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sexta-feira, abril 26, 2024

Evasão e Repetência na Escola Municipal

INTRODUÇÃO

A educação escolar é fundamental na complementação do desenvolvimento pessoal e social da criança e do adolescente, pois, a escola é também um centro social onde são reafirmadas as relações de companheirismo e amizade adquiridas no convívio familiar, desta forma tem a importante “missão” de formar cidadãos, visando uma sociedade justa, livre e solidária.

O estudo da realidade da educação brasileira tem sido foco estudo de vários pesquisadores e teóricos que se preocupam com o ensino de qualidade, que priorizam a teoria e prática voltada para solução de problemas existentes no âmbito escolar.

Percebe-se hoje que o principal desafio da educação brasileira é a qualidade do ensino, mas tem-se observado, através das avaliações educacionais, que as taxas de evasão e repetência em séries iniciais (1ª a 4ª) continuam altas, apesar dos avanços que aconteceram no campo educacional nos últimos anos.

Uma educação de qualidade deve propiciar um fluxo escolar regular dos estudantes, e com isso um efetivo desenvolvimento de habilidades e competências em todos os componentes curriculares.

O nosso interesse em pesquisar o fracasso escolar, despertou pela inquietação de que apesar das reformas educacionais ocorridas nos últimos anos, as escolas públicas continuam convivendo com elevados índices de evasão e repetência, fato que é mais evidenciado nas escolas que atendem crianças oriundas das camadas populares.

A pesquisa foi realizada na Escola Municipal de Ensino Fundamental Filomeno de Souza Reis, localizada na avenida Pará s/n, Bairro São José, no município de São Félix do Xingu/PA, visto que a mesma atende crianças das camadas populares, e que segundo dados estatísticos da Secretaria Municipal de Educação apresentou um alto índice de evasão e repetência nos últimos anos.

Considerando que os condicionantes do fracasso escolar são diversos, o nosso objetivo neste trabalho de pesquisa foi alcançado de modo satisfatório, pois identificamos as possíveis causas que contribuem para a produção do fracasso escolar (evasão e repetência) e as suas conseqüências, considerando os aspectos intra (relação professor aluno e a estrutura organizacional da escola) e extra escolares (origem social e relação familiar e suas implicações no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem).

Nos capítulos que integram este trabalho discutimos que as causas do fracasso escolar (evasão e repetência), da escola pesquisada, não estão exclusivamente em um único dos fatores possíveis, nem só na relação professor-aluno, nos métodos, nos recursos didáticos, na estrutura organizacional da escola, na família, ou na criança, sendo então um fenômeno multifacetado constituído por vários fatores que o influenciam e o determinam.

No primeiro capítulo apresentamos a trajetória da Escola pública no Brasil desde o período imperial e fazemos uma incursão sobre o fracasso escolar no Brasil.

No segundo capítulo abordamos o tema sob a luz das concepções de alguns teóricos que discutem sobre as causas do fracasso escolar, enfatizando possíveis fontes geradoras – a escola, relação professor-aluno, origem social e relação familiar – que podem influenciar direta ou indiretamente na produção desse fenômeno.

No terceiro capítulo apresentamos e analisamos os dados coletados durante a investigação no campo de pesquisa, fazendo uma relação entre o contexto teórico e o contexto prático.

Com a finalidade de alcançarmos o objetivo deste trabalho, realizamos um estudo de natureza quanti-qualitativa, mediante o contato direto com a realidade onde está inserido o fenômeno pesquisado.

Com objetivo de captarmos o maior número possível de informações, realizamos uma pesquisa de caráter etnográfico que nos possibilitou encontrarmos os princípios subjacentes ao fenômeno estudado e conhecermos as estruturas de significados dos participantes nas diversas formas que foram expressos.

Utilizamos como procedimentos metodológicos de levantamento de dados, a observação participante com os sujeitos pesquisados (corpo técnico e administrativo, professores, pais e alunos) e registramos a mesma por meio de relatórios de atividade diárias, fotografias dos sujeitos e dos locais observados. Utilizamos também entrevistas formais, questionários abertos e fechados. Verificamos ainda o Projeto Político Pedagógico, Regimento escolar, censo escolar (números de evasão e repetência do município e da Escola) e o livro de advertências.

Para o desenvolvimento desse trabalho buscamos fundamentações teóricas – José Carlos Libâneo, Maria Helena Patto, Paulo Freire, Suzana Sten, Maria Lúcia Aranha entre outras – que nos auxiliaram no conhecimento dessa realidade para melhor compreensão do fenômeno estudado.

Uma parcela do sucesso dessa pesquisa se deve ao acolhimento e a colaboração dos informantes, e também às bases teóricas que discutem sobre esse fenômeno. No entanto, em virtude da amplitude e complexidade do tema abordado, sentimos algumas dificuldades no momento da análise em que nos propusemos identificar as conseqüências da evasão e da repetência, pois nesse determinado momento houve uma dificuldade para distinguirmos o que se caracterizava como causa e o que se caracterizava como conseqüência. Sendo que, foi superada após uma análise minuciosa, onde conseguimos compreender quando se apresentavam como causa e quando se apresentavam como conseqüência.

A principal contribuição dessa pesquisa é o fato de ter sido realizada em um contexto específico, possibilitando aos envolvidos no processo educacional da E.M.E.F. Filomeno de Souza Reis reconhecerem as causas e conseqüências do fracasso escolar para assim terem condições necessárias para explicá-lo e buscarem soluções a fim de superá-lo.

1. TRAJETÓRIA DA ESCOLA PÚBLICA NO BRASIL

Este capítulo intenciona analisar a escola pública brasileira desde a sua origem e seu desenvolvimento na sociedade. Para tanto buscamos fundamentação teórica –Maria Lúcia Aranha – que orienta nossa análise no sentido de refletir/repensar sobre todo o processo que determina a situação atual da escola pública sob a perspectiva do fracasso escolar.

Partindo-se de dois enfoques – inicialmente abordando os aspectos históricos sociais do ensino público brasileiro, no segundo fazendo uma incursão sobre a evasão e repetência no Brasil – será possível uma melhor compreensão da realidade da escola pública brasileira.

1.1 TRAJETÓRIA DA ESCOLA PÚBLICA NO BRASIL

As classes populares têm em sua história uma luta incansável por uma educação de qualidade.

Antes do surgimento do capitalismo a educação era privilégio de quem tinha uma boa condição social, enquanto o restante da população ficava ignorante sem qualquer tipo de instrução, a não ser para trabalhos manuais.

No Brasil durante o período Imperial a educação popular se faz desnecessária, devido à economia ser exclusivamente agrária, sendo assim, não exigia mão-de-obra qualificada. O sistema educacional constituía como agente específico da formação das camadas superiores, consolidando um padrão de ensino elitista, pois o pensamento político brasileiro existente no Império, deixava de lado o compromisso das autoridades governamentais em promover o ensino público de qualidade a população.

No início do século XX, o índice de analfabetismo era altíssimo em uma população predominantemente agrária, revelando assim, o descaso com a educação elementar. Nessa ocasião, educadores da Escola Nova introduzem o pensamento liberal democrático, defendendo uma escola para todos, com o objetivo de alcançar uma sociedade igualitária e sem privilégios de classe.

Segundo ARANHA, as reformas educacionais planejadas na década de 20 – a de Sampaio Dória em São Paulo (1920), a de Lourenço Filho no Ceará (1923), a de Anísio Teixeira na Bahia (1925), a de Mário Casassanta em Minas Gerias (1927) e a de Fernando de Azevedo no Distrito Federal (1928) – basearam-se todas nos princípios do movimento da escola nova.

Apesar das várias reformas educacionais ocorridas no país nas quatro primeiras décadas da primeira República, as oportunidades de educação escolar das classes populares continuavam pequenas.

Na década de 30, com a crise do modelo agroexportador e o início do modelo baseado na industrialização é exigida melhor escolarização de uma maior quantidade de pessoas, sobretudo aquelas pertencentes às camadas populares. A partir dessa década, a educação passa a despertar maior atenção, quer pelo movimento dos educadores, quer pelas iniciativas governamentais. Como por exemplo, O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova em 1932, que defendia uma educação de qualidade com oportunidade de ensino a todos na sociedade brasileira; e as reformas dos Ministros da Educação, Francisco Campos (1931), cria o Conselho Nacional de Educação e ao mesmo tempo em que reforma o ensino secundário cria o ensino comercial e estabelece o Estatuto das Universidades Brasileiras; Gustavo Capanema (1942) denominada Leis Orgânicas de Ensino.

O ensino primário recebe atenção do Governo Federal, o ensino secundário é reestruturado, as Escolas Normais para a formação de professores são ampliadas e o ensino profissionalizante recebe atenção especial, com a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial em 1942 (SENAI) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) em 1946.

Esses cursos de aprendizagem, aperfeiçoamento e especialização tinham o objetivo de atender as necessidades de mão-de-obra que o capitalismo exigia para o desenvolvimento do processo produtivo brasileiro. Além do mais, a população de baixa renda, desejosa de se profissionalizar, encontra nesses cursos boas condições de estudo, mesmo porque os benefícios resultantes eram imediatos.

No entanto, o modelo de ensino profissionalizante adotado provocou uma discriminação mais acentuada no sistema educacional, conforme é descrito por ARANHA (1996):

“A legislação acabou criando condições para que a demanda social da educação se diversificasse apenas em dois tipos de componentes: Os componentes dos estratos médios e altos, continuaram a fazer opção pelas escolas que classificam socialmente, e os componentes dos estratos populares, passaram a fazer opção pelas escolas que preparavam mais rapidamente para o trabalho. Isso transformava o sistema educacional, de modo geral, em um sistema de discriminação social”. (p:200).

Observa-se que o ensino profissionalizante no Brasil, ao estruturar-se nessas condições, atendia diretamente às classes populares, visto que oferecia a oportunidade de sobreviverem através do desenvolvimento de habilidades que eram necessárias à execução de algumas atividades, no entanto reforçava a dicotomia do ensino.

Com a constituição de 1946 surge a necessidade de elaborar novas leis e diretrizes para o ensino. Em 1948, o Ministro Clemente Mariani apresenta um projeto de lei propondo a extensão da rede escolar gratuita até o secundário, mas esse projeto foi engavetado. Em 1957, outro projeto apresentado pelo Deputado Carlos Lacerda propunha a privatização do ensino. A educação portanto, seria financiada pelo Estado, porém, este não poderia fiscalizá-la. Em reação a esse projeto os “pioneiros da educação nova”, apoiados por intelectuais, estudantes e líderes sindicais, iniciaram uma campanha de defesa à escola pública com movimento do Manifesto dos Educadores em 1959.

Quando a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 4.024/61 foi aprovada, seu texto já se encontrava ultrapassado, pois apesar das pressões, a lei promulgada atendia os interesses da iniciativa privada, ou seja, a escola continuava sendo um privilégio de classe.

Nos primeiros anos da década de 60, surgem na sociedade civil inúmeros movimentos em defesa da educação popular, evidenciando o aspecto social da educação e proclamando o Estado como mantenedor do sistema escolar. Dentre eles, destaca-se o Movimento de Cultura Popular (MCP) do Recife, liderado por Paulo Freire.

Nos 20 anos da Ditadura Militar os brasileiros perderam seu poder de participação e crítica. A repressão do Governo silenciou os intelectuais e artistas e intimidou professores e alunos, fracassando assim, as tentativas de expansão da educação popular. Durante esse período a educação segue uma linha tecnicista de influência Norte-americana. Os acordos realizados pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) com a Agência Internacional de Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID) possibilitaram ao Brasil uma assistência técnica e cooperação financeira para implantação das reformas.

Nos primeiros anos após o Golpe Militar, as organizações consideradas subversivas, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), foram paralisadas, no entanto, continuavam agir clandestinamente. Na tentativa de controlar atividades subversivas nas universidades o Decreto-lei nº 477, proibiu a ação de professores, alunos e funcionários de qualquer manifestação de caráter político. Isto sem sombra de dúvida prejudicou e muito a vida cultural e o ensino no Brasil.

Para diminuir os índices alarmantes do analfabetismo de jovens e adultos, o governo cria em 1967 organismos como Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL), programa que utilizava o método de Paulo Freire sem o conteúdo ideológico que era considerado subversivo; e o Projeto Minerva, que através da televisão e do rádio e com ajuda de monitores ofereciam curso supletivo de 1º Grau.

A lei 5.540/68 faz modificações na LDB de 1961. A reforma criou o vestibular classificatório e reuniu as faculdades em universidades para melhor concentração de recursos materiais e humanos, desenvolveu ainda um programa de pós-graduação.

A reforma do ensino fundamental e médio se realizou durante o governo Médici. A lei 5.692/71 ampliou a obrigatoriedade escolar de quatro para oito anos aglutinando o primário com ginásio; criou a escola única profissionalizante e desativou a antiga Escola Normal destinada à formação de professores de ensino fundamental, instituindo assim a habilitação Magistério. O currículo estava voltado para uma educação geral e para formação especial da habilitação profissional contextualizada com a região. Além disso, disciplinas como Educação Física, Educação Artística e Educação Moral e Cívica foram incluídas como obrigatórias; extinguindo a disciplina de Filosofia e diminuindo a carga horária de História e Geografia. Sendo assim, nas propostas curriculares, o governo deixou claro seu caráter ideológico e manipulador.

Mesmo após a essas reformas ainda continuava o ensino dual, visto que a escola da elite preparava seus alunos para ingressarem nas melhores universidades, e os alunos mais pobres, porque estavam mal preparados para a disputar as vagas, não tinham acesso às melhores faculdades, que geralmente eram as públicas, ou seja, de forma mais acentuada continuava existindo a questão da seletividade.

Na década de 80 o regime militar dava sinais de enfraquecimento. A sociedade civil, a classe política, e os movimentos estudantis se apresentavam de forma intensa a fim de recuperar seus espaços perdidos. Mas, só em 1985 que passamos para o primeiro governo civil após a ditadura. A educação necessitava de uma reestruturação, pois a escola pública se encontrava degradada e empobrecida, com altos índices de evasão, repetência e analfabetismo nesses anos todos.

Após a Nova Constituição de 1988 a luta pelo ensino público gratuito ganhou forças. Durante a década de 90 o Ministério da Educação encontra-se empenhado em rever o projeto educacional do país, concentrando-se na qualidade do ensino e da aprendizagem. A nova LDB foi exaustivamente debatida pela sociedade e trouxe a modernização e a democratização para o sistema educacional brasileiro. Em 20 de dezembro de 1996 a lei nº 9.394, estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, é nela que estão inscritas e garantidas as diferentes formas de organização do ensino que ampliam as possibilidades de avanço e respeito à aprendizagem dos alunos.

Sendo assim, o contexto descrito historicamente pela escola pública brasileira, desde o período de sua formação no Império, refletiu o desinteresse e a falta de compromisso do Estado, com a educação de qualidade para as camadas menos favorecidas, e retrata, de certa forma, a escola como aparelho ideológico manipulador do Estado e sociedade capitalista. Além disso, a educação pública no Brasil, sempre recebeu menos investimentos por parte do poder público do que deveria, pois os mesmos não são repassados de forma equinâme. Isso se evidencia na infra-estrutura da maioria das escolas, na carência de materiais didáticos e na desvalorização dos profissionais da educação.

1.2 UMA INCURSÃO SOBRE EVASÃO E REPETÊNCIA NO BRASIL

O Brasil enfrenta há alguns anos o grave problema do fracasso escolar, representado pelos altos índices de reprovação e evasão, que afeta principalmente as crianças oriundas dos meios populares.

Exemplos de baixa eficiência do sistema educacional brasileiro são as taxas de rendimento – aprovação, reprovação e abandono – as quais mostram o que aconteceu com o estudante ao final do ano letivo. Segundo o Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) as menores taxas de abandono, todas abaixo de 6%, ocorrem na 2ª e 3ª séries do ensino fundamental. O agravante é que a maior taxa de abandono encontra-se na 1ª série do ensino fundamental.

Os condicionantes do fracasso escolar são diversos, distribuindo-se entre fatores ligados diretamente aos alunos e as escolas. Os fatores ligados aos alunos referem-se ao universo familiar do qual a criança se origina: a escolaridade dos pais, a participação efetiva dos pais na vida escolar e o nível sócio-econômico. Quanto aos originados no ambiente escolar, referem-se a falta de compatibilidade da escola com a vida dos alunos oriundos dos segmentos populares, salas de aula com elevado número de alunos, qualificação dos professores e etc. Os dois conjuntos de fatores podem ser considerados na explicação das altas taxas de evasão e repetências nas séries inicias. O elevado número de crianças fora do sistema de ensino, acrescido pelo processo de retardamento da escolaridade provocado pelos altos índices de evasão e repetência acabam por provocar também altíssimas taxas de defasagem na idade/série.

Os prejuízos decorrentes do atraso escolar são enormes, afetando as crianças e jovens que não conseguem concluir o ensino fundamental ou concluem após sucessivas repetências. Para o estudante em situação de atraso escolar, os prejuízos são duplos: sua auto-imagem é depreciada e seu desempenho escolar e abaixo da média.

Na década de quarenta, de acordo com um estudo realizado pelo INEP, do total de crianças que se matricularam pela primeira vez no primeiro ano em 1945, apenas 4% concluíram o primário em 1948 sem reprovações, dos 96% restantes metade não concluíram sequer o primeiro ano.

Segundo as estatísticas do INEP, entre 1954 a 1961 de cada 1000 crianças que ingressaram no primeiro ano da escola 395 passaram para a segunda sem reprovações e apenas 53 atingiram os oito anos de escolarização. De 1971 a 1978 de cada mil crianças que se matricularam na primeira série 526 matricularam-se na segunda série no ano seguinte e 180 conseguiram terminar a oitava série em 1978.

Em fins dos anos 80 e no início dos anos 90, estudos nacionais mostraram que o grande problema do sistema educacional brasileiro era a repetência e não a evasão. Segundo o modelo “Profluxo”, um modelo matemático do fluxo dos alunos no ensino fundamental que não depende de declarações sobre o passado escolar das pessoas, mas tão-somente da situação escolar no momento de coleta de dados, cerca de 50% dos alunos matriculados no sistema regular de ensino repetiam a primeira série a cada ano, enquanto somente 2% se evadiam (dados de 1982). Considerando-se as oito séries do ensino fundamental, 33% dos alunos repetiam uma série a cada ano. Neste nível de ensino, os alunos ficavam em média nove anos e os que concluíam o faziam em média de 11 anos. A grande maioria dos alunos tinha pelo menos uma repetência no ensino fundamental, mas insistiam em ficar na escola, só saindo após vários anos por não conseguirem progredir.

No início dos anos 90, um estudo realizado no Brasil, pelo Fundo das nações Unidas para Infância (UNICEF), revelou que 12,2 milhões de crianças entre 5 a 17 anos abandonaram os estudos ou nunca freqüentaram uma escola. Dos 29,4 milhões que freqüentava 57% ou seja 16,8 milhões estavam em séries atrasadas.

A taxa de promoção, que já vinha aumentando nos anos anteriores, evoluiu entre 1995 e 1997 de 65,5% para 74,5%, enquanto no mesmo período as taxas de repetência e evasão diminuíram de 26,7% para 18,7% e de 8,3% para 6,8%, respectivamente. Por outro lado, a distorção idade/série nas séries iniciais que era de 64% em 1991, caiu para 46,6% em 1998.

O quadro educacional brasileiro, no início do século XXI, apresentou avanços diante das décadas passadas. Pelos dados do Censo demográfico de 2000, existia no Brasil quase um milhão e meio de crianças de 7 a 14 anos sem matrícula ou evadidas das escolas. Essa legião de crianças fora das salas de aula representava 5,5% dos brasileiros nessa faixa etária. Neste mesmo ano, de acordo como o INEP, as taxas de evasão e repetência foram de 12% e 10,7%, respectivamente. Em 2001, a taxa de evasão foi de 9,6% e repetência 11,02%. Em 2002, as taxas de repetência e evasão foram de 11,7% e 8,7%.

Ao longo de 2003, não ocorreram mudanças nas políticas educacionais que resultassem em alterações no sistema formal de ensino ou que tivessem impactado as estatísticas dessa área.

Em geral, as taxas de rendimento mais recentes do sistema educacional no Brasil confirmam as conclusões de estudos de fluxo educacional no ensino fundamental feitos nos anos 80 e início da década de 90. Ainda assim, o abandono em 2004 continuou sendo um problema muito grave afetando 9,1% dos alunos contra 15,1% de reprovados.

Apesar dos dados evidenciarem avanços nas últimas décadas, no que se refere à universalização do acesso ao ensino, o sistema educacional brasileiro ainda convive com grandes desigualdades regionais. Segundo o INEP, as taxas de reprovação e abandono são mais elevada nas Regiões Norte e Nordeste, enquanto nas regiões Sul e Sudeste o índice de abandono e repetência são bem menores. Em 2002, enquanto, no Nordeste a defasagem idade-série chegava a 53,6% no Sudeste ela era de 21% e no Sul atingiu 19%. Quanto ao ensino fundamental, a região Norte apresenta a maior taxa de alunos reprovados (15,5%), seguida pela região Nordeste (15%), Centro-Oeste (12%), Sul (11,5%) e Sudeste (7,5%). Em relação à taxa de abandono escolar a região Nordeste apresentou a maior com 13,9%, seguida pelas regiões Norte e Centro-Oeste com 11,6%. Quanto às regiões Sul e Sudeste, menos de 5% das crianças abandonaram a escola no ensino fundamental regular.

As desigualdades de acesso demonstradas pelos índices de evasão e repetência explicam a gravidade dos problemas de fluxo educacional. Para se ter uma idéia de como o fluxo e o rendimento do sistema escolar precisam de atenção, basta verificar que a distorção série-idade no ensino fundamental afeta, hoje a metade dos estudantes matriculados.

Contudo, o perfil da educação brasileira apresentou significativas mudanças nas duas últimas décadas. Houve uma pequena queda das taxas de analfabetismo, aumento expressivo do número de matrículas em todos os níveis de ensino e crescimento das taxas de escolaridade média da população. Não obstante, o quadro educacional do país é ainda bastante insatisfatório tanto do ponto de vista qualitativo quanto em relação a alguns indicadores quantitativos.

Em suma, os dados apresentados acerca do fluxo e do rendimento educacional do ensino fundamental no Brasil, demonstram que ainda há muito a se fazer para que o sistema educacional atinja um padrão de eficiência, qualidade e eqüidade.

1.3 FATORES QUE INTERFEREM NA APREDINZAGEM DOS ALUNOS

Este capítulo intenciona apresentar e analisar os fatores que interferem na aprendizagem dos alunos. Para tanto, buscamos fundamentação teórica – José Carlos Libâneo, Maria Helena Patto, Paulo Freire, Suzana Sten entre outras – que orienta nossa análise no sentido de refletir/repensar sobre o problema do fracasso escolar, numa visão menos excludente em que o “diferente” seja considerado para que os índices do fracasso escolar não sejam agravados.

O fracasso escolar, é sem dúvida, um dos mais graves problemas com o qual a realidade educacional brasileira vem convivendo há muitos anos. Sabe-se que tal ocorrência evidencia-se praticamente em todos os níveis de ensino do país. Todavia, incidem com maior freqüência nos primeiros anos da escolarização.

Dentre inúmeros fatores correlacionados com fracasso escolar, aparecem tanto os extra-escolares como os intra-escolares. (PATTO:1999)

1.3.1 ORIGEM SOCIAL, FAMÍLIA E AS CONTRADIÇÕES DO SISTEMA ESCOLAR

A escola pública apesar de abrigar no seu contexto as camadas populares desenvolve um padrão de ensino alheio às necessidades do público atendido. Apresenta um caráter elitista que a impede de desempenhar seu papel social em conformidade com as necessidades e interesses dos alunos, e conseqüentemente minimiza as possibilidades da participação desses indivíduos de forma igualitária na sociedade.

A escola apesar do seu discurso democrático, igualitário e transformador é uma instituição reprodutora da ideologia da classe dominante. Nesse sentido está a serviço das relações de exploração das sociedades capitalistas que controlam e a adaptam as suas exigências. A Lei de Diretrizes e Bases – LDB 9394/96 estabelece:

Art.3º – I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

Art. 4º – I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;

VIII – atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;

Percebe-se que nem todos têm acesso a instituições de ensino, pois sempre existem problemas que contribuem para reprovação e o abandono, como falta de vagas, localização da escola, condições econômicas da família, que na maioria das vezes obriga as crianças a saírem da escola para ingressarem no mercado de trabalho informal para ajudarem no sustento da família.

O perfil da educação pública brasileira apresentou algumas mudanças nas últimas décadas, porém a realidade atual remete-nos a considerar a necessidade de políticas públicas voltadas para uma melhor formação dos professores e para utilização do currículo oculto em detrimento do currículo formal, pois são requisitos fundamentais para a melhoria dos índices de evasão e repetência escolar.

A atual realidade escolar nos evidencia uma forte associação entre origem social e rendimento escolar, mas destaca-se também a existência de fatores intra-escolares que influenciam ou determinam o fracasso ou sucesso escolar nas séries iniciais de crianças das camadas populares.

“(…) a influência do meio, especialmente do ensino, pode facilitar ou dificultar o desenvolvimento da inteligência. Se o meio social que vive a criança não pode prover boas condições para o desenvolvimento intelectual, o ensino pode proporcionar um ambiente necessário de estimulação e é para isso que o professor se prepara profissionalmente. (…)” (LIBÂNEO, 1994: 41).

As expectativas da escola sobre o desempenho dos alunos podem funcionar como uma suposição de como será o desenvolvimento desse aluno. Isto é, o aluno oriundo das classes populares de quem a escola espera menos é o que realiza menos, ao passo que aqueles advindos das classes média e alta de quem se esperam um bom desempenho acaba, na realidade, por apresentá-lo. Por fazerem parte de famílias desprovidas de recursos e de uma sociedade que predomina a cultura da classe dominante, que a escola onde essas crianças estão inseridas reproduz, e não tendo acesso ao mínimo dessas informações culturais, chegam a escola em situação de desigualdade em relação aos estudantes das classes mais altas.

“(…) sendo obrigatórios e sistemáticos os currículos e programas escolares; sendo uniforme os critérios de avaliação e as expectativas, as crianças das camadas populares são prejudicadas, porque lhes és imposto um sistema cujo código provem de situações e normas da” classe burguesa “, situando-se a criança proletária em desvantagem diante de tal código, (…)” (STEN, 1987:38)

Os alunos pobres não se sentem à vontade na escola, porque ela pouco se identifica com sua vida diária, visto que as aulas, os modos de ensinar e os valores sociais soam estranhos ao mundo social e cultural das crianças, por não estarem vinculados as suas percepções, motivações, práticas de vida e linguagem. Sua maneira de falar é corrigida o tempo todo. O conflito entre a linguagem de uma escola fundamentalmente a serviço das classes privilegiadas, cujos padrões lingüísticos devem obrigatoriamente ser usados, e a linguagem das camadas populares, que essa escola despreza, é uma das causas do fracasso dos alunos pertencentes a essa classe, na aquisição do saber escolar. (LIBANEO, 1994)

Os regulamentos e exigências escolares também são vistos como causas dos problemas que a educação enfrenta. Logo de início há uma extrema falta de vagas, e a escola tem uma localização que dificulta o trajeto de ida e volta dos alunos. Depois temos os horários e os calendários estabelecidos, os quais são criticados por não atenderem a realidade da população.

Outro fator que dificulta a permanência e o bom desempenho dos alunos na escola é a despesa com materiais exigidos pela escola como: uniforme, livros, taxas, etc…, isso porque na maioria dos casos, os pais não podem comprar o que a escola exige. Segundo XAVIER (1994), “essa trágica constatação alerta-nos para a realidade de que uma população submetida a tal estado de pobreza necessita de boas escolas. Mas, antes disso ou concomitante a isso, necessita de emprego, salário, comida, vestimenta, etc”.

Geralmente, o rendimento escolar é considerado como se não existissem diferenças materiais e humanas em várias escolas, como se uma escola de periferia fosse exatamente igual a uma escola mais central ou até mesmo uma particular. Dessa forma, a complexidade do rendimento escolar é emitida como se o sucesso dependesse apenas do potencial da criança.

Diante disso, as taxas de evasão e repetência evidenciam a baixa qualidade do ensino e a insuficiência do sistema educacional de garantir a permanência do aluno, penalizando as crianças advindas das camadas populares

Não há como negar, que as condições materiais concretas de vida da maioria das crianças que freqüentam escolas públicas, são de fato extremamente precárias, condicionando, freqüentemente um quadro de alimentação deficiente, falta de atenção e de estimulação da família e de informações, ou seja, não contam com auxílio e até mesmo espaço apropriado para estudarem, enfim, convivem com todo um conjunto de privações que é comum às classes sociais menos privilegiadas. A situação sócio-econômica e cultural de origem da criança interatuando com suas condições internas iniciais (desenvolvimento intelectual), determina a existência de uma população diferenciada no que se refere às possibilidades de superar ou não as primeiras etapas da escolarização

Vale ressaltar, que a participação da família na educação dos filhos também pode ser determinante no sucesso ou fracasso escolar. Porém, a participação ativa dos pais durante o percurso escolar dos filhos remete para um modelo de família que não corresponde às condições necessárias de vida da maioria das crianças pobres, pois são famílias que geralmente a mãe ou pai tem pouco tempo livre e pouco ou nenhum conhecimento e disposição para fazer esse acompanhamento. Sendo assim, alunos oriundos dessas famílias raramente são motivados pelos pais a prosseguirem os seus estudos.

A escola tem além da função de ensinar, uma função social que garante o processo de cidadania ao homem. Imagina-se, portanto, a dimensão da função social da família por gerar o ser humano e dar-lhe sua cultura fazendo-o pertencer àquele determinado contexto. Os pais têm condições de educar os filhos com as qualidades fundamentais da vida – diálogo, respeito, responsabilidade, etc – ou negar-lhes essa qualidades. De uma forma ou de outra a escola deveria apenas influenciar no que já deveria está alicerçado.

Porém, o atual contexto é outro, pois a família atribui as mais variadas funções a escola, exceto a de contribuir na educação escolar dos filhos. Para muitos o papel da escola é o de sanar os problemas que a família já não consegue resolver com os filhos. Desta forma, a família transfere para escola obrigações que não são suas, pois é no ambiente familiar que acontece o primeiro espaço de educação, ou seja, é quando a criança adquire valores e limites indispensáveis ao convívio social. (CASASSUS, 2002)

A realidade educacional vem mudando consideravelmente com passar dos anos, de modo especial nos compromissos e responsabilidades do educando com suas atividades escolares e a participação dos pais nesse compromisso fica cada vez mais difícil. Com os novos modelos de estruturas familiares – pais divorciados, pais e mães estressados, mães chefe-de-família, pais solteiros – os filhos ficam sem o acompanhamento escolar, o que pode afetar a qualidade da educação escolar, pois o grau de participação dos pais é significativo para eficácia da educação escolar dos filhos.

“(…) a ausência dos pais nas reuniões convocadas pela escola, desinteresse dos pais frente às tarefas escolares dos seus filhos, autoritarismo dos pais nas práticas de criação infantil, pouca intervenção verbal e ausência de hábitos de leitura no lar são considerados variáveis independentes que poderiam responder por um baixo rendimento escolar. (PATTO: 1999;144)”

É relevante destacar a participação da família para o sucesso na vida escolar do aluno, porque é no lar que a criança permanece a maior parte de sua vida, junto com os pais interiorizam as primeiras formas de educação e relações sociais, as quais serão fundamentais para aquisição da educação formal. Então, se existe uma cumplicidade entre escola e família o processo educacional torna-se mais significativo, considerando que a vida na escola não pode está desvinculada da formação recebida pela família.

Contudo, levar em consideração a origem social do educando e ter participação da família na escola é de grande valia, pois do contrário será mais difícil chegar a um desenvolvimento integral na educação da criança. Sobre essa educação se faz necessária à participação ativa dos pais na vida escolar dos filhos e a contextualização do ensino, para que o processo educacional seja de maior qualidade e as duas partes envolvidas não percam nenhuma oportunidade de estarem presentes no desenvolvimento da criança.

1.3.2 RELAÇÃO PROFESSOR – ALUNO

O professor é peça fundamental no processo educacional, pelo papel que ele representa diante do aluno como educador e mediador de conhecimentos. Porém, ele é desvalorizado pelo sistema que não lhe dá condições necessárias para desempenhar satisfatoriamente esse papel e ainda é acusado pelo fracasso do ensino.

A realidade da sala de aula exige que o profissional da educação desenvolva habilidades que possibilitem uma melhor adaptação as novas culturas e aos novos padrões de conduta social, considerando que o educador ao longo de sua carreira de magistério se depara com realidades educacionais distintas. Não obstante, cada educador deve ter claramente definido sua postura nos diferentes contextos sociais em que se encontrar, pois a relação professor-aluno, na maioria das vezes, influencia ou determina o sucesso e a permanência do aluno na escola.

Existe uma dificuldade peculiar dos professores que lecionam para crianças carentes. O professor durante sua formação idealiza o tipo de aluno que irá encontrar na sua sala de aula – um aluno comportado, pronto para ouvir, com facilidade para aprender, etc – porém, ao chegar em uma sala de aula de áreas periféricas encontra uma realidade com a qual não se preparou para lidar – alunos sujos, aparentemente desinteressados, desorganizados, desconcentrados, mal alimentados, etc – e tem que reaprender a ensinar.

“Os professores estabelecem padrões, níveis de desenvolvimento escolar, tendo como referência o aluno considerado ‘normal’, estudante com melhores condições socioeconômicas e intelectuais visto como modelos de aluno estudioso. Crianças que não se enquadram nesse modelo são consideradas carentes, atrasadas, preguiçosos candidatando-se a lista que o professor faz dos prováveis reprovados” (LIBÂNEO, 1994: 41).

Em geral, a idéia que se tem, é que para ser professor no sistema de ensino público basta tomar um certo conteúdo, preparar-se para apresentá-lo; ir para sala de aula tomar conta de uma turma de alunos e efetivar o ritual da docência: apresentação dos conteúdos, controle dos alunos, avaliação da aprendizagem, disciplinamento, etc. No entanto, a realidade da sala de aula exige uma adaptação de sua prática educativa, pois o professor se defronta com crianças que possuem muitas experiências e conhecimentos que devem ser aproveitados durante o processo de ensino aprendizagem. Sendo assim, é de suma importância uma constante adequação das propostas curriculares, para que atendam as necessidades e as características de sua clientela.

“Pensar que é possível a realização de tal trabalho em que o contexto teórico se separa de tal modo da experiência dos educandos, do seu contexto concreto, só é concebível a quem julga que o ensino dos conteúdos se faz indiferentemente e independentemente do que os educandos já sabem a partir de suas experiências anteriores a escola.” (FREIRE, 2003:98)

Uma boa relação professor-aluno é importante para criar climas de atenção e concentração sem que se perca a alegria. As aulas tanto podem inibir o aluno quanto fazer que atue de maneira indisciplinada.

A relação professor-aluno poderá ser positiva de apoio ao aluno quando o relacionamento é afetuoso e cordial. Neste caso, o aluno sente segurança, não teme a postura do professor, seu nível de ansiedade mantém-se baixo e ele pode trabalhar descontraído, criar e render mais intelectualmente. Porém, se o aluno teme constantemente a postura do professor, o relacionamento entre eles é permeado de hostilidade e contraste, então o desempenho em sala de aula poderá ser negativo, pois neste caso, há o aumento da ansiedade do aluno diminuindo sua capacidade de percepção, raciocínio e criatividade.

A relação professor-aluno que acontece em contextos distantes, no que se refere a realidade da prática docente e a realidade do educando, se resume em duas fases distintas que podemos chamar de seleção e exposição. Na primeira etapa o professor seleciona o conteúdo, organiza e sistematiza didaticamente para facilitar o aprendizado dos alunos. Depois disso, faz a exposição, isto é, a demonstração dos seus conteúdos. E o que irá ocorrer daí para frente com o aluno não é problema dele, o aluno que deverá se encarregar de memorizar as informações por ele transmitida.

“O professor passa a matéria, o aluno recebe e reproduz mecanicamente o que absorveu. O elemento ativo é o professor que fala e interpreta o conteúdo. Os alunos ainda que respondam o interrogatório do professor e faça exercícios pedidos, têm uma atividade muito limitada e um mínimo de participação na elaboração dos conhecimentos” (LIBANEO:1994,78)

Geralmente, alguns professores optam por assumir uma postura autoritária, acreditando que deixando claro esta hierarquia seus alunos irão respeitá-lo incondicionalmente. Esse profissional se impõe por seu recurso de poder, intimida seus alunos para assim garantir a atenção e ministra suas aulas sem se importar que haja educandos que não estão acompanhando. E se na avaliação esses alunos não obtiverem resultados satisfatórios, ou seja, não se enquadrarem nos seus critérios de avaliação, o professor se exime de toda responsabilidade culpando os alunos pelo fracasso no processo de ensino-aprendizagem.

O professor que concebe o ensino como uma simples transmissão de conteúdo, distancia seus alunos da aquisição do conhecimento, privando-os de desenvolver suas potencialidades e habilidades. Uma vez que, o professor desconsidera alguns aspectos inerentes do aluno – valores, cultura, expectativas, objetivos, medos, etc – os mesmos terão uma percepção negativa sobre a aquisição do saber.

Os métodos de ensino, também podem prejudicar a aprendizagem. Se o professor for autoritário, não permitirá que os alunos se manifestem, participem e aprendam por si mesmos, permitirá apenas que recebam somente o que o professor lhes dá para desenvolverem mecanicamente nas provas. Essa situação pode ser prejudicial à aprendizagem, pois contribui para passividade e dependência não permitindo que os alunos se desenvolvam de forma independente e criativa, que aprendam a decidir por sua conta própria, reconhecendo os problemas e contribuindo espontaneamente para a sua solução.

“O professor não apenas transmite uma informação ou faz pergunta, mas também ouve os alunos. Deve dar-lhe atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a expor opiniões e dar respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As respostas e as opiniões dos alunos mostram como eles estão reagindo à atuação do professor, às dificuldades que encontram na assimilação dos conhecimentos, servem, também, para diagnosticar as causas que dão origem a essas dificuldades” (LIBANÊO: 1994;250)

È de suma importância que o professor tenha consciência de que ele e seus alunos estão em ângulos opostos. Por outro lado, por maior que seja sua capacidade, seu conhecimento e sua informação, ele não deve se vangloriar desta hierarquia.

A relação entre professor-aluno deve acontecer em um clima que favoreça situações em classe nas quais o aluno se sinta à vontade para aprender e também expressar seus sentimentos, já que, o professor de uma criança tem grande importância na atitude futura desse educando, não só no desempenho durante a aprendizagem, mas tanto nas suas relações com sucessivos professores e até mesmo nas relações sociais.

“O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca.” (FREIRE:1996; 66)

O professor precisa ter sempre em mente que o aluno é um ser humano comum, com altos e baixos, com medos, problemas, aspirações e desejos a realizar. Nem todos os dias o aluno está disposto a ouvir em silêncio, a acompanhar as atividades prescritas pelo professor. O aluno é imperfeito como todas as pessoas, erra como todos, mas, como todos também têm grandes potencialidades a desenvolver. Para isso, precisam de apreço, aceitação e confiança por parte do professor. O aluno que se sente aceito e merecedor da confiança do professor manifesta entusiasmo e interesse na realização das atividades escolares, tendo então uma maior possibilidade de aprovação e permanência na escola.

Na relação professor-aluno é fundamental que os professores sejam comprometidos com sua profissão, preocupados com a produção do conhecimento em sala de aula e que desenvolvam com seus alunos um respeito mútuo pelo saber. É também imprescindível que os educadores respeitem o conhecimento que o aluno adquiriu através de suas experiências de vida, e se importe em contextualizar os conteúdos a serem transmitidos, pois é importante que a realidade escolar não esteja desvinculada da realidade de mundo vivenciada pelos discentes.

“(…) é preciso adaptar a atividade educativa as necessidade e possibilidades do aprendiz. (…) Somente um ensino de qualidade – no qual um professor interessado e bem formado maneje o conteúdo do ensino levando em conta as especificidades ao alunado, tanto no se refere às características de sua faixa etária quanto às experiências culturais – pode garantir a eficiência da escola” (PATTO: 1999;118)

Os métodos didáticos devem possibilitar, a livre participação do aluno, a compreensão e assimilação dos conteúdos, vínculos entre os conteúdos práticos e as experiências da vida prática, a independência de pensamento e a criatividade, contribuindo assim, para aprendizagem e permanência do educando na escola. Antes de ser um grande conhecedor de métodos o professor deve ser um intelectual comprometido com o aspecto político da educação, mas acima de tudo um intelectual que tenha consciência da especificidade do seu trabalho, ou seja ensinar. Para saber ensinar é preciso ter domínio do conhecimento básico, e assim, poderá contribuir para o sucesso escolar dos seus alunos.

Geralmente, quando se fala sobre uma boa relação entre professor e aluno, é comum referir-se aos aspectos emocionais, isto é, valorizar os vínculos afetivos existentes entre ambos. Porém, essa afetividade não pode ser confundida com amor entre pais e filhos, visto que pode existir uma identificação maior por um ou outro aluno, além da possibilidade de interferir de forma negativa no processo de ensino-aprendizagem.

“(…) A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O que não posso obviamente permitir é que minha afetividade interfira no cumprimento ético do meu dever de professor no exercício de minha autoridade. Não posso condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao maior ou menor querer bem que tenha por ele.” (FREIRE: 1996; 141)

No cotidiano escolar existem vários fatores que influenciam no sucesso ou fracasso escolar dos alunos. Entre esses fatores é relevante destacar essa relação entre professor e aluno, por isso, é preciso que haja uma igualdade básica,em que o professor possa também aprender com o aluno, cada um diferenciando-se em seu conhecimento e dispondo de novas descobertas para a produção da aprendizagem. Nessa relação é importante que o professor busque um aperfeiçoamento constante, tenha um carinho especial pela profissão que abraçou e saiba utilizar sua autoridade e afetividade com moderação e imparcialidade.

2. UMA REFLEXÃO SOBRE O FRACASSO ESCOLAR NA E.M.E.F. FILOMENO DE SOUZA REIS

O objetivo deste capítulo é apresentar através de uma reflexão descritiva as causas e efeitos do fracasso escolar (evasão e repetência) na Escola Municipal de Ensino Fundamental “Filomemo de Souza Reis”, a partir dos dados coletados através da pesquisa realizada na referida escola.

2.1 GÊNESE DA PESQUISA

A fim de atender o objetivo dessa investigação que se propõe elucidar as possíveis causas e efeitos do fracasso escolar (evasão e repetência) na Escola Municipal de Ensino Fundamental Filomemo de Souza Reis, consideramos necessário, além de coleta de dados através de técnicas como observações e entrevistas, realizarmos uma pesquisa de caráter etnográfico para nos inserirmos na realidade pesquisada (observador-participante) com a finalidade de obtermos informações implícitas e significativas para o resultado dessa pesquisa.

Em nossa pesquisa consideramos importante observar e ouvir técnicos, professores, alunos e pais, relatando suas experiências no dia-a-dia da escola, destacando seus problemas, expectativas e a condução desse cotidiano. Através de conversas formais e informais foi possível confrontarmos com diferentes concepções e situações que foram relevantes para alcançarmos o objetivo de nossa investigação.

A E.M.E.F Filomemo de Souza Reis foi escolhida como campo de pesquisa, porque após dados que coletamos na Secretaria Municipal de Educação, constatamos um elevado índice de alunos evadidos e repetentes nesta escola entre os anos de 2000 a 2005, ressaltamos que os dados de 2006 não foram coletados porque os relatórios do referido ano não haviam sido concluídos, na ocasião da pesquisa.

Um dos fatores que possibilitaram a concretização da nossa pesquisa foi a aceitação e a colaboração dos informantes, pois todos, dentro de suas possibilidades, se dispuseram de forma espontânea e demonstraram compromisso desde o primeiro contato e permaneceram contribuindo até o final da investigação.

É relevante ressaltar, que apesar de existir a possibilidade de durante a pesquisa ou na análise dos dados coletados trazermos à tona características de um trabalho ineficiente da escola e dos professores diante da problemática estudada, em nenhum momento houve resistências por parte dos informantes, pelo contrário, se disponibilizaram totalmente acreditando que este trabalho os ajudaria a conhecer e compreender melhor o interior da realidade estudada, e assim buscar meios que possibilitem a redução dos índices de evasão e repetência na escola.

A amostra foi definida na segunda semana de pesquisa, início do mês de março/2007. Nas duas primeiras semanas de visitas tivemos contato com o ambiente, corpo técnico e administrativo, professores e alunos. Fizemos algumas observações em sala, e nos propusemos a compreender como a escola está organizada, perceber qual a clientela atendida pela escola e em que contexto sócio-histórico esta clientela está inserida.

O primeiro critério que utilizamos para definir a amostra, foi verificarmos junto a secretaria da escola a relação de alunos matriculados que em anos anteriores haviam evadido ou repetido, o que resultou em uma lista de 68 alunos, sendo que conseguimos conhecer e entrevistar apenas 58 alunos durante o período que permanecemos na escola, em virtude de alguns terem evadido, alguns foram transferidos e outros não tiveram disponibilidade de tempo para participarem das entrevistas.

Outro critério utilizado foi selecionar os professores que nas suas classes tivessem alunos que evadiram ou repetiram em anos anteriores. Em um primeiro momento utilizaríamos como critério, selecionar os professores que lecionavam há bastante tempo na E.M.E.F. Filomeno de Souza Reis, pressupondo que teríamos informações mais concretas a cerca do fenômeno estudado.

O último critério utilizado, foi escolher os pais que tivessem filhos com histórico de evasão ou repetência. Para isso contamos com a colaboração da direção da escola, que por meio de uma circular convocou os pais, que se enquadravam nesse critério, para uma reunião da qual somente 15 compareceram. Este quantitativo é justificado pela realidade enfrentada pela maioria dos pais das crianças da E.M.E.F Filomemo de Souza Reis, considerando que boa parte trabalham durante o dia, ficando assim impossibilitados de participarem da maioria das reuniões que são convocados.

Além das entrevistas dirigidas utilizamos conversas informais para obtermos informações pela diretora, secretário geral, auxiliar de secretaria, coordenadora pedagógica professores, alunos e pais, as quais foram registradas nos relatórios de atividades diárias

2.2 CONTEXTO SÓCIO-HISTÓRICO DA E.M.E.F. FILOMENO DE SOUZA REIS

A Escola Municipal de Ensino Fundamental Filomeno de Souza Reis, localizada na avenida Pará, no Bairro São José, é uma das 8 escolas de ensino fundamental (1ª a 4ª série), da zona urbana, que em 2007 integram a rede municipal de ensino em São Félix do Xingu/PA.

Em busca de possíveis respostas sobre as causas do fracasso escolar (evasão/repetência) na E.M.E.F Filomeno de Souza Reis, considerando a dinâmica das inter-relações e a importância de um contexto peculiar que pode ser observado numa escola de um bairro periférico, fomos ao encontro de um bairro, das pessoas que o integram e de uma escola. Começamos pelo bairro.

Segundo informações fornecidas por pessoas que moram aproximadamente há 20 anos nesse bairro, o surgimento do bairro São José se deu por volta de 1985, com a ocupação de espaços cada vez mais distantes da cidade. Esta ocupação foi inicialmente feita mediante “grilagem” (sistema utilizado para apossar-se de terras alheias.

Quanto ao do nome do bairro, os informantes declararam desconhecer a sua origem, e em pesquisas realizadas nos arquivos da Prefeitura Municipal não encontramos informações detalhadas a respeito da origem do bairro (ano, nome, primeiro morador, etc.).

Atualmente, a maioria das pessoas que moram no bairro São José são de origem pobre, carente e trabalhadora, sendo geralmente pessoas vindas da zona rural. As famílias são numerosas, sendo que a maior parte é constituída de 5 a 8 membros e o número médio de filhos por família fica em torno de três (03). A maioria dos pais de família são trabalhadores rurais e pescadores, fato que aumenta a necessidade de diversos pais se deslocarem constantemente do bairro, principalmente no período da entressafra, enquanto a maioria das mães permanecem em casa cuidando dos afazeres domésticos e dos filhos. Porém, em alguns casos, a necessidade de arcar ou complementar no orçamento da casa faz com que algumas mães trabalhem fora como empregadas domésticas, diaristas, serventes e lavadeiras, em bairros afastados da região. São poucas as famílias que contam com ajuda de alguns de seus membros no orçamento doméstico, além do pai e da mãe, quando ocorre essa colaboração, geralmente, são dos filhos mais velhos.

Apesar da precariedade ocupacional e salarial, boa parte das famílias residem em habitações próprias, porém muitas são pequenas, sem conforto, inacabadas, de madeira, de tijolos, de barro com madeira e de lonas e palhas.

A estrutura urbana oferece luz elétrica . O bairro não conta com um posto de saúde e o atendimento médico, havendo um posto de saúde no centro, e essa distância dificulta o acesso para a população do bairro São José.

Não é comum no bairro a existência de empresas, sendo assim a população, que não trabalha na zona rural, procura emprego nos bairros mais centrais da cidade. O bairro não possui área de recreação e lazer para as crianças e jovens, o que contribui para um estado de instabilidade social. Na falta de praças, as ruas e terrenos baldios tornam-se a principal área de lazer para as crianças.

Nos dados coletados na secretaria da E.M.E.F Filomeno de Souza Reis e na Secretaria Municipal de Educação não constam datas precisas sobre o ano de fundação. Conforme informações obtidas na secretaria da E.M.E.F Filomeno de Souza Reis sobre seu histórico de fundação, a mesma foi fundada por iniciativa da Prefeitura Municipal.

A E.M.E.F Filomeno de Souza Reis é a única existente no Setor São José. A escola contrasta com as pequenas casas e barracos que a circundam. De estilo simples e padronizado o prédio da escola é constituído por 09 salas de aula, 01 sala de leitura, a secretaria, 01 sala de informática (com 20 computadores), a secretaria e a direção dividem o mesmo espaço, 01 cozinha, 01 almoxarifado, 03 banheiros e pátio.

Com relação aos recursos técnicos e pedagógicos a escola atualmente dispõe de poucos equipamentos para dar suporte às suas atividades educacionais. Conta com uma televisão, um aparelho de DVD, um computador, uma impressora (utilizados somente pela administração) aparelho de som com acessórios e caixas acústicas e um mimeógrafos. A parte da administração está bem instalada para atender as suas necessidades básicas e a cozinha conta com os equipamentos necessários para a execução de suas atividades.

A escola funciona com aproximadamente 820 alunos, com uma média de 34 alunos por sala, divididos em 24 turmas nos turnos matutino e vespertino e noturno, com faixa etária entre 7 e 60 anos, oferecendo também Educação de Jovens e Adultos (EJA) 1ª, 2ª, 3ª e 4ª etapa no período noturno. A mesma dispõe de 25 professores, sendo que 08 possuem nível superior (História e Pedagogia) e uma coordenadora pedagógica. A administração é composta pela diretora, 01 secretário, 04 auxiliares de secretaria e 08 serventes.

A clientela da escola Filomeno de Souza Reis não difere das demais que são atendidas pelas outras escolas públicas situadas nas áreas periféricas do município de São Félix do Xingu, pois, a maioria das crianças atendidas pela escola são de origem humilde com baixo poder econômico, e uma parcela vêm de lares com novos modelos de estrutura familiar (pais divorciados, pais e mães estressados, mães chefe-de-família, pais solteiros e etc).

Diante do que encontramos nessa comunidade, estudar para uns, torna-se a melhor forma de estarem em um ambiente onde encontram um apoio para os auxiliarem na formação de seu caráter.

A escola mantém um bom relacionamento com a comunidade, onde os pais são participativos, na medida do possível, nas questões das necessidades da escola, comparecendo as reuniões quando são solicitados.

2.3 ANALISANDO A REALIDADE EDUCACIONAL DA E.M.E.F FILOMENO DE SOUZA REIS SOB O CONTEXTO DA EVASÃO E REPETÊNCIA 

No intuito de fazermos uma análise mais consistente sobre as causas e conseqüências do fracasso escolar, evidenciado pelos altos índices de evasão e repetência na E.M.E.F Filomeno de Souza Reis, acreditamos ser necessário apresentarmos o mapa estatístico referentes aos anos de 2000 a 2005, que permitem perceber que essa escola sempre apresentou um número expressivo de alunos evadidos e repetentes, sendo importante esclarecer que esse fenômeno é um problema enfrentado principalmente pelas escolas que atendem crianças oriundas das camadas populares.

Baseado nas informações demonstradas pelo gráfico abaixo, podemos constatar que os percentuais de alunos evadidos e repetentes oscilam constantemente, portanto, pode-se observar que o quantitativo de alunos evadidos são consideravelmente superiores aos dos alunos repetentes, exceto no ano de 2001.

A partir dos dados coletados no mapa estatísticos dos anos 2000 a 2005, foi possível obtermos outra informação que consideramos importante para a análise que faremos sobre evasão e repetência, as maiores taxas de evasão e repetência concentram-se na primeira série, com exceção da taxa de evasão do ano de 2001

Os dados quantitativos apresentados, apesar de serem indispensáveis a nossa pesquisa, pois através deles temos uma base concreta e geral sobre o rendimento dos alunos, não são suficientes para elucidarem as possíveis causas e os efeitos da evasão e repetência, sendo imprescindível uma análise qualitativa dos fatores pertinentes ao fenômeno estudado.

Consideramos importante perceber nas observações e nos relatos dos professores as experiências e conhecer as suas concepções enquanto docentes, sobre as possíveis causas que contribuem para a produção do fracasso escolar.

Quando solicitados a informar como trabalham as diversidades de níveis de aprendizagem nas suas aulas os professores disseram que:

Trabalho conforme a necessidade de cada um, na maioria das vezes eu trabalho com atividades diferentes até todos se encontrarem em um mesmo nível. Aqueles que se desenvolvem mais rápido eu aplico tarefas mais difíceis e o que tem mais dificuldades eu aplico até tarefas de coordenação motora. (Professor 1).

Quando eu vejo que as crianças não conseguem acompanhar o conteúdo programático eu passo a atividade programada para as crianças que já estão conseguindo executá-la, e para as crianças que não estão eu aplico um trabalho de acordo com a dificuldade. Porém e muito difícil fazer esse trabalho diversificado, principalmente pelo pouco tempo disponível e pelo número de alunos. (Professor 2).

Não é muito fácil. Na minha turma de 30 alunos tenho aproximadamente dez alunos que não estão no nível da série, mas eu não posso falar para os colegas e muito menos para eles. Então eu trabalho pedindo aos alunos que estão mais adiantados, devido às sucessivas repetências ou desistências, para auxiliarem os outros que tem mais dificuldade. (Professor 3).

Tento trabalhar de forma diferenciada com a criança, porém, não se pode deixar os outros de lado. Eu passo a mesma tarefa para todos e depois vou as carteiras dos que tem mais dificuldade e começo a trabalhar individualmente. (Professor 4).

Eu procuro estar trabalhando essas diversidades através de tarefas individuais, de reforço ou com o apoio da coordenação pedagógica. Com esse tipo de trabalho é possível perceber os avanços de alguns alunos no decorrer do ano, mas outros infelizmente não têm o desenvolvimento esperado. No entanto, quando eu leciono para uma turma superlotada fica inviável trabalhar essas diversidades. (Professor 5).

Todos os professores entrevistados afirmam que trabalham considerando as diversidades de níveis de aprendizagem dos seus alunos. Os professores (1) (2) e (5) procuram trabalhar com atividades diferenciadas que atendam as dificuldades de cada criança, apesar desse trabalho exigir mais dedicação e envolvimento do professor.

Considerando a informação acima, é importante ressaltar que o ato de ensinar vai além da mera obrigação burocrática de repassar conteúdos programáticos e cumprir exigências pré-estabelecidas, educar exige primeiramente o compromisso com o educando.

O professor precisa ter a sensibilidade para reconhecer seus alunos como seres singulares, dessa forma saberá identificar os problemas individuais que dificultam o desenvolvimento dos alunos e poderá desenvolver um trabalho que contribua para o sucesso escolar dos mesmos.

Quando solicitados a informar quais os casos mais freqüentes de problemas relacionados ao comportamento na sala de aula, os professores responderam que:

A agressividades dos alunos. Eles se batem e brigam, chegando até a se machucarem na sala de aula. Acredito que eles aprendem essas atitudes na rua e na televisão, e em alguns casos os meninos recebem a orientação dos pais para agirem com a força física se alguém os provocarem. Eu fico em uma situação delicada, tento contornar conversando, mas às vezes não funciona. (Professor 1).

A falta de atenção e de interesse dos alunos. Acredito que esse comportamento pode ser atribuído as condições precárias de onde essas crianças vêm, principalmente por causa da falta de alimentação, porque eles ficam ansiosos para chegar a hora do lanche e não conseguem direcionar a atenção para as aulas. (Professor 2).

Falta de concentração na aula e o comportamento agressivo de alguns alunos. Eles se agridem verbalmente e fisicamente. (Professor 3).

O comportamento de alguns alunos que querem chamar atenção, e esta atitude não é comum só nos alunos que tem problemas como, dificuldades de aprendizagem ou a falta de acompanhamento dos pais, existem alunos bem desenvolvidos que têm esse problema. (Professor 4).

Indisciplina e preguiça de fazer as tarefas, são os problemas mais freqüentes, e quando isso se agrava eu chamo o pai ou mãe para tentarmos resolver. (Professor 5).

Segundo as falas dos professores os problemas mais freqüentes com relação ao comportamento dos alunos em sala de aula são a falta de atenção, desinteresse e o comportamento agressivo.

Os professores (1), (2), (3) e (4), mesmo com respostas diferentes, atribuem, de alguma forma o ambiente familiar como fonte desses problemas. O professor (5) apesar de não expor claramente na sua fala o ambiente familiar como origem dos problemas de comportamento, delega a família uma parcela da responsabilidade para solucioná-los.

No convívio escolar o professor tem a oportunidade de conhecer as famílias que fazem parte da escola através dos seus membros que ali a representam. Pelas crianças se conhecem um pouco de como acontece a relação entre pais e filhos, pois os alunos tendem a repetir com o educador e com os colegas situações vividas com seus pais ou responsáveis, agindo e reagindo de acordo com o exemplo dos pais, e no caso de pais ausentes podem agir conforme o exemplo mais próximo, seja o da rua ou o da mídia.

É relevante ressaltar a observação feita pela professora (2) a respeito das condições sócio-econômica de origem da criança, visto que confirma que alguns destes comportamentos, considerados como um problema, são apenas reflexo da vida cotidiana da criança, uma vez que privadas das condições básica para o seu desenvolvimento físico, psíquico e motor – alimentação, saúde, lazer, etc – certamente terá a sua aprendizagem comprometida.

Quando solicitados a informar sobre em quais situações à família é chamada à escola, os professores nos informaram que:

Na maioria das vezes, é por causa do comportamento das crianças e quando as atividades que eu passo para serem resolvidas em casa não estão sendo feitas, então eu mando um bilhetinho convocando o pai ou mãe do aluno para saber o que está acontecendo. (Professor 1)

Quando eu vejo que os alunos estão muito desinteressados, com muito desvio de atenção, quando voltam com as tarefas de casa sem fazer, quando não participam das aulas, quando estão faltando muito e quando o aluno falta o respeito com os colegas, diante dessas circunstâncias eu chamo os pais para conversar e pedir ajuda para tentar contornar a situação. (Professor 2).

Os pais dos meus alunos dificilmente vêm à escola, a não ser quando convocados pela diretoria da escola para participarem de reuniões. Eu gosto de fazer duas reuniões por semestre, a primeira quando inicia as aulas e a outra antes do período de avaliações. Não gosto de chamar os pais todos os dias para resolver problemas de alunos, eu gosto de resolver da melhor maneira possível dentro da sala de aula , até mesmo para garantir a confiança dos alunos. Motivo para chamar os pais e para levar aluno para secretaria, tem de sobra todo hora e todo dia, mas isso é estressante para mim e para meus alunos. (Professor 3).

Nas reuniões para receberem provas, nas datas comemorativas, para os pais verem as apresentações dos filhos, e quando o aluno está com muita dificuldade e eu não encontro uma solução chamo os pais para ouvir o que eles falam para me auxiliar. (Professor 4).

Nas datas comemorativas, nas reuniões pedagógicas, onde acontece a entrega de notas, nas palestras de educação e saúde. Quando o aluno está muito indisciplinado e relapso com as tarefas da escola, encaminho um documento convocando os pais. (Professor 5).

De acordo com as falas dos professores percebemos que além dos pais serem convocados para reuniões rotineiras de datas comemorativas e entrega de resultados, observa-se que a prática mais comum registrada nas entrevistas dos professores é que as chamadas feitas às famílias caracterizam-se como atendimento para resolver problemas de comportamento e baixo rendimento do filho.

Vale ressaltar que as falas dos professores evidenciam a credibilidade dada aos pais no que se refere a encontrar soluções para os problemas existentes no cotidiano escolar. No entanto, é importante que se faça desse momento à oportunidade de aumentar os vínculos com a família para uma melhor comunicação, a fim de prevenir possíveis situações desfavoráveis à aprendizagem e para encontrar soluções de problemas futuros, visto que a vida da escola é totalmente dinâmica e os problemas nem sempre esperam o momento oportuno para acontecerem. Diante disso, reafirma-se que o ideal seria primeiro conhecer a família, porém a maioria das realidades escolares quebram esta ordem.

Quando solicitados a informar se a falta de acompanhamento da família pode interferir no desenvolvimento afetivo e cognitivo do aluno, os professores nos responderam que:

Em primeiro lugar a maioria dessas crianças se desenvolvem lentamente, porque para crianças tudo que ela faz na escola é para mostrar para os pais, e se chegam em casa e os pais não se interessam pelo trabalho da crianças ela fica desmotivada, e por mais que eu incentive ela não se sentirá motivada para realizar as tarefas e não terá um bom relacionamento com os colegas. (Professor 1).

Quando o pai ou a mãe faz o acompanhamento da vida escolar do aluno, o processo de ensino aprendizagem é bem mais produtivo, porque o aluno se sente motivado e importante quando é elogiado pelos pais. O trabalho em conjunto com os pais tem resultados significativos. Os alunos que têm o constante acompanhamento dos pais são os melhores alunos dentro da sala de aula. Uma característica de muitas crianças que não tem essa atenção especial dos pais, é de estar o tempo todo tentando chamar a atenção da professora e dos colegas (Professor 2).

O acompanhamento do pai ou da mãe é fundamental para desenvolvimento dos alunos, porque as crianças sentem-se mais motivada, e a falta desse acompanhamento poderá resultar em seqüelas que dificultarão a sua formação plena, porque as crianças precisam de um alicerce familiar para amar e ter segurança . (Professor 3).

A falta de acompanhamento dos pais compromete o desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança. A maioria dos pais dos meus alunos trabalham fora, e quando chegam a noite em casa os filhos já estão dormindo, as crianças não tem ninguém que os ensinem as tarefas de casa, porque ficam sozinha o dia todo e esta falta de dialogo prejudica o desenvolvimento afetivo, já que o acompanhamento familiar favorece a expansão do círculo de amizade e o melhor relacionamento com os colegas. (Professor 4).

Além da escola os pais também têm o compromisso de educar, e é nessa relação que a criança busca segurança, apoio e carinho. E através do relacionamento familiar que ela desenvolve a sua afetividade. Se a criança não se sente importante nessa família, é lógico que isso vem interferir em todo os aspectos do seu desenvolvimento, por isso o acompanhamento dos pais está diretamente ligado ao sucesso escolar dos filhos. (Professor 5).

Segundo as respostas dadas pelos professores, a vida escolar e afetiva da criança é completamente afetada, na maioria dos casos, pela falta de acompanhamento dos pais. Nas respostas dadas pelos professores, todos concordaram sobre o prejuízo que os filhos têm por não poderem contar com a atenção dos pais.

Desse modo, a falta de diálogo, de segurança e de motivação dentre outros fatores, prejudicam consideravelmente o desenvolvimento cognitivo da criança. Estes fatores caracterizam-se pelo medo de expor suas idéias em sala de aula, por outro lado, podem estar refletidos pela auto afirmação, percebida facilmente pelos professores quando os alunos insistem em chamar atenção a todo momento, como afirma a professora (2).

A criança necessita crescer cercada de referenciais que lhes passem carinho, atenção e reconhecimento pelas suas atitudes. Isso, lhe traz a certeza de que é importante para os seus pais e demais pessoas a sua volta.

Assim, a criança precisa saber que pode contar com a família para o acompanhar, participando de sua vida educacional, pois a escola lhe proporcionará conhecimento e o despertará para comportamentos sociáveis e afetuosos, porém só a família o poderá torná-lo seguro e maduro para fazer os discernimentos necessários para a sua vida.

Quando solicitados a informar como os professores devem agir quando a família fica alheia a vida escolar dos filhos, os professores nos informaram que:

Tem que ser feito um trabalho mais específico, e que envolva todas às pessoas da escola, diretora, coordenadora e professores, em um trabalho de conscientização dos pais para a importância da educação dos filhos. (Professor 1).

Quando eu percebo que o pai ou a mãe não se interessa pela educação do filho, procuro compensar essa carência, sempre motivando-os, elogiando-os e dando carinho, tento mostrar a eles que são importantes para mim e para aos colegas. (Professor 2).

Aconselho os pais a conversarem mais com os filhos, pois acredito que o diálogo entre pais e filhos é capaz de resolver qualquer problema. (Professor 3).

Deve insistir constantemente nessa vinda dos pais ou responsáveis até à escola. (Professor 4).

A escola deverá buscar estratégias para envolver a família. Como exemplo cito a promoção de eventos que contribuam com a participação efetiva da família. (Professor 5).

Apenas o professor (2) respondeu que tenta compensar a ausência da família na vida escolar dos alunos motivando-os, elogiando-os e dando carinho, tentando mostrar que são importantes para ela e para os colegas. Na opinião dos outros professores observa-se que consideram necessária a participação efetiva dos pais na vida escolar dos filhos.

Apesar da atitude do professor (2) ser importante para proporcionar um clima favorável para uma boa relação entre professor e aluno e possivelmente um melhor desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, não será suficiente para resolver totalmente os problemas que têm origem no ambiente familiar, e que interferem de forma negativa na vida escolar dos alunos.

Por outro lado, diante dessa falta da participação dos pais é importante que se insista nessa aproximação família-escola. Porém quando não é possível, cabe ao professor assumir algumas atribuições que antes cabiam a família, com o objetivo de amenizar os problemas provenientes do ambiente familiar que acabam por refletir negativamente no ambiente escolar, sendo evidenciados nas relações interpessoais comprometidas e nas dificuldades de aprendizagem. Entretanto, nessa afirmação não implica dizer que o professor deverá assumir o papel do pai ou da mãe do seu aluno, tentando suprir uma carência afetiva cuja origem determina que será suprida necessariamente pelos pais, sendo assim cabe ao professor por meio do apreço e da aceitação conquistar a confiança dos seus alunos, mantendo sua postura de educador.

Quando solicitados a informar se já atenderam pais que demonstraram não saber o que fazer em relação ao filho e que atitude tomou frente a esse fato, nos disseram que:

Na minha sala tem um caso assim, o pai diz que já não sabe o que fazer, que bate e bate e não adianta, então eu sempre aconselho que bater não é a melhor forma de resolver o problema, pois acredito que o diálogo é a melhor maneira de lidar com as crianças. (Professor 1).

É o que mais presenciamos. O pai chega e fala que não sabe mais o que fazer com o filho e me pede que eu dê um jeito e se for preciso que eu o castigue. Nessas situações eu converso com os pais e esclareço que o papel do professor não e agredir ou castigar as crianças, explico a eles que a função do professor é transmitir o conhecimento para o aluno e cabe aos pais passar os valores básicos e essenciais para a criança. (Professor 2).

Eu falei mãe, a senhora colocou seu filho no mundo para educar, para amar, para ajudar, e não é porque você trabalha o dia inteiro que você vai abandoná-los, converse com eles, reconquiste a confiança e o respeito. (Professor 3).

Eu costumo conversar com os pais tentando mostrar que ele deve ter mais autoridade com o filho. Eu sempre converso muito com os pais sobre suas responsabilidades, mas eles não querem tomá-las para si. (Professor 4).

Procuro conversar com os pais, com o aluno e com a coordenação pedagógica para encontrarmos a melhor forma de resolver o problema. (Professor 5).

Pelas respostas dos professores, os pais que passam por dificuldades com os filhos sejam de ordem disciplinar ou não, correm o risco de recuar ao invés de enfrentar os problemas, vendo-se de repente, sem saber o que fazer. Todos os professores entrevistados já atenderam pais nessas condições e as suas orientações às famílias foram semelhantes.

Todos os professores chamaram a atenção para diálogo constante entre pais e filhos, demonstraram-se conscientes de que não podem assumir esse papel, acreditando que a família é a fonte mais provável para a solução dos problemas.

A ausência dos pais pode acarretar na redução da autoridade que os pais devem ter sobre os filhos, e conseqüentemente corre-se o risco da criança não reconhecer qualquer outra forma de autoridade, ficando indiferente às regras existentes em qualquer ambiente de convívio social. A criança não colocando em prática os valores indispensáveis ao convívio social poderá dificultar o trabalho do professor e prejudicar a sua aprendizagem, pois não terão noções de respeito e responsabilidade. Daí a importância dos pais terem naturalmente autoridade sobre os filhos, e se em alguns casos esta já não existir, os valores que estão adormecidos poderão ser resgatados através do diálogo, da aproximação e com bons exemplos.

Quando solicitados a informar como o professor deve agir e desenvolver seu trabalho quando tem freqüentemente alunos que não realizam tarefas de casa, que esquecem os livros e que não tem a família trabalhando junto à escola, nos responderam que:

Em primeiro lugar ter calma e paciência para contornar as situações adversas do cotidiano da sala de aula. Procuro trazer metodologias diferentes como não passar tarefa para casa. (Professor 1).

Por mais que o aluno esqueça o livro ou não faça a tarefa de casa eu sempre procuro incentivá-los a fazer aqui mesmo em sala, seja em grupo ou individualmente. (Professor 2).

É necessário, neste caso que o professor estimule ainda mais esta criança, assim como procurar saber o motivo pelo qual o aluno não está tendo a devida atenção e auxílio dos pais. (Professor 3)

O professor deve desenvolver um trabalho para conscientizar os alunos que a responsabilidade das tarefas de casa é dele, mas quando esses alunos não trazem as tarefas prontas o professor deve ensiná-las durante a aula. (Professor 4).

Nesses casos o professor deve fazer um trabalho que contemple as necessidades desses alunos, como passar menos tarefas para casa, e quando passar respondê-las no quadro no dia seguinte, e no caso do esquecimento dos livros os alunos podem estudar em grupo. (Professor 5).

Diante das respostas dadas pelos professores entrevistados observa-se que a maioria consideram que a melhor forma de lidar com essas situações é utilizando metodologias adequadas a realidade dos alunos.

O professor (3) enfatiza a importância de incentivar os alunos e a necessidade de conhecer os motivos que interferem no bom andamento do processo de ensino-aprendizagem. Enquanto o professor (4) valoriza um trabalho de conscientização para os alunos sobre responsabilidades que lhes cabe enquanto estudantes. Teoricamente é no convívio familiar que as crianças internalizam esse valor, no entanto quando a participação da família não é suficiente para as crianças aprenderem a serem responsáveis é fundamental que o professor os direcione.

Consideramos fundamental verificarmos também nesta pesquisa a existência de fatores externos (o universo familiar do qual a criança se origina, a escolaridade dos pais, a participação efetiva dos pais na vida escolar e o nível sócio-econômico) que podem influenciar na produção do fracasso escolar, a partir da observação da realidade da comunidade, das entrevistas e diálogos informais com os pais e com os alunos.

O grau de escolaridade dos pais pode ser apontado como um dos fatores externos que podem contribuir para a produção do fracasso escolar, conforme afirma FERREIRO (2000) “o analfabetismo dos pais está relacionado com fracasso escolar dos filhos”.

Dos pais entrevistados na E.M.E.F. Filomeno de Souza Reis apenas 6% das mães e 20% dos pais declararam-se analfabetos, no entanto, a maioria tem baixo nível de escolaridade, sendo que 46% dos pais e 80% das mães não concluíram o ensino fundamental, tendo cursado no máximo a 4.ª série. Na opinião desses pais esse fator interfere de forma negativa no bom desempenho escolar dos filhos, como relata a Sra. A “eu fico triste quando meu filho não consegue fazer a tarefa, mas eu não posso ajudá-lo”. Neste relato fica evidente o sentimento de impotência da mãe diante da impossibilidade de ajudar o filho diretamente, ensinando-o a fazer a tarefa. Nesses casos os pais considerando-se desprovidos de conhecimento mais amplo deixam de acompanhar e em algumas vezes não conseguem demonstrar interesse pela atividade escolar do filho, deixando a total responsabilidade para escola na execução de qualquer atividade escolar dos filhos.

Como confirma a fala do Sr. B “quando a tarefa de casa é muito difícil e minha filha não consegue responder, falo para ela levar para escola que a professora ensina”.

Nas falas dos pais entrevistados observamos que a concepção que têm sobre o acompanhamento da vida escolar dos filhos se resume em dois tipos de participação. A primeira é de estar ajudando diretamente na execução das tarefas escolares e a outra é estar presente nas reuniões rotineiras que a escola os convocam.

Geralmente, quando os pais não possuem um grau de escolaridade que viabilize a efetivação da primeira participação, na maioria dos casos, a atitude mais comum é distanciar-se da oportunidade de participar ativamente da vida escolar dos filhos, por não reconhecerem que existem outras maneiras de estarem presentes na vida escolar dos seus filhos, como o incentivo e a demonstração de interesse pelo seu desenvolvimento escolar, como fica evidente na fala da professora (1):

“O pai e a mãe podem ser analfabetos, mas se tirarem um pouco do seu tempo para sentar-se ao lado do seu filho para vê-lo fazer a tarefa de casa ou para perguntar como foi a aula, com certeza esta criança se sentirá mais motivada e isso fará uma grande diferença no seu desenvolvimento escolar”.

Percebe-se o outro modo de participação que completa a concepção que os pais têm sobre o acompanhamento da vida escolar dos filhos quando 60% dos pais entrevistados afirmam que fazem esse acompanhamento freqüentemente, ressaltando que participam de todas as reuniões que são convocados, datas comemorativas, entrega de resultados e para tratar de assuntos referentes ao comportamento dos filhos. Como afirma a sra. C “faço sempre esse acompanhamento, nunca deixo de vir à escola quando meu filho leva um bilhete para casa”.

Desse modo a relação família-escola perde uma característica essencial, a continuidade, que se refere à parceria recíproca e voluntária entre pais e a escola, objetivando o sucesso escolar das crianças. Se não existir essa co-participação à relação família-escola acontecerá de forma fragmentada, permanecendo a vida escolar e a vida familiar em âmbitos totalmente distintos, e essa relação será formalmente consolidada mediante as convocações que a escola emite para os pais.

O ideal seria que a parceria entre a escola e a família não existisse somente nos momentos difíceis vividos pelos alunos, mas sim em todas as situações, pois é importante que percebam o quanto podem encontrar apoio seja no convívio familiar ou escolar.

Outro fator externo que pode influenciar nos elevados índices de evasão e repetência na E.M.E.F. Filomeno de Souza Reis, percebidos em nossas observações da realidade da comunidade e nas entrevistas e conversas informais com os pais, são as condições socioeconômicas evidenciadas pelas condições materiais e pelas atividades profissionais da maioria dos pais entrevistados.

As precárias condições socioeconômicas presentes na maioria das famílias das camadas populares determinam as suas prioridades, sendo geralmente aquelas que têm necessidade de serem obtidas a curto prazo, como a alimentação e a saúde. Nessa realidade a educação se torna inviável como prioridade, visto que é um investimento que exige tempo e o retorno é a longo prazo, e mesmo que essas famílias a considere fundamental não podem priorizá-la em detrimento de suas necessidades imediatas.

Em busca de oferecer a família uma vida sem muitas privações e diante da falta de escolaridade, que se torna um empecilho para encontrarem atividades profissionais na zona urbana, 60% dos pais entrevistados trabalham em atividades rurais.

Em virtude dessa realidade, muitas famílias deslocam-se constantemente para diferentes locais da zona rural a procura de emprego, e como conseqüência os filhos abandonam os estudos – principalmente a partir do segundo semestre – no restante do ano letivo e retornam no ano seguinte, e em alguns casos interrompem apenas no período da entressafra, retornando em seguida para prosseguirem os estudos, o que ocasiona, na maioria dos casos, a repetência, pois alguns alunos não conseguem acompanhar o nível de aprendizagem do determinado período do ano letivo.

Nessas condições a educação formal dos filhos termina ficando em segundo plano, tendo em vista a necessidade de levarem os filhos para o campo, por não terem onde e com quem deixa-los na cidade, principalmente quando os filhos são muito pequenos e também porque precisam da mão de obra dos filhos na lavoura. Como afirma a sra. D.

“Preciso tirar meu filho da escola para levar para a roça para ele me ajudar. Bem que eu não queria tirar ele da escola, mas quando chega o tempo de cortar, bater e secar o arroz todo mundo lá de casa tem que ajudar meu marido”.

Apesar da necessidade dos pais tirarem seus filhos da escola durante o ano letivo, 73% dos pais entrevistados consideram muito importante a educação formal para o futuro dos filhos. Nas entrevistas e nas conversas informais com os pais a concepção de educação ficou evidente como forma de ascensão social, uma vez que o desejo dos pais é que os filhos não passem pelas mesmas dificuldades e privações que passaram por não terem um grau de instrução que os permitissem ter acesso a outras oportunidades profissionais que lhes garantissem melhores condições de vida, como expressa a sra. E :

“Eu acho a escola muito importante, porque eu não quero que meus filhos passem o que eu e meu marido passamos, mas a nossa condição não nos possibilita deixar os meninos todo tempo na escola. Quando meu marido arruma um emprego temos que levar eles porque não tenho com que deixar, então todo mundo tem que ir para a fazenda para trabalhar. Isso acaba prejudicando, pois dos tempos que meu filho mais velho estuda já era para ele está na 7ª série, e ele está na 3ª correndo o risco de não passar de ano, por que o pai dela arrumou um serviço em uma fazenda longe daqui, e está doido para nós mudarmos de novo”.

Nas entrevistas solicitamos aos pais, cujos filhos tem um histórico de várias repetências, a informarem se conheciam os motivos das sucessivas reprovações e 60% dos pais atribuíram como causa a falta de interesse do filho, enquanto 40% atribuíram a outros motivos, como conflitos familiares (separação dos pais, atritos com padrastos ou madrastas, discussões pela guarda da criança entre mãe e avó e etc), evasão na época da entressafra, grau de escolaridade dos pais, relação professor-aluno (metodologia) e falta de acompanhamento da mãe (26% das mães entrevistadas não têm companheiros e por esse motivo trabalham em atividades domésticas o dia todo para arcar com o orçamento doméstico).

Os dados acima apresentados demonstram que a maioria dos pais não reconhecem que podem existir outros fatores que contribuem para o insucesso escolar dos filhos e que a falta de interesse dos filhos pode ser uma conseqüência das precárias condições socioeconômicas e das relações interpessoais comprometidas.

Observamos que os 60% dos pais que atribuíram como única causa da repetência a falta de interesse dos filhos todos possuem um baixo grau de escolaridade, tendo cursado no máximo a 2ª série do ensino fundamental. Esse motivo pode influenciar na construção da concepção sobre esse fato, pois poderá ser formada a partir do que para eles está evidente, o filho que tem preguiça, desatento, que não gosta de ir para a escola e nem responder as tarefas.

A partir dessa concepção é importante destacar que a educação informal – adquirida no cotidiano – é fundamental para a aquisição de experiências e valores culturais, cuja construção do conhecimento será determinada pelo meio onde são adquiridas. No entanto, a educação formal – adquirida na escola – proporciona ao indivíduo um conhecimento mais elaborado, que possibilita ampliar as concepções sobre os mais diversos assuntos de forma sistematizada.

Nas entrevistas e nos diálogos informais com os alunos, foi possível uma maior aproximação para uma melhor compreensão da realidade estudada, pois a partir da visão dos alunos percebemos como algumas conseqüências do fracasso escolar pode comprometer, em alguns casos, o desenvolvimento do processo de ensino aprendizagem.

Dos alunos entrevistados, 33% já tiveram que abandonar os estudos por algum motivo, desses, 20% também repetiram em anos anteriores, enquanto 67% possuem apenas histórico de repetência, sendo que 80% dessas repetências ocorreram na primeira e/ou segunda série.

Dos alunos com histórico de evasão, 90% informaram que o motivo que os levaram a interromper os estudos em um determinado período foi à necessidade de deslocarem-se para zona rural para ajudarem os pais no período da entressafra. Essa informação reafirma as causas da evasão apresentadas anteriormente pelos pais e pelos professores.

Outro fator que pode contribuir para o aumento das taxas de evasão desses alunos, são os desníveis das idades, variando de 07 a 16 anos na mesma sala. Em alguns casos, os alunos maiores não se identificam com o ambiente e com as metodologias, sendo comum ficarem isolados.

Como observamos as maiores taxas de repetência concentram-se na primeira e na segunda série. As crianças quando vão para escola ainda pequenas, necessitam de maior atenção e cuidados, dependendo dos pais a todo momento, inclusive na organização do material escolar, para arrumá-las e para levá-las à escola. Podemos observar essa dependência na fala do aluno A “eu repeti a 1.ª série duas vezes porque eu não conseguia vir para a escola sozinho, e as vezes minha mãe não tinha tempo de me trazer porque ela trabalha”.

Sendo assim, se os pais são ausentes, não podendo por algum motivo dar essa atenção especial aos filhos, esses alunos poderão não alcançar o rendimento esperado, pois ficarão sem incentivo e não terão meios que os permitam compreender o quanto é importante ter responsabilidade com sua vida escolar.

Apesar de todos os alunos terem atribuído a si mesmo a culpa do seu insucesso escolar, em virtude da falta de interesse, da falta de atenção e do seu comportamento em sala de aula, foi possível percebermos outro fator que influencia de forma negativa no desempenho escolar, implícitos na fala desses alunos, a falta de acompanhamento da família. Como podemos observar na fala do aluno B “eu já aprendi fazer minhas tarefas de casa sozinho, só quando é difícil que eu trago para escola para a professora me ajudar”

Quando solicitados a informar sobre quem os ajudam nas tarefas escolares, 60% dos alunos responderam que fazem sozinhos, seguidos de 18% com ajuda dos irmãos, 12% realizam com o auxílio da mãe e 10% com ajuda de outras pessoas da família ou vizinhos.

Algumas crianças nunca tiveram seus pais presentes na sua vida escolar, esse motivo as impossibilitam de reconhecerem que a família deve fazer parte do seu cotidiano escolar, visto que, não podem sentir falta de algo que nunca tiveram. Diante dessa situação, a visão que as crianças têm é que a educação formal é de responsabilidade sua e da professora, e como, para eles, a professora sempre cumpre efetivamente o seu papel, o que resta e culpar-se por seu insucesso.

Em alguns casos, as crianças atribuem a si mesmo a culpa de suas reprovações por ouvirem constantemente dos familiares que são incapazes de aprender ou que são desinteressados. A criança que não tem o acompanhamento e a criança que freqüentemente é rotulada pela família ou pelas pessoas próximas, poderá ter sua auto-estima afetada, e conseqüentemente o seu desenvolvimento cognitivo comprometido, pois, ficarão desmotivadas e se sentirão inseguras.

O aluno deve ser sempre o centro do processo de ensino aprendizagem, se ele não consegue avançar com sucesso rumo a uma aprendizagem significativa, é importante que todos os envolvidos neste processo (família e escola) percebam onde está a origem do problema, e a partir daí trabalhar em parceria para assim ajudar na superação do problema.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação escolar (educação formal) como processo complexo que acompanha o indivíduo ao longo de sua vida é permeada de múltiplas experiências e várias fontes de aprendizagem, considerando que o ser humano está inserido em um contexto sócio-histórico-cultural, onde a vida torna-se essencialmente educativa.

Tratando-se de escolas públicas, que atendem crianças de área periférica, é importante reconhecer características peculiares presente nessa realidade, como o fator social. Dessa forma, os problemas enfrentados pela educação escolar devem ser estudados levando em consideração a dinâmica da realidade na qual está inserida, para assim buscar as possíveis fontes geradoras dos problemas do cotidiano escolar.

Partindo desse princípio, identificamos através desta pesquisa as possíveis causas e conseqüências do fracasso escolar na E.M.E.F. Filomeno de Souza Reis, evidenciado pelos altos índices de evasão e repetência, considerando necessário verificarmos como esse fenômeno é produzido a partir da estrutura organizacional da escola, da relação professor-aluno, da origem social e da relação familiar e suas implicações no processo de ensino-aprendizagem.

A estrutura organizacional da E.M.E.F. Filomeno de Souza Reis segue as normas pré-estabelecidas (matriz curricular, processo avaliativo, projeto político pedagógico e etc) pela Secretaria Municipal de Educação, destinadas a todas as escolas públicas municipais. Essa forma de organização padronizada, sem contextualização, geralmente, se torna insuficiente para contemplar as características singulares de cada realidade escolar. No entanto, é importante ressaltar que a contextualização não deve estar presente apenas no conteúdo e no discurso da escola, é necessário tornar-se ação desde a construção do planejamento escolar.

Os dados apresentados no capítulo anterior, constataram que essa escola desde o ano de 2000 sempre apresentou elevados índices de evasão e repetência. No entanto, segundo informações do corpo administrativo, durante esse período não houve nenhuma ação ou proposta de intervenção por parte da escola, voltada para superação total ou parcial desse problema.

Na escola pesquisada, a evasão ocorre com maior incidência a partir do segundo semestre do ano letivo, em virtude do período da entressafra. Essa situação não pode continuar sendo considerada como parte imutável desse contexto escolar, pois a partir do momento que os profissionais da educação reconhecem que as condições socioeconômicas dos pais não os permitem a sua permanecia na zona urbana, para que os filhos possam prosseguir os estudos, é necessário que haja uma inquietação de todos os envolvidos no processo educativo a fim de encontrar soluções viáveis que contribuam para a permanência dos alunos na escola.

Uma solução que pode ser encontrada na estrutura organizacional é mudança do calendário escolar, adequando-o a essa realidade. Outra solução viável, é a elaboração de um projeto que viabilize cursos profissionalizantes para os pais, visto que se torna uma oportunidade para encontrarem empregos na cidade e ainda uma possibilidade, se desejarem, de garantirem um maior grau de escolaridade.

Ao se considerar a prática educacional na escola, deve-se evitar a aceitação, voluntária ou imposta, de fórmulas genéricas e pré-estabelecidas de organização e de intervenção, pois, assim como não há escolas com realidades idênticas não se pode projetar ação educativa a partir de um modelo inflexível e descontextualizado.

A pesquisa realizada nos permitiu conhecer a realidade da relação professor-aluno diante do contexto sócio-econômico-cultural e das diversidades dos níveis de aprendizagem dos alunos da escola estudada.

O professor no exercício de sua prática docente deve ter a consciência de que cada sala de aula é um “mundo” distinto que terá que compreendê-lo minuciosamente para conduzir o processo de ensino-aprendizagem objetivando o sucesso escolar dos seus alunos. Sendo assim, se os métodos de ensino, os recursos didáticos e as técnicas de comunicação, forem inadequadas as características da turma ou de cada aluno a relação professor-aluno poderá fazer parte de um vasto leque de fatores que podem influenciar negativamente na aprendizagem dos alunos.

O professor deve estar constantemente avaliando sua prática, para assim identificar seus erros, para corrigi-los, e acertos, para mantê-lo e aperfeiçoá-los, garantindo assim um melhor rendimento dos alunos.

Os professores entrevistados atribuíram a responsabilidade do insucesso dos alunos à situação econômica, a família e de alguma forma a própria criança. É relevante destacar, a capacidade que os professores tiveram em reconhecer outros fatores que podem influenciar na produção do fracasso escolar, além dos que foram identificados pela maioria dos pais e pelos alunos entrevistados, entretanto, observamos que em nenhum momento durante as entrevistas, os professores deixaram transparecer, de forma implícita ou explícita, que acreditam ter uma parcela de culpa no insucesso escolar dos seus alunos, pelo contrário, afirmaram que trabalham de acordo com as individualidades de cada aluno.

Apesar dos professores terem afirmado que trabalham de acordo com as singularidades dos alunos, tanto no que se refere às diversidades dos níveis de aprendizagem quanto nas diversidades sócio-econômica-cultural, os mesmos encontram dificuldades com as situações adversas do cotidiano escolar, deparando-se com vários obstáculos que os impedem de realizar uma autêntica atenção às particularidades, como a falta de recursos didáticos e o stress ocasionado, principalmente, pela falta de tempo, pois com a desvalorização do trabalho do profissional da educação, a maioria dos professores, têm a necessidade de trabalharem no mínimo dois turnos, para garantirem o sustento da família.

Para que haja uma redução nos índices de evasão e repetência, proporcionada pela relação professor-aluno, faz-se necessário que os professores avancem do discurso descritivo sobre as causas que já identificaram para uma auto-avaliação sobre a sua prática docente, para que verifiquem o que eles enquanto educadores têm feito de insuficiente para que essa situação continue.

Mesmo que a aprendizagem da maioria dos alunos não esteja equivalente ao nível da série, pois existem dificuldades de leitura, de interpretação de textos e de mundo entre outras, na maioria das salas percebemos um clima harmonioso, onde prevalece o respeito, a aceitação e a valorização do outro, proporcionado pela afetividade que existe entre professor e aluno.

A afetividade na relação professor-aluno é importante para um melhor desenvolvimento da aprendizagem, pois está diretamente ligada a motivação, que é necessária para um melhor rendimento dos alunos. Todavia, se esta afetividade está desvinculada de uma prática docente voltada para atender de forma suficiente as necessidades dos educandos o professor não efetivará de forma eficaz o seu papel de condutor do processo de ensino aprendizagem.

Considerando que os elevados índices de evasão e repetência na E.M.E.F. Filomeno de Souza Reis é uma realidade enfrentada, em maior ou menor proporção, por todas as séries, é necessário que os professores façam um trabalho em parceria, com a finalidade de superar esses problemas não apenas no contexto de sua sala de aula, mas que se preocupem com todas as situações que ocorrem no contexto escolar, pois futuramente o professor poderá ter em sua sala de aula um aluno que enfrenta algum tipo de dificuldade que antes pertencia à outra turma, e assim terá mais facilidade em fazer um trabalho direcionado por já conhecer a sua realidade.

A origem social tem sido uma das causas mais apontadas para justificar os resultados negativos no desempenho escolar dos alunos, sobretudo quando são obtidos por alunos oriundos de famílias de baixos recursos econômicos.

Na E.M.E.F. Filomeno de Souza Reis percebemos que este fator interfere de forma negativa no rendimento desses alunos. Algumas crianças convivem com uma realidade de extrema pobreza, passando por várias privações como um quadro de alimentação deficiente, falta de materiais escolares e etc. O aluno que passa por esses tipos de privações, principalmente, a falta de alimentação, geralmente não consegue concentrar-se nas aulas, o que ocasiona um déficit na sua capacidade de apreensão, visto que em alguns casos desenvolvem dois tipos de comportamento, ficando dispersos ou inquietos, e um dos motivos é expectativa da hora da merenda.

A origem social das famílias pesquisadas pode determinar, na maioria das vezes, até mesmos como serão constituídas as relações familiares, bem como influenciar diretamente para a evasão de alguns alunos.

Nessa realidade, muitos pais têm a necessidade de procurarem empregos que garantam melhores condições de vida para sua família. Diante de isso, a ausência dos mesmos torna-se inevitável, pois em alguns casos, a falta de escolaridade dos pais dificulta o acesso a melhores oportunidades de emprego na cidade, sendo necessário procurarem trabalho em atividades rurais, e a mãe por sua vez toma para si a maior parcela de responsabilidade na educação e na saúde dos filhos e toda a responsabilidade do cuidado com a casa no que se refere à administração do orçamento doméstico, e algumas ainda trabalham fora como empregadas domésticas para complementar esse orçamento. Nessas condições a mãe fica sobrecarregada, e em algumas, apresentam um elevado grau de stress que dificulta o bom relacionamento com os filhos, e conseqüentemente, não tem condições e disponibilidade de tempo para acompanhar a vida escolar dos filhos.

Outra situação que acontece em virtude dessa realidade são os pais que levam toda a família para a zona rural, para o ajudarem no trabalho da lavoura ou simplesmente para evitarem que a família passe por privações, principalmente, a falta de alimentação, e nessas condições a educação escolar dos filhos é deixada para segundo plano.

Em algumas famílias pesquisadas, a mãe, por não ter companheiro, arca com toda a responsabilidade do cuidado com os filhos e de providenciar o orçamento doméstico, não dispondo de muito tempo essas mães deixam de participarem ativamente da vida escolar dos filhos.

Os conflitos familiares – separação dos pais, atritos com padrastos ou madrastas, discussões pela guarda da criança entre mãe e avó e etc – ,bem como a ausência dos pais, tanto no que se refere a ausência física quanto a falta de diálogo e de integração familiar, reflete na sala de aula de forma negativa, no comportamento e no desenvolvimento cognitivo e afetivo dos filhos. Nesse sentido, a ausência dos pais se torna um entrave para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem, visto que a participação dos pais na vida dos filhos através do acompanhamento de suas atividades e da apreciação de suas etapas é determinante para que os filhos se sintam responsáveis, compreendidos, seguros, capazes e amados.

Diante dos dados coletados e da análise realizada pudemos identificar, além das possíveis causas ora apresentadas, algumas conseqüências produzidas pela evasão e pela repetência na E.M.E.F. Filomeno de Souza Reis.

As conseqüências da evasão e da repetência, que constatamos nesta investigação, são as mesmas, a distorção idade/série, desmotivação, evasão e a repetência. No entanto, durante a análise dos dados verificamos que na medida que esses fatores se apresentavam como conseqüências pudemos também identificá-los como causas, e em alguns momentos assumiam as duas características.

A distorção idade/série é conseqüência da evasão e da repetência, porque o aluno que evade ou repete terá um atraso na sua vida escolar, retardando a conclusão dos seus estudos. Essa conseqüência foi identificada principalmente pelos desníveis de idades facilmente percebidos nas salas de aula. Esse fator é identificado como causa do fracasso escolar (evasão/repetência) a partir do momento que o aluno evade por se sentir constrangido por estar entre crianças menores, ou repetem por estarem em uma fase que as metodologias dos professores não estão direcionadas.

A desmotivação é uma característica comum nos alunos com histórico de evasão e repetência. Os alunos evadidos quando retornam a escola não se sentem à vontade, não se reconhecem como parte do ambiente escolar, não tendo tanto apreço e responsabilidade pelos estudos. Para os alunos repetentes as aulas se tornam monótonas e pouco atrativas, por terem estudado o mesmo conteúdo e convivido, provavelmente, com as mesmas metodologias no ano anterior. Os comportamentos identificados nos alunos desmotivados são o isolamento ou a dispersão, sendo também considerados por alguns professores, pelos pais e por eles mesmos como desinteressados. Diante dessa situação o aluno poderá repetir ou evadir devido a desmotivação.

Como apresentamos nos parágrafos anteriores a evasão e a repetência podem ser conseqüências da distorção idade/série e da desmotivação, mas podem também ser identificadas como conseqüências de históricos de evasão e repetência, uma vez que a distorção idade/serie e a desmotivação são ocasionadas, em alguns casos, pelo fracasso escolar (evasão e repetência) dos alunos.

Diante dessas constatações, a escola pesquisada, representada pelos profissionais da educação que a integram, deve atentar-se para as novas responsabilidades que lhes são atribuídas, sendo importante que todos percebam a necessidade de repensar a condução do processo educativo nessa realidade, para que o problema da evasão e repetência não seja solucionado com a desistência definitiva do aluno da vida escolar.

Nesse sentido, e em face da abrangência, natureza e complexidade das metas educativas a educação escolar não pode ser mais concebida como mera sucessão de ensinamentos pré-determinados. Seja no plano teórico, seja na dimensão prática a educação do presente e do futuro clama pela aproximação, e pelo rompimento dos muros que separam a escola do mundo.

Considerando a amplitude do tema pesquisado, mesmo que esta investigação tenha sido realizada em um contexto específico, nada impede que futuros trabalhos de pesquisas identifiquem outras causas e conseqüências da evasão e repetência na E.M.E.F. Filomeno de Souza Reis, ou até mesmo confirme ou refutem as identificadas nesta pesquisa, tendo em vista a constante dinâmica das relações sociais.

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