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segunda-feira, outubro 7, 2024

REALISMO E NATURALISMO

Surgimento: II metade do século XIX

Características do realismo:

1) Objetivismo e impessoalidade

2) Busca da verossimilhança: as obras devem dar a impressão de verdade total, isto é, de que constituem um reflexo perfeito da realidade

3) Busca da perfeição formal

4) Pessimismo: os valores burgueses e as crenças religiosas e ideológicas sofrem um processo de completo descrédito

5) Racionalismo – cuja tradução é tanto a análise psicológica como a análise social

Características do naturalismo

1) Arte vinculada às novas teorias científicas e ideológicas européias (Evolucionismo, Positivismo, Determinismo, Socialismo, Medicina Experimental). Daí o outro nome do movimento, criado por Zola: romance experimental.

2) Todas as características do Realismo – menos a análise psicológica. Esta é substituída por variações deterministas que transformam os personagens em fantoches de destinos pré-estabelecidos. Segundo Taine, o homem é produto do meio, da raça e do momento histórico em que vive. Pode-se dizer assim que o Naturalismo é o Realismo mais o cientificismo da II metade do século XIX.

3) Cientificismo sociológico e biológico. O sociológico é dado pelo determinismo do meio e do momento. O biológico pelo determinismo de raça e dos temperamentos e caracteres herdados.

4) Personagens patológicos. Para provar suas teses, os escritores naturalistas são obrigados muitas vezes a apresentar protagonistas doentios, criminosos, bêbados, histéricos, maníacos.

O Realismo e Naturalismo no Brasil

As primeiras idéias renovadoras surgem na década de 1870, no Recife, através da ação de Tobias Barreto e Sílvio Romero.

· Em 1881 aparecem O mulato, de Aluísio Azevedo e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Ainda que não sigam de todo os modelos europeus, as obras são respectivamente consideradas as inauguratórias da estética naturalista e realista no país.

O romance realista

Machado de Assis
I fase: (Tendências indefinidas, com maior acento romântico)

Ressurreição – A mão e a luva – Helena – Iaiá Garcia

· Tentativa de contrastar caracteres, conforme declaração do autor no prefácio de Ressurreição.

· Certos temas recorrentes na II fase, como a ambição e o egoísmo, já se insinuam nestes romances

· Linguagem carregada de lugares-comuns.

II fase: (Realista, mas de um realismo absolutamente singular, fora dos padrões europeus)

Memórias póstumas de Brás Cubas

Um defunto autor, sem as ilusões e as fraudes interiores dos vivos, narra do túmulo a sua vida pregressa. Num tom irônico, ele vai descobrindo a ausência de grandeza em si e em todas as pessoas. A consciência de que as ações humanas são desencadeadas apenas pelo interesse, pela possibilidade de lucro, pelo egoísmo e pelo instinto sexual, justifica o fim do romance, em que Brás Cubas mede sua vida e conclui que ganhara: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria”.

Curioso é o personagem Quincas Borba, amigo do personagem-narrador, filósofo de duvidosa sanidade mental, criador da teoria do Humanitas que, sendo uma sátira contra todas as filosofias, é também a tradução da corrosiva visão de mundo do próprio Machado de Assis.

Quincas Borba

O modesto professor Rubião recebe em Barbacena grande herança do falecido filósofo Quincas Borba, com a condição de cuidar do seu cachorro, também chamado Quincas Borba.

Rubião abandona a província, mudando-se para o Rio de Janeiro, onde é enganado e explorado por um bando de parasitas, especificamente por um ambicioso casal: Sofia e Palha. Sofia percebe a paixão do professor por ela e se diverte com sua ingenuidade. Palha monta um negócio de exportação com o professor, o qual entra com todos os recursos financeiros para o empreendimento.

Rubião, consciência estreita em demasia para a complexidade psicológica e social, nada entende. E acaba enlouquecendo. Dissipa, então, a sua fortuna inteiramente. Palha desmancha a sociedade, ficando com o negócio e Rubião é despachado de volta para Barbacena, em companhia do cachorro Quincas Borba. Lá morre na maior miséria.

Bento Santiago tenta recompor o passado através da memória, e recorda o amor adolescente por Capitu (a de “olhos oblíquos e dissimulados”, “olhos de cigana”, “olhos de ressaca”). Boa parte da memória de Bentinho concentra-se na adolescência dos personagens, na poesia da primeira paixão, no compromisso de casamento e em seu ingresso forçado no seminário, promessa carola de sua mãe. Depois, as ações ocorrem velozes: a amizade com Escobar, o abandono do seminário, o tão desejado casamento com Capitu, o enlace de Escobar com Sancha, a amizade dos casais, o nascimento de Ezequiel, filho do personagem-narrador, a felicidade.

Escobar morre no mar e Capitu sofre tanto que Bentinho desconfia. Uma desconfiança que aumentará dia após dia, uma dialética de suspeitas e ciúmes: Bento vê no filho, Ezequiel os traços fisionômicos de Escobar. O casamento se corrói pela traição (concreta?, real?) de Capitu, que parte para a Europa com o filho, impelida pelo marido que já não os aceita. Anos depois, Capitu morre, Ezequiel retorna para o Brasil (segundo o narrador, cada vez mais parecido com Escobar), vai para a África e lá também morre. O processo de desagregação de Bentinho estava concluído, restando-lhe enfrentar a solidão definitiva.

Esaú e Jacó

Quando o Conselheiro Aires morre, encontra-se em seus papéis a narrativa em questão. É a história de dois gêmeos, Pedro e Paulo, que já brigavam no ventre da mãe e que seguem adversários na infância e na vida adulta e na maturidade. Um se forma médico, outro advogado, um ingressa no partido conservador, outro no partido liberal. Um é monarquista, outro vira republicano. Ambos, no entanto, se apaixonam pela mesma moça, Flora. Esta oscila entre os gêmeos e termina morrendo sem optar por nenhum. Pedro e Paulo reconciliam-se e prometem amizade fraternal para o resto da vida, mas em seguidas rompem outra vez e seguem se odiando mutuamente.

O romance é muito lembrado por ser o único, na obra machadiana, em que fatos históricos (a Abolição e a República) têm importância no entrecho. Nos vestibulares aparece com freqüência o irônico episódio do cap. XLIX – Tabuleta velha – em que um dono de confeitaria, Custódio, em meio à confusão histórica (fim do Império, início da República) não sabe como designar a sua casa de negócios.

Memorial de Aires

O mesmo Conselheiro Aires, diplomata aposentado, escreve o seu diário cheio de finas observações sobre a vida, num tom discreto e levemente nostálgico, abrandando aquele pessimismo dos relatos anteriores de Machado de Assis. (No mundo ficcional, as memórias do conselheiro são anteriores ao romance Esaú e Jacó, do qual ele também é o narrador).

O conselheiro acompanha com interesse humano (talvez amoroso) a jovem viúva Fidélia, praticamente adotada por um casal de velhos sem filhos, Dona Carmo e Aguiar. Estes tinham experimentando uma grande decepção quando um rapaz a quem se afeiçoaram, como se fosse seu filho verdadeiro, Tristão, mudara-se para Lisboa com o fim de freqüentar a escola de medicina. Tristão retorna e acaba se casando com Fidélia. Em seguida, para tristeza dos velhos, o jovem casal viaja para Europa. O romance termina com o Conselheiro Aires acompanhando com discreta piedade a solidão do casal Aguiar e Carmo, no qual muito críticos viram as figuras de Machado e de sua esposa, Carolina.

Os temas principais:

1 – O adultério: Motivo central de Dom Casmurro e de uma série de contos, além de ser motivo importante de Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba.

2 – O parasitismo social: Reflexo de uma sociedade erigida sobre o trabalho do escravo. Parasitas são quase todos os personagens de Machado, principalmente em Quincas Borba.

3 – A confusão entre a razão e a loucura: As fronteiras estabelecidas entre a razão e a insanidade são vagas e incertas. No conto O alienista desenvolve-se uma ironia feroz contra as certezas cientificistas do século XIX.

4 – O egoísmo, a vaidade, o interesse: Sem estes elementos nada ocorreria nos romances e contos de Machado de Assis. Os personagens movem-se por orgulho ou cobiça, e os que vivem por motivos mais nobres, em geral, são os enganados, os vencidos.

5 – A impossibilidade de ação com grandeza: Se acompanharmos Brás Cubas, Bentinho e o mesmo Rubião, veremos apenas o inventário de mesquinharias e atitudes hipócritas que satisfazem a moral das aparências.

6 – A hipocrisia: Relaciona-se com aspecto do duplo comportamento humano. Intimamente, os seres possuem determinadas facetas, idéias, sentimentos, mas, para satisfazer as exigências sociais, dissimulam, falsificam a sua identidade. Trata-se de um universo de véus e máscaras. Há uma alma interior e uma alma exterior: este é o tema do conto O espelho. Às vezes, a aparência e a verdade se confundem tanto que os indivíduos tomam uma pela outra: Capitu aparenta trair, Bentinho a julga traidora.

7 – A ambigüidade feminina: As mulheres no regime patriarcalista, inferiorizadas socialmente, são impelidas a aprender regras de dissimulação e de sedução, e se servem delas como armas. Muitas vezes, são elas que conduzem os homens desencadeando crises e problemas. Sofia, Capitu, Virgília e dona Conceição – esta última do conto Missa do galo – exemplificam este tipo de mulher.

8- O instinto e o subconsciente como móveis dos atos humanos.

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