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sexta-feira, março 29, 2024

SÍNDROME DE BURNOUT: UM MAL QUE VEM ACOMETENDO PROFESSORES

SÍNDROME DE BURNOUT: UM MAL QUE VEM ACOMETENDO PROFESSORES

REXIA MEIRE DOS SANTOS ARAUJO

RESUMO

Burnout em professores pode ser caracterizado por um estresse crônico produzido pelo contato com as demandas do ambiente acadêmico e suas problemáticas. Existem problemas que estão além da ação direta dos professores, principalmente onde há uma situação de degradação do sistema. Além disso, o posicionamento dos alunos em sala de aula também contribui para um maior desgaste. Em muitos casos, a indisciplina é a grande responsável por uma eventual sensação de frustração e até a desmotivação do profissional.
Palavras-chave: Burnout, professores, estresse.

ABSTRACT

Burnout in professors can be characterized by one estresse chronic produced for the contact with the problematic demands of the academic environment and its. Problems exist mainly that are beyond the direct action of the professors, where it has a situation of degradation of the system. Moreover, the positioning of the pupils in classroom also contributes for a bigger consuming. In many cases, the indiscipline is great the responsible one for an eventual sensation of frustration and until the desmotivação of the professional.

INTRODUÇÃO

A situação de maior estresse para professores continua sendo a indisciplina em sala da aula. Mediar à relação com os alunos fica dez vezes mais desgastante em situações em que você tem que chamar a atenção, interromper a aula, pensar sempre como motivar os alunos, erguer o tom de voz. Tudo isso contribui ao longo do tempo para uma situação de estresse e desmotivação. Isso porque o foco é sempre motivar os alunos. Aí a cobrança interna fica bem maior, e vem certa sensação de fracasso quando os resultados esperados não são atingidos, ou seja, quando o curso não corre bem, por conta de uma interação em sala de aula mal resolvida.
A Síndrome de Burnout é causada por circunstâncias relativas às atividades profissionais, ocasionando sintomas físicos, comportamentais, afetivos e cognitivos. Inicialmente foi observada em trabalhadores da área da saúde que desempenham uma função assistencial caracterizada por um estado de atenção intenso e prolongada com pessoas em situação de necessidade e dependência. Com o passar do tempo, pôde ser identificada em outras profissões, dentre elas o professor. Segundo Ione, não são raros os professores que se queixam da falta de interesse dos alunos e assumem a culpa por esse fato, acreditando que deveriam dominar as mais diferentes técnicas para estimular o aprendizado.
Acredito que a situação de maior estresse para o professor continua sendo a indisciplina em sala de aula. O homem moderno, muitas vezes encontra dificuldades em dar sentido á vida. Deste modo, o trabalho tem um significado importante de necessidade e muitas vezes de razão de viver, podendo gerar um grau de envolvimento, tempo e energia maior que as necessidades pessoais, lazer, convívio com a família e outras atividades. Enfim, do ponto de vista psicológico, o trabalho provoca diferentes graus de motivação e satisfação, principalmente quanto à forma e o meio no qual é desempenhado sua tarefa.
Voltando a olhar a organização da escola e todo contexto político, econômico, social e cultural que a educação está inserida, percebemos que há uma sobrecarga em grande medida aos seus agentes e em especial aos professores. Dejours (1992), afirma que o ambiente e a pressão sobre determinadas tarefas têm alterado experiências de trabalho e seus significados, fatos que afetam a psique dos indivíduos. Este mesmo autor afirma também que a docência é uma profissão do sofrimento. Os desgastes físicos e mentais, ocasionados pelas exigências permanentes desta profissão trazem certamente, impactos, em termos de bem estar e saúde, para a maioria dos profissionais.
Assim, este trabalho tem como objetivo fazer um levantamento através da literatura científica dos processos de mudanças ocorridas na educação e as principais conseqüências destas sobre a atividade docente e a sua saúde, apresentando a Síndrome de Burnout que afeta profundamente esses profissionais.

BURNOUT: O MAL DO SÉCULO

O termo Burnout é uma composição de burn= queima e out= exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse tipo de estresse consome-se física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo e irritadiço. Tal síndrome se refere a um tipo de estresse ocupacional e institucional com predileção para profissionais que mantêm uma relação constante e direta com outras pessoas, principalmente quando esta atividade é considerada de ajuda (médicos, enfermeiros, professores,…). Vamos aqui enfocar, especializar e aprofundar a síndrome em professores.
Retomando ao século XVI, percebemos que as escolas já eram constituídas e vivam sob a tutela da igreja e abriam-se nesse período às camadas populares para instrumentalizar o povo para a leitura das sagradas escrituras, sendo o próprio clero o responsável pela atividade docente. A necessidade de convocar colaboradores leigos, fez com que fosse instituída a realização de uma profissão de fé e fidelidade aos princípios da igreja, o que deu origem ao termo professor- pessoa que professa a fé e fidelidade aos princípios da instituição e se doa sacerdotalmente aos alunos (KRENTZ apud CARLOTTO, 2002).
Permanecendo o ensino sob tutela da igreja até o século XVIII, só vamos encontrar mudanças significativas na profissão docente, a partir da segunda metade desse século, quando essa tutela passa a ser do Estado e não mais da igreja. Começa-se então a se esboçar um perfil do professor.
Esse processo de substituição do poder da igreja para o Estado, não provocou mudanças significativas nos valores originais da profissão docente. O professor ainda detinha privilégios, qualificação e autonomia, situando-se num campo de trabalho intelectual a não perdendo as origens religiosas.
Ao fim do século XVIII, os professores não podem mais ensinar sem licença ou autorização do Estado, sendo necessário, antes de receber esta licença, uma sequência de exames, onde o indivíduo teria que preencher certo número de condições para exercer a profissão. Segundo Nóvoa (1995, p. 17), essa autorização contribuiria para a delimitação do campo profissional do ensino e para a atribuição do professorado direto e exclusivo de intervenção nesta área. A criação desta licença ou documento foi importante porque facilitou a definição de um perfil de competências técnicas e o delimitar de uma carreira docente.
Neste período e no começo do século XIX, o trabalho do professor tinha uma alta relevância social e a expansão escolar aumentava devido a uma procura social cada vez maior.
No princípio do século XX, a profissão docente exerce-se a partir de um conjunto de normas e de valores, nesta fase há uma crença generalizada nas potencialidades da escola e na sua expansão ao conjunto da sociedade O progresso atinge a escola e a instrução. É a época da glória e do modelo escolar e também o período de ouro da profissão docente (NÓVOA, 1995).
Este é um período em que os professores gozam de um grande prestígio social, eles exercem a profissão o tempo inteiro ou é a ocupação principal, são detentores de uma licença oficial confirmando que são profissionais do ensino, participam de ações profissionais, a qual desempenha um papel fundamental em defesa dos docentes. É também um período em que usufruem de uma situação econômica digna. Porém, Nóvoa (id. ibid.), alerta que a afirmação profissional dos professores foi um percurso marcado por lutas, hesitações e conflitos e afirma também que a profissão docente brasileira se configurou de forma parecida com Portugal, local onde se deu sua pesquisa. Verificamos que no Brasil, nas últimas décadas, as reformas educacionais têm trazido mudanças significativas para os trabalhadores docentes. São reformas que atuam tanto no nível da escola quanto em todo o sistema, reproduzindo mudanças profundas.
As reformas da educação na década de 60 ampliam o acesso à escolaridade, nesta época o argumento era que a educação promovia o meio mais seguro para a mobilidade social individual ou de grupos. A educação era vista como um mecanismo de redução das desigualdades sociais.

SÃO DOZE OS ESTÁGIOS DE BURNOUT:

Necessidade de se afirmar;
Dedicação intensiva- com predominância da necessidade de fazer tudo sozinho;
Descaso com as necessidades pessoais- comer, dormir, sair com os amigos começam a perder o sentido;
Recalque de conflitos- o portador percebe que algo não vai bem, mas não enfrenta o problema. É quando acorrem as manifestações físicas;
Reinterpretação dos valores- isolamento, fuga dos conflitos. O que antes tinha valor,sofre desvalorização: lazer, casa, amigos, e a única medida de auto-estima é o trabalho;
Negação dos problemas- nessa fase os outros são completamente desvalorizados e tidos como incapazes. Os contatos sociais são repelidos, cinismo e agressão são os sinais mais evidentes;
Recolhimento;
Mudanças evidentes de comportamento;
Despersonalização;
Vazio interior;
Depressão- marcas de indiferença, desesperança, exaustão. A vida perde o sentido;
E, finalmente, a síndrome do esgotamento profissional propriamente dita que corresponde ao colapso físico e mental. Esse estágio é considerado de emergência e a ajuda médica e psicológica uma urgência.
Os sintomas são variados: fortes dores de cabeça, tonturas, oscilações de humor, distúrbios do sono, dificuldade de concentração e problemas digestivos.
O fato mais curioso na Síndrome de Burnout é que ela atinge trabalhadores motivados, que reagem a esse desequilíbrio trabalhando muito mais. A inda há uma discrepância entre o que o trabalhador investe e aquilo que ele recebe, ou seja, os resultados obtidos. Por isso voltamos à questão do não reconhecimento e desvalorização do professor.
O acúmulo de ideologias faz o professor adoecer, por estar contrariando o seu verdadeiro propósito em exercer sua pedagogia voltada para a afetividade do educando. Diferenças entre professores e diferenças entre escolas devem ser incluídas em qualquer modelo do explicativo de Burnout em professores.
A dinâmica do mundo moderno favoreceu o surgimento de muitas doenças e transtornos mentais, em especial no ambiente de trabalho e agora é a vez da Síndrome de Burnout mostrar a cara. Pouco de fala, pouco se estuda pouco se previne este mal, pois na maioria das vezes o estresse da lida diária é tão grande que mal podemos notar a erva daninha que cresce em meio ás poucas rosas do nosso jardim da vida. Assim o trabalhador pouco a pouco sem perceber vai perdendo o sentido da sua relação com o trabalho de forma que as coisas não lhe importam mais e qualquer esforço lhe parece inútil, ou seja. Ocorre sempre quando o lado humano do trabalho não é considerado, ocorrendo desequilíbrio entre a natureza do trabalho e a natureza da pessoa que o faz.
O Burnout é na verdade uma forma do organismo afastar a pessoa do coração, de despertar, de se analisar, refletir o conceito da própria vida, de parar para pensar. Professores idealistas e entusiasmados com sua profissão são mais vulneráveis. Estes se sentem desapontados quando não são recompensados pelos seus esforços. Porém as pessoas que chegam a Burnout são pessoas muito responsáveis, perseverantes, estáveis e eficazes.
Estudos mostram também, que, quanto maiores as experiências profissionais do professor menores eram os níveis de Burnout. Professores do ensino fundamental e médio apresentam mais atitudes negativas em relação aos alunos e menor freqüência de sentimentos de desenvolvimento profissional do que os professores da educação infantil.
No entanto, por serem pessoas de alto nível profissional, cobram de si, acabam sendo intransigentes, e com essas atitudes não enxergam caminhos para sua vida profissional. Assim esse estresse ocupacional, esgotamento emocional e baixa realização profissional poderão acarretar doenças físicas, psicossomáticas, psíquicas (depressão) ou sociais (psicopatias).
Portento diante do que foi exposto fica evidente que essa síndrome vai avançando com o tempo, corroendo devagar o ânimo do educador, o fogo vai se apagando devagar.
Segundo Monteiro Lobato, Jeca Tatu tinha o ventre corroído pelos vermes, a Vítima de Burnout tem o espírito corroído pelo desânimo, a vontade minguada, devagar, até atingir os gestos mais banais, até minimizar as vitórias mais apaixonantes, a beleza e a forma da missão dando lugar ao mesmo irritante cotidiano, por mais diferentes que sejam os dias de trabalho. Jeca Tatu é uma obra da ficção, Burnout é um fenômeno real, a corroer, dia pós dia, o educador e a educação.
O professor assume muitas funções, possui papéis muitas vezes contraditórios, isto é, a instrução acadêmica a disciplina de classe também tem que lidar com aspectos sociais e emocionais de alunos, e ainda conflitos ocasionados pelas expectativas dos pais, estudantes, administradores e da comunidade. Estas questões, somadas a inadequação salarial e a falta de oportunidades de promoções é um fator preocupante que abre muitas portas para Burnout.
Uma classe com aluno agressivos e inquietos, que perturbam e arrumam frequentemente confusões, são insolentes e desacatam a todos, e repetem os mesmos erros com freqüência, parecem incorrigíveis, de fato, os professores não suportando e cogitando em desistir de educar. Um prato cheio para a chegada de Burnout. Afinal todos querem educar jovens dóceis, mas são os que nos frustram que testam nossa qualidade de educadores.
A relação com familiares dos alunos, de acordo com alguns autores, também se mostra muitas vezes problemática e estressante, seja pela falta de desenvolvimento deles no processo educacional acreditando serem a escola e o professor os únicos responsáveis pela educação dos filhos seja pelo excesso, acreditando ser o professor o incompetente e inexperiente e, muitas vezes o causador dos problemas apresentados pelo aluno. Do ponto de vista público, a categoria sofre mais críticas, é extremamente cobrada pelos seus fracassos e raramente reconhecida pelo seu sucesso.
Há uma repercussão no mundo médico, social e educacional, se levarmos em consideração a sua gravidade. Muito se fala em modelo de educação, entretanto, esquece-se do principal personagem desse processo: o educador.
A mudança do modelo educativo brasileiro é necessária. Professores cada vez mais abandonam a profissão, ou ficam doentes por ela. Cada vez menos jovens querem se educadores. Uma educação castradora, exigências desumanas e pedagogias autoritárias conjugam com outros sujeitos, adjetivos e verbos. Uma verdadeira crise no sistema educacional.
A crise educacional não é apenas brasileira e reside também no chamado velho mundo. É o caso da França, onde estudantes recebem prêmios como ingressos para jogos, e mesmo dinheiro. Lá, como aqui, também o modelo já não consegue convencer a juventude no sentido de permanecer nas escolas para crescer e ser útil ao capitalismo. Também não convence professores, que adoecem, suicidam-se… Abandonam a carreira.
Imaginemos juntos: Brasil, pais de analfabetos, ainda! Também o Estado paga para os estudantes a Bolsa Escola, que ao contrário da França, será gasto na maioria das vezes para comprar comida, e não ir ao cinema, comprar livro. Ainda assim, ouvi falar que no interior do país não tem professores, sobretudo graduados. Também dizem que quando tem uma quadra, um campinho, um rio, lagoa, cano quebrado, os estudantes ou ficam no caminho, ou pulam o muro para ir banharem-se, brincarem… Pois na escola só se aprende com seriedade.
Um estudo feito entre professores que decidiram não retomar os postos nas salas de aula no início do ano na Virgínia, Estados Unidos, revelou que entre as grandes causas de estresse estava a falta de recursos, a falta de tempo, reuniões em excesso, número muito grande de alunos por sala de aula, falta de assistência, falta de apoio e pais hostis. Em outra pesquisa, 244 professores de alunos com comportamento irregular ou indisciplinados foram instanciados a determinar como o estresse no trabalho afetava as suas vidas. Estas são, em ordem decrescente, as causa de estresse nesses professores:
Políticas inadequadas da escola para casos de indisciplina;
Atitude e comportamento dos administradores;
Avaliação dos administradores e supervisores;
Atitude e comportamento de outros professores e profissionais;
Carga de trabalho excessiva;
Oportunidades de carreiras pouco interessantes;
Baixo status da profissão de professor;
Falta de reconhecimento por uma boa aula ou por estar ensinando bem:
Alunos barulhentos;
Lidar com os pais.
Os efeitos do estresse são identificados, na pesquisa, como:
Sentimento de exaustão;
Sentimento de frustração;
Sentimento de incapacidade;
Carregar o estresse para casa;
Sentir-se culpado por não fazer o bastante;
Irritabilidade.
Infelizmente não existem regras, fórmulas prontas e exatas como acontece na matemática, pois colaborar com o ser humano em seu processo educacional é algo muito complexo e infinito. O que de fato podemos fazer são algumas observações para sua cura.
Um bom projeto voltado para a prevenção de Burnout em docentes teria, idealmente, que buscar identificar e minimizar o conjunto de causas que estivessem afligindo esses docentes. Burnout é um mostro difícil de ser enfrentado de forma solitária. O coletivo de trabalho ajuda o professor a redimensionar seus objetivos, fazendo-o contentar-se com o possível, em vez de sofrer com o que gostaria de fazer e não pode. É importante também como forma de feedback, ou seja, colegas e superiores podem fazer esse profissional perceber que ele não é um fracassado.
Ainda assim é altamente desejável que o profissional com Burnout tenha acesso a atendimento especializado, tanto médico quanto psicológico. Vale ressaltar que na verdade, o que define a incidência de Burnout não é o fato de o professor pertencer a escolas públicas ou privadas e sim a presença de agentes que causam estresse crônico. O senso comum é que parece indicar que esses estressores estão mais presentes em escolas publicas.
Poderíamos dizer que baseado nas informações acima explícitas, cada qual poderá avaliar-se para assim saber se está sofrendo deste mal, já que a ignorância referente a esta síndrome tem levado muitas pessoas a conseqüências mais danosas e caso detecte sintomas de estresse na sua carreira busque aluda o mais rápido possível.
Ajuda é sempre bem vinda em qualquer época e em qualquer momento. Infelizmente, muitas pessoas resistem à ajuda até chegarem ao limite da cronicidade. Diante do eminente problema é comum negar o estado aparente de debilidade ou fragilidade. Depois de reconhecer a existência do problema, a pessoa tende a investir muita energia para sustentar a postura de forte e durona. Na verdade estão apenas encapsulando o problema que encontram nas condições ideais de desenvolvimento. Num terceiro momento, quando o problema eclode e torna-se visível a todos, então se recorrem à auto-meditação, entre outras tentativas inadequadas e inócuas para resolver o problema. Somente quando essa dinâmica esgota todas as energias e consome toda saúde da pessoa é que ela procura ajuda profissional.
Embora eu não seja médica, sabe-se que assim como toda anomalia psicofísica, o quadro de Burnout é passível de intercorrência medicamentosa sim e somente o médico e mais ninguém aquém deste profissional tem condições de avaliar e prescrever a medicação mais variada que pode variar de analgésicos, ansiolíticos e até antidepressivos, conforme cada caso. Tenho notícias de pessoas que se tratam por tabela. Comparam alguns sintomas com outros do colega e, havendo similaridade, compartilham do mesmo medicamento. Isto é totalmente contra-indicado haja vista que cada pessoa tem um porte físico diferenciado e um histórico pessoal muito peculiar interferindo em seu metabolismo e absorção de muitos princípios farmacológicos.
Contudo, ao identificar os primeiros sinais e sintomas da síndrome, estes podem ser debelados com simples mudanças de hábitos ou de atitudes na rotina diária. À medida que o quadro evolui e outros sintomas vão surgindo, fazem-se necessária a intervenção do psicólogo, em especial os especialistas em estresse. Quando o sofrimento mental começa a causar transtornos psíquicos como ansiedade, pânico ou quadro depressivo e transtornos físicos, então o tratamento medicamentoso se torna não apenas necessário como imprescindível. O ideal é aprender a prevenir para não ter que remediar como diz o sábio ditado!
Afastar-se do trabalho é recomendado. Há cerca de oito anos, o psiquiatra Paulo Pavão está à frente do setor de psiquiatria do Hospital Universitário de Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro, que oferece assistência psiquiátrica aos funcionários da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Entre médicos, professores e outros profissionais de nível médio, como serventes e porteiros, o Pedro Ernesto atende a cerca de 150 servidores estaduais. Já atendi uma professora que sofria de severa inapetência. Aos poucos, descobri que se tratava, na verdade, de Burnout em consequências do assédio moral de uma chefia arbitrária, lembra.
Pavão salienta que a primeira medida a ser tomada é afastar o profissional de seu ambiente de trabalho. A legislação permite, inclusive, que portadores de Burnout tenham direita a licença médica e, em casos considerados mais graves, até a aposentadoria por invalidez. A melhora do paciente está condicionada à mudança de seu estilo de vida. Muitas vezes, recorremos ao serviço social com o intuito de transferir o profissional de setor ou até mesmo de unidade, pondera.
A criação de um salário mínimo digno é uma medida para diminuir esse número? Estudos mais recentes sobre as causas de Burnout têm dado ênfase a questão da injustiça, de ausência de reconhecimento da importância do trabalho desse profissional. Se entendermos que a criação de um piso salarial digno é uma forma de retribuir o esforço do professor e de reconhecer a importância do seu papel, podemos entender essa medida como um a contribuição para a redução dos níveis de Burnout.

CONCLUSÃO

A qualidade de vida no trabalho no tocante à saúde, não depende somente de uma parte, mas sim do professor, da instituição, da sociedade e de políticas públicas, simultaneamente. Contribuir para a melhoria das condições de trabalho diminui o sofrimento dos trabalhadores. Assim, enfatizar a promoção dos valores humanos como estratégia preventiva da Síndrome de Burnout é o começo para que o mundo do trabalho possa se instituir num espaço de prazer, além de subsistência de vida.
Em tese, qualquer movimento no sentido de reduzir a vulnerabilidade do professor aos estressores do seu cotidiano, particularmente aqueles relacionados com demandas emocionais, seria uma medida preventiva no sentido de minimizar as possibilidades de o indivíduo vir a desenvolver Burnout. Dessa forma, aplicam-se à prevenção de Burnout todas as estratégias voltadas para ajudar o indivíduo a lidar com o estresse. Por isso, o apoio dos pares e da direção da organização é tão importante. A direção da escola tem papel fundamental no sentido de diminuir problemas estruturais como, por exemplo, condições de trabalho inadequadas. Com relação aos colegas, a troca de vivência e de problemas comuns favorece a reorganização cognitiva no sentido de o trabalhador rever suas expectativas e encontrar formas possíveis de lidar com suas frustrações, e ideais inalcançáveis.
É altamente desejável que o profissional com Burnout tenha acesso a atendimento especializado, tanto médico quanto psicológico. Além disso, a participação da direção da organização e dos colegas pode ajudar muito, tanto na prevenção quanto na recuperação. Nos profissionais de saúde, medidas interessantes já vêm ocorrendo: profissionais que trabalham, por exemplo, em UTIS, prontos socorros e áreas mais críticas, por iniciativa própria ou por sugestão da instituição onde trabalham, fazem reuniões periódicas (grupos de reflexão) em que discutem suas angústias, suas limitações, buscam alternativas possíveis para os problemas e se preparam psicologicamente para se alegrar com o sucesso (mesmo que em pequena proporção) como forma de fazer frente ao insucesso freqüente. Meu estudo demonstrou que esse suporte social no trabalho é um grande aliado na redução dos níveis de Burnout.

REFERÊNCIAS

Revista Mente e cérebro Ano XIV n° 161
CARLOTTO, M. S. (2001). Síndrome de Burnout: Um tipo de estresse ocupacional. Cadernos Universitários, 18, Ulbra
SORATTO, L., & Oliver-Heckler, C. (1999). Os trabalhadores e seu trabalho. In W. Codo (Org), Educação: Carinho e Trabalho (pp. 278-281). Rio de Janeiro: Vozes.

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