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sexta-feira, março 29, 2024

Contos Esquecidos – Machado de Assis

Contos Esquecidos – Machado de Assis

1 — Decadência do Dois Grandes Homens

Argumento

Miranda, que foi ao Rio de Janeiro tratar questões políticas com os ministros, encontrou no

café Carceler (local da burocracia) o velho Jaime. Este chamou a atenção do médico, pois, sendo

um “original”, todos os dias fazia suas refeições no Carceler, seguindo uma rotina: almoçava,

tomava uma chávena de chocolate, acendia um charuto, lia jornais e por fim adormecia por 30

minutos. Miranda tenta infrutiferamente uma aproximação.

Porém, nos idos de março (dia 15), o velho Jaime depois de almoçar não procurou ler os

jornais. Miranda aproximou-se e, depois de apresentarem-se, entregaram-se a uma longa

conversa, Jaime estava inquieto e preocupado, os idos de março atormentavam-no. Ao saírem do

Carceler, encaminharam-se para a casa do velho. Lá foram surpreendidos por um grande gato

negro, chamado Júlio César. A presença do gato atormentou Miranda, mas, em seguida, Jaime

acariciou o gato acalmando-o. Miranda percebe que entre os muitos livros do velho havia um de

Metempsicose.

Assim, em uma conversa, Jaime revela que na realidade era Marco Bruto, o homem que

matou Júlio César, este tinha seu espírito no corpo do gato. Miranda, ao escutar tal história,

resolvo acender o charuto que ganhara, no café, do velho Jaime. Em silêncio, Miranda escutava

atentamente tudo aquilo que Jaime lhe contava. Nos idos de março Júlio César voltaria para

vingar-se de Marco Bruto, seu assassino. Porém, diante de Miranda, Jaime começa a transformarse

em um rato, que foi perseguido pelo gato, Júlio César. Depois que o gato comeu o rato, aquele

transformou-se em uma bola de luz, e de dentro saiu outra. As duas precipitaram-se ao céu. O

telhado da casa havia desaparecido, junto com as bolas de luz Miranda sobe ao céu. De lá, as

bolas seguem seu caminho, o Miranda despenca do céu. Ao cair no chão, reparou que as casas

estavam estranhas. Os telhados estavam no chão e os alicerces nos telhados. Ao acordar na outra

manhã, Miranda teve certeza de que Jaime era um “original” e de que a vingança de Júlio César, o

imperador romano, tinha se concretizado nos idos de março. Miranda resolveu ir até o Carceler

para contar a todos sua aventure e, ao chegar lá, encontrou o velho Jaime sentado à mesma

mesa, este agradeceu-lhe a ajuda e preocupar-se-ia apenas com os idos de março do ano

seguinte, pois agora estava salvo. Miranda questiona Jaime a respeito do que havia ocorrido e este

explica-lhe que tudo fora culpa do charuto opiado que Miranda tinha fumado.

2— Muitos anos depois

Argumento

Padre Flávio, um jovem de 27 anos, fora criado pelo Pe. Vilela. Abandonado pela mãe e

criado por uma madrasta. Esta morreu e deixou o menino Flávio aos cuidados do Pe. Vilela. Por

uma decepção amorosa, Flávio entra para o seminário e toma-se padre. Carismático, Flávio tinha a

atenção de seus paroquianos, assim corno uma vasta biblioteca formada e livros de teologia,

romances e livros profanos. Um dia, chaga à casa dos padres Henrique Aires, amigo de infância do

Pe. Flávio. Muito afoito, Henrique pediu-lhes ajuda e contou que havia fugido com Luisa. Contra a

vontade de seus pais unira-se a uma moça pobre. Os padres celebraram o casamento dos jovens

e reconciliaram o filho com os pais, João e Mariana Aires de Lima. Dona Mariana tolerava a nora,

mas não conseguia esconder seu descontentamento em relação ao casamento do filho. Depois de

um tempo, Henrique deixa a casa paterna. Nas os padres continuaram a visitar o casal Aires de

Lima. Até que um dia Pe. Flávio disse a Pe. Vilela que fora destrato por João Aires de Lima e, por

isso, não freqüentaria mais a casa da família. Pe. Vilela encontra João A. de Lima, então, o pai de

Henrique diz a Pe. Vilela que Pe. Flávio tinha desrespeitado D. Mariana. A fim de desfazer o mal

entendido, os dois homens dirigem-se à residência do casal. Lá, eles vêem D. Mariana de mãos

dadas com o Pe. Flávio. A cena confirmava a desconfiança do marido traído. Porém, chorando, D.

Mariana revela que Pe. Flávio é seu filho. Pe. Flávio tinha uma carta de sua mãe biológica, más

não esperava estar tão próximo dela. O. Mariana recolheu-se ao Convento da Ajuda, onde mais

tarde faleceu. Pe. Flávio faleceu no interior das Minas Gerais, onde fora refletir sobre o erro de uma

pessoa e sobre as conseqüências que trouxe à vida de muitos.

3—A melhor das noivas

Argumento

Não há nada mais bonito que o sorriso de um velho, menos o de João Barbosa em fim de

setembro, de 1868. Seu João Barbosa, um septuagenário muito rico, um dia colocou um anúncio

no jornal, pois precisava de uma mulher. Seus sobrinhos foram contra a idéia, mas seu João não

lhes deu ouvidos. D. Joana atendeu as exigências do patrão. Quando foi trabalhar na casa do

velho, D. Joana pensava que um dia seu esforço seria reconhecido e, assim, ganharia uma parte

da herança do velho. Porém, seu João começou a ficar muito animado acordava cedo, parecia ter

visto passarinho verde. Um dia o velho disse a O. Joana que precisava falar-lhe algo sério. O.

Joana pensou que seria o momento em que o velho reconheceria o trabalho prestado, pois ele

dizia que não queria deixa-la e que ela deveria estar disposta a fazer o mesmo. Assim, D. Joana

pensava no casamento, no testamento e na herança. O velho começou a falar em casamento, e O.

Joana sentia-se casada com ele. Até que o velho revela o nome da amada: D. Lucinda. Foi um

choque, uma decepção, pois O. Joana percebeu que havia uma interesseira rondando a fortuna do

velho João. Tão irritada com a situação ficou O. Joana, que resolveu partir. No entanto, o velho

persuadiu-a a permanecer com ele. A contra gosto D. Joana conhecera D. Lucinda em um jantar,

em um domingo na casa do velho. José, um dos sobrinhos, convidou-se para o jantar a fim de

conhecer a futura tia e mostrou ao tio que ela era apenas uma interesseira. Quando o sobrinho

falou ao tio o que pensava, este ficou irritado. Só que com o tempo João Barbosa percebeu que as

desconfianças do sobrinho tinham fundamento. Um resfriado afasta os enamorados e faz João

Barbosa perceber que aquilo de que precisava estava todo o tempo em sua casa: O. Joana. Esta

tinha-lhe devotado a vida. Seria certo casar com ela. Assim, para a alegria de D. Joana, esta é

pedida em casamento pelo velho.

Juntos faziam planos para construir uma nova casa. D. Joana apressou o casamento e, na

hora deste, ela foi chamar o noivo. Este estava sentado e sorrindo, O. Joana chamou-lhe algumas

vezes até que percebeu que o velho morrera. Tinha para ele, chegado a morte, a melhor das

noivas.

4— Um Esqueleto

Argumento

Em uma praia, 10 ou 12 rapazes estavam reunidos. Conversavam sobre vários assuntos,

até que um deles resolveu elogiar a língua alemã, e outro concordou. Assim, Alberto disse que

aprendera alemão com o Dr. Belém, um homem que escrevera um livro de teologia um romance e

descobrira um planeta. Não encontrou editor para os livros, e a carta enviada para atestar a

descoberta do planeta perdera-se. O narrador obtém a atenção de todos quando prova a

excentricidade do Dr. Belém contando-lhes a história de um esqueleto. Em Minas Gerais, um dia

Alberto conversava com o Dr. Belém, na porta da casa deste. Alberto perguntou se o Dr. Belém já

tinha sido casado e este disse-lhe que fora casado e que casaria novamente daí a três meses. Dr.

Belém convidou Alberto para ir até seu gabinete lá mostrou ao jovem o esqueleto de sua primeira

esposa. Alberto ficou aterrorizado. Porém o jovem deu uma nova idéia ao Dr. Belém: o casamento.

Dr. Belém escolheu a jovem viúva D. Marcelina para ser sua nova esposa. Embora ela tivesse

apenas 26 anos e fosse cortejada pelo tenente Soares, Dr. Belém durante três meses insistiu no

pedido de casamento. D. Marcelina sempre negou. Porém, passados os três meses, D. Marcelina

aceita o pedido de casamento do Dr. Belém. Todos estranharam tal união, não era por dinheiro,

tampouco por amor pensavam os convivas. Dr. Belém tinha 50 anos, mas aparentava 60, vestia-se

de forma estranha e devido à sua aparência física era chamado de defunto ou lobisomem. No

entanto, o casamento aconteceu e Dr. Belém transformou-se. Passou a vestir-se conforme o gosto

da esposa, e sua casa encheu-se de alegria Alberto era o único o freqüentar-lhes a casa, assim

convivia com a alergia daquela morada. Um dia, não podendo ficar para almoçar na casa do casal,

pediu para ficar algum tempo no gabinete para terminar a leitura de um romance. Estranhou o

silêncio do casal e, ao ir despedir-se, viu que, à mesa, sentado com o casal estava o esqueleto.

Horrorizado com aquela cena, decidiu não freqüentar mais aquela casa. Entretanto, um dia Dr.

Belém cobra-lhe a visita e diz-lhe que o amigo deveria fazer-se presente na casa do casal. Alberto

decide ir, pois ele era a única pessoa normal com quem O. Marcelina tinha contato. Além das três

pessoas, durante um jantar, estava à mesa o esqueleto. Alberto percebe o constrangimento de D.

Marcelina e pede ao amigo uma explicação para aquela situação absurda Dr. Belém diz-lhe que

queria que as duas esposas se dessem bem ou que a primeira serviria do exemplo à segunda. Dr.

Belém contou que matou sua primeira esposa com as próprias mãos, pois ela o traíra.

Uma carta anônima tinha denunciado o adultério. Porém, mais tarde, Dr. Belém soube que

fora um engano, uma mentira. Não houve traição, mas a primeira esposa, Luisa, deveria servir

como exemplo à segunda caso esta não cumprisse suas obrigações de esposa. Alberto deixa a

casa do casal disposto a não voltar mais. Não entendeu aos chamados do amigo, mas, em 15

dias, recebeu um bilhete de O. Marcelina, que dizia que ele em a única pessoa normal com quem

tinha contato.

Apiedou-se da jovem senhora e lá foi. Surpreendeu-se com um anúncio e um pedido. Dr.

Belém diz-lhe que fará uma viagem ao interior e pede-lhe para fazer companhia a sua esposa.

Temeroso, Alberto diz não ao pedido, mas não havia outra pessoa. Assim, Alberto faz a irmã e o

cunhado hospedarem a esposa do Dr. Belém. Passados alguns dias, Dr. Belém manda-lhes uma

carta, pedindo que Alberto levasse ao seu encontro D. Marcelina. Mais uma vez, Alberto convence

a irmã e o cunhado a viajarem ao encontro do Dr. Belém. Era indispensável que levassem com

eles o esqueleto. Ao completarem a viagem a esposa e o esqueleto são entregues ao Dr. Belém.

Ao despedirem-se, a fim de voltar a cidade, o Dr. Belém persuade a todos a esperarem por ele. No

outro dia pela manhã, Dr. Belém convida sua esposa e o amigo Alberto para um passeio na

floresta.

Alberto seguia o casal que caminhava em silêncio. Quando chegaram a uma clareira, lá

estava sentado o esqueleto, Dr. Belém tirou uma carta do bolso e disse aos jovens que sabia de

tudo, que eles não o enganariam mais. D. Marcelina começou a chorar e Alberto, em vão, tentava

explicar a situação. Até que Dr. Belém disse que entendia tudo, pois eles eram jovens e amavamse

e por isso deveriam ficar juntos. Dito isso, agarrou-se ao esqueleto e correu pára a mata.

Alberto não o pode perseguir, pois precisou auxiliar D. Marcelina que se desesperava. Dr. Belém

recebera a carta do tenente Soares, porque este estava despeitado devido à escolha da jovem.

Todos os rapazes escutaram a história com a maior atenção e um deles disse a Alberto que o Dr.

Belém era verdadeiramente um doido. Alberto nu e disse-lhe que o Dr. Belém teria sido um doido

se tivesse existido.

5— Lima Loureira

Argumento

Em certa noite de abril de 1860, houve grande agitação na casa do comendador Nicolau

Nunes. Alberto, um jovem de 27 anos, filho de um primo, chegaria para noivar com uma jovem. Ela

chamava-se Luisa, tinha 18 anos, era a filha do meio. Seu irmão mais velho, assim como o pai,

chamava-se Nicolau, tinha 20 anos, e o mais novo Pedro, de 7 anos. Todos eram filhos do

comendador e de sua esposa Feliciana. Esta tinha a obrigação, segundo o mando, de descobrir se

a filha não estava interessada por outro homem, pois a moça não manifestava tais desejos. Então,

D. Feliciana perguntou à filha se esta já tinha se apaixonado, ela respondeu que não sabia. A mãe

perguntou à filha se deveria explicar-lhe o que era o amor. A mãe percebeu que a filha hesitou por

um momento. Assim, Luisa confessou que já tinha sentido amor por um rapaz, que no outro dia lhe

escrevera uma carta. A mãe, indignada perguntou se a filha respondeu a carta. E, para a tristeza

de D. Feliciana, Luiza respondera 25 vezes. Chamando a filha de desgraçada e dizendo-lhe que

seria a vergonha da casa, descobriu que a moça teve outros correspondentes. Para um enviou

quinze e para outro trinta e sete cartas. Escutando as lamentações da mãe, Luisa disse-lhe que

não havia mais nenhum. Era mentira, pois findada a conversa, foi escrever a quinta carta para o

alferes Coutinho. Assim em uma noite de abril de 1860, chegou o pretendente, dono de nariz

romano.

Alberto agradou a todos, menos à Luisa, pois esta não estava acostumada a dividir as

atenções com os outros. Na realidade, Luisa recebia o novo pretendente, mas continuava a

corresponder-se com o alferes e ainda tinha o Antonico. Quando Coutinho soube do novo

pretendente, escreveu uma carta apaixonada à moça. Ao receber a carta pensou que realmente

amava o alferes. Mas a disputa estava longe de terminar. Luíza sentia-se um pouco dividida, O

comendador Nicolau Nunes solicitou do futuro genro uma definição, e este disse-lhe que tudo

estava certo e que já podiam sentir-se como pertencentes da mesma família. Alberto resolve ir

conversar com o Coutinho, a fim de pedir a este que saia do caminho da jovem Luisa. Porém a

resposta do alferes foi negativa, assim ambos disputam o coração da jovem com todos as armas.

Alberto com sua presença e Coutinho com suas cartas. Mas a chagada do primo Gonçalves, o

sonso, faz Luisa preocupar-se, pois ele havia percebido que ela andava de namorico com os dois

rapazes. Luisa ficou furiosa com o primo. No entanto chegou o dia em que os dois pretendentes

não agüentavam mais a longa espera e ambos pediram Luisa em casamento, enviando-lhe cartas.

Coutinho escutou a moça dizer-lhe que lhe responderia mais tarde.

Depois de um tempo Coutinho foi à casa de Alberto para dizer-lhe que achava que era o

vencedor, ambos confessaram ter recebido muitas provas da moça. Coutinho confessou até ter

beijado a mão da moça. Quando, inesperadamente, chegou o comendador Nicolau e confessou

que a filha fugira com o primo.

6 — Brincar com fogo

Argumento

Duas amigas, Lúcia e Mariquinhas (Maria), estavam à janela em. uma tarde,

quando avistaram um jovem garboso a passear. Ele chamava-se João dos

Passos e tinha decidido que naquele dia iria conhecer o bairro Cajueiros.

Trajava um termo novo de riscado e usava um chapéu importado da França.

As moças ficaram ouriçadas ao ver o rapaz desfilando. Disputaram a atenção e o olhar do

jovem. Mariquinhas falava alto para que João a escutasse. Lúcia beliscava a amiga dizendo-lhe

caluda. João caminhou devagar para desfrutar os olhares desejosos das amigas. Passou

novamente por elas. No outro dia elas não se encontraram. Ficaram em suas casa: Mariquinhas,

rua do Príncipe; Lúcia, rua da Princesa. Porém a espera foi em vão, pois João não foi passear em

cajueiros. Passados alguns dias, o rapaz entra na rua de Lúcia, que estava à janela. Ele corteja a

jovem.Apresentando-se, João pede permissão à moça para enviar-lhe cartas, e ela consenti.

Saindo dali dirige-se a rua de Marquinhas e faz o mesmo com ela. As amigas sabiam que ele se

correspondia com ambas. Para elas, isso era motivo de gozação. Riam e debochavam do

pretendente atrapalhado. No entanto, o interesse de ambas pelo jovem cresceu tanto, que

deixaram de contar, uma a outra, os encontros amorosos. João apaixonara-se verdadeiramente

pelas duas.

Decidiu, então, casar. Resolveu escrever uma carta a Lúcia, pedindo-lhe a não em

casamento. Ele dizia-lhe que estava ansioso pelo momento de chamá-la de esposa e que o pai

dela ganharia, assim, um filho. No entanto ele também confessa seu amor a Mariquinhas, através

de um carta, pedindo-a em casamento. João ajoelhar-se-ia diante da mãe de Mariquinhas para

louvar-lhe. Passaria às 7hs pela casa do Lúcia e 8hs pela de Mariquinhas para oficializar o pedido.

As cartas foram entregues a um portador, que confundiu os destinatários, pois entregou a carta de

Lúcia a Mariquinhas e vice-versa. As duas moças recusaram-se a receber outras cartas do jovem

pretendente, que ignorava o acontecido. Posto isso, João decidiu o destino de seu casamento.

Optou por casar-se com urna prima do interior, que possuía um lindo par de olhos e cinco prédios

excelentes. Quanto a Lucia e Mariquinhas, casaram-se mais tarde, mas jamais voltaram a ser

amigos. Para os três jovens, a Páscoa de 1868 foi inesquecível.

7- A última receita

Argumento

A viúva Paula Lemos, em uma noite de setembro, adoecera ao regressar de um baile. Uns

acreditavam que a causa era a saudade, outros, os nervos. Assim, o Dr. Avelar foi chamado para

examiná-la e constatou ser uma constipação grave. Receitou dois ou três remédios, mas apenas

um era eficaz. A viúva “tomou os remédios como quem não queria deixar a vida’. Ela tinha apenas

24 anos, fora casada dois anos e há treze meses era viúva. O casamento fora arranjado pela

família dela e pelo noivo. Ela não tinha por este a menor estima. Devido à moléstia, o médico

passa a freqüentar a casa de D. Paula. Uma tia velha, que morava com a viúva, por ser surda, não

escutava as conversas entre o médico e sua paciente. Mas, não sendo tola, desconfiava que a

viúva nutria um forte interesse pelo médico. Ocorreram muitas visitas e forma trocados muitos

bilhetes. Por três meses a doença não cedeu. Por isso julgaram que o mal de D. Paula era interno,

já que o rosto não manifestava outros sintomas. Assim, Dr. Avelar escreve a O. Paula dizendo-lhe,

que a moléstia que a afligia necessitava da última receita. Então, o médico revela seu intenso amor

por ela, e, em quarenta dias, casam-se.

8—O Passado, passado

Argumento

Na residência do comendador Valadares, o capitão-tenente Luis Pinto — 42

anos, alto, elegante, bem-feito, olhos negros e rasgados, ar de superioridade

e boa moral — encontrou alguém que amava antes de casar-se. Era D.

Madalena Soares — trinta anos, cuja presença era tranqüila e austera — que

trajava uma vestimenta preta devido à recente viuvez. Havia 10 meses que

falecera seu marido, deixando-a com um filho de 6 anos. O tenente também

era viuvo há dez anos, tendo uma filha, que estudava em um colégio interno.

A alegria de rever um amor do passado não foi percebida pelos outros

convidados para o sarau, pois todos deram atenção à jovem. Ao

despedirem-se, Luis Pinto disse que a iria visitar na rua das Mangueira. Dona

Madalena morava com o filho e com uma tia do marido, esta tinha por

ocupação fazer companhia à viúva. Em um encontro Luis indagou se

Madalena lembrava o passado. “O passado de que ele falava, como já a

leitora terá suposto, era um namoro travado entre os dois antes do

casamento de ambos. Não foi namoro ligeiro e sem raízes, antes

passatempo que outra coisa; foi paixão séria e forte”. Assim o capitãotenente

começa a visitar a viúva com urna intenção clara: o casamento.

Apesar de ela estar no “meio-dia da vida” e ele na “tarde da vida”, Luís Pinto

tinha certeza de que ficaria com o amor do passado. Em um jantar na casa

do comendador Valadares, encontraram-se os dois novamente. Quando

conseguiram ficar a sós, o capitão começou, em um diálogo entrecortado,

indagar o que Madalena pensava sobre a possibilidade de um novo

casamento. Porém foram interrompidos, pois Madalena iria cantar para os

convidados do comendador. Ao despedir-se de Luís, disse-lhe um

significativo ‘talvez’. Para ele a resposta fora ‘sim’. Com a certeza de um

vencedor, descuidou-se das visitas à pretendente. Passados dois meses, em

uma conversa com o comendador, Luís descobre que Madalena iria casar-se

com o Dr. Álvares, era esse o comentário atual. Luís resolve perguntar

diretamente à Madalena, a resposta dela foi um silêncio constrangedor. Em

um mês o casamento foi anunciado.

‘Luís Pinto devia, não digo morrer, mas ficar abatido e triste. Nem triste, nem abatido. Não ficou

coisa nenhuma. Deixou de assistir ao casamento, por um simples escrúpulo; e teve pena de não ir

comer os bolinhos das bodas.

Qual era então a moralidade do conto? A moralidade é que não basta amar muito um dia

para amar sempre o mesmo objeto, e que um homem pode fazer sacrifícios por uma fortuna, que

mais tarde verá ir-se-lhe das mão sem mágoas ou ressentimentos.’

9—Dona Mônica

Argumento

O capitão Matias do Nascimento, ao morrer, deixou sua fortuna (300 contos) para seu

sobrinho Gaspar. No entanto, para receber a herança, ele deveria casar-se com D. Mônica, a tia de

seu tio. Senhora de sessenta anos, cuja elegância de 1810 e o sorriso de mais de três dentes

causam temor ao jovem herdeiro. O bacharel Veloso, amigo de Gaspar, em uma conversa diz-lhe

que D. Mônica provavelmente não aceitaria o pedido de casamento, pois cairia no ridículo. E que

havia uma pessoa mais preocupada com a especial cláusula do testamento: o comendador, pai de

Lucinda. Interessava, ao comendador casar a filha com um homem de posses. Porém, Lucinda, de

apenas dezessete anos, estava certa de seu sentimento por Gaspar. D. Mônica, ao tomar

conhecimento da imposição do testamento, demonstrou profundo desagrado. No entanto, ao

refletir melhor pensou que jamais seu sobrinho faria algo para desagradá-la. Gaspar, ao ir ter com

tia-avó, após sair da secretaria, onde trabalhava, estava decidido a abrir mão da fortuna em nome

do amor de Lucinda, enquanto a velha não queria contrariar a vontade do morto. O comendador

Lima, pai da moça, resolve separar os jovens amantes. A desgraça de Gaspar era enorme perdera

sucessivamente o tio, a herança e a amada. O pai de Lucinda faz a moça viajar para fora do Rio de

Janeiro. Mas, na noite em que recebe a recusa de seu futuro sogro, quebra a chave na fechadura

de sua casa. E, sem ter onde dormir, pois a casa do amigo Veloso era muito longe, resolve dirigirse

à rua do Inválidos, onde morava D. Mônica. Acolhido por um escravo, consegue pouso na casa

de O. Mônica.

No outro dia pela manhã, quando soube que Gaspar dormira na casa, sem seu

consentimento, ficou furiosa e fez com que Gaspar ficasse para o almoço O. Mônica fez o almoço

atrasar, pois deveria vestir-se e toucar-se adequadamente. Durante o almoço, o jovem é

persuadido a contar à velha os dilemas de seu coração. No outro dia também faltou ao emprego,

para ir a Niterói. Durante o trajeto, escutou a conversa de dois homens. Eles falavam sobre os

“cem contecos” que o mais velho possuía. Gaspar conversa com o dono da pequena fortuna e este

diz-lhe que trabalhou muito para conseguir a quantia e aconselha ao jovem que case com a tia

para ganhar os 300 contos. No outro dia ao ler o jornal, viu que tinha sido demitido. Resolveu ir

conversar com Lucinda, ela estava fria. Em contra parida D. Mônica mostrava-se acolhedora,

conversaria com o pai da moça e arranjaria um novo emprego para o sobrinho. Depois de perceber

a tristeza da filha, o comendador Lima permite o namoro entre os dois. Contudo, era tarde, Gaspar

opta por casar com D. Mônica, ela era uma boa mulher, e ele, assim, ganharia a herança.

10 – Casa não casa

Argumento

As duas da manhã, do dia 16 de março, Júlio Simões estava acordado, era uma noite

quente. De sua janela, ele vê um vulto de mulher aproximar-se de sua casa. Ele desce as escadas

e abre a porta, então a luz da vela ilumina o rosto de Isabel, que, chorando, entrega a foto de

Luísa. Na mesma noite, novamente chega à sua porta outro vulto de mulher, que ele julgava ser

Isabel, para explicar-lhe o que tudo significava. Mas, para sua surpresa, era Luíza, que, chorando,

lhe entrega a foto de Isabel e parto. Sem sabor o que elas queriam dizer com aquela ação, foi

visitá-las passados 7 dias. Primeiro, Isabel. Esta recebeu-o com frieza e dizia-lhe que pusesse a

mão na consciência. Júlio, um dia, elogiou, através de uma foto, Luísa. Isso foi suficiente para

despertar o ciúme de Isabel. No entanto, ele conseguiu convencer Isabel que tudo foi um mal

entendido. Ao sair da casa de Isabel, foi à de Luísa. A mesma situação repetiu-se. E, ao voltar para

casa, já tinha reconquistado as duas moças. Na verdade, ele não as amava. Mas casar-se-ia com

uma delas, pois ambas eram bonitas. Quando resolvia casar com Isabel, ficava com pena de Luísa

e vice-versa. Porém, um dia, Luísa e sua mãe foram à casa de Isabel. Enquanto as senhoras

conversavam, as duas jovens faziam a mesma coisa. Enquanto falavam de amores, Luísa olhava o

álbum de Isabel. Estranhou aquela que sua foto não se encontrava mais em uma das páginas.

Isabel tratou de explicar-lhe que, mesmo sem saber como, a foto estava em mãos de terceira

pessoa, dizia ter recebido dela em uma madrugada.

Luísa disse a Isabel que o mesmo havia acontecido com ela. Era alguém que queria

zombar de ambas. Até que Isabel diz que Júlio Simões é seu namorado. Ambas julgaram-no um

patife e disseram que chagaram a sonhar com a situação descrita por Júlio. As duas mães

descobrem que as filhas padeciam do mesmo mal: sonambulismo. Daí explicam-se as visitas

noturnas a Júlio. Sabendo que suas namoradas tinham consciência do ocorrido, resolveu não as

encontrar juntas. No dia seguinte, foi ter com Isabel, e ela culpou Luísa pela situação. Júlio foi

perdoado. Saindo da casa de uma, foi à casa da outra. Júlio disse a Luísa que Isabel fora a

culpada e que ele não trocaria aque4a por esta. Júlio foi perdoado. Se uma delas tivesse uma

perna torta ou um olho furado, a escolha seria fácil, mas ambas eram igualmente bonitas. Em três

dias ele deveria fazer a escolha, mas antes disso ele foi surpreendido por uma carta de Fernando,

que comunicava-lhe o casamento com a prima Isabel. Apesar do passo de Isabel simplificar a

escolha, ele ficou aborrecido. Agora Isabel parecia mais bonita que a outra. Decidiu casar-se com

Luísa, mas quando chegou à casa da jovem descobriu que ela iria se casar com o primo Teixeira.

Assim Júlio prometeu nunca se casar, mas casou, teve 5 filhos e morreu.

11— Silvestre

Argumento

José 5. P. Vargas era um dos péssimos procuradores. Só achava coisas para os outros no

foro. Casado e pai de 2 filhos. Silvestre era seu filho mais velho, 15 anos, melancólico, taciturno,

muito amado pela mãe. A irmã, 12 anos, era viva, alegre, vendia saúde, enquanto Silvestre,

parecia sofrer do físico ou da alma. A noite, Silvestre divertia-se olhando um livro, que comprara

em algibebe com dinheiro dado pela mãe. Segundo a irmã, ele divertia-se olhando as figuras. Por

um descuido, o livro foi esquecido sobre a mesa, e seu pai descobriu que o mesmo era de

mulheres nuas. Apesar de todas as lágrimas, o livro foi confiscado. José Vargas fez seu filho

trabalhar no cartório, a fim de que Silvestre se tomasse um escrivão juramentado, um escrivão ou

tabelião. A dinastia dos Vargas manter-se-ia dentro do foro. Silvestre distraia-se no trabalho. Um

dia, ao passar pela Academia de Belas-Artes, entrou para ver alguns quadros e percebeu que sua

vida era a pintura. Silvestre necessitava levar à luz dos homens uma Vênus que ele tinha na

cabeça. O jovem pediu permissão aos pais para abandonar o cartório e entrar para a Academia de

Bela-Artes, mas foi-lhe negada. A desatenção no trabalho chegou a tal ponto, que um amigo do pai

de Silvestre quase perdeu o emprego. Ao relatar o dilema, pelo qual passava o filho, José Vargas

recebeu o apoio do Dr. Luís Borges, que se ofereceu para cuidar do jovem a fim de influenciá-lo a

abandonar as idéias da arte.

A mãe, a irmã e o próprio Silvestre choraram muito ao se despedirem, mas o pai julgava

que aquela atitude era a mais acertada pata o caso do menino. Assim, Silvestre foi para a casa de

seu algoz, Dr. Luís Borges. Foi acomodado em um quarto no 20 andar, que possuía uma grande

janela para o mar. D. Camila, esposa de Dr. Borges, era uma jovem de 25 anos gentilíssima.

Estranhou Silvestre que o seu tutor o incentivasse à carreira artística. Na verdade o Dr. Luís

Borges era um homem sensível e amante da arte. Enfim, Silvestre conseguiu dedicar-se àquela

obra que esta pronta em seu pensamento, uma Vênus que precisava apenas de técnicas para

toma-se uma obra de arte.

O trabalho e a família forma esquecidos. O tempo do menino pertencia à arte. Foi à casa

paterna apenas duas vezes depois da mudança. A primeira porque a mãe e a irmã tinham

saudade, e a segunda, pelo falecimento desta. Dedicou-se à sua obra e não permitia que ninguém

a visse. D. Camila, que se tomara uma companhia agradável, pediu ao jovem para ser a primeira

pessoa a contemplar-lhe a obra. Passado algum tempo D. Camila entra no quarto do menino, este

estava sentado na borda da janela. Então ela reconhece o próprio rosto no quadro, uma

exuberante Vênus, nua. Primeiro ela fica maravilhada com a obra, depois inquieta, pois as pessoas

perceberiam a semelhança entre a pintura e ela. Sem ecitar, Silvestre diz que não há necessidade

de se preocupar, pois ele daria o quadro de presente para o marido dela. D. Camila pede que ele

confesse que ela fora a inspiração dele. Pergunta-lhe se ele casaria com ela. Silvestre não lhe

responde e joga o corpo para trás, caindo pela janela. Silvestre morre, O. Camila enlouquece e os

pais do jovem nunca encontraram o consolo. A culpada por tudo isso foi a arte.

12—A Pianista

Argumento

Malvina, uma jovem morena de 22 anos, era uma modesta professora de piano. Vivia com

sua mãe, a viúva Teresa. Quando o pai de Malvina faleceu, deixou como herança apenas a

honradez de uma vida. Assim as duas mulheres viviam a sina das Danaides. Malvina sempre fora

elogiada por sua educação refinada. A jovem provia o sustento da casa com as aulas que

ministrava. Entre suas alunas estava Elisa, a irmã de Tomás Gonçalves de Valença. A família

Gonçalves de Valença vivia a tradição da fidalguia, o sr. Basílio, avô dos jovens, foi um dos

primeiros a entregar sua casa para a corte da Família Real. O pai dos jovens, sr. Tibério, seguia a

tradição da família, julgava que as pessoas pertenciam a classes diferentes e assim deveriam

permanecer. Porém, o jovem Tomás apaixona-se por Malvina e, contra a vontade do pai, casa-se

com ela. Tibério severamente pune o filho deserdando-a, pois julgava Malvina uma interesseira.

Casados, Malvina e Tomás, viviam modestamente.

No principio de 1851, Tibério Valença adoece, e seu filho vai ao encontro do pai, este

necessitava de muitos cuidados. Assim, Malvina ofereceu-se para ser a enfermeira do sogro. Após

o restabelecimento do sogro, ela volta para casa. Em um primeiro momento, Tibério demonstra

gratidão, mas depois volta a pensar que tudo era parte de um golpe de Malvina para conseguir a

simpatia do sogro. No entanto, ele estava enganado. Após algum tempo ele resolve procurar o filho

e a nora. Descobre, então que havia se enganado a respeito dela. Esquece um pouco o filho e a

nora, pois Elisa regressava ao Rio de Janeiro, acompanhada pelo marido, um senador jovem e

rico. Tibério organiza uma festa para a filha, mas não estava feliz. Assim ele decide ir buscar o filho

e a nora e apresenta-os com arrependimento pois quisera excluir aqueles dois filhos do convívio

familiar.

13—O Machete

Argumento

Inácio Ramas pertencia a uma família de músicos. Seu pai era

concertista da capela imperial. Desde ceda Inácio manifestou sua vocação

musical, assim aprendeu a tocar rabeca, instrumento que rendia-lhe o

sustenta. Porém, seu instrumento do coração era o violoncelo, desde que

vira o concerto de um músico alemão. Casou-se com a jovem Carlotinha,

com quem teve um filho. A moça não entendia nada de música. Um dia ela

pede-lhe que toque alguma canção, pois nunca o vira em atividade. Ele toca

uma canção que fez quando a mãe falecera, mas a esposa demonstra um

entusiasmo falso. Apenas um amigo incentiva Inácio, dizendo-lhe que

deveria tocar em salões. Um dia 2 jovens que passavam pela casa do casal,

escutaram a música de lnácio e romperam aplausos e felicitações ao artista

divino. Eram AmaraI e Barbosa, dois estudantes de Direito, em São Paulo.

Os homens tomam-se conhecidos e, a partir dai, estabelecem uma relação

de amizade. Amarei passa a ser um grande incentivador musical para lnácio.

Barbosa mantinha-se mais distante, pois ele também era musico e apreciava

outro instrumento, o machete. Um dia reuniram-se os dois músicos com

seus instrumentos. lnácio e o violoncelo foram abalados pelo sucesso de

Barbosa e de seu machete. Carlotinha, de índole mundana e jovial, não

disfarçou o interesse pelo novo instrumento. Os estudantes, que estavam no

período de férias, retomaram a São Paulo. Depois de um tempo Barbosa

voltou para fazer uma visita ao casal amigo. Depois foi a vez de Amaral nas

férias seguintes. O rapaz encontrou o amigo, na sala do conceito, tocando

como nunca seu violoncelo, aos pés de lnácio estava seu filho de meses,

que, dominado pela música, via o pai tocar. Quando percebeu a presença do

amigo, abraçou-o Barbosa percebeu a tristeza do amigo. lnácio tomou o filho

nos braços e disse que o menino deveria aprender a tocar machete, pois era

melhor que o violoncelo. Conta, então, ao amigo que Carlotinha havia fugido

com Barbosa, pois preferia o machete ao violoncelo. A alma de lnácio

chorava, mas seus olhos mantiveram-se secos. Enlouqueceu após uma

hora.

14— Vidros Quebrados

Argumento

Venâncio em uma conversa com amigos diz-lhes que os casamentos bons se organizam

no céu e que os maus são obra do diabo. Nos tempo dos bailes do Campestre, Venâncio, com 22

anos, apaixonou-se por Cecília, de 20 anos. Escreveu uma carta à mãe da moça, pedindo-lhe

permissão para namorar a filha. Porém, a viúva negou, argumentando que Cecília era muito jovem

para o casamento. Venâncio escreveu para a própria Cecília. A moça jurou que seria dele.

Venâncio, com a ajuda de uma preta da casa, pulava o muro para ver Cecília, mas um dia um cão

soltou-se, e ele fugiu.

O barulho acordou a viúva, que o viu pular o muro. Desconfiada, fez a escrava confessar e

castigou-a, deixando-a em sangue. Mandou chamar o filho que morava na Tijuca, José Soares

comandante do 60 batalhão da guarda nacional. Ele aconselhou a mãe a encontrar um marido

pare Cecília. Com desculpa de passar 2 semanas na Tijuca, a mãe fez Cecília preparar-se pare

uma viagem. No caminho, revelou à Cecília a verdade. A moça gritou, esbravejou, quebrou os

vidros do carro, esmurrava-se, mas nada adiantou, pois, conforme a vontade da mãe, foi para o

convento. lnácio, desesperado, pensava em qualquer coisa para resgatar sua amada. No entanto,

um desembargador amigo, Dr. João Regadas, orienta-lhe para agir de acordo com a justiça. O

desembargador recebe Cecília como hóspede em sua casa. A mãe da moça ficou furiosa e foi

busca-la na casa do desembargador. A esposa deste sem saber o que dizer foi auxiliada pelos

filhos, ambos advogados, Alberto (casado havia dois meses) e Jaime (viúvo). Os irmãos tentaram

convencer a mãe da moça a aceitar a união entre os jovens, mas ela não fraquejou, manteve-se

contra casamento. lnácio escreveu para seu pai pedindo-lhe a autorização para o casamento. O

pai pediu-lhe que fosse a Santos vê-lo lnácio viajou, mas o casamento 1á tinha data marcada. O

pai pediu que o filho adiasse o casamento por um mês. Venâncio escreveu para a corte e esperou

as quatro semanas mais longas de sua vida. No dia de partir, houve um acidente com a mãe de

Venâncio. Fato que o obrigou a esperar mais um mês até o reestabelecimento da mãe. Quando,

enfim, chegou ao Rio de Janeiro, procurou ir ver a noiva. Contudo, Cecília não o recebeu, pois

estava indisposta. Na segunda visita a moça demonstrava uma grande frieza. Venâncio escreveu

uma carta à noiva perguntando-lhe se estava realmente doente ou se não desejava mais o

casamento. Na verdade, Cecília apaixonou-se por Jaime, e a recíproca era verdadeira. Iriam casarse.

O que explicou a paixão fulminante foi um arranjo de Deus.

15— Vênus! Divina Vênus!

Argumento

Ricardo, um jovem de 20 anos, funcionário do arsenal da guerra, vivia

com sua mãe, Mana dos Anjos. Ambos muito pobres. Ricardo era poeta. Sua

inspiração vinha de uma Vênus de gesso presa à parede. O ano era o de

1859. Moravam no bairro dos Cajueiros. Em um domingo, a mãe ao sair de

casa deixa sobre a mesa uma xícara de café para o filho. Ao retomar da

missa percebeu que a xícara continuava sobre a mesa, o café estava frio.

Ricardo não bebera o café, pois precisava terminar seus versos. Enquanto

escrevia, pensava na jovem Marcela, moça rica, filha do Dr. Viana. O. Maria

dos Anjos pede ao filho que esqueça a jovem rica e pense na prima

Felismina. Para Ricardo, não havia comparação. Enquanto Marcela era linda,

Felismina tinha olhos de peixe podre, nariz comprido, ombros estreitos e

falava como uma pessoa da roça. O rapaz jamais mostrou qualquer poesia

dedicada a amada. Um dia tomou coragem. Havia uma festa na casa do Dr.

Viana muitos convidados. Após desculpar-se e abandonar o jogo de solo,

Ricardo foi à sala onde estava Marcela, esta tocava piano e era

acompanhada por um tenor, um jovem médico baiano. Com o término da

apresentação, Marcela sentou-se entre duas amigas e perguntou a Ricardo:

Pareço-lhe bonita?’. Ele preparava-se para responder “Sois o mais belo, o

mais puro, o mais adorável dos arcanjos, á soberana do meu coração e da

minha vida’, quando a jovem fez a mesma pergunta a Maciel, que lhe

responde com a mesma pergunta. Ela sem constrangimento diz que ele seria

um belo noivo.

Ricardo perdeu seu amor. Contudo passou a concentrar seus esforços

na jovem Virgínia, de 16 anos, filha de um tabelião. Porém, esta também

possuía outro pretendente, o bacharel Vieira. Ricardo teve duas decepções

amorosas. D. Maria dos Anjos convida o filho para ir visitar a prima

Felismina, lá estava o noivo da moça, um rapaz da estrada de ferro. Ricardo

começa a perceber a prima. Ela toma-se Vénus inspiradora. Felismina era a

rima de ouro pois rimava com divina e cristalina. “E tu, criança amada, tão

divinal não és cópia da Vênus celebrada. És antes seu modelo, Felismina.”

Ricardo faz a prima abandonar o noivo e casa-se com ela. E já com cinco

filhos não escrevia mais poesias.

16— A chinela Turca (Primeira Versão)

Argumento

Em 1850, o bacharel Duarte preparava-se para ir a uma festa no Rio Comprido, a soirée da viúva

Meneses. Ele queria encontrar a jovem Cecilia, moça de finos cabelos loiros e pensativos olhos

azuis. Inesperadamente, ele recebe a visita de Lopo Alvos, um amigo da famitia, que já bnha

deixado a esposa e as filhas na festa da viúva. Foi a Catumbi, pedir a opinião do Duarte sobre um

drama que havia escrito, de cento e oitenta páginas. Duarte pensou em ouvir tudo sem

manifestação alguma. Assim, o tempo passaria mais rápido. Duarte preocupava-se, pois com

aquela leitura perderia a festa. Lopo Alvos continuava a ler o drama até que chegou a meia-noite e

o major enfurecido levantou e foi embora. Duarte não entendeu o que havia desagradado ao

amigo, mas achava que ele deveria ter ido embora antes. Um empregado anunciou outra visita.

Era um homem baixo e gordo que dizia ser da polícia. Duarte foi, então, acusado de ter roubado

um par de chinelas turcas, ornadas por diamantes. Relutando, Duarte foi preso. Levaram-no para

um carro, que rapidamente abandonou sua casa. Quando o carro parou, Duarte foi vendado. Na

verdade, aqueles homens não eram policiais. Ele tinha sido seqüestrado. Pensou que podia ser

obra de um rival ao coração de Cecília. Duarte foi levado para uma sala grande e luxuosa. Lá ele

ficou só por algum tempo. De repente uma porta abre-se, e entra um padre, que o cumprimenta.

Depois um homem velho vai conversar com Duarte, diz-lhe que as chinelas turcas não foram

roubadas e que eles não pertenciam à polícia. O velho manda buscar as chinelas que de tão

pequenas, cabiam na palma da Mão. Não eram cravejadas de pedras preciosas, eram bordadas

com um fio de ouro. O velho manda buscar a dona das chinelas, uma jovem loira,

desgrenhadamente penteada. Então, ela foi apresentada a Duarte como sua noiva. Duarte disse

que não quem casar. Porém o velho afirmou que Duarte faria três coisas: casaria, faria seu

testamento e depois tomaria veneno, o passaporte do céu. A jovem desconhecida seria a herdeira

universal do bacharel, este casaria obrigado por uma pistola que lhe era apontada. Com a ajuda do

padre, que na verdade, era um tenente do exército, Duarte conseguiu fugir. Foi perseguido por

algum tempo. Chegou a uma casa, que tinha a porta aberta. Entrou e deixou seu corpo cair em

uma cadeira, diante de um homem que lia o Jornal do Comércio. Aos poucos as formas ficaram

mais nítidas. Duarte fitou os olhos no homem, era o major Lopo Alves, que terminava a leitura do

drama. Eram duas horas da manhã. Duarte despediu-se do amigo e jurou nunca mais assistirá

leitura de melodramas.

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