21.7 C
Sorocaba
terça-feira, outubro 1, 2024

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

A psicologia e suas repercussões na educação

A psicologia histórico-cultural é descrita pelo levantamento de teses, questões, elementos e categorias que pretendem explica-la como teoria psicológica, sendo tomadas as raízes teóricas das quais a psicologia científica se originou e evoluiu. São ressaltadas as repercussões da psicologia na educação e as várias direções tomadas pelo processo educativo.

O mais importante para a compreensão das repercussões da psicologia na educação são as diferentes orientações filosófico-epistemológicas que dinamizam a trajetória de desenvolvimento da ciência psicológica.

1 OBJETIVISMO

Apresenta-se como a orientação filosófica que somente admite a existência de determinado princípio espiritual, o qual é identificado como uma espécie de razão superior que se diferencia da consciência humana por seu teor universal e divino. Assim, o mundo físico e a natureza têm sua existência sem vinculações com a consciência do homem, logo, a essência do mundo é determinada por um espírito divino, não humano. São manifestações de um espírito único tanto as coisas materiais como as idéias, os conceitos e os valores gerados fora da experiência humana, por serem absolutos, explícitos.

Platão foi o grande inspirador do objetivismo, principalmente no que se refere à educação do homem vista daquilo que ele “deve ser”, pautada no idealismo filosófico antigo e cristão. Ele afirmou a necessidade do empenho por uma educação do espírito, buscando o realce do mundo da idéia perfeita, do espírito.

Os filósofos gregos Sócrates e Aristóteles, na antiguidade grega, compreendiam a necessidade de descrição da vida psíquica e de descobrimento das causas do comportamento humano, já fazendo especulações em torno de alguns termos psicológicos, porém o predomínio da filosofia idealista da época contrapunha-se à possibilidade de descrição do conteúdo da consciência humana.

No final do século XIX, alguns fisiologistas alemães com estudos mais elaborados, mas ainda com liames marcadamente especulativos, contribuíram para a formação da ciência psicológica, onde tornaram possível o controle experimental do comportamento humano, fundamentalmente no que se refere ao estudo das sensações desenvolvido por Ernest Heinrich Weber e o da percepção, por Gustav Theodor Fechner (Ferreira, et.al., 1980).

Estes estudos tiveram como objetivo detectar com elevada precisão as diferenças perceptíveis na sensação e que demonstravam a importância do uso do laboratório para estudar o comportamento humano. Todavia, o abandono da especulação da psicologia só ocorreu com a fundação do primeiro laboratório do mundo criado por Wilhelm Wundt, na Universidade de Leipzig, na Alemanha, com isso foi considerado o primeiro psicólogo da história da Psicologia.

Wundt, considerado o primeiro psicólogo da história da psicologia, descreveu o conteúdo da consciência humana a partir da relação desta com a estimulação externa. Seu método consistia em analisar os diversos estados de consciência em seus elementos constituintes, definidos por ele como sensações simples. Ele buscou entender que o fundamento do conteúdo da consciência estava localizado nos processos físicos e que o controle era possível porque era assegurado em fatos.

A psicologia que acabava de se iniciar permaneceu pautada por muito temo no objetivismo, mas surgiram diversas contribuições diferentes matizes para o processo de consolidação da psicologia científica.

A partir de Wundt, principalmente nos estudos de Edward Bradford Titchener a psicologia experimental passou a tomar como estrutura da consciência as imagens, os pensamentos e os sentimentos, como elementos passíveis de comprovação por meio da experimentação e da observação. Titchener buscava afirmar a necessidade de objetivismo na psicologia, seguindo o pressuposto de Wundt, segundo o qual “nada existia na consciência que não tivesse seu fundamento em determinados processos físicos” (Freitas, 1995, p. 53)

A ciência biológica, nessa linha evolutiva, com contribuições profundas do evolucionismo de Darwin e das experiências de Edward Lee Thorndike com animais, exerceu grande influência através do estabelecimento de relações entre o psiquismo e o desenvolvimento dos organismos.

Ivan Petrovich Pavlov e Ivan Mikháylovich Stechenov, contribuíram muito para a psicologia através da procura de métodos cada vez mais objetivos para a determinação e descrição dos comportamentos. Setchenov comparou o sistema nervoso central co os processos de tecidos de rã, através de observação, aplicando as mesmas leis para a análise de fenômenos da natureza como para os fenômenos de ordem psíquica. Pavlov desenvolveu a técnica do reflexo condicionado, influenciando decisivamente as concepções comportamentalistas, segundo as quais “uma resposta é condicionada quando se torna associada a um estímulo anteriormente não provocado” (Heidbreder, 1969, p. 216). Tratava-se da estratégia estímulo-resposta, técnica que passou a ser aplicada nos processos de aprendizagem.

Luria e Yudovich (1987) por compreenderem que respostas reflexas ao meio são formadas por sistemas e não devem ser consideradas propriedades inatas da vida, mas sim, como resultados de certas formas de atividades reflexas, sujeita, a todo momento, à análise concreta, contrapunham-se à reflexologia.

Já o inglês Francis Galton, projetou métodos estatísticos para a medição das diferenças individuais, introduzindo a aplicação dos testes psicológicos na intenção de criar instrumentos para mensuração de determinados aspectos da aprendizagem com base em estudos sobre a transmissão dos traços físicos e do talento.

Em 1890, William James publicou a obra Princípios da psicologia, abordando a teoria das emoções, do instinto e da transferência da aprendizagem, além de descobrir como o pensamento, e as emoções, satisfazem as necessidades do organismo e como este último se ajusta ao meio.

John Dewey preocupando-se com o comportamento humano no que se refere à defesa de uma pedagogia voltada para a ação, para a atividade pessoal do aluno, desenvolveu uma psicologia voltada para a educação. Porém, neste contexto a psicologia tomou outro rumo, através da formação da corrente americana behaviorista.

Nos trabalhos de John Watson, que acreditava que as psicologias não-behavioristas, pelo fato de serem mentalistas, não poderiam ser científicas, há uma contrariedade à Psicologia Clássica, introspectiva ou experimental, pois o mesmo se empenhou em direcionar o estudo da psicologia para o comportamento. Seu pensamento foi fundamentado pela concepção da ciência comportamentalista, pois para ele a consciência é tida como originária de uma razão superior sobrenatural, logo, não natural. Daí somente o comportamento ser acessível ao conhecimento. Penna (1978) relata que o behaviorismo se confunde com uma teoria de aprendizagem, por conta da realização de experiências sobre a aprendizagem, motivação e desenvolvimento individual.

Skinner Burrhus Frederic vê a pessoa humana como algo observável e compreendida em razão de seus comportamentos. Assim, passa-se a dar relevada importância a diversos aspectos, como a formulação de objetivos de ensino e estratégias, a instrução programada, o controle de situações de aprendizagem, entre outros.

A psicologia surge como ciência autônoma a partir da segunda metade do século XIX, tanto como uma ciência instrumental, como uma ciência capaz de, ao adaptar os indivíduos a novas regras e princípios de determinada ordem econômica, promover a equalização social.

A psicologia pôde viabilizar a prática da igualdade entre os homens com a instalação da sociedade democrática, ligando-se à educação por causa das necessidades postas pelo nascimento das sociedades industriais no fim do século XIX.

Assim, a estruturação de uma psicologia científica, que tratasse de criar instrumentos de adaptação dos indivíduos a uma nova ordem social se fez necessária. Estes instrumentos (métodos e testes), deveriam ser capazes de classificar os indivíduos, sem que o mito da igualdade de oportunidades fosse destruído.

Então, assim a união da educação e psicologia se formou. A educação, disseminando os valores individualistas do sistema capitalista da produção, e a psicologia, buscando legitimar a existência de desigualdades naturais entre os homens.

2 SUBJETIVISMO

O subjetivismo reconhece a existência do eu humano, sua consciência e existência espiritual. Nele, os sentidos e sensações são destaques, pois todas as coisas são criadas pela consciência e baseadas na experiência. Os objetos se transferem para a consciência através das sensações.

Emanuel Kart, filósofo alemão, é um importante referencial para o subjetivismo, pois situa o mundo das idéias na consciência individual. (Manacorda, 1992). Para ele, o conhecimento é anterior à experiência, pois ao negar que a mente aceite passivamente os elementos advindos dos sentidos, entende que é ela que determina o objeto em virtude da existência de certos princípios unicrusciais e apriorísticos.

Franz Bretano, através do desenvolvimento do conceito de intencionalidade, buscou romper com a psicologia da conduta, enfatizando a importância do estudo do ato mental.

Edmund Husserl, fundador da corrente fenomenológica existencial, procurou reaproximar a psicologia da filosofia, proporcionando o crescimento, na Alemanha, da psicologia da gestalt.

A gestalt surgiu em contraposição à prática de redução de experiências complexas em elementos simples. Ela é contrária aos estruturalistas e behavioristas, pois o comportamento e a experiência, para a psicologia da forma, não são analisáveis, ainda que possam ser percebidas certas relações entre o todo e as partes. (Ferreira et.al. 1980)

Três foram os grandes líderes do movimento da Gestalt: Max Wertheiner, Wollfgang Kohler e Kurt Koffka (Penna, 1978).

Ao destacar a natureza individual como autônoma e livre de influências do ambiente social, a psicologia subjetivista atribui ao processo educativo a tarefa de exaltar as predisposições naturais do educando e de suas necessidades, adaptando-as às condições sociais.

As psicologias objetivista e subjetivista de natureza idealista acreditam que o mundo existe apenas na idéia, no pensamento do homem, uma vez que o elemento primário é um princípio espiritual que tudo cria. Assim, repercutiram profundamente quanto a um modo determinado de pensar a relação homem-sociedade.

Marx e Engel vêem a formação da consciência humana como produto do intercâmbio material inerente à produção da vida também material.

A educação sofreu influencias marcantes geradas pela orientação idealista (tanto da corrente behaviorista quanto da linha humanista). Essas influências levaram a criação de duas escolas da educação: a Escola Nova, e a Escola Tecnicista.

A Escola Nova, de sustentação subjetivista, buscou promover e consolidar as mudanças exigidas pela grande revolução industrial, de modo que se cumprisse a tarefa de desenvolver as capacidades produtivas e sociais do educando através do trabalho pedagógico escolar, apoiando-se fundamentalmente na psicologia da criança (Patto, 1984)

A Escola Tecnicista de sustentação behaviorista, aceitou a necessidade de adaptação e integração dos indivíduos à máquina do sistema social, pois concebe a sociedade como um todo orgânico e funcional, subordinando a educação à sociedade, tendo como função a preparação de “recursos humanos”.

Logo, a abordagem da Escola Tecnicista determina que a educação através do trabalho pedagógico escolar e dos procedimentos de ensino, oculte a realidade das diferenças de classe existentes na sociedade.

3 INTERACIONISMO

O interacionismo surge como perspectiva epistemológica capaz de romper a dicotomia sujeito e objeto, que manteve durante séculos a psicologia aprisionada, numa tentativa de aproximar-se cada vez mais da realidade humana e de suas possibilidades de conhecimento.

Jean Piaget, biólogo, filósofo e psicólogo suíço, inaugurou uma forma verdadeiramente nova de conceber o homem na sua relação com o conhecimento. A partir dele e de sua consagrada Epistemologia genérica, editada em Paris em 1970, é que o mundo científico passou a olhar de um ângulo completamente diferente, a validade dos conhecimentos constituídos e, seus processos de aquisição e suas condições de acesso ( Japiassu, 1993).

Piaget, em sua epistemologia, propôs ser eminentemente científica, diferenciada e distante de qualquer teoria filosófica e influência ideológica, traçando-se um paralelo entre os planos da história do pensamento científico e o estudo experimental do desenvolvimento da inteligência. A epistemologia genética colocou em questão “o como” crescem e evoluem os conhecimentos. Então, Piaget dedicou-se a realização de trabalhos sobre o desenvolvimento da criança e, dentro deles, o desenvolvimento a inteligência, a aquisição da linguagem, a formação da idéia de número, entre outros.

No interacionismo, a ação exerce papel fundamental. Compreendida como instrumento de troca, a ação caracteriza-se por sua propriedade de simultaneidade e reciprocidade. Na concepção interacionista, o sujeito e o objeto como entidades epistemológicas, não são definidos a priori, mas, ao contrário, ganham gradual especificidade e definição quando mediados pela ação humana. Logo. o sujeito e o objeto de conhecimento constroem-se gradual e permanente-mente através da ação.

Piaget propõe a análise genética, justificando-se pela preocupação em descobrir as origem das diversas formas de conhecimento, partindo das mais elementares às mais complexas. Ele considera que o desenvolvimento cognitivo é resultado de estruturas biológicas, sensoriais e neurológicas, que, uma vez herdadas, predispõem o surgimento de estruturas mentais.

As estruturas da inteligência, modificam-se através da adaptação a novas situações. Então, Piaget denomina auto-regulação do sistema cognitivo aos seus processos complementares, sendo estes: assimilação e acomodação. Para Isaia, a auto-regulação significa a capacidade do sujeito de, a partir de ações internalizadas e transformadas em operações mentais, decompor, reverter, antecipar e retroagir diante dos elementos da realidade. Já o processo de assimilação consiste na tentativa feita pelo sujeito de solucionar determinados problemas ou situações, com base nas estruturas mentais já formadas, ou seja, incorporar a nova situação e assimila-la pelo sistema já pronto a esquemas de ação. A tentativa de busca de novas maneiras de agir e pensar diante de um elemento novo, modificando os esquemas de assimilação, é denominado acomodação. A adaptação do sujeito ocorre quando há equilíbrio dos mecanismos de assimilação e acomodação.

A formação da inteligência está baseada na adaptação da realidade, da mesma forma que ocorre com os demais seres vivos, pois é oriunda inicialmente de processos orgânicos, utilizando funções cognitivas elementares, que construirão os denominados esquemas de ação, que, como instrumentos de trocas, possibilitam a adaptação.

Das observações realizadas por Piaget quanto à existência de sucessivos e crescentes processos de adaptação, é que surgiu a constatação de que existem diferentes formas de interação da criança com o ambiente. Os estágios propostos por Piaget são: de representações rígidas e egocêntricas (período pré-operatório, dos 2 aos 7 anos); de flexibilidade e coordenação (operações concretas: 7 aos 11 anos); e, finalmente, surge a capacidade de representar flexivelmente o processo de representação (período das operações formais).

O princípio fundamental do interacionismo piagetiano para a elaboração do conhecimento é a interação sujeito-objeto, sofreu críticas de inúmeros estudiosos, mesmo superando as psicologias objetivista e subjetivista,pois foram verificadas lacunas na compreensão da epistemologia genética, principalmente no que se refere à influencia dos fatores socioculturais na formação da consciência, do pensamento humano.

Piaget enfatizou a importância do meio nos processos de desenvolvimento cognitivo, detendo-se na contribuição do sujeito nas trocas com o meio, e deixou de lado a relação inversa, possível e necessária, que é a contribuição do meio na estruturação da consciência. Ao propor a fundação de uma epistemologia livre da filosofia e das influencias ideológicas, buscou atingir o maior nível de complexidade, que é a formação do conhecimento científico.

Vygotsky a partir de Piaget, que postulou que o pensamento infantil tem seu desenvolvimento situado em uma trajetória que parte do pensamento egocêntrico para atingir o pensa-mento cientifico. sugere que a relação evolutiva entre linguagem e pensamento é estabelecida do plano individual para o social, analisou o papel do egocentrismo para a evolução do pensamento, afirmando que “a função primordial da fala, tanto nas crianças quanto nos adultos, é a comunicação, o contato social. A Fala mais primitiva da criança é, portanto, essencialmente social”(Vygotsky, 1993, p. 17).

Ao percorrer a trajetória de desenvolvimento da ciência psicológica, é possível afirmar que as três orientações filosófico-epistemológicas até então apontadas (o objetivismo, o subjetivismo e o interacionismo) partilham de uma mesma perspectiva na medida em que não levam em conta a dimensão histórico-social na análise dos processos de desenvolvimento cognitivo humano.

A educação, tendo como sua preocupação central a pessoa humana e em seus processos de instrução e formação, tem a psicologia como figura indispensável para a compreensão daquilo que é o homem. Conhecer o educando ia multiplicidade dos aspectos que a envolvem exige que a educação explicite as referências que a ajudam a interpretar a realidade da vida humana.

Assim, a educação torna-se acrítica, determinando, conseqüentemente, um trabalho pedagógico igualmente aistórico e acrítico, pois apóia-se em uma concepção de psicologia de educando, para conhece-lo, formá-lo e instrui-lo segundo suas possibilidades. Como conseqüência dessa postura acrítica e aistórica, temos que a educação visa atingir um educando abstrato, ideal, acarretando uma formação pessoal marcada por dificuldades de compreender a si próprio no tempo histórico em que vive, permanecendo sem referências concretas, levando a criança em formação a ignorar as coisas do seu tempo, porque ignora a si mesma como pessoa nesse mesmo tempo.

Através desse estudo, chegamos à conclusão de que as camadas dominantes utilizam a perspectiva aistórica e acrítica como instrumento ideológico para manter a reificação da sociedade das classes, para continuar no poder.

4 PERSPECTIVA HISTÓRICO-CULTURAL

Os estudos realizados por Lev Semvonovich Vygorskv deram origem à perspectiva histórico-cultural, porém, .seus estudos só vieram a comprovar publicamente a superação do interacionismo após sua morte, em 1934, através da publicação e a expansão de sue pensamento pela América e Europa.

O aparecimento de Vygotsky no cenário das discussões psicológicas, no início do século XX, ocorreu em um momento em que a situação da psicologia, segundo Isaia, encontrava-se dividida assim: a psicologia naturalista, que tinha como principal subsídio o estudo dos mecanismos elementares dos campos físico e psíquico, utilizando experimentos de cunho explicativo; e a psicologia mentalista, que tinha como subsídio os processos superiores, apoiada em uma metodologia fenomenológica descritiva. Essa divisão, levou a psicologia a uma profunda crise, cujas conseqüências recaíram sobre o “desmembramento da Psicologia pela aceitação de que as Funções psicológicas complexas não podem ser estudadas cientificamente” (ISAIA, 1991a, p. 8).

Vygotsky entrou efetivamente no cenário das discussões psicológicas, vindo a trabalhar no Instituto de Psicologia de Moscou, após a comunicação de “Métodos de investigação reflexiológica e psicológica”, apresentada no II Congresso Pan-Russo de Psiconeurologia, em 1924. Morreu em 1934, sem atingir as metas que tinha se proposto, mas lançou concretamente as bases para a formação de uma ciência comportamental unificada.

Assim, com o objetivo de formar uma ciência comportamental unificada, Vygotsky analisou, descreveu e explicou as funções psicológicas superiores, levando em conta as condições naturais, sociais e individuais do homem. Assim, ele iniciou a criação de uma Psicologia autenticamente científica, que aborda com métodos científicos objetivos, as formas mais complexas da vida psíquica do homem.

Do ponto de vista filosófico e epistemológico, a perspectiva histórico-cultural entende que o homem é um ser histórico que se constrói através de suas relações com o mundo natural e social. Mais do que isso, é um homem que se diferencia corno espécie pela capacidade de transformar a natureza através do seu trabalho, por meio de instrumentos por ele mesmo criados e aperfeiçoados ao longo do desenvolvimento histórico humano.

As bases das principais teses da perspectiva histórico-cultural são as concepções de Marx e Engels sobre o trabalho e o uso de instrumentos, a sociedade e a interação dialética entre o homem e a natureza.

Ao considerar o homem um ser no mundo, ser essencialmente social, a visão da realidade efetivamente supera a orientação interacionista, através da inserção dos planos social, cultural e histórico na análise do desenvolvimento da consciência. O homem é entendido não apenas como sujeito ativo, mas como um sujeito que constitui sua consciência e formas de ação nas relações sociais, partindo do social para o individual.

Vygotsky denominou “lei da dupla formação”, as considerações das interações entre o indivíduo e o meio natural e sociocultural, primeiro no plano interpsicológico (entre as pessoas) e posteriormente no plano intrapsicológico (nível individual).

Tomando como base seus postulados iniciais, Vygotsky estudou a evolução das funções psicológicas superiores. Porém, para que seja explicada a psicologia histórico-cultural, será apresentado seu conceito central, o de mediação.

O procedimento metodológico estímulo-resposta utilizado como estrutura básica na psicologia comportamentalista, é substituído em Vygotsky pelo ato complexo, além de ter a ele acrescido um elemento intermediário, para que a relação entre o sujeito e o objeto deixe de ser direta para ser mediada por esse elemento.

Baseado em Marx, Vygotsky destacou os signos (representações da realidade que auxiliam no desempenho da atividade psicológica) como elemento mediador entre o organismo e o meio, já que os signos como representantes da realidade mediatizam a atividade psicológica. Assim, compreendendo que os instrumentos e os signos atuam como mediadores na atividade humana, pode-se afirmar que a relação homem-mundo é a relação mediada por sistemas simbólicos.

Abordando o ponto de vista psicológico da perspectiva histórico-cultural, mais precisamente o desenvolvimento das funções psicológicas superiores propostas por Vygotsky, entende-se que para ele essas funções são originárias da interação homem-mundo-cultura, interação essa mediada por instrumentos e signos criados na história sociocultural da humanidade.

As funções psicológicas superiores passam por três momentos durante sua formação: primeiro, das respostas dadas ao mundo pela criança, respostas essas pautadas em processos naturais; segundo, pelas respostas mediadas pela intervenção do adulto; terceiro, pelas respostas que, mediadas pelos adultos, finalmente são executadas internamente pela criança (Isaia, 1991)

A educação na psicologia histórico-cultural é tida como elemento mediador entre a aprendizagem e o desenvolvimento, além de deixar de ser um mero campo de aplicação da psicologia, tornando-se um elemento universal e necessário.

A educação, representada pela figura do professor, tem a tarefa de conhecer o nível de desenvolvimento dos alunos, dirigindo o ensino para estágios ainda não atingidos e guiando os educandos pelo futuro e por sua força potencial.

Outro domínio que se relaciona com o desenvolvimento no contexto da psicologia histórico-cultural é o brinquedo, pois tem papel definido na promoção dos processos de desenvolvimento. Logo, o brinquedo e a determinação de regras criam uma zona de desenvolvimento proximal quando contribuem para a formação de conceitos e para os processos de desenvolvimento de modo geral.

Além de Vygotsky, Luria (trabalhando com temas como o funcionamento cerebral, os distúrbios da linguagem, os processos psicológicos e os diferentes contextos sociais), e Leontiev (que desdobrou os postulados básicos de Vygotsky), também são representantes expressivos da psicologia histórico-cultural.

Concluindo, observa-se que a educação assume o completo desenvolvimento do educando com o objetivo de buscar abranger a totalidade das dimensões que o envolvem na vida concreta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da leitura do texto “A psicologia e suas repercussões na educação”, pode-se concluir que cada concepção filosófico-epistemológica – objetivismo, subjetivismo, interacionismo, e perspectiva histórico-cultural – contribuiu de maneira diferente na formação do papel da educação no mundo, evoluindo da união da psicologia e educação, com a psicologia baseada em um discurso pretensamente científico, buscando legitimar a existência de desigualdades naturais entre os homens, e a educação, explicando a ocorrência de diferenças no rendimento escolar pelo viés da psicologia; até a perspectiva histórico-cultural proposta por Vygotsky, na qual a educação assume o completo desenvolvimento do educando com o objetivo de buscar abranger a totalidade das dimensões que o envolver na vida concreta.

Outros trabalhos relacionados

Ego

Autoria: Diogini Albano Gomes Em seus primeiros escritos, Freud já mencionava a existência do ego, mas não o especificava com tanta riqueza de detalhes, até...

ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITO

ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITO Introdução Os conflitos existem desde o inicio da humanidade, fazem parte do processo de evolução dos seres humanos e são necessários para o...

SÍNDROME DE BURNOUT: UM MAL QUE VEM ACOMETENDO PROFESSORES

SÍNDROME DE BURNOUT: UM MAL QUE VEM ACOMETENDO PROFESSORES REXIA MEIRE DOS SANTOS ARAUJO RESUMO Burnout em professores pode ser caracterizado por um estresse crônico produzido pelo...

QUAIS OS SINTOMAS DE CRIANÇAS HIPERATIVAS

APRESENTA Crianças que não param, na refeição a criança não fica sentada à mesa, se levantam o tempo todo e na grande maioria das vezes...