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quarta-feira, abril 17, 2024

A Evolução da Gramática

Sumário

1-Introdução
-A gramaticalização
2-Reflexões sobre possíveis significados das palavras:
2.1-Lá
2.2-Mas
2.3-Então
3-Escolha dos princípios de gramaticalização.E quais os motivos que nos levaram escolher:
3.1-Analogia
3.2-Reanálise
3.3-Continuidade e Gradualismo
3.4-Unidirecionalidade
4-Análise da amostra de fala de Marilene Felinto,revista
Caros Amigos,anoIV-número 47-fevereiro 2001,a luz dos princípios gramaticais (segue separada uma cópia de tamanho original para facilitar a leitura).
5-Conclusão
6-Bibliografia

1-INTRODUÇÃO

Gramaticalização

…“a intimidade com a gramática é tão dispensável que eu ganho a vida escrevendo,apesar da minha total inocência na matéria” Luis Fernando Veríssimo

Todo locutor nativo pode ter por sua língua julgamentos de gramaticalidade,estes julgamentos são intuitivos,não dependem nem da experiência,nem da memória,mas do sistema de regras interiorizados quando da aprendizagem da língua.

Os julgamentos de gramaticalização vão servir para estabelecer as regras de uma gramática e as agramaticalidades arroladas possibilitarão definir as pressões exercidas sobre regras consagradas.

Mattoso Câmara em Dicionário de Lingüística e Gramática definem a gramaticalização como: “processo que consiste em transformar vocábulos lexicais,ou palavras,providos de semantema,em vocábulos gramaticais.É em princípio a origem diacrônica de todos estes últimos vocábulos.Quando num estado lingüístico coexistem a palavra e o vocábulo gramatical,decorrente da gramaticalização,tem-se um caso de derivação imprópria.”

O pensamento acima é o modelador da gramaticalização.O falante ao usar a palavra inconscientemente desencadeia um processo de transformação de vocábulos lexicais em vocábulos gramaticais.

2-Reflexões sobre os possíveis significados das palavras:lá,mas e então.

Vamos neste estudo nos ater ao processo de gramaticalização desses três vocábulos:

2.1-Lá

Lá=advérbio originou-se do latim ad illac,através do português arcaico Alá.Ocorre também no português medieval a forma alo do latim illoc.Suas possíveis significações são:

a) Ali,naquele lugar,naquela situação (por oposição ao lugar em que se acha a pessoa que fala).Exemplo:Se assente lá.
b) Nesse tempo:Daqui até lá pode acontecer muita coisa.
c) Além,adiante:Sua casa ficava para lá do centro.
d) Usa-se em certos casos,depois de um nome,por ênfase: aquele homem lá.
e) Também se emprega para reforçar certos advérbios de lugar:lá em cima,lá embaixo,lá dentro.



2.2-Mas

Magis (advérbio de inclusão > mas conjunção adversativa) derivação propiciada pela utilização de mas em contextos negativos.Suas possíveis significações são:

a.1) Conjunção adversativa,expressa fundamentalmente oposição:Isso não é verdade,mas mentira das maiores
a.2) Vá,mas não demore,expressa fundamentalmente restrição e não oposição.
a.3) É bom chefe de família,mas não pensa no dia de amanhã.Sinônimo :porém,contudo,todavia,entretanto,no entanto.

b) Indica, no começo da oração,relação com a idéia anterior:Mas,por que você fez isso?
c) Advérbio:Sim,decerto.Ele deixou a porta aberta,mas aberta mesmo.
d) Substantivo masculino significando empecilho,dificuldade:Este mas prejudicou sua atuação na prova.Nem mas nem meio mas,sem discussão,sem alternativa.

2.3-Então

Então;advérbio do latim tum, então, naquele tempo.

INTUNC.(IN+TUNC=TUM+CE=particular de valor demonstrativo) = valor locativo.Exemplos extraídos de Martelotta et alli,1996.

a)Nesse ou naquele tempo:Vivia então no campo.
b)Num momento (que estar por vir).Então os homens assistirão ao fim do mundo.
c)Em tal caso,nessas circunstâncias:Se você fosse rico,então poderia ajudar toda a família.
d)Denota conclusão:Não recebeu meu convite?Então a carta extraviou-se.

*Até então,até determinado momento.

*Pois então,se assim é.

*Com que então,quer dizer que: com que então não veio.

e)Substantivo masculino,certo tempo passado,antanho:Um domingo de então me traz recordações dolorosas.
f)Interjeições
f.1)Que expressa admiração espanto:Então é verdade?
f.2)Emprega-se afetivamente,a revelar interesse pelo interlocutor:Então,como foi à viagem?

3-Escolha dos princípios de gramaticalização-princípio de Lehman (1982b) de Hopper(1991):

Quais os motivos que nos levaram a escolher a nomeação do Dr Ataliba.

Lehman (1982b)

Princípios da gramaticalização

1-Paradigmatização
2-Obrigatoriedade
3-Condensação
4-Coalescência
5-Fixação

Hopper(1991)

Princípios da gramaticalização

1-Estratificação
2-Divergência
3-Especialização
4-Persistência
5-Descategorização

Nós preferimos optar pelos seguintes princípios de gramaticalização:Analogia, reanálise,continuidade -gradualismo e unidirecionalidade.

Por quê?

“Como não há acordo entre os lingüistas quanto a uma teoria,se não unificada,pelo menos razoavelmente articulada,para dar conta dos fenômenos ditos de gramaticalização,listados nos itens anteriores.Nem poderia ser diferente,dada a complexidade da matéria e as naturais divergências sobre o que se pode entender por língua e por gramática”.Doutora Maria da Conceição de Paiva

Sendo assim,preferimos caminhar com o Dr Ataliba T. de Castilho,que resumiu todo o estágio da gramaticalização em 4 estágios. Analogia

Reanálise
Continuidade e Gradualismo
Unidirecionalismo

3.1) Analogia:é uma sorte de aproximação psicológica entre categorias em ausência,isto é, entre categorias situadas no eixo paradigmático.

*A analogia não dá surgimento a expressões ou estruturas novas,ela simplesmente estende regras a itens ainda não atingidos, “uniformizando” por assim dizer,as formas da língua.
*A analogia opera no eixo paradigmático.

3.2) Reanálise:é um processo que reinterpreta elementos que estavam separados(reagrupamento) reanálise.

*A reanálise é um processo por meio do qual os falantes mudam sua percepção de como os constituintes de sua língua estão ordenados no eixo sintagmático.
*A reanálise é um processo por meio do qual os falantes mudam sua percepção de como os constituintes de sua língua estão ordenados no eixo sintagmático.Essa mudança de percepção se deve a um tipo de raciocínio conhecido como abdução.
*A reanálise opera no eixo sintagmático.
*A reanálise é o desenvolvimento de novas estruturas a partir de estruturas antigas.

A analogia e a reanálise podem confluir na gramaticalização de uma mesma expressão.

3.3) Continuidade e gradualismo

A gramaticalização tende continuamente a inovação das estruturas das línguas.

Sapir(1921) e posteriormente Labov(1995)postulam que a variação é o primeiro estágio da mudança sintática.O princípio de “layering” de Hopper aponta para essa direção.

*O conceito de “layering” remete a coexistência de diversas camadas,isto é, alternantes dentro de um domínio funcional.Tal coexistência torna-se possível porque a emergência de novas camadas/variantes não implica eliminação das antigas,ao contrário as camadas interagem e coexistem dentro de uma mesma área funcional.Estas diversas camadas que servem para codificar funções similares ou idênticas podem estar correlacionada a itens lexicais particulares,classes de construção ou registros sócio-linguísticos;os itens envolvidos podem ter significados ligeiramente diferentes ou ser conhecidos como alternativas estilísticas.

3.4) Unidirecionalidade:a direção da mudança se dá das formas lexicais para as gramaticais ou das menos gramaticais para as mais gramaticais e não no sentido contrário.

4-Análise da amostra de fala de Marilene Felinto a luz dos princípios gramaticais. (segue separado uma cópia de tamanho original para facilitar a leitura)

Análise do Mas

…“Mas sou obrigado a começar do jeito de sempre,”…(anexo pág 30)-o mas nesta frase esta como conjunção adversativa. Magis (advérbio de inclusão) Mas (conjunção adversativa derivação propiciada pelo princípio de analogia devido à utilização do mas vir sempre em contextos negativos.O processo cognitivo de metonímia e mecanismo de reanálise estão sendo os princípios vigentes neste processo de gramaticalização.

… “Comecei com 12,13 .Mas não tinha nenhuma intenção de ser escritora (anexo pág 30)- o mesmo processo do exemplo acima.

“Mas,não entra aí uma certa contradição”…(anexo pág 30)-neste caso funciona como sinônimo de porém,contudo,todavia,entretanto no entanto.

… “já me provocou muita raiva,já chorei por exemplo.Mas,hoje muito menos.”(anexo pág.31) o mesmo processo do exemplo acima.

“Mas falar o quê?”…(anexo pág.31)Esta indicando uma relação com a idéia anterior.

“ Mas não porque escolhi”…(anexo pág.32) Idem

“Mas ao mesmo tempo você consegue descarregar uma revolta”…(anexo pág.32)Idem

“Também é claro mas de outra forma”…(anexo pág.32) como conjunção adversativa.

“Mas este estilo eu trouxe da literatura”…

…mas não é raiva de tudo”…

“Não acabou,mas,o preconceito vai existir sempre”…

…”mas desse discurso choramingas,eu não gosto.”

(todos os exemplos estão no anexo pág.32)E podem ser substituídos pelos sinônimos:porém,contudo,todavia,entretanto,no entanto)

“Mas você não convive mais com brancos”…

“Mas são racismos diferentes”…(ambos anexo pág.32)

“Mas aí você está levantando uma bandeira”.(anexo pág.33)

“Mas é sem querer”(anexo pág 33).Estes quatros exemplos acima indicam uma relação com a idéia anterior e por isso mesmos iniciam a oração e nenhum desses quatro casos colocaríamos o mas como conjunção adversativa,mesmo porque não existe uma idéia de contrária nas frases que estão a ele ligadas.

“…,mas não é…” (anexo pág.33) conjunção adversativa.

“…mas me identifico com algumas”…(anexo pág.33)

“Mas,tudo bem,…”(anexo pág.34) Apesar de poder ser colocado como conjunção adversativa na gramática normativa,não vemos nenhuma formação de idéias que se contraponham.Em ambos os casos está implícito o caráter enfático do mas.Nas frases:”mas não é” e mas,tudo bem” está ficando tão generalizado a união do mas ao tudo bem e não é que mais parece uma única fala formada pelo princípio de reanálise.

“Têm,mas naquelas condições.” …(anexo pág.34)conjunção adversativa.

“Mas você acha que é ruim sofrer?”(anexo pág 34) usado no início da frase indicando uma relação com a idéia anterior.

“Mas desde menina”,…(anexo pág.34)Idem

…mas a atividade em si é vergonhosa.”…(anexo pág 34) conjunção adversativa podendo ser trocado por porém,contudo…

“Mas também é porque”…(anexo pág.34).Apesar de poder ser colocado como conjunção adversativa na gramática normativa,não vemos nenhuma formação de idéias que se contraponham.Está mais na função enfática.A frase mas também está ficando tão generalizada que mais parece um caso de reanálise tentando se formar.

“Mas aí não será que você é jornalista”,…(anexo pág 34) idem porém com a ressalva que neste caso a função do mas é manter uma relação com a idéia anterior.

“Mas você escreveu!”(anexo pág.35) função enfática.

“Mas,em geral fico com pudores,”… (anexo pág.35) Sinônimo de porém, contudo, todavia, entretanto.

“…mas na minha formação de infância foi muito difícil conviver”…(anexo pág.35)Conjunção adversativa.

“…mas não porque o cara foi lá e pensou…”(anexo pág 35) o mas nesta posição se encontra com o sentido de ressalva.

“Mas agora eu respondo da seguinte maneira”…(anexo pág35)

“…,mas quero saber.”(anexo pág.36)

“Mas,isso é em todo jornalismo”…(anexo pág 36)Todos esses exemplos acima são sinônimos das conjunções;porém,contudo,todavia,entretanto,no entanto)

“…pode ter uma mulher,mas a postura é masculina”.(anexo pág 36) Conjunção adversativa,idéias opostas mulher/masculina.Mas lá no fundo vemos uma posição do mas como ressalva.Tem com a ressalva que se adapte adotando uma postura masculina.Mas aposto todas as minhas fichas na conjunção adversativa sem medo de errar.

“Acho as mulheres crudelíssimas,terríveis.Não estou dizendo que são santinhas,mas a imprensa tem de ser cruel com quem deve ser.”(anexo pág.36 )Conjunção adversativa duas idéias contrapostas santinha/cruel.

“Mas é uma transformação mais de fundo social.”(anexo pág.36)Conjunção adversativa.

“…mas é um segundo de orgasmo para milhões de horas de dor”(anexo pág.36)Idem

“Mas,não é essa a covardia masculina”(anexo pág.36)Como a frase é negativa implica uma idéia adversativa,porém não podemos negar que uma das funções deste mas é uma ligação com a idéia anterior.

“Eu posso estar sendo covarde,assumo.Mas tenho a outra coragem,que é feminina nata,…”(anexo pág.36)Conjunção adversativa.Apesar de estar no começo das frase,expressa fundamentalmente uma oposição covarde/coragem.

O mas percorreu o caminho da gramaticalização da seguinte forma:passou do magis (advérbio de inclusão) para mas (conjunção adversativa);como o advérbio de inclusão foi usado em abundancia em contextos negativos,assumiu o posto de conjunção adversativa.Porém vamos ver no discurso de Marilene Felinto o mas freqüentemente usado como advérbio de inclusão,para retomar um assunto anterior,para enfatizar uma idéia já exposta.Especificando um significado em termos de outro que esta presente ainda que de forma não explicita no texto=princípio de reanálise.

As várias formas do “mas”convivem na mais perfeita harmonia no discurso de Marilene Felinto,como também no nosso.O princípio de continuidade e gradualismo pode ser visto neste fenômeno.È o princípio de “layering”

A analogia e a reanálise confluíram na gramaticalização da palavra mas.Por estar sempre ao lado de frases negativas vemos o mas passando por um tipo de aproximação psicológica entre categorias situadas no eixo paradigmático

Unidirecionalidade:O mas passou de uma categoria menor(conjunção adversativa ou inclusão) para advérbio como no caso :a coragem é feminina,mas feminina mesmo.Como poderia ter se substantivado;o mas do jornalista é um empecilho para grandes reportagens.Infelizmente não tivemos estes exemplos nesta amostra de fala.

Podemos concluir que a gramaticalização do mais segui o caminho que se esperava dele,da forma menos gramatical para a mais gramatical.

Análise do Lá

“Não.Nasci em Recife,morei lá até os 12 anos.”(anexo pág.30).Esta na sua forma fonte como advérbio de lugar,significa ali,naquele lugar,por oposição ao lugar que se acha a pessoa que se fala.”

“Você trabalha lá…”(anexo pág 31)Idem

“…acho que pode ser boa para alguma pessoas,os leitores,sei lá.”(anexo pág.31)Lá aqui não exerce a função de adjunto adverbial de lugar,mas de partícula expletiva,nesta frase sua única função é dar ênfase ao verbo saber.Mas,geralmente ele vem posposto ao substantivo.E um caso de reanálise.

“Tenho ene brigas lá dentro”…(anexo pág 31)

“E você lá dentro”…(anexo pág.31)

“É que tem muita gente no movimento negro que faz a coisa certa e está precisando de quem está lá em cima.”(anexo pág33)nestes casos o lá foi empregado para reforçar certos advérbios de lugar.

“Vou lá e ponho minha opinião”…(anexo pág 33)Adjunto adverbial de lugar esta na sua forma fonte.

“Agora tem conflitos lá.”(anexo pág.33)Idem

“Daí fui lá…”(anexo pág.34)Idem

“…continuam lá.”(anexo pág 34)Idem

“Sei lá.Comprei alguns.”(anexo pág.35) usa-se depois do nome apenas para dar ênfase.

“Ela estava muito velhinha já,com 72 anos,quando a gente pegou ela lá na Paraíba.”(anexo pág 35)Dêitico função demonstrativa.O intuito é reforçar certos advérbios de lugar.

“Mas,não foi porque o cara foi lá e pensou”…(anexo pág35)

Lá aqui não pressupõe uma idéia de lugar,portanto não é um advérbio.Tem função mais retórica,um processo de discursivização.um advérbio caminhando para ser marcador.

Discursivização:”processo de mudança que leva um elemento lingüístico a perder suas restrições gramaticais,sobretudo de ordenação vocabular e assumir restrições de caráter pragmático e discursivo.” Maria da Conceição de Paiva

No caso do lá vamos encontrar a seguinte trajetória:

Locativo>temporal>conector lógico>função discursiva/ilocucionária A escala pressupõe elementos indicadores temporais,como no texto temos:”Nasci em Recife,morei lá até os 12 anos.E por fim,como elemento de organização textual.Deslizamentos possibilitado pelas relações anafóricas e catafóricas.Exemplos:”-Você trabalha lá”-(anexo pág 31) …”acho que poderia ser bom para algumas pessoas…sei lá.”(anexo pág 31)

A origem de conectores e marcadores discursivos ligados a codificação de espaço ou tempo pode ser evidenciada não só diacrônica como sincronicamente.

Análise do Então

Passou do latim TUM,então naquele tempo para o então no momento que ainda esta por vir(idéia de futuro)-para o então circunstancial,até chegar à idéia do então conclusivo.Todos esses nuances do então ainda convivem na nossa língua simultaneamente,é o princípio de “layering” em que diversas camadas coexistam dentro de um domínio funcional.

Temos o então nesta ordem:

Então temporal>Então seqüencial>Então conclusivo.

“Então sou de uma família pobre”(anexo página 30)-então seqüencial

“Então tuas duas principais atividades hoje são”…(anexo pág.31)-então conclusivo

“Então são duas coisas que sempre caminham juntas”(anexo pág.31)Idem

“Ele já tinha mandado a coluna quando ele disse.Então,era assim,o “governador de São Paulo parece que vai morrer,”…(anexo página 31)Seqüenciador-ordena fatos.

“Então meus irmãos e eu sentávamos todos pequenos”…(anexo pág.32)

“Então a gente fechava os “esses”…(anexo pág.32)

“Então porque a gente aqui não valoriza o nordestino.”(anexo pág.32)

“…então tinha todo esse preconceito”(anexo pág32) Todos os exemplos acima se encaixam no então seqüencial.

“Exatamente.Então isso continua praticamente igual”(anexo pág.32)-Conclusivo

“Então isso pode parecer ingênuo,mas não é.”( anexo pág.33)-Conclusivo

“Então,fiquei sabendo.”(anexo pág.34)-Conclusivo

“Então fiquei sabendo…”(anexo pág.34)-Sequenciador

“Então,você abandona a amargura”…(anexo pág.34)-Conclusivo

“Então tinha a minha mãe que proibia”(anexo pág.34)-Sequenciador

“Mas,aí não será que você é jornalista, então?”(anexo pág.34)-Pode até ser um marcador lingüístico mas aposto mais no deslocamento da expressão aí então,usados juntos para inferir uma idéia de sequência.

“…então vou ver se esse livro vende um pouco…”(anexo pág.36)-Não há uma idéia de futuro,num momento que esta pode vir,seria por assim dizer um uso anafórico de valor temporal.

A palavra então passou pelo seguinte trajeto:

1-Uso anafórico(valor temporal)
2-Seqüenciador ordena os fatos no discurso ou estado de coisas perfectivos.

O que seria uma reanálise do valor temporal intrínseco para a temporalidade no discurso.

5-CONCLUSÃO

Enquanto a gramática normativa impõe leis que são sempre desrespeitadas(frases iniciadas por pronomes oblíquos) a gramaticalização tenta entender estes processos de transformação da língua.Coloca o ser humano como sujeito dessas modificações.E sabiamente admite que a língua é mutável,emergem novas regras,novas ordens a guisa do uso e da freqüência em que esse processo ocorre.

O estudo da língua não é um cinturão apertado moldando as palavras dos usuários.Mas uma força maleável cujo o único objetivo é tornar-lhe clara,concisa e se possível bela;para que a comunicação entre os seres seja a mais compreensível possível sem tantos ruídos.

A Língua existe para propiciar uma harmoniosa comunicação entre os homens,a gramaticalização neste pequeno período de vida vem se esforçando ao máximo para que isso aconteça.

Os textos do século XIII nos mostraram um português bem diferente do nosso,muito mais próximo do espanhol.A gramaticalização ocorreu e ninguém até os finais do século passado tinha se fixado no estudo deste fenômeno.

Ao tentar fazer este trabalho,a primeira pergunta que me veio foi “quem mais gramaticaliza a língua?”E inferi que fosse a camada menos privilegiada socialmente,que a elite sempre se ateve mais as normas.E conclui que a melhor amostra de fala fosse o filme “Domesticas” premiado no Festival Internacional de Cinema de Rotterdam no ano de 2001.Uma comédia dirigida por Fernando Meirelles e Nando Olival baseado na peça “Domésticas” de Renata Melo,uma produção das 02filmes.Apesar desta obra,ser um primor,um verdadeira fonte de descobertas para qualquer lingüista,por ser quase que uma entrevista com ênfase no dialeto nordestino,carioca e paulista de empregados domésticos,não ter nenhum policiamento gramatical.A obra não me foi de grande utilidade.Não havia o emprego do então,que o tempo todo fora substituído pelo agora e aí.Houve pouquíssimos casos de gramaticalização.O filme apesar de ser um presente para qualquer lingüista não me ajudou muito neste tema.

Se não é a classe mais pobre,vamos na elite:”Chico Buarque de Holanda”(rico,instruído,bem-nascido e lindo)Entrevista Caros

Amigos,dezembro de 1998.E como eu pensava a elite usa o vocábulo fonte.Tem exata noção de cada termo e se torna mais arredia na gramaticalização.(A entrevista segue anexo a título de mera observação,não faz parte do trabalho)

Nem pobre, nem rico,nem intelectual,nem ignorante,fiquei completamente desesperada.Aonde encontrar bons exemplos do lá,então,e mas se gramaticalizando. Foi aí que encontrei a entrevista de Marilene Felinto na revista Caros Amigos Fevereiro de 2001,e foi realmente um “achado”,uma fonte de exemplos de gramaticalização,uso da fala masculina com intuito de se impor no jornal(anexo pág.36)…”pode ter mulher,mas a postura é masculina”.Exemplo de preconceito lingüístico “Então meus irmãos e eu sentávamos,todos pequeninos e começávamos a treinar paulista,porque a gente não agüentava mas ser discriminado na escola por causa do sotaque.”(Anexo pág 32).Acreditamos que esta entrevista foi uma boa amostra de fala para este estudo.(Além do anexo segue uma cópia isolada de tamanho original para facilitar a leitura)

E gostamos muito de realizar este trabalho,pode ser até que a nota seja baixa,que o resultado seja deficiente.Mas o percurso foi agradável,abrimos novos caminhos,aprendemos muito e certamente enriquecemos nosso ponto de vista,alargando nossa estreita visão.

Estudando o mas,vimos que a sabedoria popular resgata seu sentido no vernáculo,no Magis(advérbio de inclusão) e não só o restringe como conjunção adversativa.Vemos uma sabedoria inata na raça humana.Sabedoria capaz de refazer uma língua,para torná-la mais compreensível e adaptável ao cotidiano.

Mas ainda nos restou uma dúvida:”Quem mais se gramaticaliza?”Nossa escolha foi Marilene Felinto, uma literata que escreve para Folha. Alguém com um grau cultural bem acima da média,uma inteligência brilhante e uma sensibilidade majestosa.Porém sua infância em nada difere das personagens “Domésticas”.Marilene Felinto teve a vida inicial traçada para ser mais uma dessas operárias,mas como uma gata selvagem arranha todas as leis das probabilidades,derruba a lei da velha história que se repete e galhardamente ferindo o óbvio chega ao patamar de um balaústre da literatura e do Jornalismo brasileiro.Isto que eu chamo de pulo do gato na vida,pena que poucos conseguem dá-lo.

Uma infância medíocre,uma trajetória iluminada,talvez tenha sido essa a receita para tantas riquezas lingüísticas encontradas nesta entrevista.

Talvez quem mais se gramaticalize seja a adolescência da classe média,ou mesmo a classe pobre com sua experiência de vida,quando o acesso a informação e a cultura não lhe é vetado.Não encontramos a resposta,mas estamos a caminho,procurando-a,porque nosso trabalho não terminou ainda.Sobraram muitas dúvidas e reflexões.Ainda temos uma bibliografia riquíssima sugerida neste curso,Gramática e Discurso por Dra.Maria da Conceição de Paiva.Temos muito ainda que estudar,o caminho é longo…

“O serviço mais útil que os lingüistas podem prestar hoje é varrer a ilusão de “deficiência verbal”,e oferecer uma noção mais adequada das relações entre dialetos padrão e não padrão William Labov,The Logic of Nonstandart English,1969.

6-BIBLIOGRAFIA

Estudos Lingüísticos e Literários,numero 19,Salvador,Programa de Pós-graduação em Letras e Lingüísticas,Universidade Federal da Bahia,março 1997
CAMARA,Júnior,J.Matoso.Dicionário de Lingüística e gramática Referente à língua portuguesa. 13 edição Petrópolis,Vozes 1986
CAROS AMIGOS,ano IV numero 47-fevereiro 2001 é uma publicação mensal da Editora Casa Amarela,São Paulo.

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