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quinta-feira, dezembro 12, 2024

Células Tronco 2

Autoria: Flaviana Ernandes

1- Introdução

A produção de diferentes tipos de células em laboratório e sua utilização para recuperar tecidos ou órgãos lesados está deixando de ser um sonho. Estudos com células-tronco vêm demonstrando que elas podem se diferenciar em todos os tipos celulares presentes em um organismo adulto, e acredita-se que tal processo será controlado em breve. Mesmo os debates éticos e religiosos sobre o uso de células-tronco retiradas de embriões perderam o sentido, com a descoberta de que essas células existem em indivíduos adultos e mantêm sua capacidade de diferenciação. Assim, a busca pelo entendimento total dos mecanismos que fazem o ser humano continua. Enquanto isso, os cientistas também aplicam os conhecimentos obtidos nas pesquisas em atividades que já são parte do cotidiano.

2- A célula-tronco

Com o avanço nas pesquisas na área de genética, os estudos sobre as células tronco tem sido alvo principal do interesse de todos. Por ser um tipo de célula que pode se diferenciar e constituir diferentes tecidos no organismo tem uma capacidade especial, já que as demais células geralmente só podem fazer parte de um tecido específico,outra capacidade especial das células-tronco é a auto-replicação, elas podem gerar cópias idênticas de si mesmas. E é por causa dessas duas capacidades especiais que as diferefem das demais células que são objeto de intensas pesquisas na atualidade, pois poderiam no futuro funcionar como células substitutas em tecidos lesionados ou doentes, como nos casos de Alzheimer, Parkinson e doenças neuromusculares em geral, ou ainda no lugar de células que o organismo deixa de produzir por alguma deficiência, como no caso de diabetes.
As células-tronco podem ser chamadas de adulta e embrionária. As células-tronco adultas mais utilizadas são as células-tronco da medula óssea e do sangue de cordão umbilical. As células-tronco embrionárias são derivadas do embrião de até 5 dias que estão congelados nas clínicas de fertilização. Neste caso, os casais podem doar para a pesquisa, com fins terapêuticos, os embriões excedentes que não foram utilizados para a implantação no útero.

• As células-tronco são classificadas como:

Totipotentes ou embrionárias – São as que conseguem se diferenciar em todos os 216 tecidos (inclusive a placenta e anexos embrionários) que formam o corpo humano.

Pluripotentes ou multipotentes – São as que conseguem se diferenciar em quase todos os tecidos humanos, menos placenta e anexos embrionários. Alguns trabalhos classificam as multipotentes como aquelas com capacidade de formar um número menor de tecidos do que as pluripotentes, enquanto outros acham que as duas definições são sinônimas.

Oligopotentes – Aquelas que conseguem diferenciar-se em poucos tecidos.

Unipotentes – As que conseguem diferenciar-se em um único tecido.

As células-tronco totipotentes e pluripotentes (ou multipotentes) só são encontradas nos embriões.

As totipotentes são aquelas presentes nas primeiras fases da divisão, quando o embrião tem até 16 – 32 células (até três ou quatro dias de vida). As pluripotentes ou multipotentes surgem quando o embrião atinge a fase de blastocisto (a partir de 32 -64 células, aproximadamente a partir do 5.o dia de vida) – as células internas do blastocisto são pluripotentes enquanto as células da membrana externa do blastocisto destinam-se a produzir a placenta e as membranas embrionárias.

As células-tronco oligopotentes ainda são objeto de pesquisas, mas podemos dizer como exemplo que são encontradas no trato intestinal.

As unipotentes estão presentes no tecido cerebral adulto e na próstata, por exemplo.

• Terapia com células-tronco

Para tratar doenças e lesões através da substituição de tecidos doentes por células saudáveis.
Por exemplo, o transplante de medula óssea para tratar pacientes com leucemia é um método de terapia celular já conhecido e comprovadamente eficiente. A medula óssea do doador contém células-tronco sangüíneas que vão fabricar novas células sangüíneas sadias.
A terapia com células-tronco poderá no futuro tratar muitas doenças degenerativas, hoje incuráveis, causadas pela morte prematura ou mau-funcionamento de tecidos, células ou órgãos.

• Diferenciação das células nos tecidos que precisam ser reparados

Existem substâncias ou fatores de diferenciação que, quando colocados em culturas de células-tronco in vitro , determinam que elas se diferenciem em um certo tecido.
Uma outra possibilidade que está sendo investigada é se células-tronco, em contato com um tecido diferenciado, transformam-se naquele tecido. Por exemplo: células-tronco obtidas de embriões, cordão umbilical ou medula, se colocadas em contato com um músculo, conseguem diferenciar-se em músculo?
Isso já foi demonstrado com células-tronco embrionárias, mas ainda não se sabe qual é o potencial que células-tronco de sangue de cordão (adultas) têm de se diferenciar em vários tecidos.
Essa é uma das pesquisas em andamento no nosso laboratório, com células-tronco obtidas de cordão umbilical que estão sendo cultivadas juntamente com células musculares.
Trata-se ainda de pesquisas experimentais e que ainda não constituem um tratamento comprovado a ser aplicado em seres humanos.

• Uso de células adultas

As células-tronco adultas são encontradas em vários tecidos de crianças e adultos, e também no cordão umbilical e na placenta. Entretanto, ainda não se sabe em que tecidos elas são capazes de se diferenciar.
Um estudo recente com células-tronco retiradas da medula e injetadas no coração da própria pessoa, o auto-transplante, sugere uma melhora aparente do quadro clínico em pessoas com insuficiência cardíaca. Mas a questão é se essas células são capazes de formar tecido cardíaco ou só promover uma neo-vascularização (fabricar novos vasos sangüíneos).
De qualquer forma, a maior limitação quando usadas células da própria pessoa é que não serviria para portadores de doenças genéticas, pois o defeito está presente em todas as células daquela pessoa.

• Células tronco embrionárias

As células-tronco embrionárias têm o potencial de formar todos os tecidos humanos. Elas podem ser retiradas de:

a) embriões excedentes que são descartados em clínicas de fertilização, por não terem qualidade para implantação ou por terem sido congelados por muito tempo;
b) pela técnica de clonagem terapêutica.

• Clonagem terapêutica

A clonagem terapêutica, é a transferência de núcleos de uma célula para um óvulo sem núcleo. Ela nada mais é do que um aprimoramento das técnicas hoje existentes para culturas de tecidos, que são realizadas há décadas.
A grande vantagem é que, ao transferir o núcleo de uma célula de uma pessoa para um óvulo sem núcleo, esse novo óvulo ao dividir-se gera, em laboratório, células potencialmente capazes de produzir qualquer tecido.
Isso abre perspectivas fantásticas para futuros tratamentos, porque hoje só é possível cultivar em laboratório células com as mesmas características do tecido de onde foram retiradas.
A clonagem terapêutica teria a vantagem de evitar rejeição, se o doador fosse a própria pessoa. Seria o caso, por exemplo, de reconstituir a medula em alguém que se tornou paraplégico após um acidente ou substituir o tecido cardíaco em uma pessoa que sofreu um infarto.
Cientistas coreanos anunciaram ter clonado embriões humanos para obter células-tronco. Um tipo de clonagem terapêutica. O estudo confirmou a possibilidade de obter células-tronco pluripotentes com a clonagem terapêutica ou transferência de núcleos.
As células cumulus, que já são células diferenciadas, foram transferidas para os óvulos dos quais haviam sido retirados os próprios núcleos. Dentre esses, 25% conseguiram se dividir e chegar ao estágio de blastocisto e, portanto, capazes de produzir linhagens de células-tronco pluripotentes.
Entretanto, essa técnica só teve sucesso quando a célula cumulus e o óvulo pertenciam à mesma mulher. Os pesquisadores coreanos relatam também que não obtiveram sucesso quando usaram células masculinas, o que mostra que essa técnica ainda tem limitações.

• A polêmica em torno da clonagem terapêutica

Toda tecnologia nova gera polêmicas. Os argumentos das pessoas que se opõem à clonagem terapêutica são que isso irá abrir caminho para a clonagem reprodutiva, isso irá gerar um comércio de óvulos e embriões.
Nesse sentido é fundamental lembrar que existe um obstáculo intransponível, que é o útero. Basta proibir a transferência para o útero de embriões produzidos por clonagem terapêutica.
Quanto ao comércio de óvulos ou embriões, é a mesma situação que ocorre hoje com comércio de órgãos. Qualquer tecnologia tem seus riscos e benefícios.

3-Conclusão

A continuação dos estudos sobre as células-tronco demonstrou que elas têm as seguintes características básicas: são indiferenciadas e têm a capacidade de gerar não só novas células-tronco como grande variedade de células diferenciadas funcionais. Para realizar essa dupla tarefa (replicação e diferenciação), a célula-tronco pode seguir dois modelos básicos de divisão: o determinístico, no qual sua divisão gera sempre uma nova célula-tronco e uma diferenciada, ou o aleatório (ou estocástico), no qual algumas células-tronco geram somente novas células-tronco e outras geram apenas células diferenciadas.

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