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quinta-feira, abril 18, 2024

O EDUCADOR E O CONSTRUTOR DE CONHECIMENTO

O Educador e o Construtor de Conhecimento: Tecendo a Complexa Teia do Conhecimento

2009

Os temas abordados serão:

– os liames do conhecimento;
– o papel desempenhado por cada um dos protagonistas deste processo;
– os resultados esperados;
– as dificuldades na caminhada com as possíveis soluções.

O objetivo da presente reflexão é uma análise dos processos que precedem e perfazem a construção do conhecimento e dos protagonistas envolvidos nesta empreitada; assim como seus conflitos, suas dúvidas, suas emoções e seus méritos. Concomitantemente avaliaremos os obstáculos encontrados por discentes e docentes neste caminhar e das possíveis alternativas que possam mitigá-los.

O objeto principal da educação é o “sujeito”, e o objetivo primordial é a realização deste sujeito como um ser pleno, livre, crítico e pensamente, porém, para que este intento seja concretizado é necessário que o próprio “ser” encontre seu caminho e domine os instrumentos necessários à construção do conhecimento múltiplo e infinito. Segundo Maturana, citado por Adriano J. H. Vieira, …”O que determina, em última análise, a organização do vivo é sua própria autopoiése. Mas o que desencadeia é a relação que se estabelece entre vivo-meio-vivo.”

Consoante Maturana que atribui grande importância ao relacionar-se, mantendo a responsabilidade do sujeito por suas decisões. (APUD Adriano J. H. Vieira, MATURANA), entendemos que, para que este processo aconteça, é mister a participação do aluno que aprenderá a conhecer, o que consequentemente lhe dará subterfúgios para aprender a fazer, numa harmônica interação com o contexto no qual está inserido e do qual terá uma visão multifocal, libertando-o do enfoque estanque.

Conforme citado por Adriano J. H. Vieira… ”Autonomia não significa isolamento. Quando afirma que, na autopoiése (auto-produção), é o próprio sistema que determina a ação, não está afirmando que este agir seja isolado de outras intervenientes…..” Destarte, ao interagir com o contexto, aprenderá a conviver; e conviver o transformará em um ser ético, cidadão participativo e atuante na construção de um mundo eqüitativo e solidário. Finalmente, ao tornar-se um ser ético completará o ciclo de aprendizado, porque estará apto a “ser” uma conseqüência indissociável dos três processos precedentes. Para Maturana, este agir humano nas relações é cooperativo (APUD Adriano J. H. Vieira, MATURANA).

Um dos instrumentos fundamentais nessa caminhada é a linguagem, na qual novos horizontes são continuamente desvelados através da exteriorização dos pensamentos, dando forma ao abstrato e deixando-o ao alcance do semelhante. Segundo Adriano J. H. Vieira…” Por isso, a linguagem como relação possui uma singular importância nos processos educativos.”.

Quando há interações entre semelhantes, – relações inter-pessoais – são produzidos valores humanos que constituirão a base ética da sociedade visto que, ao descobrirmos o outro descobrimos a nós mesmos, e é apenas através da empatia que avocamos o universo do outro para nós mesmos, entendendo assim suas reações, seus porquês e seus conflitos, seus anseios. Sem conhecer e sentir o entorno o ser humano não se humaniza. É descobrindo os pontos comuns que os seres humanos conseguem tolerar e até mesmo superar as diferenças, pois no diálogo as arestas são aparadas e os contrapontos são reavaliados, ré-valorizados e compreendidos, estabelecendo-se assim, uma relação harmônica, permeada de amor e solidariedade. Para Maturana “A emoção fundamental que torna possível a história da hominização é o amor” (Maturana, 1999, p.23).

Para o autor Maturana, todas as relações humanas são permeadas pelo afeto, daí concluirmos que o conhecimento também é derivado do amor, numa relação indissolúvel entre pensar e sentir. Se o amor é condição sine qua non para que o aprendizado ocorra, então, necessário se faz que interações de afeto também aconteçam entre discente e docente, pois assim ambos vir-se-ão, sentir-se-ão e interagir-se-ão, numa harmônica partilha de conhecimento. Michelle Horovits já alerta… ”Não se trata de sobrepor uma cultura à outra. A questão situa-se na forma de relacionar-se e produzir um modo sistêmico valorativo.”

O paradigma de dominação/submissão tem que ser totalmente banido do meio educacional para que seja criado um ambiente onde o aluno tenha liberdade de expor idéias, saberes, e o professor esteja aberto a ver com o olhar do outro criando um real vínculo de confiança entre discente e docente. Para Maturana “O educar se constitui no processo em que a criança ou adulto convive com o outro e, ao conviver com o outro, se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro no espaço de convivência”.

Durante a jornada o professor deve sempre se ater à moral da história, “A Águia e a Galinha”,… pois cada um lê com os olhos que tem, e interpreta a partir de onde os pés pisam…”. Isto nos faz refletir sobre nossa condição humana como seres falíveis, em permanente construção, e da necessidade de aniquilarmos nosso egocentrismo em achar que somos donos da verdade, pois não o somos, somos sim parte da engrenagem do processo que sozinha não tem função alguma.

Levando-se em consideração a complexidade dos processos que envolvem a construção do conhecimento, abrangendo, além do preparo acadêmico do docente, que não pode em tempo algum ser desprezado, não podemos nos esquecer da parte relacionada ao aluno, pois se este não estiver disposto a interagir durante o processo de nada adiantará os esforços do educador.

O maior desafio em qualquer relação humana é o estabelecimento de um vínculo, vínculo este que deve ser pautado pelo diálogo, pela confiança mútua e pelo respeito às diferenças, visto sermos seres autônomos e como tal, somos diversos em nossas individualidades.

O papel do educador é transmitir informações que não sejam voláteis e sim, informações que se transformem em conhecimento; conhecimento este que será explorado e internalizado de forma crítica pelo aluno. Assim, a missão do educador, enquanto fornecedor de referências intelectuais aos discentes, é orientá-los a encontrarem seus próprios caminhos na construção de um conhecimento contínuo e que agregue, não apenas saberes mais também valores que contribuam na formação de cidadãos planetários, críticos e autônomos.

Um fato alarmante verificado entre as gerações atuais é a banalização da escola, que se tornou um mero meio de inserção no mercado de trabalho, perdendo, deste modo, o seu real significado como formadora de cultura, o que vem tornando o ensino utilitarista e não cultural. Além deste agravante, o espírito de emulação transformou a geração atual e, quiçá, a futura, em seres predadores de si mesmos. Desse modo, caso uma postura não seja tomada urgentemente por todos os envolvidos, principalmente pelos educadores que deverão abandonar a cômoda atitude de meros expectadores e “facilitadores” da aprendizagem assumindo o papel de coadjuvantes na geração de uma sociedade mais humana e planetária, não será possível garantir a sobrevivência humana no Planeta Terra.

A tarefa, apesar de difícil, não é utópica, porém, para que a meta seja alcançada é necessário que nossos atos sejam pautados pelo amor, pois este é contagiante. Se tivermos sensibilidade e perspicácia suficiente para adentrarmos no mundo do outro (discente), não será difícil construirmos pontes de comunicação para que o conhecimento seja “compartilhado”.

Finalizando, inferi-se que o processo de aprendizagem/conhecimento é contínuo, dinâmico e necessário à vivência humana, não apenas à vivência, mas também à sobrevivência, e que o organismo se auto-gere enquanto se comunica (relaciona) em sociedade. Mas como qualquer ação humana, o interagir (conhecer) também gera conflitos, e estes só poderão ser superados se houver entre as partes envolvidas, relações de respeito, afeto e, principalmente, confiança.

Educar é despertar para o fascínio de um caminho ilimitado e infinito.

Fontes de consulta:

Os Quatro Pilares da Educação – Jacques Delors (aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver junto, aprender a ser).

Os Sete Saberes Necessários à Educação – Edgar Morin

A Águia e a Galinha – Leonardo Boff

A Unidade Complexa Ética-Moral

Ética para Meu Filho – Fernando Savater

O espaço Relacional da Construção do Conhecimento – Humberto Maturana

http://www.cienciasecognicao.org/pdf/v04/m31530.pdf

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