticas simples que podem ser realizadas apenas com a utilização de tesoura de poda, serrote de poda. Foi realizada a poda em cacaueiros de diversas idades, desde aqueles recém enxertados até aqueles já em fase produtiva.

6.5.1 Poda de formação

A poda de formação foi realizada no intuito de dar a planta já os primeiros sinais de como deve ser sua conformação, pois os cacaueiros “clonados” têm a característica de possuir um porte menor que os cacaueiros convencionais, devendo portanto possuir uma boa conformação. As podas de formação foram realizadas logo quando as plantas começam brotar, ou seja, faz-se à disposição correta dos ramos desde o início da sua formação, devendo-se tomar o cuidado de não retirar demais as folhas e ramos, pois isso pode retardar o desenvolvimento. Normalmente os cacaueiros clonados devem ser conduzidos de maneira a ficar sob forma de meia-taça (Fig. 06).

6.5.2. Poda de limpeza

A poda de limpeza foi realizada em cacaueiros enxertados que já apresentavam uma determinada altura, esta poda foi realizada no intuito de retirar ramos mal formados, ramos “piolhos” (sem função produtiva), ramos que se apresentam voltados para o centro da planta ou aqueles que estivessem, indo ao encontro do outro ou a ramos de plantas vizinhas.

6.5.3. Poda de frutificação

A poda de frutificação é uma poda de limpeza que foi realizada próxima a época de floração para garantir que a planta estivesse direcionando todo o seu potencial para a produção de flores que se traduzirão em maior produtividade.

6.6. Polinização Artificial

A polinização artificial é realizada para garantir uma boa produtividade, pois além da tolerância a doenças os “clones” apresentam alto potencial produtivo, contudo há problemas quanto à compatibilidade sexual entre alguns desses (ANEXO I). Para realizar a polinização artificial foram utilizados os seguintes materiais:

•Tubos plásticos de aproximadamente 5cm de altura com uma das extremidades vedadas com gaze e um pedaço de câmara de ar que foi utilizado para fixar o tubo à planta com o auxílio de alfinetes.
•Alfinetes- para fixar o tubo a planta.
•Pinça- para retirar o pólen da flor masculina e depositar na flor feminina.
•Fitas – para identificar o cruzamento realizado
•Isopor- para o transporte das flores
O processo de polinização, começa na véspera, quando devem ser identificadas as flores que serão fecundadas no dia seguinte. Essas flores apresentam-se ainda fechadas, mas já entumescidas indicando que irão abrir no dia seguinte. Após a identificação as flores foram protegidas com tubo plástico .

No dia seguinte foi realizada a coleta das flores que serviram como doadoras de pólen, e estas foram acondicionadas em isopor. As flores doadoras de pólen foram levadas até a flor receptora, retirou-se a proteção plástica desta, foi feito o corte dos estames e dos estaminóides com a pinça e com a mesma retirou-se à antera da flor doadora e fez-se o contato da antera com o estigma da flor receptora. Esta flor foi identificada, com alfinetes, para caracterizar a polinização e qual o cruzamento realizado.

Resultados e Discussão

Os clones são materiais de grande potencial econômico e vêm apresentando resultados importantes , não só em relação à redução do ataque da vassoura por unidade de área, mas sim diversas outras características como o aumento de produtividade, melhoria das características dos frutos e principalmente das sementes.

Os resultados obtidos na ESARM quanto à redução da incidência da Vassoura de bruxa são: redução do número de lançamentos na área, ou seja, as plantas selecionadas (clones) devem ser tolerantes ao ataque da vassoura de bruxa, sendo pouco infectadas, o que vem garantindo uma redução na pressão de inóculo sobre as áreas, já que os frutos ainda não apresentam tolerância ao ataque desta doença.

Quanto à produtividade os resultados alcançados dependem fundamentalmente das condições de implantação e manejo que é dada a área, pois as plantas clonadas são altamente exigentes em manejo para que possam expressar o seu potencial. As produtividades que vêm sendo alcançadas nas áreas clonadas (Quadro 1).

Quadro 1 – Produtividade alcançada em áreas clonadas (@/ha/ano)


As áreas implantadas a partir de brotos basais apresentam resultados mais rápido devido à utilização de todo o sistema radicular da planta adulta enxertada.

A ESARM já chegou a alcançar uma produção de, aproximadamente, 20.000@, antes do ataque da vassoura de bruxa. No ano de 2000 a produção alcançada foi de pouco mais de 600@ e este ano, quando parte da área clonada começou a aumentar sua produção, a estação alcançou uma produção de cerca de 2.800@, o que indica que com o passar dos anos e aumento da área clonada a produção tenderá a subir.

Além das características de tolerância à vassoura de bruxa e aumento de produtividade os cacaueiros clonados vêm apresentando resultados importantes quanto ao aumento de qualidade e da quantidade dos frutos e de sementes. Os principais resultados obtidos na ESARM , atualmente, quanto ao aumento destas características, são:

•Número de frutos: depende do porte da planta (Fig. 08)
•plantas de porte pequeno: > 50 frutos por planta
•plantas de porte médio: > 80 frutos por planta
•plantas de porte grande: > 130 frutos por planta (Fig. 09)
•Número de sementes por fruto: > 40
•Peso seco de uma semente: > 1 grama
•Tamanho do fruto: médio a grande
•Espessura da casca: quanto mais fina melhor
Todas essas características são de fundamental importância para o produtor, pois atualmente com a utilização dos cacaueiros “clonados”, os custos de produção aumentaram cerca de 30%, pois os custos de implantação e manejo são mais elevados, o que obriga os produtores a obterem um produto final de melhor qualidade, principalmente quando este produto é destinado à exportação.

Cultivares

Clones

Selecionados em regiões cacaueiras do Estado da Bahia, introduzidos de outras regiões cacaueiras, nacionais ou estrangeiras, adaptados às condições de solo e clima baianos.

Híbridos

Provenientes de cruzamentos interclonais entre cacaueiros dos grupos Amazônico e Trinitário.

Clima

Latitude entre 22° N e 22° S. Adapta-se bem regiões com temperaturas médias superiores a 21°C. Tolera por curto espaço de tempo, temperaturas mínimas próximas a 7°C, durante os meses mais frios do ano, porém pode ocorrer injúria nas sementes, resultando em um produto final de qualidade inferior. Exige precipitações pluviométricas superiores a 1.300 mm anuais, bem distribuídos ao longo do ano, como na região litorânea e Vale do Ribeira e grande parte do planalto paulista. Regiões com deficiência hídrica superior a 100 mm anuais não são indicadas à exploração econômica da cacauicultura.

Solos

Devem ser profundos e bem drenados. Na região litorânea, os mais indicados são os latossolos vermelho-escuro, o prodizólico vermelho-amarelado e solos aluviais de boa fertilidade natural. No planalto paulista, os prodizolizados de Lins e Marília var. Marília, e os latossolos roxos.

Época de plantio

Sementes em viveiro – setembro a abril.
Mudas no campo – praticamente o ano todo, na região litorânea e vale do Ribeira. No planalto paulista, de outubro a março.

Espaçamentos

Diversos, em função da fertilidade do solo e dos objetivos da exploração econômica, podendo variar entre 1.000 a 2.000 plantas/hectare.

Controle da erosão

Plantio em nível, nas encostas.

Mudas necessárias

Entre 1.000 e 2.000, em função dos espaçamentos adotados.

Calagem

De acordo com a análise de solo, elevar o índice de saturação por bases para 50%.

Adubação de plantio

60 dias antes do plantio, incorporar por cova, 2 a 4 litros de esterco de galinha ou 10 a 20 litros de esterco de curral curtido, 1 Kg de calcário dolomítico ou magnesiano, 100 g de P2O5, 02 a 60 Kg/ha de K2O e até 4 Kg/ha de Zn. Acrescentar, em cobertura, 4 aplicações de 10 g de N/planta, de dois em dois meses.

Adubação de formação

Aplicar em cobertura ao redor das plantas, em três parcelas no período das chuvas, de acordo com a idade das plantas e a análise de P e K no solo em gramas por planta: no 1º ano,40 g de N, 20 a 60 g de P2O5 e 20 a 60 g de K2O; no 2º ano, 80 g de N, 30 a 90 g de P2O5 e 30 a 90 g de K2O; no 3º ano, 120 g de N, 40 a 120 g de P2O5 e 40 a 120 g de K2O.

Adubação de produção

Aplicar de acordo com a análise de solo, 50 Kg/ha de N, 30 a 90 Kg/ha de P2O5, 20 a 60 Kg/ha de K2O e até 4 Kg/ha de Zn, parcelados em três vezes, e aplicados em cobertura, nos meses de outubro, dezembro e março.

Outros tratos culturais

Roçadas, para manter a cultura limpa; desbrotas, para eliminar ramos ladrões; podas, para dar forma a planta e facilitar os tratos culturais e as colheitas.

Arborização

Em matas virgens, proceder ao raleamento parcial da área deixando as espécies arbóreas desejáveis para apropriar 40% de sombra à plantação. Em terrenos desbravados, arborear com as seguintes espécies de utilização temporária própria como bananeira-prata, bananeira-nanicão, Thephrosia candida DC ou Leucaena glauca Benth., em associação com as espécies permanentes, com farinha-seca (Ptecellobium edwallii), para sombreamento, e Grevillea robusta A. Cunn. ou jaqueira (Artocarpus integrifolia L. f. Moraceae) para quebra vento.

Controle de pragas e doenças

Efetuar controle sistemático às formigas quenquém e saúva, com produtos específicos. No controle a outros insetos, principalmente tripes, vaquinhas, percevejos e lagartas, empregar deltamethrin, malathion, trichlorfon ou carbaryl. Controle preventivo das doenças fúngicas: podridão-parda (Phytophthora spp.) – acefato de trifenil estanho, hidróxido de trifenil e estanho e fungicidas cúpricos; podridão-morena (Botryodiplodina theobromae) – fungicidas cúpricos; e antracnose (Colletotrichum gloeosporioides) – mancozeb e cúpricos.

Colheita

Inicia-se a partir do 2º ano. Do 2º ao 4º ano, os frutos podem ser colhidos praticamente durante o ano todo. A partir do 5º ano, as colheitas são feitas em dois períodos: safra (novembro a fevereiro) e temporão (abril a agosto).

Produtividade normal

A partir do 7º ano, 1.200 a 1.500 Kg/ha

CACAU E CHOCOLATE

O mundo civilizado só tomou conhecimento da existência do cacau e de chocolate depois que Cristóvão Colombo descobriu a América. Até então, eram privilégio dos Índios que viviam no Sul do México, América Central e bacia amazônica, onde o cacau se desenvolvia naturalmente em meio à floresta. Hoje, quase 5 séculos depois, derivados do cacau são consumidos em muitas formas, em quase todos os países, e fazem parte da vida do homem moderno. Estão presentes em todos os lugares: nas mochilas dos soldados e nas bolsas dos estudantes, em barras de chocolate de alto valor nutritivo; nos salões de beleza mais sofisticados, nas formas mais variadas de cosméticos; e nas reuniões sociais, através de vinhos e licores. Seus resíduos são utilizados como adubo e ração para os animais.

Saindo da floresta amazônica para conquistar o mundo, o cacau percorreu um longo caminho. Sua história cercada de lenda, está marcada por episódios curiosos, foi usado pelos Astecas, como moeda, provocou discussão entre os religiosos sobre o seu uso nos conventos devido às suas supostas propriedades afrodisíacas e, por muito tempo, foi uma bebida exclusiva das mais faustosas cortes da Europa. Suas sementes, levadas para outras regiões e continentes, formaram grandes plantações que, hoje, representam importante fonte de trabalho e renda para milhões de pessoas.

Valor Energético do Chocolate

O chocolate é o alimento melhor balanceado que existe, contendo uma associação bem equilibrada de cacau, leite e açúcar. Devido ao seu alto índice de carboidratos e gordura, o chocolate apresenta taxas de proteínas bastante apreciável. Um tablete de 100 gramas corresponde a 6 ovos ou 3 copos de leite ou 220 gramas de pão branco ou 750 gramas de peixe ou 450 gramas de carne bovina.

Um tablete de 100 gramas de chocolate ao leite contém:

USO MÚLTIPLO DO CACAU

Muito além do Chocolate

Cacau lembra chocolate. Sempre foi assim, desde os astecas, que em suas cerimônias religiosas incluíam o Chocolate. Agora, do fruto do cacaueiro começa a se industrializar também o suco de cacau, a partir da extração da sua polpa. Com a polpa de cacau pode se fazer ainda geléias, destilados finos, fermentados – a exemplo do vinho e do vinagre – e xaropes para confeito, além de néctares, sorvetes, doces e uso para iogurtes. Existe mercado amplo e imediato, principalmente para o suco de cacau, tanto no país como no exterior.

Pesquisa dá Lucro

Pesquisas desenvolvidas pelo MA/CEPLAC começam a gerar, recentemente, tecnologias capazes de otimizar a produção cacaueira, através do aproveitamento integral dos subprodutos e resíduos da pós-colheita. Este programa, além de contribuir para diversificar a receita das propriedades rurais, pode resultar em incremento significativo da renda líquida do produtor de cacau, tornando-o menos dependente das flutuações do mercado externo, que regula o preço do produto.

Semente Vale Ouro

O cacaueiro sempre foi cultivado para dele aproveitar-se apenas as sementes de seus frutos, que são a matéria-prima da indústria chocolateira. As sementes secas representam no máximo 10% do peso do fruto do cacaueiro. Apenas recentemente é que os 90% restantes começaram a despertar o interesse dos produtores, a partir de estudos desenvolvidos por técnicos do MA/CEPLAC. Uma tonelada de cacau seco, por exemplo, representa 400 a 425 Kg de polpa integral.

A casca também tem uso

A casca do fruto do cacaueiro, também pode ter aproveitamento econômico, conforme atestam pesquisas de técnicos do MA/CEPLAC. Ela serve para alimentar bovinos, tanto in natura como na forma de farinha de casca seca ou de silagem, como também para suínos, aves e até peixes. A casca do fruto do cacaueiro pode ainda ser utilizada na produção de biogás e biofertilizante, no processo de compostagem ou vermicompostagem, na obtenção de proteína microbiana ou unicelular, na produção de álcool e na extração de pectina. Uma tonelada de cacau seco produz 8 toneladas de casca fresca.

Um sabor exótico

O suco de cacau possui sabor bem característico, considerado exótico e muito agradável ao paladar, assemelhando-se ao suco de outras frutas tropicais, como o bacuri, cupuaçu, graviola, acerola e taperebá. É fibroso e rico em açúcares (glicose, frutose e sacarose) e também em pectina. Em termos de proteína e de algumas vitaminas, é equivalente aos sucos de acerola, goiaba e umbu. Algumas das substâncias que compõem o suco de cacau lhe conferem uma alta viscosidade e aspecto pastoso.

Literatura Citada:

DIAS, L.A.S. 2001. Cacau- Melhoramento genético. FUNAPE-UFG. Viçosa, MG. 578p.

GRAMACHO, I da C.P, Et al, 1992. Cultivo e beneficiamento do cacau na Bahia. CEPLAC, Ilhéus, Ba, 124p.

PINTO, L.R.M.; PIRES, J.L., 1998. Seleção de plantas de cacau resistentes à Vassoura-deBruxa. CEPLAC/CEPEC. Boletim Técnico 181. Ilhéus, Ba, 35p.

PINTO, L.R.M. Et al, 1999. Manejo de cacaueiros clonados. CEPLAC/CENEX. Ilhéus, Ba, 60p.

ROSA, I de S. 1998. Enxertia de cacaueiro. CEPLAC/SUBES/CEPEC. Ilhéus, Ba, 42p.

SODRÉ, G.A. Cultivo do cacaueiro. (No prelo)

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