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quarta-feira, outubro 9, 2024

RADIOATIVIDADE – CHERNOBYL, GOIÂNIA, CÉSIO 137

RADIOATIVIDADE – CHERNOBYL, GOIÂNIA, CÉSIO 137

Em 1895 Wilhelm Roentgen fez a primeira descoberta de uma radiação que ele chamou de raio X. Logo após, em 1986, Henri Becquerel faria, no mesmo campo, outra grande descoberta. Tendo deixado, por acaso, junto a um minério de urânio algumas chapas fotográficas, constatou, ao revelá-las, que as chapas estavam obscurecidas como se algo as tivesse afetado. Verificou então que a causa dessa alteração eram as radiações emitidas pelo composto de urânio contido no minério. Vários outros cientistas passaram a investigar esse tipo de fenômeno e em breve estaria explicado algo que iria revolucionar a ciência e a vida moderna: a radioatividade. Até essa época, pensava-se que os átomos fossem indivisíveis, e que as chamadas substâncias simples não sofressem transformações. Com a descoberta da radioatividade, no entanto, constatou-se que os átomos de certos elementos, como o urânio e o rádio, estão continuamente se desintegrando. Nessa transformação, eles emitem três tipos de radiação. Dois desses tipos são as partículas alfa e beta. A partícula alfa consiste em um grupo de dois prótons e dois nêutrons, e o seu poder de penetração é bem baixo, não atravessando sequer uma folha de papel. A partícula beta é idêntica a um elétron. Dotada de alta velocidade, tem maior penetração que partícula alfa, sendo entretanto, barrada por uma chapa de aço. Tanto a partícula alfa como a partícula beta provêm do núcleo do átomo.

Uma terceira espécie de radiação, chamada raios gama, não consiste em partículas; são na verdade, ondas eletromagnéticas muito mais penetrantes que as radiações alfa e beta. Assemelham-se bastante aos penetrantes raios X. Os núcleos dos átomos radioativos desintegram-se quando emitem essas radiações; assim, os átomos desses elementos transformam-se em átomos de outros elementos. Tal transformação é chamada decaimento. Átomos de urânio, por exemplo, decaem eventualmente para átomos de chumbo. O tempo necessário para que a metade dos átomos de uma mostra decaia é constante para cada elemento. Chama-se esse período de meia vida. O período de meia vida em alguns elementos leva uma fração de segundo, muitos milhões de anos, em outros.

Existem certos elementos que apresentam átomos com propriedades químicas análogas, mas com peso diverso. Esses elementos são chamados isótopos e alguns apresentam a propriedade da radiação. Alguns isótopos radioativos emitem somente partículas alfa, outros emitem somente partículas beta. Ainda há os que emitem ambas.

Em princípios de 1934, F. Joliot e Irene Curie abriram novas perspectivas extremamente importantes nas pesquisas da radioatividade. Conseguiram provar que certas transmutações provocadas obtinham efeitos análogos aos das transmutações naturais dos elementos. Vislumbraram com isso a possibilidade de produzir isótopos radioativos artificiais. Tais isótopos são obtidos expondo-se a uma forte radiação o carbono, o alumínio, o iodo e outros elementos não radioativos. Essa operação é atualmente feita em reatores nucleares.

Gradualmente foram se conhecendo as diversas aplicações da radioatividade. Hoje ela é usada nos mais diversos campos da atividade humana. Um dos elementos radioativos mais utilizados é o rádio. Ele é encontrado muito raramente na natureza. Foi descoberto por Pierre e Marie Curie, que o extraiu da pechblenda, um minério de urânio. As principais jazidas de minérios que contêm rádio encontram-se na Tchecoslováquia, República Popular do Congo e Estados Unidos. O rádio apresenta diversas espécies de isótopos, e seu período de meia vida é de aproximadamente 1.600 anos. É extremamente radioativo e emite intensos fluxos de partículas atômicas. Nesses fluxos radioativos sofre geralmente o decaimento para o chumbo; aliás, o próprio rádio é resultante do decaimento eventual do urânio. Foi um dos primeiros elementos radioativos a serem utilizados pelo homem, e ainda hoje é aplicado em diversos campos de atividade. É principalmente na radioterapia – e em especial como agente destrutor de tumores cancerosos – que encontra sua maior utilidade. No entanto, assim como os outros elementos radioativos, pode – em casos de longa exposição à sua radiação – ser inclusive fatal. Por esse motivo, atualmente, os cientistas que trabalham com o rádio e outros elementos radioativos protegem-se da radiação com trajes especiais; usam também uma espécie de insígnias, que contêm um filme fotográfico. Ao fim do dia de trabalho, o filme é revelado para se saber se uma dose muito alta, e portanto perigosa, de radioatividade atingiu o seu portador.

Além da medicina, há outros campos em que a radioatividade é utilizada. Um de seus usos mais interessantes é observado na arqueologia. Descobriu-se que, através do período de meia vida, ou seja, do tempo de decaimento dos diversos elementos, pode ser calculada a idade de objetos históricos extremamente antigos, como, por exemplo, fósseis, obras de arte primitivas, etc. Foi inclusive através desse mesmo método que se tornou possível levantar hipóteses bastante fundamentadas sobre a determinação da idade da Terra. Outro uso de decisiva importância da radioatividade é como potência energética. Atualmente, quando a carência de energia assume proporções mundiais, e que o petróleo e o carvão se tornam cada vez mais escassos, a radioatividade apareceu como a mais provável solução para um dos maiores problemas contemporâneos: o das fontes de energia. Graças à radioatividade é que o homem foi capaz de descobrir a energia nuclear. A energia chamada nuclear é decorrente de desintegração provocada de átomos de urânio e plutônio. Essa obtenção artificial de radiação é realizada por reatores nucleares. Futuramente a energia nuclear deverá estar sendo utilizada em larga escala, substituindo a energia produzida pelos combustíveis convencionais como o carvão e o petróleo.

No Brasil, pesquisas no campo dos reatores nucleares vêm sendo feitas há algum tempo; o primeiro reator nuclear de pesquisas a funcionar na América do Sul foi construído na Universidade de São Paulo.

Apesar de todos os benefício que trouxeram as pesquisas sobre a radioatividade, ela pode ser perigosa à vida humana. O problema da longa exposição à radiação pode ser contornado; porém, o verdadeiro perigo que trouxe ao homem a radioatividade é o do uso inadequado do imenso potencial energético que dela adveio, pois assim como possui uma extrema capacidade para proporcionar ao homem melhores condições de vida, também possui extrema capacidade de destruição. Graças à radioatividade foi possível a construção da arma mais mortífera que o homem já conheceu: a bomba atômica.

Acidente Nuclear de Chernobyl

O total oficial de mortos em virtude da radiação emitida pelo acidente no reator quatro da usina de Chernobyl, em 26 de abril de 1986 na Ucrânia, foi de 28 pessoas, vitimadas pela participação direta no combate ao incêndio da unidade. Outras duas pessoas faleceram atingidas diretamente pela explosão do reator, e uma terceira de infarto. As 31 mortes ocorreram até três meses depois do acidente. No período de dez anos, mais 14 pessoas morreram por motivos variados. Do total, dois óbitos podem ter sido provocados por efeitos tardios da radiação. Uma década após o acidente, 134 casos de síndrome aguda de radiação foram confirmados. Há outros 237 casos suspeitos. A estatística das vítimas do acidente foi uma das principais conclusões da Conferência Internacional “Uma década após Chernobyl”, organizada em Viena (Áustria) pela União Européia, Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e Organização Mundial de Saúde (OMS). As duas entidades são ligadas à ONU. O evento reuniu 800 participantes de vários países, incluindo autoridades, especialistas na área nuclear, representantes de organizações não-governamentais, de centros de pesquisa e universidades. Segundo as conclusões aprovadas em Viena, “dez anos depois do acidente, o significativo aumento de casos de câncer de tireóide em crianças nos três países mais afetados (Ucrânia, Bielorússia e Rússia) é a única evidência de impacto na saúde resultante da radiação emitida pelo acidente”.

A maioria dos cerca de 800 casos de câncer de tireóide foi registrada em fetos que em abril de 1986 tinham mais de seis meses de vida intra-uterina e em crianças com até seis meses de idade.

Na opinião do médico Alexandre Rodrigues Oliveira, da INB (Indústrias Nucleares do Brasil), que participou da reunião de Viena, o aumento dos casos de câncer de tireóide poderia ter sido evitado se as autoridades da então União Soviética tivessem distribuído cápsulas de Iodo estável à população imediatamente após o acidente e restringido a ingestão de alimentos contaminados.

O Iodo estável teria a capacidade de “saturar a tireóide, bloqueando a captação do Iodo radioativo pela glândula evitando, assim, qualquer dano”, afirma o médico. Para o engenheiro brasileiro Witold Lepecki, da Nuclen, o governo da Polônia distribuiu Iodo à população, e o país não registrou aumento de câncer de tireóide em crianças.

No Brasil, lei federal exige que o sal de cozinha seja iodado, como forma de evitar o bócio, provocado pela hipertrofia da tireóide, e o nascimento de crianças com retardamento mental ou cretinismo – dificuldade de aprendizado, locomoção, audição e visão.

Os especialistas reunidos na Conferência Internacional de Viena concluíram também que, “com exceção do câncer de tireóide, não existem desvios estatísticos significativos na incidência de outros tipos de câncer que poderiam ser atribuídos à radiação”. Também “não foram observados impactos dramáticos nas populações e nos ecossistemas”.

Na opinião de Witold Lepecki, as declarações de autoridades da Ucrânia, que calcularam em alguns milhares o número de mortos devido ao acidente de Chernobyl, devem ser encaradas com cuidado. “O político se comporta de maneira diferente do técnico. A autoridade pode estar querendo sensibilizar o mundo para obter recursos para um país subdesenvolvido”.

Lepecki, co-autor do relatório original da AIEA sobre Chernobyl, em 1986, e da revisão, em 1992, revela que durante a Conferência ficou comprovado que o Hemisfério Sul não foi afetado pela radiação emitida pela central ucraniana, devido ao regime de ventos do planeta.

Além do aumento de um tipo de câncer que, na opinião de Lepecki, poderia ser evitado (tireóide), foram detectados aumento de casos de ansiedade, estresse e de reclamações de problemas nos aparelhos cardiovascular, digestivo e respiratório, especialmente entre os que combateram o incêndio e as pessoas retiradas das áreas em que viviam.

“Estes efeitos não podem ser atribuídos diretamente à radiação, mas sim ao trauma psicológico causado pelo acidente e suas diferentes conseqüências, como falta de informação ou informação oficial incoerente, às dificuldades decorrentes da realocação compulsória, à ruptura dos laços familiares e sociais e, particularmente, ao medo dos efeitos futuros da radiação, em especial sobre as crianças”, afirma o médico Alexandre Oliveira.

O total de evacuados na Ucrânia, Bielorússia e Rússia, segundo as conclusões da Conferência de Viena, foi de 326 mil pessoas. A área de acesso proibido compreende 4.300 km2 e as regiões “de controle estrito” (“contaminadas”) alcançam 29.200 km2.

A descoberta da energia atômica em nosso século deveria ter sido uma bênção para a humanidade. E teria sido realmente, se ela tivesse se desenvolvido até aqui de maneira certa.

Como não foi esse o caso, é claro que a descoberta dessa energia foi dirigida para caminhos errados. Daí nasceu a bomba atômica e os “aperfeiçoamentos” que se seguiram, como a bomba de hidrogênio, as armas nucleares táticas, os mísseis balísticos intercontinentais de ogivas múltiplas, a bomba de nêutrons, os mísseis lançados de submarinos, o projeto guerra nas estrelas, a bomba termonuclear de cobalto (aparentemente ainda não desenvolvida), que alguns cientistas temem poder deslocar o eixo da Terra se detonada, etc.

Voltada para “fins pacíficos”, como fazem questão de alardear todos os governos que detêm tecnologia nuclear, a energia atômica obtida das usinas nucleares está longe de merecer qualquer comemoração. Os problemas com os rejeitos radioativos e os acidentes nucleares registrados até agora demonstram que é totalmente falho o modo pelo qual esta energia é gerada atualmente, ou, o que vem a dar no mesmo, demonstram que o ser humano não passa de um aprendiz nesse assunto, apesar de evidentemente estar convencido de dominar integralmente todo o processo.

De acordo com dados do governo americano de fins da década de 80, encontravam-se armazenados (apenas nos Estados Unidos), em tanques especiais de aço, entre 300 e 400 milhões de litros de resíduos radioativos. O ecologista brasileiro Júlio José Chiavenato afirma que “1% desse lixo atômico é mais poderoso do que todas as emissões liberadas pelas bombas atômicas detonadas até hoje.” Todo esse lixo atômico precisa ser guardado por pelo menos mil anos, e os tanques precisam ser substituídos a cada vinte anos por razões de segurança. De acordo ainda o ecologista Chiavenato, qualquer animal vivo hoje na Terra tem traços de estrôncio-90 nos ossos, um composto resultante dos processos de industrialização nuclear.

Atualmente existem mais de 400 usinas nucleares em operação no mundo, a maioria delas nos Estados Unidos, França, Inglaterra e países do Leste europeu.

Também por “razões de segurança”, quando acontece um acidente nuclear dificilmente são dadas todas as informações sobre o que ocorreu. A não ser que o acidente seja de fato muito grave, como foi o da usina de Three Mile Island nos Estados Unidos em 1979 e o da usina de Chernobyl, na Rússia, em 1986. Mas mesmo nesses casos as autoridades tentaram num primeiro momento minimizar a gravidade da situação. Já no caso de acidentes nucleares em instalações militares, as informações que chegam ao público (quando chegam) são muito escassas.

De qualquer forma, o que já ocorreu na segunda metade deste século em matéria de acidentes nucleares fornece uma boa amostra dos perigos a que a humanidade ficou exposta nas últimas décadas. Como em todos os outros efeitos retroativos do Juízo Final, também os acidentes nucleares jamais poderão atingir arbitrariamente pessoas inocentes, isto é, que não tragam em si um carma para isso.

Vamos ver os principais acidentes nucleares até (abril de 1998):

Em 1957 escapa radioatividade de uma usina inglesa situada na cidade de Liverpool. Somente em 1983 o governo britânico admitiria que pelo menos 39 pessoas morreram de câncer, em decorrência da radioatividade liberada no acidente. Documentos secretos recentemente divulgados indicam que pelo menos quatro acidentes nucleares ocorreram no Reino Unido em fins da década de 50.

Em setembro de 1957, um vazamento de radioatividade na usina russa de Tcheliabinski contamina 270 mil pessoas.

Em dezembro de 1957, o superaquecimento de um tanque para resíduos nucleares causa uma explosão que libera compostos radioativos numa área de 23 mil km2. Mais de 30 pequenas comunidades, numa área de 1.200 km², foram riscadas do mapa na antiga União Soviética e 17.200 pessoas foram evacuadas. Um relatório de 1992 informava que 8.015 pessoas já haviam morrido até aquele ano em decorrência dos efeitos do acidente.

Em janeiro de 1961, três operadores de um reator experimental nos Estados Unidos morrem devido à alta radiação.

Em outubro de 1966, o mau funcionamento do sistema de refrigeração de uma usina de Detroit causa o derretimento parcial do núcleo do reator.

Em janeiro de 1969, o mau funcionamento do refrigerante utilizado num reator experimental na Suíça, inunda de radioatividade a caverna subterrânea em que este se encontrava. A caverna foi lacrada.

Em março de 1975, um incêndio atinge uma usina nuclear americana do Alabama, queimando os controles elétricos e fazendo baixar o volume de água de resfriamento do reator a níveis perigosos.

Em março de 1979, a usina americana de Three Mile Island, na Pensilvânia, é palco do pior acidente nuclear registrado até então, quando a perda de refrigerante fez parte do núcleo do reator derreter.

Em fevereiro de 1981, oito trabalhadores americanos são contaminados, quando cerca de 100 mil galões de refrigerante radioativo vazam de um prédio de armazenamento do produto.

Durante a Guerra das Malvinas, em maio de 1982, o destróier britânico Sheffield afundou depois de ser atingido pela aviação argentina. De acordo com um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica, o navio estava carregado com armas nucleares, o que põe em risco as águas do Oceano Atlântico próximas à costa argentina.

Em janeiro de 1986, um cilindro de material nuclear queima após ter sido inadvertidamente aquecido numa usina de Oklahoma, Estados Unidos.

Em abril de 1986 ocorre o maior acidente nuclear da história (até agora), quando explode um dos quatro reatores da usina nuclear soviética de Chernobyl, lançando na atmosfera uma nuvem radioativa de cem milhões de curies (nível de radiação 6 milhões de vezes maior do que o que escapara da usina de Three Mile Island), cobrindo todo o centro-sul da Europa. Metade das substâncias radioativas voláteis que existiam no núcleo do reator foram lançadas na atmosfera (principalmente iodo e césio). A Ucrânia, a Bielorússia e o oeste da Rússia foram atingidas por uma precipitação radioativa de mais de 50 toneladas. As autoridades informaram na época que 31 pessoas morreram, 200 ficaram feridas e 135 mil habitantes próximos à usina tiveram de abandonar suas casas. Esses números se mostrariam depois absurdamente distantes da realidade, como se verá mais adiante.

Em setembro de 1987, a violação de uma cápsula de césio-137 por sucateiros da cidade de Goiânia, no Brasil, mata quatro pessoas e contamina 249. Três outras pessoas morreriam mais tarde de doenças degenerativas relacionadas à radiação.

Abril de 1993 – Rússia – Formação de uma nuvem radioativa depois da explosão de uma fábrica de recuperação de combustível radioativo em Tomsk-7, na Sibéria. O acidente provoca a projeção de matérias radioativas que contêm urânio 235, plutônio 237 e outros produtos da fissão nuclear.

9 de dezembro de 1995 – Japão – Um vazamento no circuito de refrigeração no gerador de Monju (centro) provoca a parada em regime urgente deste reator experimental. O incidente causa uma grande comoção na região e leva as autoridades a adiarem a construção de uma filial.

Em junho de 1996 acontece um vazamento de material radioativo de uma central nuclear de Córdoba, Argentina, que contamina o sistema de água potável da usina.

Em dezembro de 1996, o jornal San Francisco Examiner informa que uma quantidade não especificada de plutônio havia vazado de ogivas nucleares a bordo de um submarino russo, acidentado no Oceano Atlântico em 1986. O submarino estava carregado com 32 ogivas quando afundou.

Em março de 1997, uma explosão numa usina de processamento de combustível nuclear na cidade de Tokai, Japão, contamina 35 empregados com radioatividade.

Em maio de 1997, uma explosão num depósito da Unidade de Processamento de Plutônio da Reserva Nuclear Hanford, nos Estados Unidos, libera radioatividade na atmosfera (a bomba jogada sobre a cidade de Nagasaki na Segunda Guerra mundial foi construída com o plutônio produzido em Hanford).

Em junho de 1997, um funcionário é afetado gravemente por um vazamento radioativo no Centro de Pesquisas de Arzamas, na Rússia, que produz armas nucleares.

Em julho de 1997, o reator nuclear de Angra 2, no Brasil, é desligado por defeito numa válvula. Segundo o físico Luiz Pinguelli Rosa, foi “um problema semelhante ao ocorrido na usina de Three Mile Island”, nos Estados Unidos, em 1979.

Em outubro de 1997, o físico Luiz Pinguelli adverte que estava ocorrendo vazamento na usina de Angra 1, em razão de falhas nas varetas de combustível.

30 de setembro de 1999 – Japão – Um novo acidente na central nuclear de Tokaimura provoca a morte de duas pessoas e expõe mais de 600 à radiação. Além disso, o acidente deixa 320 mil refugiados. Dois técnicos provocaram de forma involuntária uma reação nuclear descontrolada ao utilizar uma quantidade de urânio muito maior do que a prevista durante o processo de fabricação de combustível nuclear. A AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) avaliou o acidente como o mais grave desde o de Tchernobil.

06 de Agosto de 2004, Ao menos quatro operários morreram em uma central nuclear japonesa em Mihama, no Departamento de Fukui, a 320 quilômetros de Tóquio, capital do Japão, nesta segunda-feira, devido a um vazamento de vapor não-radioativo. O vazamento aconteceu por volta das 15h30 (horário local) em um prédio onde funcionam turbinas do reator número três da central, segundo a agência Kyodo.
O acidente aconteceu no dia em que se lembra no Japão o lançamento da bomba atômica em Nagasaki durante a Segunda Guerra Mundial, em 1945.

Vamos observar algumas outras particularidades e conseqüências relacionadas aos dois acidentes mais graves registrados até hoje, os das usinas nucleares de Three Mile Island e de Chernobyl:

Uma testemunha que morava numa cidade próxima à usina de Three Mile Island relatou dessa forma a situação logo após a confirmação do acidente: “As famílias estavam sendo reunidas desesperadamente e as ruas estavam uma loucura. Houve acidentes em frente à escola. Pais histéricos vinham apanhar as crianças no colégio, trombando uns com os outros, atravessando sinais vermelhos, numa situação de pânico geral.”

Estudantes que faziam a medida do nível de radiação com contador Geiger nessa escola encontraram leituras de 250 dentro do estabelecimento e de 350 do lado de fora do prédio. A leitura normal seria de 50. Totalmente em pânico, as pessoas começaram a sentir um gosto metálico na boca e algumas também um formigamento na pele…

Nos meses que se seguiram ao acidente, alguns fazendeiros da região notaram que seus animais estavam adoecendo, morrendo ou apresentando um comportamento estranho. Um fazendeiro que havia perdido parte de seu gado devido à radiação, notou que suas porcas ficaram no cio durante todo o inverno. Ele também percebeu que as árvores morreram ou tiveram suas folhas escurecidas muito antes do outono. Um outro fazendeiro observou que algumas árvores ficaram totalmente desfolhadas, e que os frutos de duas pereiras, apesar de não terem caído, estavam deformados.

Numa fazenda vizinha, o proprietário contou que todas as suas 125 galinhas haviam morrido depois de terem apresentado grandes dificuldades para respirar. Todas as suas quatro crias de coelhos nasceram mortas no ano seguinte ao acidente.

Muitos moradores da Pensilvânia apresentaram posteriormente vários problemas psicológicos. A esse respeito, o doutor Michael Gluck, clínico geral numa cidade próxima à usina, disse: “O efeito mais devastador que vi nesta área foi uma grave depressão psicológica.”

Em Chernobyl, depois do acidente, foram mobilizadas aproximadamente dois milhões de pessoas no processo de limpeza de toda a região atingida. Em abril de 1992, um comunicado oficial do governo estimava que o número de mortes naquele grupo, devido à radiação, situava-se entre 7 mil e 10 mil. Três anos depois, em abril de 1995, o Ministério da Saúde ucraniano informava que mais de 125 mil pessoas haviam morrido entre 1988 e 1994, vítimas da radiação.

Segundo o ministrou Andrei Serdiuk, “a radiação repercutiu na piora generalizada da situação demográfica e do estado de saúde da população da Ucrânia; aumentaram as doenças no sangue, no sistema nervoso, nos órgãos digestivos e respiratórios.”

Em 1996, a estimativa de mortes em razão do acidente, elaborada em conjunto pela Ucrânia e a Bielorússia, já fora ajustada para 300 mil… O número total de pessoas contaminadas seria de cinco milhões, e a área inutilizada pela radiação era de cerca de 140 mil km², equivalente a um Portugal e meio.

Um trabalho científico publicado na revista Nature, em 1995, informava que os índices de câncer de tiróide em crianças ucranianas haviam quintuplicado de uma maneira geral, e naqueles que moravam mais próximos de Chernobyl esse índice era 30 vezes maior. Dois anos depois, a OMS informava que o índice de câncer na tiróide entre as crianças era, na verdade, cem vezes superior ao nível de antes da tragédia. De acordo com a Organização, a radioatividade desprendida no acidente foi 200 vezes superior à liberada pelas bombas de Hiroshima e Nagasaki juntas.

Em julho de 1995, durante uma reunião da Sociedade para o Estudo da Evolução, em Montreal, o cientista Robert Baker apresentou surpreendentes indícios de que o arganaz (espécie de ratinho silvestre da região atingida) estava passando por uma evolução extremamente rápida. Segundo o cientista, o índice de evolução em algumas espécies animais desde o acidente era maior do que o ocorrido normalmente em 10 milhões de anos.

Exames demonstraram que os ratos de Chernobyl apresentavam várias rupturas em seus fios de DNA. Segundo o Dr. Baker, o organismo do animal estava tentando reconstruir o DNA, mas essa restauração imprecisa pode provocar mutação dos genes, que são transmitidos às novas gerações de células. Algumas mutações tornam a divisão celular descontrolada e o resultado é o câncer. Já as mutações ocorridas nas células dos óvulos e dos espermatozóides podem ser repassadas aos descendentes dos animais; em alguns casos os resultados são defeitos congênitos que podem apressar a morte dos descendentes.

De acordo com o geneticista ucraniano Vyacheslav Konovalov, em algumas regiões próximas a Chernobyl até 80% de todos os animais nascem monstros mutantes, como potros de oito patas e bezerros com duas cabeças.

Todos esses efeitos danosos é o que a ciência conseguiu descobrir até agora, após o acidente de Chernobyl. Pode-se apenas especular o que adviria de um acidente nuclear ainda mais grave, ou das explosões de algumas bombas de hidrogênio na atmosfera.

Ainda em julho de 1995, um relatório da CIA americana mostrou que em dez reatores ativos na Eslováquia, Lituânia, Rússia, Bulgária e Ucrânia, havia “grande probabilidade de ocorrer desastres nas dimensões do de Chernobyl”. Na própria usina de Chernobyl foram detectadas 260 fissuras no sistema de resfriamento de um dos reatores em outubro de 1997; um porta-voz disse que “as rachaduras foram descobertas a tempo de evitar vazamento de radioatividade.” A OMS estima em 200 milhões de dólares o total de recursos necessários para se continuar investigando as conseqüências do acidente nuclear de Chernobyl nos próximos 15 anos…

Enquanto médicos e cientistas vão descobrindo mais efeitos danosos de Chernobyl, outros acidentes nucleares, de “menor monta”, continuam a ocorrer em todo o planeta, ao mesmo tempo em que vêm à tona agora também notícias de acidentes até então desconhecidos.

Em abril de 1995, uma usina nuclear perto de Bombaim (Índia) deixou vazar água radioativa. A notícia do acidente só foi divulgada em julho. Em outubro daquele ano, um jornal de Tóquio divulgou a notícia de um acidente com um submarino nuclear chinês, que afundara em 1983 próximo de Vladivostok, na Rússia; o acidente causou a contaminação da região e foi mantido como segredo militar pela ex-União Soviética e pelo atual comando da frota russa. Em dezembro de 1995, no Japão, vazaram cerca de duas toneladas de sódio líquido do sistema de refrigeração do “super reator nuclear” da usina de Monju. Os especialistas haviam escolhido esse tipo de reator porque o uso de sódio no lugar de água para refrigeração tornava mínimo o risco de vazamentos, por diminuir os fatores de corrosão… Também em dezembro, cientistas japoneses descobriram, na neve da Antártida, uma concentração de radioatividade 500 vezes superior à normal, à qual atribuíram os testes nucleares americanos realizados na atmosfera em 1963; segundo esses cientistas, “ficou comprovado que as provas nucleares afetam qualquer parte do globo, independentemente de onde tenham sido realizadas.”

O mau uso feito da energia nuclear, tanto para “fins pacíficos” como para uso militar, tornou-se maldição para a humanidade. A esse respeito, diz Roselis von Sass em sua obra “O Livro do Juízo Final”:

“Tudo foi dado à humanidade. Assim também a chave para essa inesgotável fonte de energia. Riquíssimas bênçãos poderia ela ter colhido, se não se tivesse colocado sempre e sempre de novo contra a vontade de Deus. Assim, também a energia atômica contribuirá para a purificação no Juízo.”

Acidente Nuclear de Goiânia

Até o final do ano, deverá estar pronto o depósito definitivo para os rejeitos gerados pelo acidente com o Césio-137 em Goiânia, em setembro de 1987. Não se trata apenas de um depósito, mas de um complexo de instalações onde a maioria das utilidades já se encontram prontas. O local é Abadia de Goiás, a cerca de 20 quilômetros do centro de Goiânia.

É o pior acidente radiológico da História, na opinião de Alfredo Tranjan Filho, coordenador do projeto e da construção do depósito definitivo, por ter ocorrido em um centro urbano. Causou a morte de quatro pessoas e a geração de 3.430 metros cúbicos de rejeitos radioativos (6 mil toneladas), não podendo, entretanto, ser confundido ou comparado com um acidente nuclear, como o de Chernobyl, cuja magnitude é muitas ordens de grandeza maior.

O edital de licitação da obra foi lançado em 1º de julho e o início do processo de transferência dos rejeitos está previsto para o mês de outubro. Este depósito abrigará cerca de 60% do total de rejeitos produzidos em Goiânia, aqueles cujo tempo de decaimento à condição de liberação como lixo comum é de até 300 anos.

Desse grupo, 16% exigem confinamento superior a 150 anos e 41%, isolamento de até 150 anos. O material está acondicionado em caixas metálicas construídas com a finalidade específica de armazenar o material radioativo e em tambores alocados dentro de containers de concreto ou metálicos.

O material restante (cerca de 40% do total) não apresenta mais potencial de contaminação e poderia ser colocado em aterros sanitários qualificados. Devido à inexistência destes no Brasil, os técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), empresa responsável pelo armazenamento dos rejeitos, decidiram acondicioná-los em um depósito separado, já construído, chamado por eles de Container de Grande Porte (CGP), para diferenciá-lo do depósito dos rejeitos que, de fato, têm potencial de risco. O CGP nada mais é do que uma grande caixa de concreto com, aproximadamente, 60 metros de comprimento, 16 metros de largura e 4,5 metros de altura, construído sob a superfície, coberto com solo local, gramado, tendo a aparência de uma pequena elevação no terreno.

A definição do local e a permissão de construção do depósito final exigiu uma série de análises, incluindo verificação de características geográficas, geológicas, sócio-econômicas, pedológicas, hidrológicas, hidrogeológicas, etc. Além do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), confirmando se haveria impactos, se estes seriam positivos ou negativos e, nesse caso, se seriam aceitáveis, foi preparado um Relatório de Análise de Segurança (RAS), que avalia as possibilidades de acidente e seus resultados, caracterizando, uma vez mais, a escolha do local e o conceito construtivo do depósito.

Compensação

O EIA e o RAS para a definição do local recomendaram a adoção de algumas medidas mitigadoras e compensatórias no projeto de deposição final para reduzir o impacto da presença de um centro de armazenamento de rejeitos radioativos junto às populações vizinhas. “O acidente trouxe tanto prejuízo para uma determinada população, que a solução do problema deveria trazer benefício para a sociedade”, diz Alfredo Tranjan Filho.

Uma das primeiras ações mitigadoras e compensatórias foi a ampliação, através de Decreto do governo estadual, ao invés dos 90 mil metros quadrados originais para 1,6 milhão de metros quadrados, unificando o terreno do depósito provisório e do permanente. Decreto aprovado pela Assembléia Legislativa goiana transformou a área de preservação ambiental (APA), permitindo a criação de um parque que será aberto à visitação pública.

Na região serão plantadas, a partir de agosto, mudas de árvores características da vegetação de cerrado, típica do Centro-Oeste brasileiro que vem sendo fortemente devastado nos últimos anos. “O objetivo é tornar a área um celeiro para a criação de sementes de espécies do cerrado, visando o futuro reflorestamento de áreas desmatadas”, afirma Alfredo Tranjan Filho. O projeto de reflorestamento está orçado em R$ 800 mil e o Ministério do Meio Ambiente já alocou R$ 350 mil para este programa.

“Além do CGP e do depósito final dos rejeitos do acidente em Goiânia, a área abrigará um centro de informações voltado às comunidades próximas, com programas de educação ambiental, uso da terra, pecuária etc., guardará toda a história do que foi o acidente de Goiânia e sua solução”, diz Tranjan, “não permitindo às gerações futuras, diante de uma área verde, esquecer que tudo aquilo teve origem em um desastre, e que deve ser exemplo para que não se repita”.

Uma parte da área, a mais nobre e preservada, com quase 400 mil metros quadrados de terra, será destinada às populações vizinhas para atividades agrícolas e de criação de animais com fins comerciais, isto é, poderão tirar daquela terra parte do sustento da comunidade.

O complexo em Abadia de Goiás conta também com um laboratório de radioecologia, que realizará o acompanhamento do comportamento do depósito ao longo do tempo, servindo como centro de pesquisa e desenvolvimento. Conta com um Centro de Formação e Estudos em Radioecologia, que capacitará técnicos brasileiros, mormente os do Centro-Oeste, na área em questão. Conta ainda com um prédio de manutenção para atender a todas as necessidades do complexo.

Tecnologia nacional

“O projeto do depósito definitivo, ou melhor, de todo o complexo, é inteiramente nacional, custando 25% do preço cobrado por empresas estrangeiras, que só se propunham a construir o depósito. Hoje, o Brasil pode até exportar tecnologia na área”, afirma Tranjan, e o custo total não ultrapassará US$ 8 milhões.

Diante da gravidade do acidente, sem paralelo no mundo, os técnicos brasileiros se viram diante da necessidade de criar soluções imediatas para o problema. Segundo o coordenador do projeto e da construção do depósito definitivo, não só físicos, químicos e engenheiros, mas, também, médicos e psicólogos se defrontaram com casos de radiocontaminação e de problemas emocionais em um grau que, até então, jamais tinham lidado.

Ressaltando o caráter negativo do acidente ocorrido em Goiânia, Alfredo Tranjan Filho afirma que “houve uma conquista do ponto de vista científico-tecnológico, demonstrando a capacidade da ciência nacional de oferecer soluções para problemas inteiramente novos”.

Atualmente, segundo o técnico, a CNEN dispõe de um cadastro mais perfeito das fontes radioativas em uso no País do que em 1987, e melhores condições de atendimento em situações de emergência, embora, por falta de recursos financeiros, ainda esteja longe da ideal.

A partir do exemplo de Goiânia, a CNEN recolheu fontes similares à do Instituto Goiano de Radioterapia (IGR), que apresentava o Césio-137 aglutinado em uma matriz altamente solúvel, o que facilitou a contaminação. Hoje, são usadas fontes metálicas e um acidente como o de Goiânia dificilmente ocorreria.

Nove anos após o acidente, Alfredo Tranjan Filho encara o episódio da contaminação do Césio-137 na capital de Goiás como um exemplo claro das diferenças entre os vários “brasis” que coexistem: um Brasil rico, com alternativas tecnológicas e bom nível educacional, e outro miserável, caracterizado pela ignorância, pela falta de informação. “É um país que dispõe da tecnologia de fontes radiológicas para curar pessoas, mas, ao mesmo tempo, há quem as abandone, como há aquelas que roubam e arrebentam uma cápsula, sendo incapazes de reconhecer o símbolo da radioatividade”.

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